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O testemunho único de Aristóteles e a incerta tradição acadêmica

HISTÓRIA DA CRÍTICA: DE ZELLER A KINGSLEY

1.7 O testemunho único de Aristóteles e a incerta tradição acadêmica

A história da crítica dedicou-se, desde o começo, também à análise da imagem do pitagorismo antigo que resulta das fontes indiretas, isto é, tanto das pretensas polê- micas antipitagóricas de autores contemporâneos, como das influências e das referên- cias de autores posteriores ao movimento (Zeller e Mondolfo 1938: 313-364).

Nessa busca, a obra de Tannery (1887b) é certamente o primeiro passo: sua tese central é que a seção da dóxa do Poema de Parmênides seria um desenvolvimento ar- gumentativo dedicado à refutação da cosmologia pitagórica. Tannery parte da observa-

82 Orig.: “un nucleo originario storicamente attendibile, confermato peraltro da alcuni accenni alla storia

locale e alla topografia di Crotone, così come un riflesso storico dell’organizzazione societaria dell’aristocrazia arcaica si ha nella rigida divisione dei gruppi sociali, ai quali Pitagora tiene discorsi separatamente (cosa che è attestata da tutte le fonti)”.

ção pela qual no começo da seção da dóxa, no Poema, Parmênides não poderia senão referir-se aos pitagóricos:

Já disse que o prólogo de Parmênides sobre a opinião (v. 113-121) nos joga em pleno pitagorismo; sobretudo o último verso parece-me digno de atenção. Parmênides quer fazer conhecer a ciência tal qual é pro- fessada por seus contemporâneos; mas, na Itália, somente os pitagóri- cos gozam de uma reputação de ciência. Pelo fato de não termos pro- vas decisivas de que o Eleata preocupa-se com os Jônicos, que nos a- chamos no direito de pensar que não visa a outros senão os Itálicos (Tannery 1887b: 226).83

Da mesma forma, a polêmica de Zenão (como também a de Xenófanes, antes) seria dirigida diretamente contra a teoria dos números pitagóricos, pois este “tira conse- quências totalmente novas, e notadadamente aquelas sobre a unidade, a continuidade, a imobilidade do universo, contradizem as doutrinas dos pitagóricos” (Tannery 1887b:250).84 O ponto central da discordância estaria na definição do que seria um pon- to:

Então, qual foi o ponto baixo reconhecido por Zenão nas doutrinas pi- tagóricas de seu tempo? Como as apresenta como sendo uma afirma- ção da pluralidade das coisas? A solução nos é dada de uma famosa definição do ponto matemático, definição ainda clássica na época de Aristóteles, mas à qual os historiadores não deram muita atenção. Para os pitagóricos o ponto é a unidade que tem uma posição, ou, dito de outra maneira, a unidade considerada no espaço. Resulta imediata- mente desta definição que o corpo geométrico é uma pluralidade, so- ma de pontos, da mesma forma como o nome é uma pluralidade, soma de unidades. No entanto, essa proposta é absolutamente falsa […] (Tannery 1887b: 250, grifo do autor).85

83 Orig.: “J’ai déjà dit que le début de Parménide sur l’opinion (v. 113-121) nous jette en plein

pythagorisme. Le dernier vers surtout me parait digne d’attention. Parménide veut faire connaître la science telle que la professaient ses contemporains; mais, en Italie, seuls les pythagoriens avaient une réputation de science. Tant que nous n’aurons pas de preuve décisive que l’Éléate se préoccupe des Ioni- ens, nous axons droit de penser qu’il ne vise que les Italiques”.

84 Orig.: “il tirait des conséquences toutes nouvelles, et notamment celles sur l’unité, la continuité,

l’immobilité de l’univers contre-disaient les doctrines pythagoriennes”.

85 Orig.: “Quel était donc le point faible reconnu par Zenon dans les doctrines pythagoriennes de son

temps? de quelle façon le présente- t-il comme étant une affirmation de la pluralité des choses? La clef nous est donnée par une célèbre définition du point mathématique, définition encore classique au temps d'Aristote, mais que les historiens n’ont pás considérée assez attentivement. Pour les pythagoriens, le point est l’unité ayant une position, ou autrement l'unité considérée dans l'espace. Il suit immédiatement de cette définition que le corps géométrique est une pluralité, somme de points, de même que le nombre est une pluralité, somme d’unités. Or, une telle proposition est absolument fausse [...]”.

