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O neoliberalismo, o neoconservadorismo e o populismo autoritarista

de objectivos e intervenção nas escolas com mais dificuldades, a par

4. O neoliberalismo, o neoconservadorismo e o populismo autoritarista

Segundo Dale & Ozga (1993), as ideias económicas do liberalismo e do neoliberalismo valorizam o mercado e a liberdade de escolha dos indivíduos, defendendo uma diminuição da interferência do Estado na vida privada. Por isso, as críticas do neoliberalismo ao Estado-Providência baseiam-se no princípio de que os cidadãos conhecem melhor do que o Estado o que mais lhes convém, acreditando que o mercado é uma instituição mais justa e eficiente para a distribuição de bens e serviços e que a desigualdade entre pessoas e grupos é uma característica natural das sociedades.

Ainda para os mesmos autores, a nova direita conservadora valoriza a importância da ordem, dos valores tradicionais e da hierarquia social. Assim, os neoconservadores não se opõem à acção do Estado mas apenas aos efeitos das políticas sociais que impliquem o enfraquecimento da iniciativa privada ou da responsabilidade da família, ou que ponham em causa a ordem social e a autoridade. Ao mesmo tempo que contestam os efeitos do Estado-Providência, eles vêm o Estado como o único sustentáculo da luta contra a permissividade e a erosão dos valores sociais e morais tradicionais.

Conforme sintetiza Chitty (1994),

"para os neoliberais a ênfase é sempre na

Uberdade da escolha, no indivíduo, no mercado, no governo mínimo e no laissez-faire; enquanto que os neoconservadores dão prioridade a ideias como o autoritarismo social, a sociedade disciplinada, a hierarquia e subordinação, a nação e o governo forte"

Resulta daqui algumas contradições como a da exigência de um Estado limitado e reduzido às suas funções básicas, mas, ao mesmo tempo, um Estado forte com poder de intervenção.

Os neoliberais representam as elites económicas e políticas dominantes, que querem «modernizar» a economia e as instituições relacionadas. Estão conscientes de que o mercado e a escolha do consumidor resolvem todos os problemas sociais.

Os neoconservadores desejam o regresso aos «padrões elevados», à disciplina, ao «verdadeiro» conhecimento e à competição social darwinista.

Ao contrário da ênfase neoliberal no Estado fraco, os neo- conservadores apostam numa visão do Estado forte, nomeadamente em torno de questões como o saber, os valores e o corpo. Baseiam- se, em parte, numa visão romântica do passado, em que o "verdadeiro saber" e a moralidade reinavam supremos, onde as pessoas "conheciam o seu lugar" e em que as comunidades estáveis se protegiam dos estragos da sociedade (Apple, 1998a).

Por trás de grande parte da posição conservadora há um sentimento de perda - perda da fé, de comunidades imaginárias, de uma visão quase idílica de pessoas da mesma mentalidade que partilham as mesmas normas e valores e em que a tradição ocidental reinava integralmente - que é ameaçada pelo medo de outras culturas e raças. É o que se pode ver com os crescentes ataques ao multiculturalismo, à oferta de educação ou de outros benefícios aos filhos de imigrantes ilegais (Apple, 2002).

Neste sentido, os neoconservadores lamentam o "declínio" da educação e da escola, da tradição, dos costumes e da "sua cultura".

A visão de um Estado forte também se nota no crescimento da regulamentação estatal no que respeita aos professores. Tem havido uma maior "autonomia regulamentada" na medida em que o trabalho dos professores se torna padronizado e "policiado". É o caso da submissão do professorado aos exames rigorosos a que estão

sujeitos. Em alguns estados dos Estado Unidos os professores vêm ser-lhes especificado não só os conteúdos a ensinar como os métodos apropriados para ensinar, colocando-os em risco de sofrerem sanções administrativas se não seguirem esses métodos especificados.

Para Apple (1998a), a desconfiança em relação aos professores, a preocupação com uma suposta perda de controlo cultural e a sensação de "poluição" perigosa, estão entre os muitos temores culturais e sociais que impulsionam as políticas neoconservadoras.

Existe ainda um terceiro grupo de pessoas que constituem esta nova direita, que é constituído maioritariamente por grupos de trabalhadores e da classe média branca, que não confiam no Estado e se mostram preocupados com questões como a segurança, a família, os valores, sexualidade, religiões, entre outros. Constituem o que se pode chamar de populistas autoritaristas, que detêm influência na educação e na política social e cultural.

