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O marco histórico anterior salienta a formação das organizações de agricultores familiares na Zona da Mata Mineira e dá indícios da racionalidade orientadora de seu

modus operandi20. Foi a partir daí que se formaram as organizações regionais de

19 Trata-se de um conjunto de princípios, conceitos e métodos que permitem estudar, manejar e avaliar ecossistemas agrícolas, oferecendo diretrizes para uma agricultura ambientalmente sadia, socialmente justa e economicamente viável (ALTIERI, 1999). Percebe-se uma perspectiva conservacionista da agricultura, caracterizada pela utilização de tecnologias que busquem o respeito à natureza, de forma a manter ou pouco alterar as condições de equilíbrio dos sistemas produtivos, bem como do ambiente em geral. Mas a agroecologia não ressalta apenas os princípios agronômicos ou ecológicos da produção, como é comumente caracterizada a agricultura orgânica. Ela integra também princípios socioeconômicos e culturais, buscando novas práticas agrícolas sedimentadas nas tradições e processos sociais de comunidades camponesas.

20 Diz-se aqui dessa racionalidade como as referências religiosas, políticas e ideológicas introjetadas ao cotidiano das organizações por meio das pessoas que vivenciaram os princípios e a prática das CEBs e

representação dos agricultores familiares, as cooperativas e associações e organizações não governamentais que atuam diretamente com este segmento. Evidente que estas organizações, ao longo dos anos, diante das mudanças político-institucionais do Estado brasileiro, reorientaram sua forma de atuação, definindo novas demandas e novas estratégias21. Mas as diversas organizações derivadas desse tecido social se mantiveram ativas em suas lutas cotidianas, cooperando e se opondo entre si, na medida de seus conflitos e necessidades e cada vez mais envolvidas com o Estado por meio de políticas públicas.

Antes do PESB, a interação das organizações da sociedade civil com organizações do setor público praticamente não existia. Principalmente até o fim da década de 1980, os sindicatos e as demais organizações atuavam em paralelo às prefeituras e outras organizações públicas, às vezes até de maneira divergente, apresentando oposição umas às outras. Considerando que nessa pesquisa o recorte analítico define o TSB como locus de análise, e que o TSB é institucionalmente referenciado pela existência de um Colegiado que envolve tanto sociedade civil como poder público, buscou-se identificar quais os espaços públicos anteriores ao Colegiado possibilitavam a interação entre diferentes organizações em nível regional, se é que existiam. Essa era uma questão latente, já que, quando se formou o território, as organizações possuíam certo de tipo de relação entre si.

Identificou-se nas incursões empíricas da pesquisa que o principal foco de interação entre as organizações em nível supralocal foi com o processo de constituição do PESB e, posteriormente, em seu conselho consultivo. Na reconstrução histórica da rede territorial e, assim, na descrição dos processos e instituições que influenciaram a dinâmica das interações sociais (e por isso a configuração da rede), o PESB reiteradamente marcou o discurso dos informantes da pesquisa, pois foi o primeiro espaço que colocou em contato, ainda que de maneira superficial, sociedade civil e poder público. Mas mais que isso, se constituiu também como um espaço regional de articulação das organizações da sociedade civil, de maneira que se pode considerar esta experiência como um ensaio para o que veio a ser institucionalizado como TSB. Além disso, os estudos sobre o TSB definem como ponto de partida, para compreender a institucionalidade do território e a formação social

MOBOM e do movimento sindical de cunho mais combativo que defendia a luta pela autonomia e protagonismo dos trabalhadores rurais.

21 O trabalho de Silva (2010) analisa essas transformações no sindicato de trabalhadores rurais de Espera Feliz e ilustra esse argumento.

que o sustenta, a criação do PESB, envolvendo uma densa articulação entre organizações da sociedade civil. Tendo em vista a relevância desta experiência para se compreender o fenômeno que aqui se estuda, cabe descrever como se deu esse processo de interação na constituição do PESB.

