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O Parlamento Europeu (artigos 189.º a 201.º do TCE)

No documento uniao europeia (páginas 35-41)

O sistema político da União Europeia

2. O Parlamento Europeu (artigos 189.º a 201.º do TCE)

2.1.1. O PE forma-se através da eleição dos seus deputados por sufrágio directo e universal segundo um procedimento baseado em princípios comuns a todos os Estados-Membros (artigo 190.º, n.º 4, do TCE). Nos termos da Decisão 2002/772/CE, Euratom, de 25-6-2002, que altera o Acto relativo à eleição dos deputados ao PE (anexo à Decisão 76/787/CEE, Euratom), estes são eleitos em cada Estado-Membro por escrutínio de tipo proporcional.

As disposições nacionais reguladoras do processo eleitoral podem eventualmente ter em conta as particularidades de cada Estado-Membro, mas “não devem prejudicar globalmente o carácter proporcional do sistema de escrutínio”. A decisão sobre se as eleições para o PE se realizam nos Estados-Membros através de uma única circunscrição nacional ou de circunscrições regionais depende inteiramente das respectivas legislações nacionais.

2.1.2. No contexto das eleições para o PE e, em especial, para realçar o carácter europeu dessas eleições, intervêm os “partidos políticos ao nível europeu”, que actualmente ainda constituem, no essencial, federações de partidos nacionais de ideologia política afim. Nos termos do artigo 191.º, primeiro parágrafo, cabe-lhes desempenhar “um importante papel como factor de integração na União”, contribuindo para a criação de uma consciência europeia e para a expressão da vontade política dos cidadãos da União.

O estatuto dos partidos políticos ao nível europeu, incluindo as regras relativas ao seu financiamento a partir do orçamento geral da UE, está contemplado pelo Regulamento (CE) n.º 2004/2003 do PE e do Conselho, de 4 Novembro de 2003, na redacção que lhe foi dada pelo Regulamento (CE) n.º 1524/2007 de 18 de Dezembro. Tais regras são aplicáveis na mesma base a todas as forças políticas representadas no PE (declaração n.º 11 anexa à acta final do Tratado de Nice).

Para pode ser identificado como “partido político a nível europeu”, um partido deve preencher, entre outras, as seguintes condições: (1) dispor de personalidade jurídica no Estado-Membro onde se encontra sedeado; (2) ser representado, pelo menos em um quarto dos Estados-Membros, por membros do PE, dos parlamentos nacionais ou dos parlamentos ou assembleias regionais, ou então ter obtido um mínimo de três por cento dos votos expressos em cada um desses Estados-Membros nas últimas eleições

para o PE; (3) respeitar os princípios em que se funda a UE, enunciados no artigo 6.º, n.º 1, do TUE.

Para beneficiar de financiamento pelo orçamento geral da UE, os partidos políticos a nível europeu devem introduzir anualmente um pedido junto do PE. Também podem ser financiados através de quotizações dos partidos políticos nacionais ou de pessoas singulares ou colectivas que sejam membros daqueles, desde que tais quotizações não excedam 40% do respectivo orçamento anual. Com vista a reforçar a autonomia dos partidos políticos ao nível europeu em relação aos partidos nacionais, o estatuto determina que o financiamento dos primeiros pelo orçamento geral da UE ou por qualquer outra fonte não pode ser utilizado para o financiamento directo ou indirecto dos segundos, nem dos seus candidatos.

A fim de apoiar e complementar os objectivos dos partidos políticos ao nível europeu, contribuindo nomeadamente para o debate sobre questões de política e de integração europeias e agindo como catalizadoras de novas ideias, podem ser criadas nos Estados-Membros “fundações políticas a nível europeu”, dotadas de personalidade jurídica. Tais fundações só podem apresentar um pedido de financiamento pelo orçamento geral da UE através do partido político ao nível europeu a que estejam associadas. As quotizações provenientes das fundações políticas nacionais que sejam membros das fundações políticas ao nível europeu não podem exceder 40% do orçamento anual destas, nem podem provir de fundos que um partido político ao nível europeu tenha recebido do orçamento geral da UE ao abrigo do Regulamento n.º 2004/2003.