Nos Estados Unidos, não será possível compreender a política educacional sem prestar atenção à "direita cristã". Ela é muito poderosa e influente na política e nos debates públicos, através dos

mass media, sobre religião, sexualidade, educação, previdência

social, etc. (Apple, 2003, pág.65).

Os defensores do populismo autoritário da nova direita baseiam as suas posições na educação e na política social em certas visões da autoridade bíblica, na moralidade cristã, nos papéis dos sexos e na família.

Nestes grupos, o ensino público é por definição um local extremamente perigoso.

Para o activista Tim LaHaye, citado por Apple (1998a),

"A educação pública moderna é a força mais perigosa que existe na vida de uma criança: em termos

religiosos, sexuais, económicos, patrióticos e físicos"

(pág.66J.

É a sensação de perda da nova direita no que diz respeito à educação e à família. Segundo a nova direita, as escolas eram extensões de moralidade doméstica e tradicional.

"Os pais podiam confiar seus filhos à escola pública porque estas eram controladas localmente e reflectiam valores bíblicos e dos pais". Agora, "as escolas foram tomadas por forças elitistas e alienígenas que se interpõem entre os pais e os filhos"» (Apple, 1998a,

pág.66).

É esse sentido de "controlo elitista e alienígena", como diz Apple (2003, pág.67), que a perda das ligações bíblicas e a destruição da família e das estruturas morais "dadas por Deus" que impulsionam a plataforma populista autoritária. É uma plataforma que se estende a questões como o que deve ser ensinado nas escolas, aos currículos, aos editores de manuais escolares e à avaliação.

Ao longo da década de oitenta e princípios da de noventa, as políticas neoliberais e neoconservadoras oscilam entre dois vectores:

"por um lado o liberalismo no terreno económico e, por outro lado, o estatismo nas áreas da segurança interna, da defesa e do controlo dos comportamentos privados, visíveis no cerceamento da liberdade de expressão e na imposição de uma moral tradicional, bem como na própria incapacidade de acabar completamente com o Estado-Providência" (Afonso, 1998, pág.106).

Numa visão complementar a esta, Claus Offe (1984), sustenta que "o Estado social converteu-se numa estrutura irreversível cuja

eliminação exigiria nada menos que a restrição da democracia e dos sindicatos, assim como mudanças fundamentais do sistema partidário

f...;"(págs.l20/121) . Daí que:

"a visão da superação do Estado de bem-estar e do ressurgimento de uma 'sadia' economia de mercado não pode ser mais do que um sonho, politicamente impotente, de alguns ideólogos da velha classe média. Esta classe não é, em lugar algum, suficientemente forte, segundo mostram os exemplos de Margaret Thatcher e Ronald Reagan, para provocar mais do que mudanças secundárias num modelo institucional, que até mesmo estes políticos têm que aceitar como facto ao assumirem cargos políticos" (idem, págs.120/121)

Não parece haver dúvidas para ninguém que os governos de Reagan e Thatcher propiciaram a acumulação capitalista, gerando uma sociedade mais desequilibrada, mais desigual, mais violenta, mais desumana, geradora de crises sociais, causando o desemprego, os conflitos e a exclusão. Desta forma, os governos conservadores para responder a estes problemas, passam a utilizar a coação em vez da legitimação, pois defendem a ordem e o controlo social a qualquer preço, para poder haver desenvolvimento económico (C. Estêvão, 1998a).

Segundo John Chubb e Terry Moe (1990)10, o controlo pelo

mercado a que as escolas particulares estão sujeitas, a sua eficácia

10 John Chubb e Terry Moe escreveram em 1993 a obra Politics, Markets and America's Schools, que foi

pedagógica e a capacidade de responder às expectativas dos pais, conduz a melhores resultados académicos e educacionais do que o controlo "político democrático" que se exerce nas escolas públicas. Assim, nas escolas públicas, o problema mais importante é que elas estão sujeitas a um sistema político que promove a hiperburocratização, enquanto as escolas privadas, apesar da sua heterogeneidade, têm em comum duas características institucionais importantes: "a sociedade não as controla directamente através das

políticas democráticas e a sociedade controla-as (indirectamente) através do mercado" (Chubb & Moe, 1990, pág.27).