Essa posição pitagórica passou a ser chamada de atomismo numérico e encontra diversas aproximações com o atomismo dos séculos V e IV aEC.86

Segundo Tannery (1887b:, 251), o sucesso de Zenão teria sido a tal ponto avas- salador que os pitagóricos nem sequer puderam esboçar alguma tentativa de contesta- ção.87

O problema dessa reconstrução é que carece, em boa parte, de fundamentação histórica. Certamente, devemos concordar com Burkert, quando sugere que à imagem de um diálogo – todo pré-socrático – entre o pitagorismo e outras escolas, apesar de muito tentador, faltam bases textuais sólidas:

Dessa forma, pode ser construído um capítulo tentador da história da filosofia; massas erráticas e cascalho inidentificável unem-se em uma estrutura abrangente. A suspeita interação entre eleatas e pitagóricos, em particular, torna-se um diálogo vivo. Parmênides, o pitagórico a- póstata, configura seu próprio sistema em oposição àquele da escola; em resposta, os pitagóricos revisam suas teorias, apenas em tempo pa- ra ser submetidas a novos ataques por parte de Zenão; isso os obriga a empreender uma nova revisão[...] (sic) Essa estrutura, no entanto, re- pousa sobre uma base precária (Burkert 1972: 278).88

De fato, ainda que seja bastante provável que outros pensadores da Magna Gré- cia tenham recebido forte influência pitagórica, uma sólida abordagem histórica não pode se basear em probabilidades e plausibilidade, pois “unicamente um estudo meticu- loso da evidência interna e externa pode levantar esta possibilidade para um patamar de probabilidade – para não dizer de certeza” (Burkert 1972: 280).89

Ainda que marcado pelas imprecisões anteriormente indicadas, esse primeiro passo tornou possível não somente trazer para a discussão sobre a Quellenforshung di-

86 Para uma discussão mais geral da relação do pitagorismo com Demócrito e o atomismo, cf. Zeller e

Mondolfo (1938: 332-335); Alfieri (1953: 30-54); Gemelli (2007a: 68-90).

87 Tanto Cherniss (1935: 215) quanto Lee (1936: 34,104) seguem as linhas-mestras da interpretação de

Tannery da polêmica zenoniana.

88 Orig.: “In this way a tempting chapter of the history of philosophy may be built; erratic boulders and

unidentifiable gravel coalesce into a comprehensive structure. The suspected interaction of the Eleatics and Pythagoreans, in particular, becomes a living dialogue. Parmenides, the apostate Pythagorean, sets up his own system in opposition to that of the school; in response, the Pythagoreans revise their theories, only to be subjected to new attacks, by Zeno; this forces them to undertake further revision [...] (sic) This structure, however, rests on a shaky foundation”.

89 Orig.: “only meticulous study of the internal and external evidence can raise this possibility to a prob-

ability-to say nothing of certainty”. Cf. Casertano (2007b: 4) para um exemplo de discussão da influência

versos textos antigos, como também começar a colocar em questão a presunção do tes- temunho único de Aristóteles. Não obstante, a importância da tese de Tannery faz que, de Kranz (Diels-Kranz 1951) até Raven (1948), a maioria dos comentadores se propo- nha seguir um diálogo entre eleatismo e pitagorismo, utilizando-se das fontes mais anti- gas para isso.90

Acenou-se há pouco a presunção de validade do testemunho único de Aristóte- les. Um papel central nessa reavaliação do testemunho aristotélico sobre os pré- socráticos (e depois sobre Platão) é desempenhado certamente pelos trabalhos de Cher- niss (1935: 1944): por meio de um agudo trabalho sobre as fontes, ainda hoje insupera- do, Cherniss chega a concluir, já em 1935, que:

Aristóteles não está, em nenhum dos trabalhos que possuímos, procu- rando fornecer um relatório da filosofia mais antiga. Ele está usando essas teorias como interlocutoras em um debate artificial que ele pre- para para que conduza ‘inevitavelmente’ às suas próprias conclusões (Cherniss 1935: xii).91

Cherniss, dessa forma, analisa os procedimentos historiográficos de Aristóteles, em busca de uma solução ao problema central que o corpus constitui para a reconstru- ção da filosofia pré-socrática: apesar de pouco confiável em sua reconstrução das teorias dos primeiros filósofos, suas constantes contradições, omissões, erros e desentendimen- tos, Aristóteles é ainda a principal, senão a única, fonte para o estudo dos pré-socráticos (1935: 347-350). Dessa forma, caberá ter aquele que Cherniss chama de “o maior cui- dado” (the greatest care) na análise do material aristotélico.

Com esse intuito, Cherniss irá desenvolver uma metodologia de abordagem ao texto que lhe permitirá definir procedimentos para uma espécie de controle de viés (para utilizar uma terminologia estatística) que busca identificar fatores de confundimento, permitindo definir um uso acertado, isto é, adequado do ponto de vista historiográfico, do corpus: dois tipos de omissões, sete fontes comuns de erros etc. (1953: 351-358).

90 Cf. Diels-Kranz (1951: 226); Zeller e Mondolfo (1938: 326 – na nota sobre as fontes de Mondolfo, pois

Zeller, assim como Gompertz (1893), não concordava com isso); Burnet (1908: 183); Rey (1933: 183); Cornford (1939: I); Raven (1948: 211). Contrários a essa tese, Reinhardt (1916: 24, 69, 85) e Calogero (1932: 28) consideram a seção da dóxa como derivação interna à própria metafísica de Parmênides.

91 Orig.: “Aristotle is not, in any of the works we have, attempting to give a historical account of earlier

philosophy. He is using these theories as interlocutors in the artificial debates which he sets up to lead “inevitably” to his own solutions”. Cf. também Cherniss (1935: 349-50, 356-357). Já Burnet (1908: 56)

havia começado a suspeitar das escolhas editoriais de Aristóteles, falando do costume deste de “putting

Dois erros são especialmente importantes por modelar profundamente toda a his- tória da crítica dos pré-socráticos. O primeiro diz respeito à concepção de Aristóteles de que os pré-socráticos teriam fundamentalmente um único problema ao qual dedicaram sua investigação, isto é, o da matéria que constitui todas as coisas que são. Ao contrá- rio, olhando mais atentamente (o mesmo Aristóteles não negaria isso), é possível reco- nhecer os pré-socráticos empenhados na tentativa de compreensão e descrição de diver- sos processos e problemas específicos. O segundo erro depende do primeiro, pois cons- titui o motivo pelo qual Aristóteles quis restringir a riqueza e a complexidade dos temas tratados pelos pré-socráticos a uma única grundfrage – como diria Hegel (a citação dele, como se verá, não é casual): no sistema aristotélico, a divisão fundamental da natureza dá-se entre matéria e forma. E se Platão é visto como um partidário exagerado da causa formal, o é exatamente por opor-se aos pré-socráticos, dos quais constituiria a antítese. Jogando assim um contra os outros, Aristóteles retalha para si mesmo o confortável lu- gar de síntese, resultado filosófico do agôn dos dois momentos anteriores a ele.92

É certamente o caso de anotar, finalmente, que a contribuição de Cherniss para a historiografia dos pré-socráticos é inquestionável, ao ponto de ser possível considerar que, depois dele, os estudos dos pré-socráticos tenham se tornado um luta incessante com Aristóteles, ainda que certamente não contra ele.

Na esteira de Cherniss, diversos comentadores poderão em seguida concordar com o fato de que “Aristóteles é totalmente alheio à concepção moderna de história da filosofia” (Reale 1968: I, 151), e considerar assim Aristóteles como um testemunho ne- cessário, mas a ser tratado com todos os cuidados possíveis.93 Laks (2007: 230) resume a historiografia da filosofia pré-socrática após Cherniss como um processo de “desaris- totelização da escrita sobre as origens da filosofia grega”.94 A economia destas páginas não permite, obviamente, aprofundar como mereceria essa questão da validação do tes- temunho aristotélico como tal, com suas consequências para a historiografia da filosofia em suas origens.

