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No agora, aludiremos à metodologia e ao método que permitem o acesso ao fenómeno, à apreensão e compreensão

2. Orientação Metodológica do Estudo…

2.1 O Sujeito Investigador

Centrando-se a investigação fenomenológica no mundo do vivido, ela é varrida por um feitiço de ver o coração das coisas e de um fascínio pelo significado (Van Manen, 2007), em que o investigador se co-envolve na experiência vivida do outro como um ser com-o-outro.

Envolto no fenómeno em estudo, o investigador apropria-se da realidade vivida pelo outro num processo de compreensão e interpretação, em que a principal fonte de dados é o diálogo em profundidade entre o investigador e o informante. Desta forma, ambos são considerados co-participantes, na medida em que o investigador procura entrar no mundo do informante, para que dessa forma tenha pleno acesso às suas experiências (Smith, Flowers & Larkin, 2013).

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Enfermeira Especialista em Enfermagem de Saúde Materna e Obstétrica, a investigadora, tem desde 2007, se debruçado sobre as questões de saúde e de doença prementes na mulher, procurando desenvolver cuidados de enfermagem significativos a estas.

Ao nível dos cuidados de saúde primários, assumiu a responsabilidade pelo exercício profissional nas áreas de intervenção no âmbito do Planeamento familiar e Pré-concecional, Gravidez, Parto, Puerpério, Climatério, Ginecologia e Comunidade. Foi responsável pela operacionalização do projeto de saúde pública “Prevenção e Dissuasão para a Toxicodependência”, em articulação com a Autoridade de Saúde Pública e Tribunal Judicial de Tomar, tal como colaborou com o Centro de Atendimento a Toxicodependentes (CAT) de Abrantes no programa de manutenção com metadona. Para além disso, integrou a Unidade Coordenadora Funcional da Saúde da Mulher, Materna e Neonatal da Lezíria e Vale do Tejo, tendo ainda desenvolvido alguns projetos para jovens, ao abrigo do programa de saúde escolar, no domínio da prevenção de comportamentos aditivos.

Como professora do ensino superior na área de enfermagem, integrou a lecionação de várias unidades curriculares no domínio da saúde da mulher e da saúde materna, quer no curso de pós-licenciatura de especialização em enfermagem de saúde materna e obstetrícia, quer em diferentes cursos de licenciatura em enfermagem. Ao longos destes anos como docente, tem procurado produzir investigação científica no sentido de que os seus resultados possam confluir para o desenvolvimento de intervenções de enfermagem significativas para os clientes, possibilitando aos estudantes um percurso formativo assente numa matriz científica para a melhor prática clínica. Quer sob a forma de supervisão clínica, quer de orientação presencial, tem acompanhado estudantes nacionais e estrangeiros nas suas práticas clínicas, em serviços de obstetrícia e ginecologia.

Apesar de nunca ter colaborado ao nível da prestação direta de cuidados de enfermagem com as três Equipas Técnicas Especializadas de Tratamento da Região Centro de Portugal onde se realiza esta investigação, desde o momento do delinear do projeto foi mantido contacto com a coordenadora da equipa, com vista a garantir a aproximação com o fenómeno em estudo por parte da investigadora, como também a possibilidade de estruturar o projeto de investigação da melhor forma, no entanto, o investigador nunca teve qualquer contacto com as mulheres entrevistadas, antes da realização das mesmas.

Norteada pelo entendimento de que a enfermagem é portadora de um corpo de conhecimentos sistematizado em saber disciplinar, esta, tem lugar, desenvolve-se e sustenta- se numa prática, em que os seus profissionais facilitam os processos de transição tendo em vista o bem-estar dos indivíduos (Meleis et al., 2010).

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Julgando ainda, que a enfermagem se foca no ser humano como um todo e defende a compreensão do particular, dado que lida com significados percebidos ou observados, a mesma, “perspetiva os seres humano como sujeitos vivenciados, em que o enfermeiro e a pessoa são co-participantes” (Watson, 2002, p. 31), em que a principal meta da enfermagem é melhorar a qualidade de vida das pessoas, respeitando a perspetiva de qualidade de vida de cada uma destas (Parse, 1998). Tratando-se de uma relação intersubjetiva, o enfermeiro está comprometido e preocupado com o bem-estar e desenvolvimento da pessoa cuidada.

