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3.2 Dinâmica dos Destinos Turísticos

3.2.3 O Turismo e o Destino Turístico

Devido à ênfase na investigação orientada para a Geografia em estudos de turismo, destinos turísticos são tradicionalmente considerados áreas geográficas

definidas como país, ilha, ou cidade (DAVIDSON; MAITLAND 1997; FLORES;

MENDES, 2014). Framke (2002) o define como um aglomerado dinâmico de

atrações e serviços, tais como cultura, eventos, paisagens e outros aspectos semelhantes.

A atividade turística encontra neste âmbito a possibilidade de considerar o destino turístico como unidade de análise, podendo este ser uma cidade, região ou país. Considera-se que esta perspectiva favorece ao enfoque pluralista do fenômeno turístico, em razão de que, na sua essência, este fenômeno produz e consome espaços (RODRIGUES, 1997; LUCHIARI, 1998).

Para a Geografia, o destino turístico apresenta-se numa área com limites físicos definidos, configurando-se um elemento integrante do sistema turístico e descrito por Leiper (1979) como o lugar que possui recursos naturais ou construídos pelo homem, contribuindo de forma inerente para as atrações e atraindo turistas

para ficarem temporariamente. Cooper et al. (2007) ratifica que são as atrações de

uma localização geográfica que fazem os turistas desejar visitá-la, e complementa que as demandas modificam a estrutura e o caráter do destino pela geração de ofertas e mudanças nos seus elementos constitutivos, sendo que essas mudanças devem ser objeto de planejamento e desenvolvimento do turismo (FLORES; MENDES, 2014).

De um ponto de vista territorial, Bull (1994) definiu que destino turístico é “o país, região ou cidade a que se dirigem os visitantes.” Cooper et al. (2007) apresentam um conceito vinculado ao território, pois, para estes autores o destino

turístico é considerado uma concentração de instalações e serviços (empresas e serviços ou produtos e serviços) criados para satisfazer as necessidades dos turistas, onde a relação entre a Geografia e o Turismo vai se estabelecer no espaço geográfico como alicerce da oferta turística (FLORES; MENDES, 2014).

Visto de forma integral, o destino turístico é um produto de base territorial, que pode incorporar outros produtos, que necessariamente, devem ser comercializados nos mercados turísticos através de operadores, e deve ser acompanhada de uma

marca de identificação (SANCHO et al., 2001).

O turismo é um fenômeno de natureza diversa (social, econômica e territorial), entendido como um conjunto de atividades econômicas com várias singularidades que desenvolve o espaço geográfico e o processo de produção e consumo turísticos, onde sua natureza complexa se deriva da multiplicidade de fatores que o compõe e da inter-relação que se estabelece entre os mesmos (VERA REBOLLO; LÓPEZ PALOMEQUE; MARCHENA GÓMEZ; ANTON CLAVÉ, 2011).

O destino turístico se caracteriza pela existência de um espaço geográfico homogêneo, dotado de centralidade e de infraestruturas turísticas organizadas (RODRIGUES, 2010), onde o turismo é um agente condicionante e transformador das relações espaciais, e a atividade turística muitas vezes se apropria de determinados espaços das cidades, modificando-os e lhes dando uma nova configuração e sentido conforme as relações de produção e consumo do turismo (CRUZ, 2001; SCHERER, 2002).

Condiciona-se ainda a existência de um destino turístico à presença de três aspectos: grandes unidades geográficas agrupadas ou áreas que possuam atrativos e serviços; população que aumenta extraordinariamente durante a temporada turística; e economia que depende diretamente das transações que os turistas realizam (JAFARI, 2000), porém, estes aspectos estão relacionados a destinos em fase de desenvolvimento avançado, praticamente consolidados, o que deixaria muitos destinos turísticos excluídos do conceito (VALLS, 2006).

O destino turístico é ainda um produto de base territorial, que pode incorporar outros produtos, que necessariamente, devem ser comercializados nos mercados turísticos através de operadores, e deve ser acompanhada de uma marca de identificação (SANCHO, 2001). Observa-se que para a Geografia o objeto está na análise do movimento turístico e seu impacto, bem como que um destino turístico

une todos os aspectos do turismo, a demanda, o transporte, a oferta e a comercialização, em uma estrutura conveniente para a visitação (FLORES; MENDES, 2014).