92 Cherniss (1935: 349) não deixa de anotar a dependência deste método agônico e aporético de Aristóte-

les de seus mestres: indiretamente Sócrates, mas, sobretudo, Platão.

93 Orig.: “il moderno concetto di storia della filosofia è totalmente estraneo ad Aristotele”. Por outro

lado, Mansfeld afirma com razão que os primeiros passos de uma historiografia da filosofia são anteriores ao próprio Aristóteles, podendo ser encontrados na literatura sofística: “the rudimentary beginnings of the

historiography of Greek philosophy may be dated to the period of the Sophists” (Mansfeld 1990: 27).

Cabe somente sublinhar, como um novo marco para a questão, um recente artigo de Collobert (2002) que, pretendendo reabrir a questão, desafia, a seu modo, o consenso estabelecido a partir Cherniss. Collobert revela como Aristóteles estaria seguindo ante litteram, em sua historiografia dos pré-socráticos, os princípios de uma lectio analítica (no sentido contemporâneo de não-continental). Por esse motivo, à pergunta se Aristó- teles deva ser considerado um historiador da filosofia, ela continua respondendo, ainda que com diversos distinguos, que não. Pois

Aristóteles não escreveu uma história da filosofia em sentido moderno ou, ao menos, no sentido ‘continental’ quando ele transmitiu os pen- samentos de seus predecessores. Por essa razão, alguém poderia dizer, com Wilamowitz, que “não se deve culpar o historiador Aristóteles, pois Aristóteles jamais foi ou quis ser um historiador (Collobert 2002, 294-295).95

De fato, Aristóteles, em sua Metafísica, no que diz respeito aos pitagóricos, pa- rece não somente querer tratá-los de certa forma separadamente em relação aos outros pré-socráticos (985b 23ss), mas também, em constante intenção polêmica contra o pla- tonismo, compara-os o tempo todo com este último (Met. 987a 29ss, 989b 29ss; 990a 27ss, 996a 4s): dessa forma, o pitagorismo torna-se mais uma ocasião para atacar os argumentos platônicos (Met. 1083b 8ss; 1090a 30) do que um tópico de interesse per se.96

Porquanto essa aproximação entre o pitagorismo e o platonismo obedeça, em A- ristóteles, a uma precisa estratégia polêmica, a crítica, ainda no interior do esforço de validação das fontes indiretas sobre o pitagorismo, tentou explorar as relações dos pita-

95 Orig.: “Aristotle did not write a history of philosophy in a modern sense or at least in a ‘continental’

sense when he transmitted the thoughts of his predecessors. For this reason, one can say with U. Wila- mowitz that ‘one does not have to blame the historian Aristotle, because Aristotle never was nor wanted to be an historian’”. À Collobert deve ser reconhecida a intenção de recolocar em termos mais atuais (os

termos da querelle analítico-continentais) a questão. Todavia, grande parte de sua solução hermenêutica é ainda dependente do excelente trabalho de Cherniss (1935), como demonstra, por exemplo, a seguinte afirmação deste em relação aos testemunhos contidos no corpus aristotélico: “one cannot safely wrench

them away to use as building-blocks for a history of Presocratic philosophy. There are no ‘doxographi- cal’ accounts in the works of Aristotle, because Aristotle was not a doxographer but a philosopher seek- ing to construct a complete and final philosophy” (Cherniss 1935: 347). É esta ainda uma boa descrição ante litteram do Aristóteles analítico da Collobert.