O trabalho de Bonfim (2006) sistematizou o processo de constituição do PESB e é uma referência para compreendê-lo. A autora indica que esse processo foi iniciado em 1975, ano em que professores do Departamento de Engenharia Florestal da UFV, vinculados ao Centro Mineiro para a Conservação da Natureza (CMCN), visitaram a área que hoje é definida como PESB e então a denominaram de Serra do Brigadeiro, que envolvia os municípios de Araponga, Ervália, Divino, Miradouro, Fervedouro, Muriaé, Sericita e Pedra Bonita. Em 1976, estes mesmo professores elaboraram uma proposta para a criação de uma unidade de conservação na região, intitulando-a de Parque Estadual da Serra do Brigadeiro. O projeto original previa a criação de área de proteção integral, utilizando como critério uma cota de preservação de 1.000 metros de altitude, ou seja, dentro dos limites da unidade, nenhuma área acima de 1.000m poderia ser explorada. Em 1988, o Governo do Estado de Minas Gerais autorizou a criação do PESB com base nesse projeto através da Lei nº 9.655.

No entanto, é somente a partir de 1993 que se registra a inserção de organizações da sociedade civil neste processo. Inclusive, todos os entrevistados que fizeram remissões ao processo de constituição do PESB, dataram o início neste referido ano. 1993 foi o ano em que o Instituto Estadual de Florestas (IEF) iniciou estudos para encaminhar a implantação do PESB, quando a criação do parque ganhou mais visibilidade e chegou ao conhecimento dos moradores do entorno e das organizações que ali atuavam. Para Bonfim (2006), começa-se, então, a articulação da sociedade civil22, cujo marco inicial da participação social nas discussões de criação do PESB foi a realização de um Diagnóstico Rápido Participativo (DRP) aplicado pelo Centro de Tecnologias Alternativas da Zona da Mata junto ao Sindicato de Trabalhadores Rurais de Araponga, município com maior área dentro do Parque. Esse DRP visava identificar novas frentes de atuação do sindicato e discutir seu posicionamento e atuação nesse processo de constituição da unidade de conservação, até então mantida sobre exclusiva interveniência do CMCN e do IEF, como

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foi o caso da contestação da cota de 1.000m de altitude, que ameaçava a desapropriação de terras.

É a partir de então que se começa a mobilização de várias organizações dos municípios do entorno para tentar reverter os limites de 1.000m, uma vez que havia muitas famílias residentes acima desta cota. O processo de mobilização para garantir a participação e o atendimento dos interesses da sociedade civil foi protagonizado inicialmente pelo CTA e STR de Araponga, mas ampliada posteriormente para os STRs dos outros municípios envolvidos e para outras organizações de atuação mais regional, como a CPT, o polo regional da Fetaemg e professores da UFV que possuíam um vínculo mais estreito com os movimentos sociais da região, sediados principalmente nos Departamentos de Solos e de Educação desta instituição, somando esforços para criar oposição à proposta original que estava em implantação. De acordo com Bonfim (2006), organizações religiosas também contribuíram divulgando as informações nas comunidades e fazendo discussões sobre o assunto. O depoimento a seguir indica esse processo de mobilização da sociedade civil para contrapor a proposta original do Parque, destacando que essa mobilização só foi possível porque na região já existia alguma conexão entre várias organizações, uma rede formada desde a CEBs e reforçada pelo movimento sindical:

Nessa construção [do DRP], quando foi discutir as alternativas para manter na terra, surgiu aí a discussão de que iria preservar na terra pra quê, se estava sendo criado um parque aí e que o pessoal iria era perder as terra. Então o sindicato de Araponga levantou essa bandeira, e como já havia essa articulação dessa rede que eu já te falei, o sindicato entrou em contato com os demais sindicatos e inseriu os demais municípios que estão em torno do Parque para discutir essas questões. Até então eles estavam dormindo. Mas acordou! Juntamos com alguns departamentos e professores da Universidade de Viçosa, a própria CPT e outras organizações e fomos formando esse bolo aí pra discutir e conversar o que seria um problema geral. Então criou todo esse movimento para ver como nós iríamos entender a criação do parque aqui no Brigadeiro. Aí fomos construindo e buscando informação. Fomos atrás dos órgãos, como IEF, Ibama, ir buscando informação sobre como o parque seria construído, porque não chegava até nós as informação, não chegava como seria criado, quais as regras e as normas na criação. (Representante de organização do setor público oriundo do movimento sindical, 2014)