Hu e Ritchie (1993) consideram o destino turístico como um pacote de serviços e facilidades turísticas, que tal como qualquer outro produto consumido é composto por um número de atributos multidimensionais. Uma amálgama de produtos e de serviços disponíveis num determinado local, que podem atrair

visitantes para além das suas fronteiras (MURPHY; PRITCHARD; SMITH, 2000 p.

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Um destino turístico deixa de ser um conjunto distinto de recursos naturais, culturais ou ambientais, assumindo uma configuração de um produto global, atraente e disponível em uma determinada área, um conjunto complexo e integrado de serviços turísticos produzidos com base em seu potencial autóctone, com objetivo de proporcionar uma experiência de férias e satisfazer as necessidades dos turistas (CRACOLICIA; NIJKAMP, 2008).

Se caracterizando em um espaço físico no qual um visitante pernoita pelo menos uma noite. Inclui produtos turísticos tais como, serviços de suporte, atrações e recursos turísticos a um dia de viagem de regresso. Tem fronteiras físicas e administrativas que definem a sua gestão, e tem também imagens e percepções que definem a sua competitividade no mercado. Os destinos turísticos incorporam vários

stakeholders que geralmente incluem a comunidade local, e podem ainda, abrigar e formar, uma rede maior de destinos (UNWTO, 2010). Pode-se observar no conceito acima que o destino turístico é caracterizado por um espaço físico que inclui atrações, produtos, serviços e recursos turísticos, possuindo fronteiras físicas e administrativas que definem a gestão (COOPER et al., 2007; FLORES; MENDES, 2014).

Destinos turísticos são sistemas difíceis de administrar. O gerenciamento e a promoção se transformam em um grande desafio devido à complexidade das relações entre os atores locais, bem como a variedade de atores envolvidos no

desenvolvimento e na produção dos produtos turísticos (SAUTTER;LEISEN, 1999;

BUHALIS, 2000; SARANIEMI; KYLANEN, 2010). Um destino turístico é geralmente visto como uma unidade de ação em que diferentes atores interagem através de cocriação de experiências (SARANIEMI, KYLANEN, 2010).

O destino turístico é “um conjuntode instituições e atores localizados em um espaço físico ou virtual, onde transações e atividades mercadologicamente

orientadas ocorrem, modificando a tradicional dicotomia entre produção e consumo”

(SARANIEMI; KYLANEN, 2011, p.13).

Recentes revisões teóricas de Pearce (2014) referenciam os destinos turísticos como construções sociais, salientando o papel dos fatores locais, enfatizando o envolvimento e o impacto sobre os residentes e destacando a maneira como os lugares são transformados por e para o turismo. Esta abordagem de gerenciamento do destino é considerada mais holística e que permite refletir as particularidades e dinamismo do contexto local (PEARCE, 2014).

Da mesma forma, considera-se o turismo como fenômeno e os destinos turísticos como conceitos-chave para entender a conceituação complexa e abstrata dos mercados. Os destinos turísticos ajudam a entender a complexidade multicultural dos mercados globais em várias frentes (SARANIEMI; KYLANEN, 2010).

Nova York, Paris, Roma, Barcelona, Londres, Tóquio e muitas outras estão entre as cidades que atraem pessoas motivadas por relações comerciais e negócios em suas mais diversas formas, mas, ao mesmo tempo, possuem edifícios ou monumentos ícones que as identificam como destino turístico (BOULLÓN, 2002 p. 191) onde o turismo urbano de desenvolve. As razões econômicas para o desenvolvimento do turismo são a geração de novos empregos, a melhoria no desenvolvimento regional e local, a diversificação da economia e o aumento do nível de renda e receita de impostos (HOLDEN, 2000).

A atividade turística ao se desenvolver nos espaços urbanos apropria-se da infraestrutura e recursos existentes e das facilidades implantadas na cidade, atribuindo uma nova realidade a estes espaços, que acabam por se tornar espaços de consumo (VERA REBOLLO; LÓPEZ PALOMEQUE; MARCHENA GÓMEZ; ANTON CLAVÉ, 2011). Compreender a dinâmica espacial do turismo consiste na compreensão da complexa relação que esta atividade estabelece com fatores: sociais, ambientais, políticos, econômicos, e culturais (TELES, 2009; MOURA, 2007).

