• Nenhum resultado encontrado

2.3 Educação para a Saúde na Escola 27

2.3.3 A vertente da Educação Sexual 34

2.3.3.2 O projecto de Educação Sexual na Escola 41

Actualmente, a ES aparece claramente integrada numa dinâmica promotora de saúde, sugerindo uma abordagem numa perspectiva mais abrangente de EpS. Como tal, o facto de a ES ser um vector do saber dotado de toda a pertinência no contexto actual, não significa que a mesma deva ser isolada de um conjunto mais amplo do saber, ou seja, o da saúde. Preconiza-

tabagismo, do alcoolismo, do consumo de drogas, do comportamento sexual de risco, da violência, por exemplo), para intervenções preventivas globais dos comportamentos potencialmente lesivos da saúde (GTES, 2005, 2007b).

A ES é diferente de informação sexual. A tentação de reduzir a ES à mera transmissão de conhecimentos sobre a anatomia e fisiologia dos aparelhos reprodutores é insuficiente, sendo necessário abordar aspectos relacionais e afectivos da sexualidade, promovendo-se desta forma uma sexualidade saudável, gratificante e consciente (Egypto, 2003; Nodin, 2001; Paiva & Paiva, 2002; Suplicy, 1995). O diálogo aberto que se pretende estimular revelará, decerto alguma ousadia e quebra de preconceitos, contudo, é bom que seja balizado pelo respeito e defesa da intimidade de cada um dos intervenientes e que seja sempre perspectivado segundo as diferentes dimensões da sexualidade: biológica, psicológica, social e espiritual (Paiva & Paiva, 2002; Ribeiro, 1990).

Assim sendo, não descorando a componente informativa, a ES deve ser sobretudo uma educação para a afectividade, o compromisso, o respeito pela dignidade do outro, o assumir de responsabilidades perante nós e os outros, numa perspectiva positiva da sexualidade promovendo a auto-estima e a assertividade (Aroso, 2001; García, 1995; Marinis & Colman, 1995).

Aos aspectos atrás mencionados, Lickona (1991) acrescenta a dimensão moral na ES. No seu ponto de vista, o comportamento sexual é determinado por valores e não somente pelo conhecimento. Consequentemente, defende que a ES deve educar os jovens também numa perspectiva moral da própria conduta humana.

Perante estas perspectivas, implica compreender que os comportamentos sexuais juvenis dependem da interacção entre motivações internas e relacionamentos interpessoais, mas podem ser influenciados pela forma como os adultos, na família e na Escola, vivem o seu quotidiano afectivo- sexual (GTES, 2007b).

Quando falamos de ES, “estamos a utilizar um conceito global abrangente de sexualidade que inclui a identidade sexual (masculino/feminino),

o corpo, as expressões da sexualidade, os afectos, a reprodução e a promoção da saúde sexual e reprodutiva” (Frade et al., 1999, p.12).

Assim sendo, a ES procura não só atenuar os comportamentos de risco, tais como a gravidez não desejada e as doenças sexualmente transmissíveis, mas também promover a qualidade das relações interpessoais, a qualidade da vivência da intimidade e a contextualização destas na sua raiz cultural e socio- histórica (GTES, 2007b).

Posto isto, esta recente opção pela inclusão da sexualidade na área da saúde, não pretende reduzir a EpS a uma visão mecanicista, biológica e sanitarista, mas, pelo contrário, sublinhar o carácter fenomenológico, holístico e cultural de um conceito abrangente de saúde, tal como foi proposto pela OMS (GTES, 2007a).

A informação na ES deve ter sempre em conta a diversidade de fontes informativas (família, Escola, amigos, livros e revistas, Internet etc.). No entanto, é necessário ter em conta que, na Europa, os adolescentes passam cerca de 2/3 do tempo na Escola e, como tal, a Escola é um palco privilegiado da relação do adolescente com os pares, logo tem um papel determinante no ambiente social, contribuindo para o desenvolvimento do sentimento de identidade e autonomia desses mesmos adolescentes (Kuntsche & Jordan, 2006).