Os deputados eleitos por cada partido ou coligação de partidos ao nível europeu podem constituir-se em grupos parlamentares. Cada grupo parlamentar deve incluir pelo menos dezasseis deputados eleitos em pelo menos cinco Estados-Membros.

2.2. Composição

2.2.1. Encarnando a legitimidade democrática directa no seio da União, o PE, segundo o artigo 189.º do TCE, é “composto por representantes dos povos dos Estados- Membros” reunidos na UE, em número máximo de 736, eleitos em cada Estado por um período de cinco anos, de modo a assegurar a representação adequada do respectivo povo.

Em rigor, os deputados eleitos em cada Estado-Membro não representam apenas o respectivo povo, mas também os nacionais de outros Estados-Membros nele residentes. Isto porque o artigo 19.º, n.º 2, do TCE, atribui a qualquer cidadão da União residente num Estado-Membro que não o da sua nacionalidade, o direito de eleger e o de ser eleito nas eleições para o PE no Estado-Membro de residência, nas mesmas condições que os nacionais deste Estado. Tendo isto em conta, parece preferível caracterizar o PE através da fórmula escolhida pelo artigo 9.º-A, n.º 2, que o Tratado de Lisboa inseriu no TUE, nos termos da qual “o Parlamento Europeu é composto por representantes dos cidadãos da União”.

2.2.2. Por força do artigo 24.º do Acto de Adesão da Bulgária e da Roménia (JO L 157 de 21.6.2005), entre 1 de Janeiro de 2007 e até ao fim da actual legislatura (2009), o PE, em derrogação ao artigo 189º, segundo parágrafo, conta com 785 Deputados que se distribuem da seguinte forma: 99 deputados eleitos pela Alemanha, 78 pelo Reino Unido, pela França e a pela Itália, 54 pela Espanha e pela Polónia, 35 pela Roménia, 27 pelos Países Baixos, 24 pela Bélgica, pela Grécia, por Portugal, pela República Checa e pela Hungria, 19 pela Suécia, 18 pela Áustria e pela Bulgária, 14 pela Eslováquia, Dinamarca e Finlândia, 13 pela Irlanda e a Lituânia, 9 pela Letónia, 7 pela a Eslovénia, 6 pela Estónia, por Chipre e pelo Luxemburgo e 5 por Malta.

Estes números causam distorções consideráveis na representação do PE. Reforçam a posição dos Estados-Membros menos populosos, cujos deputados podem formar maioria parlamentar sem o concurso dos deputados dos quatro Estados- Membros mais populosos. Nesse caso, a maioria parlamentar não representará a maioria da população. Inversamente, os quatro Estados-Membros mais populosos representam a maioria da população mas não a maioria parlamentar. No entanto, as votações no PE não se orientam apenas em função do vínculo nacional dos deputados. Orientam-se também, ou sobretudo, em função dos seus vínculos partidários. Os deputados são obviamente livres de votar de modo a formar maiorias independentes das respectivas nacionalidades.

Seja como for, na Europa a 27, enquanto um deputado eleito na Alemanha representa cerca de 828600 eleitores, um deputado eleito no Luxemburgo representa 71500 e um deputado em Portugal representa 415800 eleitores. Está-se longe portanto do princípio “one man one vote”, comum aos parlamentos dos Estados-Membros.

2.3. Competência

O PE dispõe das seguintes competências:

(a) competência de auto-organização, que se exprime essencialmente na aprovação do seu regimento (acórdão de 15-9-1981, Lord Bruce of Donnington, 208/80);

(b) competência de participação, com diferentes graus de intensidade, nos procedimentos decisórios conducentes à adopção dos actos comunitários (de natureza legislativa, executiva, orçamental, jurídico-internacional, etc.) e de certos actos do III Pilar (ver infra, § 3.º);

(c) competência em matéria de formação da Comissão Europeia, juntamente com o Conselho (ver infra, 4.1.);

(d) competência de nomeação do Provedor de Justiça Europeu;

(e) competência fiscalizadora, sobretudo no âmbito I Pilar, (i) da Comissão, designadamente através da moção de censura (ver infra, 4.1.) e das perguntas escritas e orais e (ii) da Comissão e de outros órgãos, através de comissões parlamentares de inquérito.

