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3.2 Dinâmica dos Destinos Turísticos

3.2.2 Território e as Dinâmicas Turísticas

O conceito de território apresenta distintas abordagens, onde se faz necessário para a contextualização do tema da pesquisa utilizar aquela que mais se aproxima do entendimento, neste caso, em relação com a atividade turística e a competitividade de destinos turísticos. Primeiramente, é essencial compreender que o conceito de território é posterior ao conceito de espaço (RAFFESTIN, 1993), e se configura como categoria de análise geográfica de base deste estudo. É um passo importante então, reconhecer o território como uma unidade espacial de trabalho (SANTOS, 1994).

As primeiras descrições do conceito de território são do início do século XIX, as quais Ratzel, descrevia o território como uma das condições de existência do estado, significando a sociedade, organizando o espaço. O território vai se caracterizar como uma construção histórica, uma síntese da relação espaço-tempo e, portanto social, a partir das relações de poder (concreto e simbólico) que envolvem, concomitantemente, sociedade e espaço geográfico (HAESBAERT; LIMONAD, 2007; FLÁVIO; SAQUET, 2008).

O conceito de território evoluiu ao longo dos anos, através de pesquisa e como resposta da ação do homem no espaço, sendo então, o resultado da interação espaço-tempo (HAESBAERT; BRUCE, 2002), ou seja, o conceito muda ao longo dos anos, conforme mudam as relações em função dos atores que participam dela e do contexto geográfico (HAESBAERT, 2005). Nesta leitura, pode-se afirmar que o conceito de território está sempre em processo de mudança, e nunca se consolida efetivamente (HAESBAERT; BRUCE, 2002), sendo resultado e condição do movimento, é processual e relacional e pode ser interpretado como o resultado das relações espaço-tempo, transformações e permanências ocorridas onde se

desenvolve a sociedade (FLÁVIO;SAQUET,2008).

É entendido como suporte ou conjunto de recursos naturais, para abordagens relacionais e processuais, reconhecendo níveis de relações de poder num movimento histórico e multiescalar (SOUZA 2001). De fato, o território não é algo pronto, definido, finalizado e concluído (SANTOS, 1999), a categoria de análise do território tem base no espaço, mas não é o espaço, e sim, uma produção a partir dele (TELES, 2009). Territórios são relações sociais projetadas no espaço (SOUZA, 2010), é o resultado das ações relacionais de um ator sobre um determinado espaço.

O território é uma construção histórica e social, a partir das relações de poder que envolvem e influenciam, ao mesmo tempo, a sociedade e o espaço geográfico, que também é sempre, de alguma forma, natureza (HAESBAERT; LIMONAD, 2007).

Então, o território se apresenta como um “espaço definido e delimitado por e partir

de relações de poder”, em que a sua compreensão está no entendimento de quem

influencia ou domina, quem e como (SOUZA, 2001 p.78), através de processos que o caracterizam, estruturam e o definem que são os resultados de um espaço

definido por um conjunto destas mesmas relações de poder (SAQUET, 2008; SOUZA, 2010).

É considerada também a primeira concretude do lugar: são as relações sociais de produção num território apropriado da natureza ou de outros pela conquista, é onde vive a população, do qual tem domínio e posse (SILVA, 1986). Um complexo sistema de relações, com vários atores sujeitos ao uso do poder.

O território pode ser analisado como o resultado de um processo histórico (ALBAGLI, 2004; RIBEIRO, 2005; HAESBAERT; LIMONAD, 2007; HAESBAERT, 2007; SAQUET, 2007; 2008; RAFFESTIN, 2010), onde compreender o território ao longo dos anos, em um dado espaço é entender toda a historicidade do seu conceito, seu desenvolvimento e os elementos que o compõe.

A vertente territorial é particularmente complexa e apresenta oportunidades do ponto de vista da abordagem espacial do turismo, uma vez que espaços são produtos de simultaneidades e coexistências (MASSEY, 2008), e o turismo apresenta-se como evento, fluxo, variável e imprevisível, impactando na territorialidade, assumida como um conjunto de relações oriundas do sistema tridimensional: sociedade-espaço-tempo, em vias de atingir a maior autonomia possível, compatível com os recursos do sistema (RAFFESTIN, 1993; TELLES; VALDUGA, 2014).

Dessa forma, a territorialidade é definida como um conjunto de relações que se originam num sistema tridimensional sociedade-espaço-tempo para atingir a maior autonomia possível, de acordo com os recursos do sistema (RAFFESTIN, 1993). Compreender essa territorialidade é uma condição para que se possa ter autonomia e tornar as relações mais justas para todos os atores envolvidos (SOUZA, 2010).

Quando se discute a territorialidade, parte-se do princípio da interação do homem com o espaço, sempre uma interação mediatizada pelo espaço (SOUZA, 2010). A territorialidade será compreendida como as relações sociais que ocorrem entre os atores, de um dado território, em um período de tempo. O espaço compreendido aqui como resultado de uma territorialização, denominado território, abrange relações sociais entre os agentes que interagem. A interação e o resultado das ações entre o ator e o território são definidos como territorialidade (RAFFESTIN, 2010; CARVALHO, 2011).