Seguindo essa demanda da sociedade civil, e como fruto das mobilizações dos movimentos sociais, em junho de 1994, com o objetivo de esclarecer sobre a criação do PESB, suas consequências para a região e apontar soluções, foi realizada na sede do CTA, em Viçosa, uma reunião para avaliação de alternativas para a conservação da Serra do

Brigadeiro. Estavam presentes representantes das comunidades do entorno, STRs de Araponga, Carangola, Ervália, Miradouro e Muriaé, a Fetaemg, a CPT, pesquisadores da UEMG e da UFV, CTA, representantes de deputados estaduais, escritório local e regional do IEF e prefeitura de Miradouro. Nessa reunião, foi reforçada a necessidade de garantir a participação social no processo de criação do PESB e encaminhada a formação de uma comissão para elaboração de um relatório socioeconômico das populações diretamente envolvidas. Além disso, foi também definida a composição de um grupo de trabalho para implantação do PESB, formado pelo IEF, CTA, STRs, Fetaemg, CPT e representantes das prefeituras dos municípios do entorno, grupo este que se tornou a primeira iniciativa para o que viria a ser o conselho consultivo que acompanharia o IEF na gestão do parque (BONFIM, 2006).

Deu-se início, a partir de então, à realização de outro diagnóstico na região, levado a cabo pelo CTA em parceria com os STRs, visando levantar quanto de área seria desapropriada dos agricultores nos municípios do entorno do Parque, quantas famílias estariam envolvidas nesse processo de desapropriação, os fins para os quais estas áreas eram destinadas (café, pastagem, produção de alimentos etc.), dentre outras informações relevantes para caracterizar o impacto da cota 1.000m na população do entorno. Como resultado desse levantamento, constataram um grande impacto social e econômico do projeto original, com o envolvimento de cerca de 700 famílias pela cota estipulada.

Toda essa mobilização, que fomentou a articulação entre diversas organizações, é que deu visibilidade à sociedade civil no processo de constituição da unidade de conservação e garantiu a participação social como componente orientador do processo. O relato de um dos entrevistados da pesquisa descreve o momento histórico em que a participação social foi legitimada, indicando como sendo na realização de uma audiência pública. De acordo com a sistematização de Bonfim (2006), essa audiência é datada de julho de 1994.

Aconteceu uma audiência pública em Muriaé [município abrangido pela área do Parque] e veio deputados para coletar demandas da região, e como já havia toda essa articulação [sindical], esses contatos, isso chegou até o polo da Fetaemg, e na época nós ficamos sabendo e falamos de levar o nosso povo pra lá pra audiência e que devia ter alguém para fazer parte do corpo da mesa, pra na hora de fazer a discussão puxar esse debate do parque, porque até então era outras coisas a serem discutidas. Levantava a bandeira lá e o povo manifestava aqui em baixo. Foi então aprovado pela assembleia que se fosse mesmo criado o parque

que deveria ser ouvida a sociedade civil. (Representante de organização da sociedade civil, 2014)

Em setembro de 1994, foi realizada outra reunião ampliada na sede do CTA para dar continuidade às ações de criação do Parque, mas garantindo a participação da sociedade no processo. Nesta ocasião, foram apresentados resultados de pesquisas realizadas pela UFV e por outras instituições, sinalizando a necessidade de reduzir a área do PESB, extinguindo a proposta original da cota de 1.000m de altitude, e estabelecendo proposta de convênio entre IEF, CTA e STRs para realização posterior do plano de manejo do Parque e seus entornos. Ainda neste mesmo ano, por decorrência desse novo cenário envolvendo a centralidade do CTA e de outras organizações da sociedade civil e sua oposição ao projeto original do Parque, segundo Bonfim (2006), a CMCN e os professores do Departamento de Engenharia Florestal da UFV a ela vinculados que propuseram tal projeto foram afastados ou se viram afastados desse processo.

