• Nenhum resultado encontrado

4 A PERCEPÇÃO DOS USUÁRIOS SOBRE OS BENEFÍCIOS EVENTUAIS NO

4.3 A análise dos dados

4.3.4 O perfil dos sujeitos

Entre os sujeitos pesquisados, identificados com base nos registros da Secretaria de Promoção e Assistência Social, 12 eram do sexo feminino (80%) e apenas 03 eram do sexo masculino, com idade, predominantemente, entre 30 e 59 anos, de modo geral. Em relação à faixa etária dos beneficiários, a análise se deu considerando os seguintes grupos89:

Gráfico 5 – Faixa Etária dos Sujeitos (%)

Como se observa, o estudo demonstra que, no município de Sapé, entre os usuários dos benefícios eventuais estão concentradas mulheres na idade adulta. E retomamos os dados estatísticos do município sobre a faixa etária na qual incide o maior número de pessoas com baixo nível de escolaridade, os sujeitos demonstram situação similar, como se observa no gráfico a seguir.

89A análise considerou, ainda, o grupo etário “maior de 65 anos” no qual não foi identificado nenhum sujeito. Entre 18 e 30 anos incompletos 7% Entre 30 e 40 anos incompletos 53% Entre 40 e 60 anos incompletos 33% Entre 60 e 65 anos incompletos 7%

Gráfico 6 – Escolaridade dos Sujeitos (%)

A situação ocupacional dos sujeitos acompanha o baixo nível de escolaridade, visto que apenas 01 dos sujeitos entrevistados chegou a concluir o ensino fundamental. Assim, grande quantidade de beneficiários se identificou como “desocupado” (12), mesmo considerando opções como “autônomo”, “trabalhador na produção para o próprio consumo” e “tem um trabalho eventual”. Essa situação não está dissociada da situação geral do município de Sapé, que apresenta baixo índice de ocupação e, dentre estes, um reduzido grau de formalização.

Gráfico 7 – Situação Ocupacional do Sujeito (%)

Partindo para a composição familiar dos sujeitos da pesquisa foi verificado que, do total, 11 afirmaram ser civilmente solteiros, 02 disseram viver em união estável, 01 era casado e 01

33%

40% 20%

7%

Não alfabetizado

Ensino Fund. Incompleto (1° ao 4° ano)

Ensino Fund. Incompleto (5° ao 9° ano)

Ensino Fundamental Completo

80% 6%

7% 7% Desocupado (a)

Autônomo (a)/trabalhador por conta própria não contribuinte Desocupado (a) procurando trabalho

outro divorciado. No entanto, considerando o universo da pesquisa, 07 sujeitos afirmaram ter a presença de um (a) cônjuge ou companheiro (a) na estrutura familiar.

Faz-se importante destacar que, no geral, os próprios sujeitos se identificaram como responsáveis pelo grupo familiar, dos quais 08 eram do sexo feminino e 02 do sexo masculino90. Porém, à exceção de uma participante do sexo feminino que afirmava ter um cônjuge ou companheiro na composição familiar, todas as outras (04) identificaram os seus respectivos como as pessoas de referência das famílias.

As famílias apresentaram-se numerosa com a quantidade média de membros variando de “entre 03 e 04 membros” (06 famílias) aos patamares de “entre 05 e 07 membros” (06 famílias) e “entre 08 e 10 membros” (03 famílias) de forma mais concentrada.

Gráfico 8 – Quantidade média de membros das famílias

As famílias eram compostas em grande parte pela presença de cônjuges / companheiros (as) e filhos (as) (05 famílias) ou apenas pela relação de filiação entre o sujeito e os demais membros (05 famílias), acrescido da presença de relações dos tipos genro / nora, neto (a), e sobrinho (a) em situações pontuais91.

Do total de famílias (15), 12 eram beneficiárias do Programa Bolsa Família (PBF), onde, na maioria dos casos (10), o valor do benefício constituía a única fonte de renda familiar. Esse dado demonstra a capilaridade do PBF e reafirma sua importância para a proteção social das

90 Entre os participantes do sexo masculino, 01 deles atribui ao genitor a responsabilidade pelo grupo familiar. 91 À exceção de 01 caso, em todos os outros foram identificadas a presença de filhos na composição familiar. No caso em questão, o sujeito residia com os pais e 01 irmã.

Entre 03 e 04 membros; 6 Entre 05 e 07 membros; 6 Entre 08 e 10 membros; 3

famílias brasileiras, ressalvados os aspectos debatidos no capítulo 02. Nesse ponto da análise, ressaltam-se também os dados anteriormente apresentados, relativos ao baixo grau de ocupação dos sujeitos da pesquisa e do município de Sapé como um universo mais amplo onde estão inseridos, bem como às demais características do mercado de trabalho local.

Continuando a análise dos dados obtidos sobre os programas de transferência de renda da assistência social, verificou-se que 02 dos sujeitos participantes da pesquisa eram beneficiários do BPC para pessoa com deficiência. Assim como membros de mais 03 famílias (com 01 beneficiário cada). Ainda nesse sentido, 01 família afirmou ter em sua composição 01 idoso beneficiário do mesmo benefício de prestação continuada92.