Não fazendo sentido se assim não fosse, a investigadora procura tornar claro as suas pressuposições e motivações, enfatizando que detém um gosto pessoal pela investigação centrada na mulher, especialmente associada a situações de grande vulnerabilidade, em que esta é entendida como o potencial humano de experienciar dano físico, psicológico, ameaça espiritual e sofrimento moral, com efeitos individuais mas também nas comunidades em que estas mulheres estão inseridas.

Explicados os seus sentimentos e perceções, a investigadora, sendo também ela mãe de dois filhos, teve especial atenção em não fazer julgamentos sobre o que observou ou viu e em permanecer aberta aos dados consoante foram sendo revelados (Smith, Flowers & Larkin, 2013).

2.2 As Participantes

A investigação fenomenológica permite-nos responder a questões de como a experiência dos seres humanos é vivida e como dá sentido à vida humana, possibilitando-nos compreender como se constrói a realidade tal como é experienciada pelos sujeitos (Smith, Flowers & Larkin, 2013). Este conhecimento, permitirá a compreensão e interpretação da experiência subjetiva e das particularidades abstratas do que é único e específico, sendo por isso fundamental para a construção do conhecimento em enfermagem, em que aquilo que importa é a realidade vivida pelos seres humanos (Streubert & Carpenter, 2011; Smith, Flowers & Larkin, 2013).

Na investigação realizada, os sujeitos foram selecionados tendo por base o fenómeno em estudo, com papel ativo na pesquisa, tendo o investigador o objetivo de obter uma descrição densa do fenómeno em estudo (Smith, Flowers & Larkin, 2013). Segundo Cohen, Philips e Palos (2001) para a produção de conhecimento em enfermagem, os enfermeiros deverão aprofundar o seu estudo sobre os indivíduos em condições vulneráveis já que isso lhes permitirá aceder aos fenómenos encobertos, desenvolver intervenções de enfermagem que derivem dos achados encontrados, competência e sensibilidade cultural e conhecer a natureza heterógena dos indivíduos alvo dos seus cuidados.

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Procurando a compreensão da experiência vivida da transição para o papel maternal de mulheres com problemas de adição a substâncias psicoativas, desde a gravidez ao primeiro ano de vida do filho, partimos para encontros significativos com estas, através de uma escolha propositada e intencional (amostragem com propósito / proposital) orientada pelas propostas apresentadas pelas equipas de enfermagem que constituem as três Equipas Técnicas Especializadas de Tratamento da Região Centro de Portugal (Centro de Respostas Integradas - Serviço de Intervenção nos Comportamentos Aditivos e nas Dependências), detendo estas um conhecimento aprofundado sobre as participantes, permitindo desta forma ao investigador atingir os objetivos do estudo e responder à questão de investigação.

Entendemos definir como critérios de elegibilidade para a participação no nosso estudo, mães com idades compreendidas entre os 18 e os 45 anos, que soubessem ler e escrever e que acordassem voluntariamente participar na nossa investigação.

Todas as participantes estavam ao abrigo de programas terapêuticos (substituição narcótica de opiáceos) no âmbito dos Centros de Respostas Integradas, desde o período pré- natal até ao momento da colheita de dados.

Não se pretendendo qualquer tipo de representatividade ou extrapolação, já que neste tipo de investigação o que se pretende é dar contributos significativos para a compreensão do fenómeno em estudo, definimos dez, o número mínimo de participantes, com vista a alargar ao máximo as possibilidades de análise e interpretação do fenómeno em estudo, com o objetivo de que este se torne claro, no entanto, os estudos fenomenológico-hermenêuticos não se centram no número de casos, mas sim na captura dos significados individuais face ao fenómeno a estudar (Smith, Flowers & Larkin, 2013).