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1.1 EDUCAÇÃO E ALTAS HABILIDADES/SUPERDOTAÇÃO

1.1.3 O Modelo de Enriquecimento Escolar de Joseph Renzulli

Joseph Renzulli é um educador americano e professor do programa de Psicologia Educacional da Universidade de Connecticut nos Estados Unidos, onde também atua como diretor do Centro Nacional de Pesquisa sobre Superdotados e Talentosos (National Research Center on the Gifted and Talented - NRG/T). Este pesquisador tem contribuído largamente para a implantação de serviços destinados ao atendimento do estudante com características de superdotação em todo mundo desde a década de 1970 (PEREIRA; GUIMARÃES, 2007). Ele considera que uma educação especial, destinada ao estudante com comportamentos superdotados, deve basear-se nas dimensões do potencial humano para a produtividade criativa, tendo em vista que alguns estudantes demonstram, em comparação com seus pares, excelente desempenho ou potencial superior em alguma área do conhecimento humano, aliado à criatividade e envolvimento com a tarefa e que, por esse motivo, o potencial de aprendizado, justifica as oportunidades e serviços diferenciados destinados a eles.

Os objetivos do NRG/T são a identificação e o desenvolvimento da criatividade e de comportamentos superdotados nos jovens, por meio de modelos organizacionais e estratégias curriculares para melhoria da qualidade de ensino e da escola como um todo. A finalidade deste Centro é levar orientações a educadores e também produzir mudanças nas políticas e nas práticas educacionais, encorajando a

produtividade criativa e intensificando a qualidade de experiências de aprendizagem para todos os estudantes, viabilizadas por amplas experiências, cuidadosamente planejadas e diferenciadas, que respeitem as habilidades, os interesses e os estilos de aprendizagem de cada um (RENZULLI, 1999, 2011; VIRGOLIM, 2010).

O programa de enriquecimento escolar apresentado pelo Modelo é centrado em dois objetivos. O primeiro objetivo é proporcionar aos jovens oportunidades máximas para a autorrealização, por meio do desenvolvimento da expressão de uma ou de várias áreas, cujo potencial superior possa estar presente. O segundo objetivo é aumentar o capital humano da sociedade com pessoas que ajudarão a resolver os problemas da civilização contemporânea, tornando-se produtores de conhecimento e arte, em vez de meros consumidores de informação (RENZULLI, 2011).

Virgolim (2010) ressalta que, segundo Renzulli, há dois tipos de superdotação: a acadêmica e a criativo-produtiva. A superdotação acadêmica é aquela identificada pelos testes de inteligência e desempenho curricular. A superdotação criativo-produtiva é aquela identificada pela criação de ideias e produtos originais (RENZULLI, 1986). O foco maior da proposta de Renzulli é a produção de novas gerações de líderes, solucionadores de problemas e de pessoas que irão fazer importantes contribuições a todas as áreas da produtividade humana, e que, por esse motivo, a prioridade dos programas de Educação Especial é a produtividade criativa de seus jovens, e não apenas a superdotação escolar (VIRGOLIM, 2007).

Renzulli (2011) entende que programas que visam ao desenvolvimento escolar devem ser aplicados a todos os estudantes da escola, como parte de uma educação de melhor qualidade geral e de respeito às necessidades e aptidões de cada estudante. Deste modo, programas e serviços especiais devem ser criados para jovens que demonstrem habilidades produtivo-criativas. O autor sustenta que, uma aprendizagem com foco na produtividade criativa é importante porque, nesse tempo de rápida expansão do conhecimento, seria prudente considerar um modelo que mais se concentra em como os estudantes mais capazes têm acesso e usam as informações, ao invés de como eles acumulam, armazenam e recuperam essas informações.