96 Sobre a lectio aristotélica do pitagorismo antigo, será o caso de voltar obviamente em seguida, ao longo

da tese, a anotar seus problemas e sucessos. É suficiente por enquanto lembrar que, tanto na Física quanto no De Caelo, Aristóteles dedica alguns comentários às doutrinas científicas dos pitagóricos, assim como – na mesma Metafísica (986a: 12) – refere-se a uma mais exata discussão sobre estes. A referência seria aos famosos dois livros (perdidos) que ele dedicara especificamente ao pitagorismo. Para as fontes dessa tradição e uma exaustiva discussão historiográfica destas, cf. Burkert (1972: 29).

góricos com Platão. Para além das relações históricas deste com o rei-filósofo Arquitas de Tarento, como testemunharia, entre outras fontes, a própria Carta VII (339d), uma já antiga tentativa de avaliação dos diálogos platônicos como fontes históricas confiáveis levaria a aprofundar radicalmente a dependência de Platão em relação aos pitagóricos. Tanto Burnet (1908) quanto Taylor (1911), por considerarem de fato os diálogos platô- nicos como testemunhos históricos, chegam a fazer diversos deles dependerem direta- mente da influência pitagórica: dessa forma, o Sócrates do Fédon revela-se pitagórico, defensor da metempsicose e da anamnese (Taylor 1911: 129-177); enquanto o Timeu aparecerá como uma obra quase que completamente informada pelo pitagorismo (Bur- net 1908: 340ss.).97

Obviamente os resultados dos esforços sobre as fontes indiretas estão bem longe de serem consensuais. De fato, já Frank (1923) – em direção totalmente contrária ao colocado acima e, de certa forma, radicalizando o ceticismo zelleriano – considera im- possível qualquer tentativa de acessar a tradição pitagórica antes de Platão. Sua obra intitula-se significativamente Plato und die sogenannten Pythagoreer (“Platão e os as- sim chamados pitagóricos”), pois apoia sua argumentação de maneira muito decidida na repetida referência de Aristóteles aos kaloúmenoi pitagóricos: segundo Frank, Aristóte- les estaria se referindo a pitagóricos do século IV como Arquitas, para além dos pró- prios acadêmicos, entre eles Espeusipo (Frank 1923: 77). O pressuposto geral de Frank é que não se pode imaginar um pensamento científico no mundo grego antes de Anaxá- goras:

Anaxágoras foi o primeiro a formular o princípio da ciência moderna, distinguindo, em suas investigações óticas, a imagem-do-mundo sub- jetiva-psicológica pelo ponto-de-vista objetivo de um observador ab- soluto (1923, 144).

Dessa forma, tudo o que diz respeito aos pitagóricos deverá ser considerado in- venção de Espeusipo e dos primeiros acadêmicos.98 Por consequência, tanto os frag-

97 Da mesma forma, a tese doutoral de Cameron (1938) sugere uma base pitagórica para a teoria da a-

namnese.

98 O debate que, desde então, marcou as tentativas de responder a essa postura radicalmente cética na

interpretação da expressão οἱ καλού ενοι Πυθαγορείοι (Met. 985b: 23; 989b: 29) de Frank é muito am- plo. Veja-se, por exemplo, a resposta de Cherniss (1959: 37-38) sobre a interpretação de καλού ενοι: em

Política (1290b: 40), Aristóteles utiliza a mesma expressão referida aos camponeses (οἱ καλού ενοι γεω-

mentos de Filolau como toda a teoria matemática deverão ser reconduzidos para o perí- odo acadêmico. O hipercriticismo de filólogos como Frank é confrontado veemente- mente por Santillana e Pitts: para eles, Frank é o ponto de partida de uma escola de his- toriadores que

Foram atraídos para a companhia de vários filólogos modernos, que haviam caído na armadilha de aceitar alguns dos argumentos destruti- vos de Frank, sem compreender a íntima dependência destes de sua inaceitável alternativa (Santillana e Pitts 1951: 112).99

Ao longo de todo o percurso historiográfico em busca das fontes indiretas sobre o pitagorismo, a lectio communis parece ter sido exatamente aquela de um ceticismo por parti pris, que revela de um lado certa postura todo-poderosa dos estudiosos de Platão e Aristóteles, que tendem a considerá-los como inventores de praticamente qualquer ideia que tenha aparecido antes deles, à custa de uma atenta análise das fontes pré-socráticas; por outro lado, certa preguiça da pesquisa sobre as origens do pensamento grego, que prefere repetir os chavões manualísticos a empenhar-se em uma atenta revisão das práti- cas normais de pesquisa.