Feitas as considerações acima, destaca-se que a renda familiar per capta dos sujeitos ficou concentrada em patamar inferior a ¼ do salário mínimo (10), o que os identifica, preliminarmente, como indivíduos/famílias em situação de vulnerabilidade social pela variável da renda, conforme indica a PNAS (CNAS, 2015 a)93. As demais faixas de renda familiar per capta, mencionadas pelos sujeitos, se encontram discriminadas no gráfico abaixo.

Gráfico 9 – Renda familiar per capta (%)

Porém, verificou-se que em todas as situações houve a conjunção da variável de renda com outras variáveis adotadas pela PNAS (CNAS, 2015 a) para definição da vivência de situações de vulnerabilidade social pelas famílias. Além disso, mesmo quando desconsiderada

92 No total, verificou-se a presença de membros beneficiários do BPC em 06 famílias, sendo 05 beneficiários do tipo “pessoa com deficiência” e 01 do tipo “idoso”.

93 Medida de indigência considerada pela PNAS (CNAS, 2015 a). 67% 27%

6%

Inferior a 1/4 do salário mínimo

Entre 1/4 e menos de 1/2 salário mínimo

Entre 1/2 e menos de 01 salário Mínimo

a situação de vulnerabilidade social pela renda, todos os sujeitos tinham esta situação definida por, no mínimo, 01 variável distinta. As variáveis identificadas foram:

 família com renda per capta inferior a ½ salário mínimo, com pessoas de 0 a 14 anos e responsável com menos de 4 anos de estudo (09);

 família na qual há uma chefe mulher, sem cônjuge, com filhos menores de 15 anos e analfabeta (01);

 família com renda per capta inferior a ½ salário mínimo, com pessoa de 60 anos ou mais (02);

 e família com renda per capta inferior a ½ salário mínimo, com uma pessoa deficiente (07).

Há também as variáveis para identificação de situações de vulnerabilidade social que estão vinculadas à situação do domicílio, das quais foram observadas as seguintes:

 mais de 02 pessoas por dormitório (09);

 domicílios particulares permanentes com abastecimento de água proveniente de poço ou nascente ou outra forma (01);

 e domicílios particulares permanentes com escoadouro ligado à fossa rudimentar, vala, rio, lago, mar ou outra forma (08).

O Decreto Presidencial n. 6.307/07 define, por sua vez, situações que possam ser identificadas como de vulnerabilidade temporária, as quais também são critérios para acesso aos benefícios eventuais. Esta pesquisa buscou apreender a vivência dessas situações pelos sujeitos através do formulário aplicado, sendo obtidos os dados demonstrados no quadro a seguir.

Quadro 6 – Vivência de Situações de Vulnerabilidade temporária pelos sujeitos

Vivência de Situações de Vulnerabilidade Temporária em Decorrência de:

Número de Sujeitos Identificados:

Falta de documentação 02

Privação alimentar 14

Perda circunstancial decorrente da ruptura de vínculos familiares, da presença de violência física ou psicológica na família ou de situações de ameaça à vida

14

Situação de abandono ou da impossibilidade de garantir abrigo aos filhos

0

Falta de domicílio 05

Desastres e calamidades públicas 01

Outras situações sociais que comprometam a sobrevivência

Chama-se atenção para o grande número de sujeitos que afirmaram ter passado por situação de privação alimentar, levando à indução de outros níveis de privação que se tenha atingido antes que fosse privada a necessidade mais básica do ser humano: a alimentação.

Os dados sobre a fragilização dos vínculos familiares também são alarmantes e corroboram para a necessidade de a assistência social atuar mais efetivamente sobre esse aspecto, como preconizado pela LOAS e pela PNAS. O fortalecimento dos vínculos familiares deve ser priorizado pelas ações da proteção social básica do SUAS, visando, assim, evitar a ocorrência de violação de direitos e rompimento dos vínculos.

Sobre a falta de domicílio, diversas situações de expulsão do local de moradia pela polícia e/ou justiça foram relatadas pelos sujeitos e este aspecto relaciona-se, diretamente, com a concessão do “auxílio aluguel”, pago com o recurso da assistência social, analisado adiante com mais propriedade.

Em relação às demais situações comprometedoras da sobrevivência dos sujeitos, foram mencionadas o acometimento de doenças graves por pessoas da família bem como o falecimento de membros, tanto pela contribuição financeira para a manutenção do grupo familiar quanto pelas despesas provenientes dessas ocorrências.

Face às vicissitudes mencionadas, os pesquisados reconheceram ter recebido assistência pelo poder público na forma de atendimento médico hospitalar nos casos de doença (05); de oferta de benefício eventual do tipo funeral nos casos de falecimento (02); de oferta de benefício eventual do tipo “auxílio aluguel” em algumas situações de falta de domicílio (01); de abrigo à família quando da ocorrência de enchente (01); e de encaminhamento por parte do poder judicial (01).

Deixa-se claro que a menção à assistência recebida foi livre por parte dos sujeitos, mesmo ficando subentendido que tenha havido maior número de ocorrência nas formas de atenção pelo poder público, considerando o número de sujeitos desta pesquisa que obtiveram acesso aos benefícios eventuais. Porém, a não intervenção nesse sentido visa preservar a própria percepção dos usuários sobre os benefícios eventuais, objetivo central deste estudo.