Significa isto, que, de acordo com tal perspectiva, o controlo pelo mercado favorece a autonomia das escolas. Ainda para estes autores, as diferenças entre as escolas públicas e as escolas privadas explicam-se pelos resultados escolares:

"As escolas que conseguem um desempenho mais elevado diferem das escolas com baixo desempenho no que diz respeito às metas, à liderança, ao pessoal e às práticas educativas. Os seus objectivos são mais claros e academicamente mais ambiciosos, os seus directores são líderes educacionais decididos, os seus professores são mais profissionais, o trabalho dos cursos é mais rigoroso sob o ponto vista académico e as salas de aula são mais ordenadas e menos de burocratizadas" (pág.99).

Contudo, a tese destes especialistas merece alguns reparos por parte de outros estudiosos, desmontando alguns equívocos carentes de melhor fundamentação empírica, e, mostrando que o facto dos mercados serem "socialmente construídos", reflecte uma relação entre a oferta e a procura que é influenciada por factores culturais e de classe, e que por ser indiferente às necessidades dos

grupos mais desfavorecidos (Cookson, 1991, pág.158), pode exacerbar as desigualdades sociais.

A contra-argumentação de Chubb e Moe é a de demonstrar que, através dos indicadores escolhidos, como o do aproveitamento académico, a escola privada é melhor que a escola pública.

Na educação, o quadro descrito anteriormente, ajuda a estratégia da Nova Direita, que conseguiu sedimentar, junto da opinião pública, a ideia de que as escolas (públicas) são as principais responsáveis pela crise económica actual. Para Apple (1993), o avanço da direita não deve ser entendido apenas como reflexo da crise, mas como sendo a resposta à própria crise, uma vez que se cristalizou a noção de que o que é público é mau e o que é privado é bom.

Gimeno (1998), na linha de Apple, considera que a interiorização de que o público é mau e o privado é bom, é errada, uma vez que a comparação do sistema público com o privado deve ser feito tendo presente três premissas metodológicas importantes:

o Analisar as condições socioeconómicas dos alunos que se encontram nos dois sistemas;

o Essa comparação deve ser feita tendo por base uma avaliação que considerasse variáveis relacionadas com uma ampla gama de objectivos educativos, elementos materiais, humanos, técnicos e metodológicos;

o Comparar o rendimento escolar obtido.

Já Torres Santomé (2001) aponta duas distinções entre escolas públicas e privadas:

nl- A sociedade não pode exercer directamente

um controlo democrático das escolas privadas, uma vez que são os seus proprietários (confissões religiosas,

grupos económicos, grupos militares, grupos ideológicos) que tomam as decisões e impõem os seus ideários a essas instituições. Pelo contrário, a escola pública tem obrigação de se governar de maneira mais democrática, contando com a participação não só das famílias, mas também das Câmaras Municipais e da própria Administração Educativa, ou seja, do próprio Governo eleito também democraticamente por toda a sociedade.

2- As instituições escolares privadas são controladas pela comunidade, mas de forma indirecta, através das leis do mercado. É este que orienta, de modo decisivo, as tomadas de decisão que se realizam pelos promotores da escola, bem como pelas famílias que lhe encomendam a educação das sus filhas e filhos. As instituições de ensino público podem e devem, para além de satisfazer as exigências do aparelho produtivo, contrariar as procuras mais exageradas desse mercado e que as poderiam relegar para lugares mais secundários, ou contradizer, ou não atender ao trabalho de conteúdos educativos, destrezas e valores altruístas e imprescindíveis para construir uma sociedade mais humana, democrática e justa" (págs.69/70).

Em conclusão, a actual crise do sistema educativo é, mais do que uma crise económica, uma crise política. Passa por tentar conciliar algo que é impossível de conciliar: a manutenção da acumulação de capital - conceito bandeira do capitalismo - e o reforço do padrão de justiça democrático, tudo verberado por uma lógica neoliberal (Apple, 2001). Na educação, esta estratégia tem-se expressado através dos planos choice, charter e homeschooling, nitidamente de cariz neoliberal.

