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2. AS TUTELAS COLETIVAS E A IRRESPONSABILIDADE

2.2. TEMÁTICA PROCESSUAL COLETIVA – UM PANORAMA DO

2.2.6. O tratamento coletivo na Alemanha, França e Espanha

com diferentes características, conforme destaques de Mendes em seu estudo comparado. Na Alemanha, país marcado por uma forte e organizada cultura associativista, as ações associativas não são previstas genericamente, mas reguladas em leis específicas como em matéria trabalhista, em ações inibitórias sobre matéria de consumo e na atuação contra a formação de cartéis192.

Na França a tutela coletiva evoluiu da action civile, na qual se pleiteia uma indenização por danos causados por fato típico penal, que se ampliou até o reconhecimento da legitimidade das organizações coletivas em atuar como pertie civile. A atuação das organizações civis não é prevista genericamente, mas em hipóteses previstas em leis específicas que, entretanto, ampliam-se progressivamente, com destaque para a proteção da natureza e do ambiente, do ar, da água, do solo e das paisagens, possibilitada pelo “Código Rural”193.

Na Espanha é a Lei Orgânica do Poder Judiciário (LPJ) que assegura a legitimidade das associações, grupos e corporações para defender direitos e interesses difusos e coletivos perante todos os tribunais. A Ley de Enjuiciamiento Civil, de 2000, equivalente a um Código Civil, aborda a tutela metaindividual de forma sistemática e não mais em caráter secundário, porém ainda restrita aos direitos dos consumidores194.

Pelo artigo 6º do referido diploma espanhol, possuem capacidade para figurar como parte nos tribunais civis os grupos de decisões proferidas, sob pena de a sua passividade valer como aceitação, sem prejuízo do disposto no n.º 4. 2 - A citação será feita por anúncio ou anúncios tornados públicos através de qualquer meio de comunicação social ou editalmente, consoante estejam em causa interesses gerais ou geograficamente localizados, sem obrigatoriedade de identificação pessoal dos destinatários, que poderão ser referenciados enquanto titulares dos mencionados interesses, e por referência à acção de que se trate, à identificação de pelo menos o primeiro autor, quando seja um entre vários, do réu ou réus e por menção bastante do pedido e da causa de pedir. 3 […]. 4 - A representação referida no n.º 1 é ainda susceptível de recusa pelo representado até ao termo da produção de prova ou fase equivalente, por declaração expressa nos autos”. PORTUGAL. Lei n.º 83/95, de 31 de Agosto. Cit.

192 MENDES, Aluisio Gonçalves de Castro. Ações coletivas no direito comparado e nacional. Op. Cit., p. 118-119.

193 Ibid., p. 148-151. 194 Ibid., p. 152-156.

consumidores ou usuários afetados por um fato danoso quando os indivíduos que componham estejam determinados, ou sejam facilmente determináveis, desde que o grupo constitua a maioria dos afetados. Também as entidades habilitadas conforme a normativa comunitária europeia para defesa dos interesses coletivos e difusos dos consumidores e usuários195.

O Artigo 11 trata especificamente da legitimação coletiva em matéria de consumo. Legitima as associações legalmente constituídas tanto para a defesa dos direitos e interesses dos seus associados, como para os interesses gerais dos consumidores e usuários. Grupos

não personalizados, mas facilmente determináveis, de

consumidores/usuários prejudicados por fatos danosos, terão seus interesses coletivos tutelados tanto por associações e entidades legalmente constituídas como pelos próprios grupos afetados. Se o grupo prejudicado for de difícil determinação, sua tutela caberá exclusivamente às associações representativas196.

No artigo 15, que regula a publicidade e intervenção em processos coletivos e difusos todos aqueles que estejam na condição

195 “Artículo 6. Capacidad para ser parte. (1). Podrán ser parte en los procesos ante los tribunales civiles: 1. Las personas físicas. 2. El concebido no nacido, para todos los efectos que le sean favorables. 3. Las personas jurídicas. 4. Las masas patrimoniales o los patrimonios separados que carezcan transitoriamente de titular o cuyo titular haya sido privado de sus facultades de disposición y administración. 5. Las entidades sin personalidad jurídica a las que la ley reconozca capacidad para ser parte. 6. El Ministerio Fiscal, respecto de los procesos en que, conforme a la ley, haya de intervenir como parte. 7. Los grupos de consumidores o usuarios afectados por un hecho dañoso cuando los individuos que lo compongan estén determinados o sean fácilmente determinables. Para demandar en juicio será necesario que el grupo se constituya con la mayoría de los afectados. 8. Las entidades habilitadas conforme a la normativa comunitaria europea para el ejercicio de la acción de cesación en defensa de los intereses colectivos y de los intereses difusos de los consumidores y usuários”. ESPAÑA. Ley 1/2000, de 7 de enero, de Enjuiciamiento Civil. Disponível em: <http://civil.udg.es/ normacivil/estatal/lec/default.htm>. Acesso em 21 de abril de 2011. 196 “Artículo 11. Legitimación para la defensa de derechos e intereses de consumidores y usuarios. 1. Sin perjuicio de la legitimación individual de los perjudicados, las asociaciones de consumidores y usuarios legalmente constituidas estarán legitimadas para defender en juicio los derechos e intereses de sus asociados y los de la asociación, así como los intereses generales de los consumidores y usuarios. 2. Cuando los perjudicados por un hecho dañoso sean un grupo de consumidores o usuarios cuyos componentes estén perfectamente determinados o sean fácilmente determinables, la legitimación para pretender la tutela de esos intereses colectivos corresponde a las asociaciones de consumidores y usuarios, a las entidades legalmente constituidas que tengan por objeto la defensa o protección de éstos, así como a los propios grupos de afectados. 3. Cuando los perjudicados por un hecho dañoso sean una pluralidad de consumidores o usuarios indeterminada o de difícil determinación, la legitimación para demandar en juicio la defensa de estos intereses difusos corresponderá exclusivamente a las asociaciones de consumidores y usuarios que, conforme a la Ley, sean representativas. 4. […].”. ESPAÑA. Ley 1/2000, de 7 de enero, de Enjuiciamiento Civil. Cit.

de prejudicados, por haverem consumido o produto ou utilizado o serviço que originou o processo, para que façam valer seus direitos. Em se tratando de prejudicados facilmente determináveis cabe aos demandantes comunicar a todos os interessados previamente acerca da propositura da ação. Se, porém, o fato danoso prejudica uma pluralidade de pessoas indeterminadas ou de difícil determinação, suspende-se o processo para o chamamento dos interessados, em prazo de até dois meses, conforme as circunstâncias e complexidade do fato e as dificuldade de determinação e localização dos prejudicados. O processo será então retomado com a intervenção de

todos aqueles que houverem atendido ao chamado197.

2.2.7. As questões coletivas no Direito comunitário europeu