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Promoção da decisividade no Ensino Superior

O PROGRAMA DE FORMAÇÃO

Este programa é estruturado tendo a perspetiva da tomada de decisão como uma competência, pas- sível de ser desenvolvida e promovida. Deste modo, o conteúdo da formação foi desenvolvido tendo como base o modelo de Bruin et al. (2007), com as várias dimensões apontadas pelos autores verti- das nas várias sessões do programa.

Foi ainda incluído, para efeitos de desenvolvimento do programa, uma outra dimensão não incluída no modelo referido, mais especificamente a dimensão afetiva, que tanto interfere na decisão e que frequentemente tem sido colocada de parte pelos diversos modelos normativos de decisão.

Resistência a vieses e heurísticas Normas sociais

Confiança Regras da decisão Análise do risco Estabilidade emocional

Tabela 1. Dimensões para o desenvolvimento da Tomada de Decisão

RESISTÊNCIA A VIESES E HEURÍSTICAS

Os vieses e as heurísticas condicionam a análise adequada da informação, podendo originar decisões desadequadas, mas não serão as únicas formas de levar a erros de análise. A título de exemplo a resistência ao enquadramento, que foi uma das primeiras e principais heurísticas a ser identificada (Tversky & Kahneman, 1981), apresentando um peso significativo nos trabalhos realizados sobre a tomada de decisão. O seu efeito é conhecido e assumido como impactante no processo de decisão (Frisch, 1993).

Por resistência a vieses e heurísticas entenda-se a capacidade de identificar e lidar com situações que possam condicionar a forma como o problema ou as alternativas são identificados, nomeadamente: se as escolhas são afetadas por diferenças insignificantes na descrição do problema, através do en- quadramento do problema em termos de perdas e ganhos; na capacidade em ignorar investimentos anteriores em decisões tomadas; etc.

Reconhecer normas sociais

As normas sociais influenciam o comportamento humano, tanto em relação ao que se deve fazer em comparação com outros e que outros esperam da pessoa (Schultz, Nolan, Cialdini, Goldstein, & Griske- vicius, 2007). As pessoas, em geral, esforçam-se para corresponder ao comportamento dos outros, uti- lizando a informação que retiram desse comportamento para as suas próprias decisões, tentando não se afastar muito daquilo que consideram ser adequado ou normal (Grecucci & Sanfey, 2014).

Falta/excesso confiança

A dimensão falta/excesso de confiança avalia a capacidade da pessoa em reconhecer a dimensão do próprio conhecimento (Bruin et al., 2007), ou melhor, se confiam no seu conhecimento e se sentem- -se capazes de decidir com base no que sabem.

Em geral as pessoas sentem-se muito confiantes em relação aos seus conhecimentos, tornando-se inclusive excessivamente confiantes, tendem a exagerar a real dimensão de aquilo que sabem está correto, ou mais especificamente apresentam o viés do excesso de confiança (Harvey, 1997).

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Investigação, Práticas e Contextos em Educação

2018

Embora seja um viés útil, em variadas situações que facilitam a decisão, temos a tendência a tornar- mo-nos demasiado confiantes exatamente nos momentos mais perigosos, nomeadamente em situa- ções pouco familiares ou em contextos pouco compreendidos (Johnson & Fowler, 2011).

A definição de Falta/Excesso de Confiança utilizada remete para a capacidade de identificar limita- ções pessoais no conhecimento sobre o problema.

Regras de decisão

A forma como a pessoa consegue gerir a integração da informação disponível, conjugando-a com crenças e valores pessoais, é fulcral para uma boa tomada de decisão. No fundo, esta capacidade está diretamente relacionada com o processamento da informação no momento em que é necessário tomar a decisão, ou dito de outro modo, com a capacidade do decisor em escolher a estratégia ade- quada para a situação em que se encontra, principalmente em contextos de várias decisões (Payne & Bettman, 2008), ou em inibir informação irrelevante que compete com os dados mais relevantes (Del Missier et al., 2010).

A capacidade de aplicar regras de decisão está relacionada com a integração das crenças e dos valores de forma coerente quando se toma uma decisão, resultando numa melhor capacidade quando há uma melhor integração destes dois aspetos (Parker & Fischhoff, 2005).

A definição de Regras de Decisão utilizada é de capacidade da pessoa para utilizar diferentes regras aplicáveis ao processo de tomada de decisão, tal como a pesagem das probabilidades.

Perceção do risco

Em geral, as pessoas reagem ao risco a dois níveis, avaliam o risco cognitivamente e posteriormente reagem emocionalmente, com ambas a influenciarem-se mutuamente. A análise cognitiva do risco está muito relacionada com a identificação de probabilidades e com a pre-visão dos resultados que derivam das opções escolhidas (Loewenstein, Weber, Hsee, & Welch, 2001)

A perceção do risco é feita com base em julgamentos de probabilidade de um dado acontecimento perigoso, na estimativa da magnitude do risco ou simplesmente nas crenças pesso-ais sobre um acontecimento (Fischhoff, 2015).

É ainda influenciada pela forma como a pessoa muda de um contexto para outro, ou seja, a capacidade para se adaptar, que resulta da necessidade de aplicar estratégias que facilitem esta adaptação, leva-as a deterem recursos cognitivos e estratégias de avaliação do risco melhores (Del Missier et al., 2010). Por Perceção de Risco entenda-se como sendo a capacidade em compreender regras de probabilida- de e formas de identificar e analisar o risco das alternativas.

Estabilidade emocional

No fundo é a própria emoção, ou estado emocional vivido em função de um acontecimento, que possibilita ou facilita a aprendizagem e, por sua vez, origina respostas à partida pouco racionais (Baumeister, Vohs, DeWall, & Zhan, 2007).

Em geral, as pessoas quanto estão emocionadas pensam de forma idiossincrática, categórica, pouco reflexiva e apresentam alguma tendência a agir (Epstein, 1994). Quanto mais forte for a emoção maior a probabilidade das pessoas em olharem para os acontecimentos envolventes com base nessa emoção, ou dito de outro modo, pessoas zangadas tendem a considerar os outros como estando zan- gados, ou a agirem mais em função dessa mesma emoção (Seo & Barrett, 2007).

A definição de Estabilidade Emocional utilizada neste programa vê esta como sendo a capacidade indi- vidual em identificar e gerir estados emocionais que interferem com o processo de tomada de decisão. O programa de formação contempla 5 sessões, semanais, que contemplam os seguintes temas:

• Impacto de uma boa competência de tomada de decisão • A manipulação da decisão

Investigação, Práticas e Contextos em Educação 2018 o Uso da cor o Uso da música o As ilusões

o Estratégias para lidar com os vieses e heurísticas • Reconhecer normas sociais

• Falta/excesso confiança

o A importância da autonomia e confiança o Confiança na decisão

• Regras de decisão

o Os níveis de decisão

o Dimensões relevantes na Tomada de Decisão o Níveis de decisão

• Procedimentos de tomada de decisão o Decisão de grupo

o Procedimento genérico de decisão • Perceção do risco

o Como lidar com o risco • Avaliar a qualidade da decisão • Estabilidade emocional

o As emoções na tomada de decisão

METODOLOGIA

Todos estes instrumentos foram disponibilizados online através de uma plataforma, com acesso con- dicionado, no endereço http://www.tomadadecisao.ga.