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O significado do GTD para os alunos para a professora

CAPÍTULO IV – A análise dos dados

4.2. O significado do GTD para os alunos para a professora

Para investigar as contribuições do GTD de multiplicação para esse grupo de crianças, considerei que seria necessário perguntar para elas qual o significado desse trabalho, que as separa de sua turma regular e propõe um “novo lugar” para rever aspectos em que eles apresentavam dificuldades. Por outro lado, procurei entender, também, como a professora caracteriza e vê a contribuição desse trabalho no projeto de educação que o CP desenvolve.

Krug (2001) afirma que “existe um desenvolvimento possível a cada fase de formação da criança e que esse desenvolvimento gera a necessidade de atividades diferenciadas a serem propostas às alunas e aos alunos nas situações vivenciadas na escola” (p. 24). Eu procurava investigar se o GTD seria um espaço para essas atividades diferenciadas a que Krug se refere. Para isso fiz entrevistas individuais com os alunos e com a professora do GTD de multiplicação, realizadas ao término das aulas de 2003.

Do roteiro da entrevista para os alunos constavam as seguintes questões: o que eles achavam do GTD, se existiam diferenças entre as aulas regulares de matemática e o GTD de multiplicação e quais eram elas e se eles achavam que o GTD os ajudou em seus aprendizados escolares. À professora, pedi que ela contasse como foi seu trabalho, que diferença ela via entre suas aulas no GTD e na sala de aula regular e como percebeu a evolução de cada criança durante o semestre. Farei inicialmente a análise das entrevistas com os alunos, depois a da entrevista com a professora.

Todos os alunos percebem o GTD como um espaço onde eles têm oportunidade de aprender e afirmam que acharam bom participar dos trabalhos nesse semestre. Uma aluna

(Carla36) afirmou que no início não gostava, mas com o tempo mudou sua opinião.Vejamos o que dizem do GTD:

• “eu acho bom... porque eu sou um pouco ruim em matemática... eu aprendo mais” (Andréia); • “...muito legal porque eu estou aprendendo muitas coisas... eu estou evoluindo mais...”(Raiane);

• “eu acho bom... ( ) eu aprendo mais coisa de matemática e... eu estou melhorando nas aulas de matemática” (Ivan);

• “eu acho bom...( ) porque a gente aprende mais coisa de matemática” (Teresa); • “eu acho bom... é uma forma de aprender a multiplicação” (Paulo);

• “eu pensava que ia ser assim... ser chato... ser ruim... porque era de matemática... eu não gosto muito de matemática aí assim... passado meses eu comecei a gostar do GTD... ( ) eu comecei a ficar mais atenta na matemática” (Carla);

• “eu acho que é para... tipo reforçar mais para o aluno quando ele está com dificuldade.” (Mateus); • “eu acho muito legal para mim... ( ) porque é a minha matéria preferida” (Priscila).

Pelas respostas dadas pode-se dizer que os alunos viram o trabalho do GTD como um espaço onde puderam sanar dúvidas a respeito do assunto estudado. Assim, posso dizer que os alunos parecem acreditar que o GTD contribuiu para que eles desenvolvessem uma melhor compreensão da matemática, de forma geral, e compreendessem melhor o algoritmo da multiplicação, de forma mais específica.

Em determinado momento, durante o desenvolvimento da pesquisa, fui questionada sobre a razão pela qual só tinha feito as entrevistas com os alunos no final do GTD, perdendo assim a oportunidade de lhes perguntar o que tinham achado de terem sido encaminhados para o grupo de matemática e de poderem comparar suas impressões antes e após os estudos. Buscando responder a essa questão, decidi fazer entrevistas com um outro grupo de alunos, que foram indicados para o GTD de matemática em 2004 e que ainda não haviam começado os estudos. Ao final, pude observar que as suas respostas estavam muito próximas das afirmações dos alunos da pesquisa que estudaram no semestre anterior. Acredito que isto se deva ao fato de o GTD já estar incorporado na rotina da Escola, uma vez que todos participam de algum GTD, e assim os alunos acabam considerando esse trabalho como parte natural de seus estudos. Veja algumas falas desses alunos, em tudo semelhantes às do grupo pesquisado, após ter participado do GTD de multiplicação:

• “acho legal... porque fica fazendo multiplicação” (Gabriel); • muito bom... porque é importante para a gente aprender” (Gastão);

• é bom... porque é mais uma oportunidade da gente ficar aprendendo as matérias” (Lair);

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• bom... para aprender mais quando uma pessoa está com dificuldade” (Mariana); • legal... porque junta pessoa de outra sala, faz trabalhos diferentes” (Karolina).