Desde então foram sucessivas reuniões, debates e estudos, todo o processo construído sob o marco da participação social. A ampliação dos atores da sociedade civil envolvidos no processo viabilizou a revisão e a modificação da proposta original. Foi em dezembro de 1996, com a publicação do decreto nº 38.319 do Governo do Estado de Minas Gerais e IEF, que o PESB foi legalizado, definido com uma área de 13.210 ha (a proposta original previa uma área de 32.500ha). O relato a seguir diz respeito a este acontecimento:

Depois de toda a mobilização, do diagnóstico, conseguimos convencer eles de extinguir a cota mil. Foi criado o Parque, mas a proposta foi alterada. Conseguimos, então, reduzir mais de cinquenta por cento. E isso foi importante. Revertemos assim a determinação do Estado com nossa própria ação, graças a toda essa mobilização, essa articulação em prol dos agricultores familiares e movimentos sociais em torno do Parque. (Representante de Organização do Setor Público oriundo do movimento sindical, 2014)

Entretanto, esse processo de articulação não se encerra com a criação do PESB. Após sua formalização, as organizações continuaram protagonizando ações, pressionando o órgão gestor para que a elaboração do plano de manejo também ganhasse caráter efetivamente participativo, de forma a manterem vivos os anseios e expectativas das comunidades do entorno (BONFIM, 2006). Em 1997, foi realizado um DRP envolvendo

oito comunidades distribuídas nos municípios de Araponga, Muriaé, Miradouro e Fervedouro, coordenado pelo CTA e os STRs locais, buscando construir uma proposta mais harmônica entre a conservação dos recursos naturais e o desenvolvimento da agricultura familiar na região. Além de sistematizar os problemas enfrentados pelas comunidades, o diagnóstico indicou como os povos do entorno se relacionavam com a natureza e o que pensavam sobre a criação do Parque, além de possibilitar a construção de um plano de trabalho em conjunto com os STRs. Esse trabalho, somado a estudos científicos sobre os recursos naturais e serviços utilizados pelas famílias no Parque, realizados por instituição de ensino e pesquisa do Estado, principalmente a UFV, contribuiu para uma discussão ampliada sobre o plano de manejo, considerando minimizar a pressão antrópica sobre os recursos naturais, mas sem comprometer a integridade e os modos de vida dos povos locais.

Em julho de 2000, após um incêndio ocorrido em 1999 que paralisou as atividades nesse ano23, foram retomadas as discussões sobre a continuidade das ações relativas ao parque, por iniciativa do CTA. Num esforço conjunto entre IEF, CTA e professores dos departamentos de solos e de educação da UFV (que possuíam ligação com o CTA) foi realizado um simpósio para discutir o plano de manejo participativo. Tal evento marca definitivamente o início do debate sobre a gestão participativa do PESB.

A partir daí a gente teve outra mobilização. Já que o Parque foi demarcado, a questão era o quê que nós iríamos poder usar. Nós fizemos então com o CTA outra pesquisa, se o pessoal usava lenha, se usava... é... cipós, se tirava plantas medicinais, o que eles usavam. E as trilhas também. Enfim, tudo que os povo do entorno usava e como usava do Parque, e como que o Parque iria poder contribuir com eles. Foi feito esse levantamento para apresentar num simpósio. (Representante de organização da sociedade civil, 2014)

Esse simpósio marcou a retomada do processo participativo de implementação do Parque, reunindo tanto organizações governamentais, quanto da sociedade civil organizada. Esse evento também foi marcante por ter tido como encaminhamento a primeira proposta formal, aprovada em plenária, sobre a composição do conselho consultivo do PESB, dando início, então, à institucionalização desse espaço participativo em nível territorial, que antecedeu a constituição do TSB e a criação do seu Codeter.