Para outro pensador próximo de Gimeno, Connell (1999- 2000), a massificação do ensino nasce como um projecto segregado que consequentemente multiplicaria as iniquidades sociais, assumindo-se o currículo como um dos mecanismos de desigualdade social, adiando assim, não só o projecto de escolarização como baluarte da justiça distributiva, como também criando condições para o desenvolvimento de um outro plano de reforma consubstanciado pela noção de mercantilizadora da educação.

Tendo em consideração o raciocínio e análises de especialistas na temática, em especial de Farrel (2001), Gimeno (1998), Connel (1999-2000) e Giddens (2000), pode-se verificar a existência de duas ordens discursivas: uma ordem discursiva tradicional que se apoia na crença do Estado-Providência como pêndulo da justiça e igualdade social, mas que na essência é (ou foi) um Estado caritativo, sem provocar grandes alterações que originassem transformações profundas ao nível da redistribuição; e uma outra, a nova ordem discursiva, que aponta o mercado como a solução para a crise, exaltando os seus princípios de eficiência, competição e disciplina de mercado.

Esta nova política educativa, a que Apple (1998b) chama de "nova aliança de restauração conservadora", tem como objectivo fundamental a modernização conservadora das políticas sociais e educativas. Trata-se de um movimento chefiado pelos neoliberais e neoconservadores, constituídos por uma nova classe média populista que tem vindo a ganhar terreno e influência, sobretudo, nos Estados Unidos (Apple, 1998b).

Este projecto económico, social e cultural, que forma a política neoliberal, contém significados, ideias e valores que se fundam na crença no mercado livre, na desterritorialização do indivíduo, na perseguição do interesse particular como instrumentos principais para a construção de uma sociedade mais justa, numa lógica ideológica

em que o indivíduo/consumidor se subordina, se assimila e se exclui (João Paraskeva (2003).

Para Aronowitz & Giroux (1995) e Shapiro (1990), o neoliberalismo define-se mais com conceitos como mercado e desenvolvimento tecnológico, ao passo que o neoconservadorismo se relaciona mais com a aristocracia, autoridade, militarismo, valores religiosos. Isto significa que enquanto o neoliberalismo defende um Estado fraco e uma economia que é assegurada pela valorização do mercado, os neoconservadores apoiam-se num Estado forte e na defesa dos valores da família para construírem um padrão cultural e ideológico hegemónico (Apple, 1996). Desta forma, o neoliberalismo ao pôr em causa o Estado-Providência está a reduzir o campo de actuação do Estado, numa lógica de mercado em vez de Estado centralizador.

Para Friedman (1962), a intervenção do Estado na economia causa um aumento dos custos, e a falta de liberdade económica ameaça o progresso económico. Portanto, a redução do intervencionismo e dirigismo estatal é uma prioridade absoluta para o desenvolvimento económico.

É este pensamento de Friedman que galvaniza o projecto educativo neoliberal. Segundo Torres Santomé (2003), o pensamento de Friedman está "na medula espinal do bombardeio liberal e

neoliberal" (pág.32), e utiliza insistentemente a linguagem do

desperdício, da ineficiência e ineficácia da escola pública, para apresentar outras soluções mais condizentes ao seu posicionamento ideológico, e que são ferramentas importantes para institucionalizar uma sociedade "conservadora, classicista e racista de resistência às

lutas sociais e anti-racistas" (Torres Santomé, 2001, pág.8).

O conceito de livre escolha (school choice) é importante no projecto neoliberal porque engloba, na sua base, a resolução dos problemas do sistema educativo. Nos Estados Unidos, Canadá e Grã- Bretanha, o conceito de livre escolha foi implementado através de

planos choice e programas voucher. Para os teóricos destes conceitos, a escolha ou a capacidade económica de poder escolher é a saída para a crise dos sistemas educativos. Eles defendem que o Estado não tem condições de gerir, nem os crescentes gastos sociais nem a construção de uma nova ordem social global (Chomsky, 1999), que se oriente pela crença no mercado, no individualismo, na competitividade, na desregulação e na flexibilização do trabalho, e também na exigência do enfraquecimento do Estado, na diminuição dos gastos públicos, na crescente privatização, na globalização dos mercados de consumo e de produção.

O fenómeno da globalização tem exposto, de forma clara, as lógicas conflituosas em que mergulham o capitalismo e a democracia, levando as pessoas a tomar consciência que o desenvolvimento de uma ordem social mais justa e democrática se encontra limitado à verdadeira natureza do sistema global.