Para López Palomeque (1995), Lamas (2000), Castrogiovanni (2001), este dinamismo transforma as cidades a cada instante modificando-a dando novos

valores aos espaços. As cidades são espaços de transformação onde diversos elementos interferem em sua formação: o meio ambiente, a economia, a cultura, as relações sociais e de poder, as políticas, etc. (CAPEL, 1975).

A realidade urbana somam-se diversos equipamentos e serviços, entre os quais se destacam os locais de entretenimento e os meios de hospedagem, que contribuem para outra identidade das metrópoles, a de destino turístico, que para muitos moradores se constitui em uma possibilidade irreal em função dos problemas urbanos presentes, mas ao olhar do visitante, a cidade como um todo, pode representar um produto de consumo turístico de grande valor. Pode-se afirmar que existem três grandes tendências que orientam e acompanham esse acontecimento do turismo urbano e metropolitano europeu (VERA REBOLLO; LÓPEZ PALOMEQUE; MARCHENA GÓMEZ; ANTON CLAVÉ, 1997):

a) O desenvolvimento significativo da mobilidade de lazer, e em particular o turismo de curta duração. Esse segmento de tempo aumentou 3,5 vezes mais do que as viagens de férias. Viagens culturais, recreativas e profissionais que são

projetadas com base em visitas sem overnight (um dos principais problemas

estatísticos na gestão do turismo) ou de curto prazo.

b) A renovada atração e motivação de recursos e produtos culturais e patrimoniais, especialmente determinados eventos, exposições. E ainda o aumento de visitas a museus e monumentos, a criação e promoção turística nos principais equipamentos/atrativos turísticos culturais.

c) A regeneração da paisagem urbana: a cidade que não é capaz de se mostrar turisticamente e atrair fluxos de visitantes está em desvantagem na globalização do sistema urbano. A cidade deixa de ser um lugar de produção para um lugar de consumo de serviços comerciais.

De fato, são três os principais conceitos associados ao desenvolvimento e configuração do turismo urbano europeu: a fragmentação das férias17, o aumento nas viagens de fim de semana e feriados, e a tendência de crescimento da individualidade e conhecimento da cidade como um destino cultural (CAZES; POTIER, 1996), e esta configuração tem se replicado no mundo todo.

Com base nestas reflexões, o turismo deve vir como um eixo estratégico de uma política de ordenamento urbano que, necessariamente, tem de propor uma

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oferta competitiva que vá ao encontro das expectativas dos visitantes e, ao mesmo tempo, contribua positivamente para o desenvolvimento da cidade e para o bem-estar dos seus residentes (MOURA, 2007).

O processo de gestão em um destino turístico deve estar sustentado num planejamento que resulta de um comprometimento dos responsáveis das coletividades locais e que traduza uma adesão do conjunto dos atores turísticos. Muitas das decisões relativas à gestão dos destinos turísticos e ao planejamento da oferta global, da imagem e do controle das atividades dos operadores são orientadas para a renovação de locais, de cidades, para a revitalização de destinos maduros ou em fase de declínio, os quais, indubitavelmente, necessitam de intervenção programada. Assim, os objetivos da gestão estão mais centrados na

projeção e no estabelecimento de um novo destino turístico (MENDES, 2004;

DAVIDSON; MAITLAND, 1997) e, por conseguinte, no atendimento das

necessidades, satisfação e excelência da experiência do turista (FLORES, MENDES, 2014).

De uma forma geral, observa-se que alguns autores relacionam a ideia de destino turístico a de um local geográfico (país, região, estado, cidade) que recebe

turistas (GUNN, 1994). Já outros autores preferem uma abordagem mercadológica

onde o destino turístico deve ser visto e entendido como um produto turístico

(COOPER et al.,2007;WALLINGRE, 2009).

No entanto, Hall (2004, p. 216) contrapõe tal concepção ao afirmar que: embora algumas pessoas que realizem atividades de promoção, comercialização e, talvez, até planejamento de turismo, possam, às vezes, parecer sugerir o contrário, um destino turístico, não é somente um outro “produto” ou “mercadoria”. Destinos turísticos são lugares nos quais as pessoas vivem, trabalham e se divertem. Se a intenção é tornar estes lugares sustentáveis, deve-se tratá-los como o conjunto complexo de relacionamentos e redes que são (HALL, 2004).