O GTES (2007a) considera que as acções de EpS devem ser dinamizadas por um Professor-Coordenador, tanto nos 2º e 3º ciclos, como Secundário. Para tal, a formação inicial de professores, do 1º Ciclo ao Secundário, é o ponto de partida para a coordenação de projectos na área da Educação Sexual/Educação para a saúde, qualquer que seja a especificidade da acção lectiva do docente. Além disso, consideram ainda que, os professores de Ciências Naturais e EF surgem, à partida, como candidatos tradicionalmente mais motivados para exercerem funções de coordenação, pelo maior conhecimento dos aspectos biológicos do corpo humano.

Segundo Duarte (2006), qualquer docente tem de demonstrar capacidade de análise crítica, como forma de promover a resolução de conflitos

existentes entre valores que vão surgindo nas questões relacionadas com os comportamentos sexuais.

A ES assume elevada importância na actualidade portuguesa, dado ser um país com elevada prevalência de IST’s e onde a taxa de gravidez adolescente continua elevada e constitui um factor de risco psicossocial a ter em conta (GTES, 2007a).

Num inquérito realizado com jovens portugueses, em que estes eram questionados sobre aspectos da sua vida afectiva e sexual (Matos et al., 1994), concluíram que os jovens estavam em geral bem informados no que diz respeito à prevenção da gravidez não desejada e às doenças sexualmente transmissíveis, no entanto tinham por vezes dificuldades em transformar esses conhecimentos em comportamentos de saúde saudáveis. É nesta discrepância entre “informação” e “adopção de comportamento” que fazem sentido medidas promocionais que ajudem os jovens a transformar os seus conhecimentos em práticas de saúde. Para tal, propõem-se programas de promoção de competências pessoais e sociais que permitam ao jovem identificar e resolver problemas, gerir conflitos interpessoais, optimizar a sua comunicação interpessoal, defender os seus direitos, resistir à pressão de pares, entre outros, e com estas aprendizagens optimizar a sua capacidade de escolher um estilo de vida saudável e de o manter (Matos, 2005).

A ES reveste-se de particular importância no Ensino Secundário, atendendo ao facto de muitos estudantes já terem uma vida sexual activa. Como tal, a Escola deve empenhar-se em promover informação e debate sobre as questões sexuais, tendo particular atenção ao quadro ético de referência nos relacionamentos afectivo/sexuais, ou seja, questões como o respeito, atenção e o sentido do outro, a responsabilidade nos comportamentos, a condenação de todas as formas de violência sexual, a aceitação de diferentes comportamentos sexuais de alguns alunos, são alguns temas que deverão ser tratados, sob coordenação do professor responsável e sempre com participação activa dos alunos (GTES, 2007b).

Embora a transversalidade da acção do Professor-Coordenador, o trabalho na Área de Projecto e os Gabinetes de Apoio sejam decisivos, o GTES

(2007) recomenda que, nos 10º, 11º e 12º anos, sejam aproveitados os espaços lectivos de EF, uma vez que, esta disciplina atravessa todo o Secundário, tem carácter obrigatório e dispõe, em regra, de profissionais com um relacionamento muito próximo dos alunos. Além disso, o seu currículo inclui a formação ecléctica dos alunos e a realização de objectivos do domínio social.

Apesar de o papel da EF na ES do 3º Ciclo do EB não aparecer de forma explícita, alguns dos objectivos propostos pelo GTES (2005, 2007b) para a ES neste ciclo de ensino, parecem estar relacionados com a EF, entre os quais a:

• Comunicação com os outros (dificuldades e características);

• Identificação e resolução de problemas e conflitos (tomada de decisões); • Identificação de dificuldades em lidar com sentimentos e acções;

• Gestão do stress e da ansiedade;

• Culto da assertividade: espaços de escolha positiva;

• Relação positiva com a Escola, família, lazer, amigos e namorados; • Gestão do tempo de trabalho e de lazer;

• Protecção e prevenção a violência e o abuso físico e sexual;

• Protecção do corpo (promoção da higiene e dos bons hábitos alimentares, valorização da diferença e reflexão sobre o corpo e a aparência, promoção das actividades físicas, prevenção de consumos, prevenção dos comportamentos sexuais de risco);

• Promoção da saúde sexual e reprodutiva: parentalidade; • Participação na vida social e na comunidade;

• Valorização da escolaridade nas suas expectativas de futuro; • Construção do futuro.