O artigo 28.º, n.º 1, do TUE nega ao PE, no âmbito do II Pilar, tanto a competência para votar uma moção de censura à Comissão, como a competência para criar comissões parlamentares de inquérito. O mesmo vale para o III Pilar, por força do artigo 41.º, n.º 1, do TUE. Todavia, no âmbito deste último pilar, ao contrário do II, é admitida a intervenção fiscalizadora do Provedor de Justiça Europeu.

2.4. Funcionamento

2.4.1. O PE realiza uma sessão legislativa anual. Tem como órgãos de direcção (a) o presidente, que conduz os trabalhos, representando o PE nas relações com as outras instituições e com o exterior; (b) catorze vice-presidentes; (c) a mesa, composta

pelo presidente e pelos vice-presidentes; (d) a conferência dos presidentes, composta pelo presidente do PE e pelos presidentes dos grupos políticos − órgão restrito que constitui o centro de poder daquela instituição; (e) os questores, encarregados, sob autoridade da mesa, de tarefas administrativas e financeiras respeitantes aos deputados.

O PE reúne em plenário ou através de comissões (permanentes, temporárias ou de inquérito), as quais integram também o “complexo de órgãos” em que aquela instituição se articula.

A lista das dezasseis comissões permanentes previstas pelo regimento (na versão publicada no Jornal Oficial de 5-3-2003) ilustra bem a extensão das atribuições do PE e, por conseguinte, da própria União: (1) comissão dos assuntos externos, dos direitos do homem, da segurança comum e da política de defesa; (2) comissão dos orçamentos; (3) comissão do controlo orçamental; (4) comissão das liberdades e dos direitos do cidadão, da justiça e dos assuntos internos; (5) comissão dos assuntos económicos e monetários; (6) comissão dos assuntos jurídicos e do mercado interno; (7) comissão da indústria, do comércio externo, da investigação e da energia; (8) comissão do emprego e dos assuntos sociais; (9) comissão do meio ambiente, da saúde pública e da política do consumidor; (10) comissão da agricultura e do desenvolvimento rural; (11) comissão das pescas; (12) comissão para a cultura, a juventude, a educação, os meios de comunicação social e os desportos; (13) comissão para o desenvolvimento e a cooperação; (14) comissão dos assuntos constitucionais; (15) comissão dos direitos da mulher e da igualdade de oportunidades; (16) comissão das petições.

Os grupos políticos (actualmente sete), ao contrário dos órgãos supra- enumerados, não estão habilitados a agir em nome do PE. Os actos que pratiquem não são, por conseguinte, imputáveis ao PE (acórdão de 22-3-1990, Jean Marie Le Pen e Front National, C-201/89).

2.4.2. O PE funciona de acordo com a regra da publicidade. Salvo disposição em contrário, delibera por maioria absoluta dos votos expressos. Diversas disposições do TUE e do TCE prevêem, no entanto, a deliberação por maioria absoluta dos deputados que o compõem. Do primeiro tratado podem citar-se o artigo 7.º, n.º 6 (relativo à verificação da existência de um risco manifesto de violação grave de algum dos princípios enunciados no artigo 6.º, n.º 1, por parte de um Estado-Membro, ou de uma violação grave e persistente de tais princípios) e o artigo 49.º, primeiro parágrafo

exemplos os artigos 199.º (relativo à aprovação do regimento), 201.º (relativo à aprovação da moção de censura à Comissão) e 272.º, n.º 4, segundo parágrafo (relativo ao direito de alteração do projecto de orçamento submetido pelo Conselho).

Considera-se existir quórum de funcionamento sempre que se encontre reunido na sala das sessões um terço dos deputados que compõem o PE. A ordem do dia é proposta pela conferência dos presidentes e sujeita a votação.

No documento uniao europeia (páginas 35-41)