• Nenhum resultado encontrado

2. AS TUTELAS COLETIVAS E A IRRESPONSABILIDADE

2.2. TEMÁTICA PROCESSUAL COLETIVA – UM PANORAMA DO

2.2.5. Os direitos difusos e a ação popular em Portugal

Interesses difusos em Portugal são conceituados, por oposição aos interesses privados e aos interesses públicos em sentido estrito, como interesses de grupos ou classes de pessoas, significando o mesmo que os “interesses transindividuais”, ou coletivos em sentido amplo no Brasil. Trata-se de expressão mais ampla, portanto, que condiz com os interesses difusos, coletivos stricto sensu e individuais homogêneos conforme conceituados no CDC brasileiro186.

O artigo 20º da Constituição Portuguesa, que trata do acesso ao direito e tutela jurisdicional efetiva assegura o acesso ao direito e aos tribunais, que não pode ser negada por motivos de insuficiência

de meios econômicos187. O artigo 52º trata do direito de petição e da

ação popular. Todos, pessoalmente ou através de associações de defesa têm direito de ação popular nos casos e termos previstos na lei, inclusive de requerer indenização para os lesados, quer seja (a) “promover a prevenção, a cessação ou a perseguição judicial das infracções contra a saúde pública, os direitos dos consumidores, a iscritti non inferiore allo 0,2 per mille degli abitanti di ciascuna di esse, da certificare con dichiarazione sostitutiva dell’atto di notorieta’ resa dal legale rappresentante dell’associazione con le modalita’ di cui all'articolo 4 della legge 4 gennaio 1968, n. 15; d) elaborazione di un bilancio annuale delle entrate e delle uscite con indicazione delle quote versate dagli associati e tenuta dei libri contabili, conformemente alle norme vigenti in materia di contabilita’ delle associazioni non riconosciute; e) svolgimento di un’attivita’ continuativa nei tre anni precedenti; f) non avere i suoi rappresentanti legali subito alcuna condanna, passata in giudicato, in relazione all'attivita’ dell’associazione medesima, e non rivestire i medesimi rappresentanti la qualifica di imprenditori o di amministratori di imprese di produzione e servizi in qualsiasi forma costituite, per gli stessi settori in cui opera l’associazione. 3. […]. 4. Il Ministro dell'industria, del commercio e dell’artigianato provvede annualmente all’aggiornamento dell’elenco. 5. […]”. ITALIA. Legge n. 281, 30 luglio 1998. Cit.

186 MENDES, Aluisio Gonçalves de Castro. Ações Coletivas no direito comparado e nacional. Op. Cit., p. 130.

187 “Artigo 20.º (Acesso ao direito e tutela jurisdicional efectiva). 1. A todos é assegurado o acesso ao direito e aos tribunais para defesa dos seus direitos e interesses legalmente protegidos, não podendo a justiça ser denegada por insuficiência de meios económicos. […]. 4. Todos têm direito a que uma causa em que intervenham seja objecto de decisão em prazo razoável e mediante processo equitativo […]. 5. Para defesa dos direitos, liberdades e garantias pessoais, a lei assegura aos cidadãos procedimentos judiciais caracterizados pela celeridade e prioridade, de modo a obter tutela efectiva e em tempo útil contra ameaças ou violações desses direitos”. PORTUGAL. Constituição da República Portuguesa. Disponível em: <http://www.portugal.gov.pt/pt/GC17/Portugal/SistemaPolitico/Constituicao/Pages/default.asp x >. Acesso em 15 de abril de 2011.

qualidade de vida e a preservação do ambiente e do património cultural”; ou (b), para “assegurar a defesa dos bens do Estado, das regiões autónomas e das autarquias locais”188.

A ação popular foi regulada pela Lei nº 83 de 31 de agosto de 1995. O artigo 12º deste diploma prevê “ação popular administrativa” e da “ação popular civil”, e determina que esta possa revestir qualquer das formas previstas no Código de Processo Civil189. Independentemente de mandato ou autorização, o autor da ação popular representa por iniciativa própria todos os titulares dos direitos ou interesses em causa (artigo 14º)190, exceto os interesses daqueles que exercerem o direito de “auto-exclusão” regulado pelo artigo 15º. Através de anúncios públicos (por meio de comunicação social ou editalmente) proporcionais à amplitude geográfica e temática da causa, estes titulares serão citados sem obrigatoriedade de identificação pessoal. No prazo fixado devem declarar se aceitam ou não serem representados pelo autor, excluindo-se da aplicação das decisões proferidas ou aceitando-o na fase em que se encontrar. A representação pode ser recusada pelo representado por meio de declaração expressa nos autos até ao termo da produção de prova ou fase equivalente191.

188 “Artigo 52.º (Direito de petição e direito de acção popular) […]. 3. É conferido a todos, pessoalmente ou através de associações de defesa dos interesses em causa, o direito de acção popular nos casos e termos previstos na lei, incluindo o direito de requerer para o lesado ou lesados a correspondente indemnização, nomeadamente para: a) Promover a prevenção, a cessação ou a perseguição judicial das infracções contra a saúde pública, os direitos dos consumidores, a qualidade de vida e a preservação do ambiente e do património cultural; b) Assegurar a defesa dos bens do Estado, das regiões autónomas e das autarquias locais”. PORTUGAL. Constituição da República Portuguesa. Cit.

189 “Artigo 12º, Acção popular administrativa e acção popular civil. 1 - A ação popular administrativa compreende a acção para defesa dos interesses referidos no artigo 1.º e o recurso contencioso com fundamento em ilegalidade contra quaisquer actos administrativos lesivos dos mesmos interesses. 2 – A acção popular civil pode revertir qualquer das formas previstas no Código de Processo Civil”. PORTUGAL. Lei n.º 83/95, de 31 de Agosto: Direito de participação procedimental e de acção popular. Disponível em: <http://www.pgdlisboa.pt/ pgdl/leis/lei_mostra_articulado.php?nid=722&tabela=leis>. Acesso em 15 de abril de 2011. 190 “Artigo 14.º Regime especial de representação processual. Nos processos de acção popular, o autor representa por iniciativa própria, com dispensa de mandato ou autorização expressa, todos os demais titulares dos direitos ou interesses em causa que não tenham exercido o direito de auto-exclusão previsto no artigo seguinte, com as consequências constantes da presente lei”. PORTUGAL. Lei n.º 83/95, de 31 de Agosto. Cit.

191 “Artigo 15.º Direito de exclusão por parte de titulares dos interesses em causa. 1 - Recebida petição de acção popular, serão citados os titulares dos interesses em causa na acção de que se trate, e não intervenientes nela, para o efeito de, no prazo fixado pelo juiz, passarem a intervir no processo a título principal, querendo, aceitando-o na fase em que se encontrar, e para declararem nos autos se aceitam ou não ser representados pelo autor ou se, pelo contrário, se excluem dessa representação, nomeadamente para o efeito de lhes não serem aplicáveis as

2.2.6. O tratamento coletivo na Alemanha, França e Espanha.