Quanto à crença que os alunos manifestaram de que o GTD contribuiu para que eles desenvolvessem e compreendessem melhor o algoritmo da multiplicação, encontrei sua justificativa nas várias diferenças que eles citaram entre as aulas regulares e o GTD. Entre essas diferenças, citaram o jeito da professora explicar a matéria, a organização da sala, a própria postura dos alunos e a tranqüilidade das aulas, que foram assim explicitadas nas falas dos alunos:

• “(...) na aula de matemática... também... eu não presto atenção... eu fico conversando na aula e... é... e no GTD assim... eu dei uma melhorada ( ) o Mario (...) ele... assim não explica tão direito... eu peço para ele para fazer as contas ( ) ele não explica direitinho se tem... se pode fazer uma conta de mais para saber a resposta daquela conta de vezes... assim né...” (Andréia);

• “(...) e a Wânia ela explica mais... ela faz as coisas ficarem mais fácil para a gente (...)” (Raiane);

• “(...) você pode sentar ou separado ou sentado de dupla e não pode conversar” (Ivan) ((se referindo ao GTD));

• “que a aula de matemática já é mais pesada... já tem mais dificuldades do que a de GTD (...) quando eu vou para o GTD eu me sinto mais à vontade porque tem mais multiplicação” (Paulo);

• “no GTD tem menos pessoa fica mais tipo um grupo... na aula tem mais pessoa e ela pergunta para um e não para o outro... aí tem diferença ( ) a professora fala... explica mais (...) no GTD explica com jeitinho para todo mundo entender... na sala fica muito um perto do outro... fica meio desorganizado” (Carla);

• “(...) no GTD eles ensinam mais as coisas... para gente que tem dificuldade” (Mateus).

• “O professor... ele coloca...faz igual o GTD... porém coloca divisão... e no GTD a professora não coloca não... faz multiplicação... ( ) na sala do professor é assim... muito agitada... a gente quase não presta atenção em nada... nas aulas do GTD é calmo... não tem muita pressa” (Priscila).

Os alunos identificaram várias diferenças entre as aulas do GTD e as aulas regulares de matemática. Eles acham importante a professora ter esse tempo para explicar “direitinho” como fazer um exercício e acreditam que isso facilita a compreensão. A proposta feita pela professora para organizar a sala (em dupla ou sozinho), a calma, a falta de pressa e o número reduzido de alunos foram elementos apontados pelos alunos como positivos no processo ensino- aprendizagem. Essa organização parece contribuir para os alunos conversarem menos, prestarem mais atenção às aulas, permite à professora fazer perguntas a todos os alunos, explicar “com jeitinho” para todos entenderem. Outro aspecto colocado foi o GTD ter um assunto específico a

ser estudado, o que deixa os alunos “mais à vontade” e, talvez, poderei dizer, mais seguros para discutirem suas dúvidas.

Quase todos os alunos do grupo, quando perguntei se o GTD os ajudou em alguma coisa, afirmaram que o GTD os ajudou a aprender algo a respeito da multiplicação:

• “(...) eu não estava muito boa... eu falava com o professor que eu não entendia quase nada... no GTD está ajudando muito porque eu estou relembrando muito” (Andréia);

• “é... eu acho que a metade sim a metade não... algumas coisas eu aprenderia outras não (...) vezes eu era muito ruim eu aprendi... ( )” (Raiane);

• “um pouquinho mais de vezes (...) agora eu estou lembrando de umas coisas que o professor diz e eu esqueci” (Ivan);

• “na multiplicação... quando a gente estava aprendendo multiplicação eu tinha dificuldade... (...) aí quando cheguei nesse GTD já ficou mais fácil para mim multiplicação (...) o GTD me ajuda a saber algumas contas a não tropeçar em algumas contas que eu não sabia nada e agora eu já sei muitas coisas” (Paulo);

• “com a Wânia lá no GTD eu comecei a ficar mais atenta... assim na conta de vezes... eu não sabia nem quanto era 4x7... ficava em dúvida ((riu)) se era 40 ou 42... aí com o GTD eu fiquei mais esperta nas continhas... eu melhorei nas aulas de matemática e no GTD” (Carla);

• “eu tinha dificuldade eu melhorei muito” (Mateus).