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Em fevereiro de 2004, o conselho consultivo do PESB foi instituído através da Portaria 021 do IEF, composto por 36 membros, sendo 18 efetivos e 18 suplentes, com representantes dos diversos segmentos, inclusive dos moradores do entorno, representando uma conquista das organizações ligadas aos movimentos sociais. Mas isso não aconteceu sem resistência. O processo de construção participativa colocou interesses divergentes (e muitas vezes contraditórios) em diálogo. O órgão gestor defendia, antes da implantação, uma composição com menor número de participantes e sem representantes das comunidades, uma vez que os STRs já possuiriam assento, justificando um melhor funcionamento do fórum (BONFIM, 2006). Em 2004, os conselheiros elaboraram o regimento interno do conselho consultivo e iniciaram com o IEF discussões sobre continuidade de implantação do PESB. Ao final de 2005, saiu novo decreto de demarcação do PESB com área total de 14.984 ha, fruto das ações de regularização fundiária encaminhadas pelo IEF.

Toda essa trajetória, que é muito mais complexa do que essa breve descrição daria conta de evidenciar, resgata aos propósitos desta pesquisa a transformação de uma base social de grande relevância, tecida a partir das mobilizações e articulações entre diferentes organizações, principalmente aquelas da sociedade civil. O Quadro 1 apresenta a relação das organizações que estiveram envolvidas nesse processo. A intenção aqui não foi de analisar minuciosamente a constituição do PESB, mas sublinhar sua importância histórica para as dinâmicas sociais do território. A configuração da rede territorial não pode ser enxergada sem esse contexto, uma vez que ele promoveu a interação entre várias organizações, ativou conflitos e redefiniu posições.

Instituto Estadual de Florestas (IEF)

Prefeituras Municipais de Araponga, Fervedouro, Ervália, Muriaé, Miradouro, Divino, Sericita e Pedra Bonita

Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural de Minas Gerais - Emater (Gerências Regionais de Viçosa, Ponte Nova e Muriaé)

Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais (Epamig)

Universidade Federal de Viçosa (UFV) (professores vinculados aos Departamentos de Solos, Educação, Engenharia Florestal e Biologia)

ONG: Centro de Tecnologias Alternativas Zona da Mata (CTA-ZM), Amigos de Iracambi, Centro de Estudos e Educação Ambiental (CECO), Centro Mineiro para a Conservação da Natureza (CMCN), Brasil Verde, Associação Comunitária e Ambiental de Araponga Sindicatos de Trabalhadores Rurais (STRs) de Araponga, Ervália, Miradouro, Muriaé, Carangola, Divino, Sericita e Pedra Bonita

Polo Regional da Federação dos Trabalhadores na Agricultura de Minas Gerais (Fetaemg) Associação dos Agricultores Familiares de Araponga, a Associação dos Pequenos Produtores de Miradouro, a Associação dos Pequenos Produtores de Divino e Associação dos Produtores Rurais de Rosário de Limeira

Associação Regional dos Trabalhadores Rurais da Zona da Mata Comissão Pastoral da Terra (CPT)

Quadro 1: Organizações participantes do processo de mobilização para a constituição do PESB. Fonte: Freitas (2011)

O processo de mobilização das organizações da sociedade civil, principalmente os STRs, para acompanhamento das discussões do Parque foi um processo organizativo inicial para a constituição de uma rede regional. Os espaços de participação ampliada, como as reuniões e os simpósios, e posteriormente o conselho consultivo do Parque, ensaiaram a interação entre os atores e serviram como palco para a constituição de uma esfera pública. Segundo Bonfim (2006, p. 106), “A experiência do PESB contribuiu para criar e fortalecer uma articulação entre diferentes organizações governamentais e da sociedade civil, com diferentes visões, interesses e práticas, mas atuando em função de um objetivo comum, caracterizado pelo PESB e seu entorno”.

As articulações interorganizacionais desencadeadas pelo PESB, portanto, foram responsáveis por promover e fortalecer a formação de laços entre diferentes atores. Alguns desses laços, cuja gênese se localiza desde a experiência das CEBs e do MOBON, reconfigurados e ressignificados pelo PESB, avançaram para além da unidade de conservação, sendo atualmente responsáveis por muitos projetos e ações desenvolvidos na região, mas, em especial, por ser a base da constituição do Território Serra do Brigadeiro no âmbito do PRONAT. Um dos entrevistados comenta sobre isso:

A criação do Parque, então, ajudou a reformar essa rede nesse território. Ela já existia né, desde lá do sindicalismo, das CEBs... Mas com o Parque aglutinou a