• Nenhum resultado encontrado

20 Contextos Presentes

1.4 Objetivos do Estudo e Questão de Investigação

Os líderes mundiais reconhecem cada vez mais que a saúde das mulheres e das crianças é a chave do progresso em todas as metas de desenvolvimento (World Health Organization, 2010). A estratégia global para a saúde das mulheres e crianças realça que, a escassos anos de atingir os objetivos de desenvolvimento do Milénio, os líderes globais devem intensificar os seus esforços para melhorar a saúde das mulheres, estabelecendo áreas chave em que a ação é urgente, nomeadamente, no que concerne à prestação integrada de cuidados de saúde, atendendo especialmente a mulheres e crianças em situação de vulnerabilidade (World Health Organization, 2010).

Alguns investigadores no domínio da enfermagem obstétrica apontam que a complexidade e o valor da transição para a maternidade de cada mulher tem sido silenciado, especialmente as que se encontram em situações de maior vulnerabilidade (Parratt & Fahy, 2011). O silenciamento das vozes destas mulheres é reforçado com a suposição de que o self, as perceções, as atitudes e os comportamentos podem ser medidos quantitativamente, e que essas medidas são uma representação válida das experiências das mulheres, sendo que o conceito de ‘ser mãe’ ainda é muito focado em mulheres de grupos mais favorecidos ou menos vulneráveis (Mercer & Walker, 2006).

Como teoria, a transição para a maternidade continua a “simplificar e a cegar os que a utilizam não permitindo ir às subtilezas, complexidades e exceções da experiência corporificada das mulheres na criação dos filhos” (Parratt & Fahy, 2011, p.449), já que as mulheres são vistas como um meio para um fim valorizado, em que todas as mulheres têm, ou deveriam ter, os atributos necessários para se ser mãe, percecionando o processo de realização do papel materno como o mesmo (único) para todas as mulheres (Parratt & Fahy, 2008; Parratt, 2010).

Centrando-nos no paradigma teórico em que se alicerça esta investigação, percecionamos a necessidade de desocultar a experiência vivida de mulheres com problemas de adição a substâncias psicoativas face à transição para o papel maternal, considerando-as como seres vivenciados, em que a enfermagem poderá contribuir para a compreensão do fenómeno, ocupando-se assim da resposta humana aos processos de vida (Meleis, 2011), com recurso a encontros significativos por quem os experiência.

Por outro, tendo por base o estudo da resposta humana, os enfermeiros deverão ser capazes de prestar cuidados de enfermagem significativos ao outro, ajudando-o a reorganizar- se no sentido da qualidade da sua saúde e da sua vida (Parse, 1998), em que o ser humano encontra o significado do vivido quando reflete sobre o mesmo.

27

Estas mulheres, perspetivadas como seres unitários, são mais do que a soma das suas partes, em constante interação mútua e simultânea e são cocriadoras das situações de vida com o ambiente, em que o enfermeiro oferece a sua presença verdadeira e guia a pessoa no desvelar do significado da situação a mover-se em direção aos seus sonhos e esperanças, em que a meta principal é a qualidade de vida sob a perspetiva da própria pessoa (Parse, 1998).

Os cuidados de enfermagem prestados aos indivíduos com problemas de adição a substâncias psicoativas de uma forma geral, e a estas mulheres em particular, deverão facilitar os múltiplos processos de transição com base nas suas experiências, nos seus contextos, nas suas recaídas e nos processos individuais de recuperação, com vista à sua autonomização (Rosa, Gomes & Carvalho, 2000).

Este estudo teve como finalidade a exploração da variabilidade infinita de maneiras de como uma mulher, em situação de vulnerabilidade acrescida, pode expressar e sentir-se como mulher e como mãe, para que se possa compreender as mudanças que decorrem durante a gravidez, parto e nascimento dos filhos, tornando a experiência contextual e significativa destas mulheres visível, para que estas possam ser consideradas como um recetor ativo das ações do cuidador, nomeadamente, dos enfermeiros especialistas em enfermagem de saúde materna e obstétrica. Por outro, esta investigação poderá contribuir para o desenvolvimento de intervenções de enfermagem específicas face à problemática em estudo, tal como de programas e projetos terapêuticos neste domínio. Tomando como enfoque que “o conhecimento proporcionado pela experiência vivida dos fenómenos humanos de saúde- doença em matéria de adição a substâncias psicoativas tem o potencial de iluminar e consequentemente de melhorar a prestação de cuidados de enfermagem...”(Lopes, 2012, p.45), legitima-nos a questionar de, como vivem as mulheres com problemas de adição a substâncias psicoativas a experiência da transição para o papel maternal.

Desta forma, o objetivo geral deste estudo passa por compreender a experiência vivida da transição para o papel maternal de mulheres com problemas de adição a substâncias psicoativas, desde a gravidez ao primeiro ano de vida do filho.

Atendendo à problemática do nosso estudo, delineámos os seguintes objetivos específicos, tendo por base marcos temporais na experiência vivida e pré-refletida destas mulheres:

- Compreender a experiência vivida da transição para o papel maternal de mulheres com problemas de adição a substâncias psicoativas no momento da gravidez;

- Compreender a experiência vivida da transição para o papel maternal de mulheres com problemas de adição a substâncias psicoativas no momento do trabalho de parto e parto;

28

- Compreender a experiência vivida da transição para o papel maternal de mulheres com problemas de adição a substâncias psicoativas no momento pós parto (até aos 30 dias após o nascimento da criança);

- Compreender a experiência vivida da transição para o papel maternal de mulheres com problemas de adição a substâncias psicoativas durante o primeiro ano de vida do filho;

Assim, face à nossa problemática definimos como questão orientadora da nossa pesquisa: Qual é Experiência Vivida da Transição para o Papel Maternal de Mulheres com Problemas de Adição a Substâncias Psicoativas, desde a gravidez ao primeiro ano de vida do filho?

29