Teresa afirmou que o GTD a ajudou, e Priscila confirmou balançando a cabeça afirmativamente, mas elas não explicaram como ou porquê.

Pelas falas dos alunos posso dizer que eles têm clareza de que tinham dificuldades em relação à multiplicação quando entraram para o GTD e de que aprenderam algo sobre o assunto durante a permanência nas aulas do Grupo. A oportunidade de relembrar um assunto estudado e que ainda não foi consolidado parece ser um fator decisivo para a aprendizagem e que contribui para diferenciar o GTD das aulas regulares. Como afirmaria Krug (2001), essa atividade diferenciada possibilitou um aprendizado, porque ela foi direcionada para a fase de formação em que as crianças se encontravam naquele momento.

Pedi à professora para nos explicar como foi o seu trabalho no GTD durante o semestre e a diferença do seu trabalho de sala de aula para o GTD, e ela fez afirmações que demonstram que acredita que esse projeto de ensino contribui para o aprendizado dos alunos e, também, falou sobre seu olhar em relação às dificuldades que as crianças apresentaram durante o seu percurso escolar.

Ela afirmou que “o GTD é um espaço privilegiado porque pode trabalhar com um número reduzido de alunos e... muitas vezes mistura as três turmas (...) e... é... eu achei que o resultado

final em relação à aprendizagem eu acho que eu consegui ajudá-los né... quando eu falo eu é o espaço do GTD em si (...)”.

Wânia acredita que o trabalho desenvolvido no GTD possibilita “dar mais atenção aos alunos... a gente (Wânia) consegue ver na hora e... a gente vê na hora o que os alunos estão fazendo, consegue acompanhar (...) o que o aluno está errando... a gente consegue trabalhar com ele na hora... na sala de aula muitas vezes não dá conta não... é muito aluno né... (...) o GTD proporciona isso”.

Ao falar sobre os alunos do GTD a professora consegue identificar os avanços de cada um, tanto em relação ao conhecimento adquirido como aos problemas de “auto-estima”. Acredita que Andréia, Carla, Mateus, Paulo, Teresa, Raiane e Ivan avançaram em suas aprendizagens durante os trabalhos do GTD. Entretanto, vê com ressalvas o desenvolvimento de Priscila que parece ter apresentado dificuldades durante os trabalhos, e afirma: “estava conseguindo acompanhar... estava interessada... do meio do GTD para cá parece que reverteu tudo... ela perdeu o interesse... não sei o que aconteceu... (...) e eu não consegui identificar o motivo (...) eu estou sentindo ela nas aulas um pouco mais triste (...) agora acho que temos que procurar saber o que está acontecendo”. Também durante a entrevista que fizemos, a Priscila parecia que não queria dar maiores explicações demonstrando pouco interesse, pois respondia utilizando termos como: “é; não... acho que não; hum... hum; mais ou menos e por duas vezes simplesmente balançou a cabeça afirmativamente.

Ao se referir à Teresa, Wânia afirma precisar “de mais tempo para ajudá-la...”, pois percebeu que a aluna é muito insegura e procurava elogiá-la sempre que acertava algum exercício, acreditando que assim conseguiria “melhorar a auto-estima dela”.

A professora ao final da entrevista conclui dizendo ser “super válido esse espaço... muito legal mesmo... nunca tinha trabalhado como o GTD e estou aprovando totalmente...”.

Entretanto, é claro que não é possível concluir somente com essas falas dos alunos e da professora, que o GTD de multiplicação atendeu às demandas específicas dos alunos do CP. Os alunos poderiam ter falado aquilo que acreditavam que eu queria ouvir, e a professora Wânia, por uma simples coincidência, poderia ter tido pela segunda vez uma experiência positiva com o seu trabalho no GTD. Por isso procurei confrontar as falas dos alunos e da professora com a análise da dinâmica e das interações das aulas que aconteceram durante esse espaço de tempo e, também,

com a análise dos testes aplicados, aprofundando assim a discussão a respeito da contribuição do GTD para aprendizagem dos alunos.