Desta forma, é necessário dar a todos os estudantes oportunidades para se engajarem nos “atos ideais de aprendizagem”, de forma que interações dinâmicas ocorram entre três estruturas fundamentais neste processo: o estudante, o professor

e o currículo, referido pelo autor como “Ato de Aprendizagem” (VIRGOLIM, 2007). As habilidades cognitivas, as características afetivas, estilos de aprendizagem e interesses do estudante são aspectos de maior relevância a serem considerados, ao se levar em conta o aluno. Quanto ao professor, o conhecimento da disciplina, a motivação e a disposição para uso de técnicas instrucionais variadas e atuais representam os aspectos centrais para que, atuando como um mentor, o professor possa auxiliar os estudantes na construção do conhecimento. O currículo, por sua vez, deve apresentar, em relação à estrutura da disciplina, os conhecimentos a serem ensinados de forma organizada, contextualizada e interdisciplinar. Quanto ao conteúdo e a metodologia, os principais conceitos e princípios devem ser apresentados conectados à realidade do estudante, oferecendo oportunidade para que o mesmo transfira a informação para outras situações da aprendizagem, apreenda os aspectos mais relevantes de uma área de conhecimento e busque refletir em sala de aula, sobre métodos de pesquisa e soluções de problemas. Além disso, o currículo deve apresentar aos estudantes a oportunidade de desenvolvimento da imaginação por meio da visualização de consequências para acontecimentos futuros e da análise da realidade sob diferentes ângulos (RIBEIRO, 2006).

Centrado nesses aspectos da relação ensino-aprendizagem, Renzulli em 1986, desenvolveu o Modelo de Enriquecimento Escolar (The Schoolwide

Enrichment Model – SEM), composto por três subteorias: o Modelo dos Três Anéis,

o Modelo de Identificação das Portas Giratórias, e o Modelo Triádico de Enriquecimento. O Modelo dos Três Anéis apresenta a concepção de superdotação, as principais dimensões do potencial humano para a produtividade criativa e os pressupostos filosóficos a respeito das habilidades superiores. O Modelo das Portas Giratórias concebe indicadores de como identificar e selecionar estudantes que apresentam comportamentos de superdotação. O Modelo Triádico de Enriquecimento propõe atividades investigativas capazes de estimularem os alunos a desenvolverem produtos criativos.

Na concepção de Renzulli, a capacidade acima da média (geral ou específica), o compromisso com a tarefa e a criatividade se entrelaçam para evidenciar os comportamentos de superdotação. Essas áreas são representadas graficamente, em seu modelo, por anéis que se entrelaçam e que estão apoiados

em um pano de fundo, representando fatores ambientais e de personalidade. (VIRGOLIM, 2007).

A capacidade acima da média está estreitamente ligada ao domínio superior do potencial em alguma área do desenvolvimento. O compromisso com a tarefa representa características não intelectuais e diz respeito à capacidade do indivíduo de mergulhar totalmente em uma área por longo período de tempo e a prosseguir, mesmo em face de obstáculos. A criatividade é a curiosidade, engenhosidade, originalidade e a vontade de desafiar convenções e tradições. O conjunto dessas três características, na perspectiva de Renzulli, cria condições para a superdotação, pois ele não a vê como absoluta e fixa, mas sim como comportamentos que podem ser desenvolvidos, em pessoas com alto potencial em determinados momentos e circunstâncias (RENZULLI, 1999).

Para a implementação do Modelo de Enriquecimento Escolar é necessário identificar os estudantes que farão parte do Pool de Talentos ou Grupo de Talentos, estabelecidos no Modelo das Portas Giratórias, ou seja, identificar o aluno com características de superdotação e encaminhá-lo a desenvolver, com maior profundidade, seu interesse em uma sala de recursos. Para atingir esse objetivo são oferecidas aos estudantes oportunidades para que os mesmos demonstrem suas habilidades e, nesta direção, são avaliados a capacidade intelectual acima da média, o envolvimento com a tarefa e a criatividade. Estudantes que atendem a esses aspectos, mesmo que parcialmente, são convidados a compor o grupo de estudantes que receberá o enriquecimento escolar. Acreditando então, que identificar os estudantes com alto potencial dentro da escola é o primeiro passo para que a escola cumpra seu papel, no sentido de desenvolver os comportamentos de superdotação desses estudantes, Renzulli concebeu o Modelo de Identificação das Portas Giratórias (RENZULLI, 1999). Essa estratégia de identificação aponta seis caminhos que devem ser seguidos para a formação do grupo de estudantes que apresenta habilidades superiores.