Nesta linha de raciocínio crê-se que a competição internacional tem origem na globalização dos mercados e dos sistemas de produção, subtraindo a confiança ao Estado-Nação social-democrata do pós-guerra, principalmente a sua capacidade de produzir um crescimento ilimitado, e mergulhando o Estado- Providência numa crise profunda caracterizada por cortes orçamentais, derrapagens financeiras, desemprego, e pelo não cumprimento das promessas que o foram sustentando.

A solução para os neoliberais está na recontextualização do papel dos governos, do ponto de vista da sua função reguladora e da distribuição da riqueza, o qual deverá ser compreendido à luz de um projecto social, económico, político e ideológico distinto daquele que orientou o Estado-Providência.

O projecto social assenta na:

"máxima fragmentação da sociedade, porque uma sociedade dividida - em que diferentes grupos

minoritários não conseguem constituir-se numa maioria capaz de questionar a hegemonia em vigor - é a melhor forma para a reprodução do sistema" (Harnecker, 2000,

pág.167).

O projecto político apoia-se no modelo político que consiste

"num Estado mínimo para defender os interesses dos trabalhadores e um Estado forte para criar condições politicas que requer para o seu funcionamento económico" (Idem, pág.169). O projecto ideológico é

num projecto essencialmente conservador e reaccionário, que procura

defender e aumentar os privilégios de uma ínfima minoria a nível mundial" (ibidem, pág.180). O projecto económico que se apoia em

"medidas económicas para favorecer a livre circulação do capital", nomeadamente,

"a abertura incontrolada dos mercados; a

desregulamentação ou eliminação de todas as regras para o capital estrangeiro, a privatização das empresas estatais das instituições que prestavam serviços sociais: educação, saúde, fundos de pensões, construção da habitação, etc., com a consequente redução do papel do Estado e das despesas sociais; a luta prioritária contra a inflação; a flexibilidade na plano laboral" (Ibidem,

pág.152).

Para Apple (2003), os neoliberais orientam-se pela visão de um Estado fraco, em que o privado é necessariamente bom, e o público é necessariamente mau. Segundo Apple, as instituições públicas são descritas como "buracos negros", consumidoras de dinheiro sem resultados visíveis. Para este grupo, a racionalidade económica dita todas as regras, e a eficiência e a "ética" da análise

custo-benefício são as normas dominantes na sociedade. Aqui, todos devem agir de forma a maximizar os seus benefícios próprios.

No neoliberalismo os alunos aparecem como capital humano a quem devem ser dadas qualificações e disposição para competir eficiente e efectivamente. Para os neoliberais as escolas públicas desperdiçam recursos económicos que devem ir para as empresas privadas. Como tal, as escolas públicas, além de fracassarem na sua tarefa educativa, estão a "sugar" o sangue da vida financeira da sociedade (Apple, 1998b).

Para os neoliberais, o mundo é, em essência, um vasto supermercado. A "liberdade de escolha do consumidor" é a garantia da democracia, que é transformada em práticas de consumo. Ou seja, a democracia em vez de ser um conceito político passa a ser um conceito económico. Na verdade, as metáforas do consumidor e do supermercado são opostas aqui, na medida em que, na vida real, há indivíduos que vão ao supermercado e fazem opções entre vários produtos a adquirir, e há aqueles que vão ao supermercado que não podendo fazer opções, estão do lado de fora do supermercado e só podem consumir a imagem (Apple, 2003, pág.46).

Na educação, os neoliberais atacam em particular os sindicatos dos professores, por serem vistos como poderosos e dispendiosos, mas também atacam as mulheres, pois o pessoal docente é, maioritariamente, constituído por mulheres (Apple, 2003).

Há uma segunda variante de neoliberalismo que é aquela que está disposta a gastar mais dinheiro estatal e/ou privado com as escolas, se e somente se as escolas satisfizerem as necessidades expressas pelo capital, com o objectivo de tornar a economia mais competitiva (Apple, 1998). Trata-se do caso das escolas e universidades estabelecerem parcerias entre a educação e a comunidade empresarial.

Nos Estados Unidos, pelo menos 234 empresas, dentro do grupo das 500 maiores companhias do país, estão inundando as

escolas públicas com filmes, livros, manuais de computadores,