O primeiro passo é nomear os estudantes que obtiverem altos resultados em testes de inteligência. Em segundo lugar, é a indicação de professores que, por meio de observações, identificam estudantes que apresentam comportamentos como criatividade, liderança, aptidão para esportes, e/ou arte visual e cênica. O terceiro passo é incluir, no grupo, os estudantes indicados pelos pais, colegas ou pelo próprio estudante (RENZULLI, 1999). Os estudantes, ao serem indicados, deverão

ser avaliados por uma equipe que ampliará o processo de identificação, a fim de documentar as habilidades e interesses manifestados pelo indivíduo. O quarto passo é a nomeação especial por ex-professores, que conhecendo o estudante em anos anteriores, recorrem ao alto desempenho apresentado por ele em algum momento de sua trajetória escolar, mesmo que no momento atual, ele não apresente características de habilidades superiores. O quinto passo é a nomeação por meio de informações sobre eventos realizados na escola que tenham documentado o comportamento motivado e fascinado do aluno por algum tópico ou área de conhecimento. O sexto passo é notificar e orientar os pais quanto à triagem e o atendimento que serão realizados em todos os alunos que têm o potencial para participar do grupo que receberá o enriquecimento escolar (VIRGOLIM, 2007).

O Modelo Triádico de Enriquecimento concebe que toda aprendizagem existe em um continuum entre abordagens didáticas prescritas e abordagens de investigação construtivas, para estudantes de todas as idades e níveis e em todas as áreas da atividade curricular (RENZULLI, 2011). O modelo que se utiliza de abordagens didáticas prescritas de aprendizagem é familiar à maioria dos educadores. Muito do aprendizado que ocorre em sala de aula ou em outros lugares de ensino formal segue essa linha. O outro modelo, de investigação construtiva, acontece geralmente em ambientes não formais, fora da escola formal. O centro desse modelo é a aquisição de conhecimento e habilidades com atividades de investigação ou produção criativas (VIRGOLIM, 2007), que segundo Renzulli (2011), é a melhor maneira de preparar os jovens para um futuro criativo e produtivo.

Nesse contexto, o Modelo Triádico de Enriquecimento sugerido por Renzulli é baseado em três tipos de atividades que se relacionam em harmonia e interação, umas com as outras: a) as atividades de Enriquecimento do Tipo I são atividades exploratórias gerais que expõem o estudante a situações problemas, questões, ideias e possibilidades que normalmente não fazem parte do currículo escolar, servindo como catalisador para a curiosidade e a motivação intrínseca; b) as atividades de Enriquecimento do Tipo II são atividades que preparam o estudante para gerar soluções para problemas do mundo real. Na prática, os estudantes passam da inspiração, com as atividades do Tipo I, para a ação, com as atividades do Tipo II, e c) as atividades de Enriquecimento do Tipo III são a culminância da aprendizagem. Representam a síntese e a aplicação de um conteúdo, cujo

envolvimento pessoal é desempenhado por meio do trabalho automotivado. Em todo o processo, o papel do professor muda de instrutor para tutor.

Renzulli (2011) afirma que o maior desafio da educação dos superdotados é ampliar o investimento na produção intelectual, no capital criativo, no capital social e no desenvolvimento das funções executivas. E ainda, que as atividades para o desenvolvimento dessas habilidades devem ser iniciadas na infância e se concentrar em “experiências”. A maior recompensa em se focar no aprendizado investigativo na educação de superdotados será o aumento significativo de pessoas que usam seus talentos para criar um mundo melhor.

Inspirada nos princípios teóricos do pensamento de Renzulli quanto à educação de superdotados, a Secretaria de Estado de Educação do Distrito Federal (SEEDF), por meio do Núcleo para Altas Habilidades/Superdotação subordinado à Coordenação de Educação Especial da Subsecretaria de Educação Básica, realiza atendimento especializado aos alunos com características de superdotação das escolas públicas e particulares do Distrito Federal (DISTRITO FEDERAL, 2014).

1.1.4 Atendimento Educacional Especializado ao Estudante com Altas