Os espaços apropriados para o turismo revelam a organização de um território que deve ser visto e analisado “através de uma perspectiva integradora entre as diferentes dimensões sociais” (HAESBAERT, 2004, p. 74) de cada um dos

seus agentes. Esta perspectiva integradora, portanto complexa, assume o território do turismo e os processos de territorialização dos seus diversos agentes, (...) como fruto da interação entre relações sociais e controle do/pelo espaço, relações de poder em sentido amplo, ao mesmo tempo de forma mais concreta (especialmente pelo Estado e pelos agentes do mercado) e mais simbólica (um tipo de apropriação) (processo mais visível entre os turistas e a população local), (HAESBAERT, 2004).

Cada um dos agentes produtores dos espaços turísticos reage de forma específica e particular, assumindo posições e papéis específicos e diferenciados, contribuindo para a complexidade e para o dinamismo daqueles espaços. A combinação das ações e interações de todos os agentes, no tempo e no espaço, compõe o jogo dialógico do turismo contemporâneo, que tem sua territorialidade mais facilmente perceptível nas escalas local e regional (FRATUCCI, 2009).

O território é produto das relações sociedade natureza e condição para reprodução social (SAQUET, 2007, p.127), ou seja, a partir do momento em que as relações sociais são estabelecidas, em um determinado espaço-tempo, seguem as regras do sistema de produção do momento, desta forma, o território pode estar em sua totalidade dominado, ou não, porém, a cada território cabe a sua particularidade e essas relações sociais do território são chamadas de territorialidades. É nesse contexto que a atividade turística se materializa: na relação das distintas manifestações e configurações da organização do espaço que refletem o uso do

território (FLÁVIO;SAQUET,2008).

O território turístico recebe influências de cidades do entorno que possuem poder de centralidade sobre ela, o território é uma rede de relações sociais (RAFFESTIN, 1993; TELES, 2009), é algo que se integra, e mais do que isso, faz parte de toda uma sociedade. Analisar um território turístico impõe aos atores do processo os eventuais acontecimentos históricos da localidade, pois, em cada espaço denominado de turístico apresenta diferenciações, contudo, o turismo tem transformado lugares e se apropriando dos espaços, e tornando-o um território turístico. É necessário esclarecer que, quando o espaço é apropriado, transforma-se

em lugar, (LEFEBVRE, 2006) e esta apropriação, ocorre através das construções socioculturais, tornando o espaço um território (SARTI; QUEIROZ, 2012).

Se forma a partir do espaço, e é o resultado de uma ação conduzida por um ator sintagmático em qualquer nível. Ao se apropriar de um espaço, concreta ou

abstratamente, o ator “territorializa” o espaço. [...] O território, nessa perspectiva, é

um espaço onde se projetou um trabalho, seja energia e informação, e que, por consequência, revela as relações marcadas pelo poder (RAFFESTIN, 1993, p. 143).

Essa perspectiva de concepção integrada do território leva em consideração a ideia de totalidade e abarca a vertente política, simbólico-cultural e econômica.

“Muito mais do que uma coisa ou objeto, o território é um ato, uma ação, uma

relação, um movimento (de territorialização e desterritorialização), um ritmo, um

movimento que se repete e sobre o qual se exerce um controle” (HAESBAERT,

2004, p. 127).

O território vai se caracterizar no produto de uma relação desigual de forças, envolvendo o domínio ou o controle político-econômico do espaço e sua apropriação simbólica, ora conjugados e mutuamente reforçados, ora desconectados e contraditoriamente articulados (HAESBAERT, 2002, p.121).

O território não poderia ser nada mais que o produto dos atores sociais. São esses atores que produzem o território, partindo da

realidade inicial, que é o espaço. Há, portanto um “processo” do

território, quando se manifestam todas as espécies de relações de poder, que se traduzem por malhas, redes e centralidades cuja permanência é variável, mas que constituem invariáveis na qualidade de categorias obrigatórias (RAFFESTIN, 1993, p. 7-8).

A construção do território resulta da articulação de duas dimensões principais, uma mais material e ligada à esfera político-econômica, outra mais imaterial ou simbólica, ligada, sobretudo à esfera da cultura e do conjunto de símbolos e valores partilhados por um grupo social, (HAESBAERT; LIMONAD, 2007) e é relacionada à primeira dimensão que se une o conceito de competitividade. Cada território possui uma capacidade diferenciada de oferecer competitividade aos empreendimentos e rentabilidade aos investimentos, configurando distintas vantagens de localização produtiva.

[...] as forças econômicas, políticas e culturais, reciprocamente relacionadas, efetivam um território, um processo social, no (e com o) espaço geográfico, centrado e emanado na e da territorialidade

cotidiana dos indivíduos, em diferentes

econômica, política e cultural, formando territórios heterogêneos e sobrepostos fundados nas contradições sociais. (SAQUET, 2003, p.28).

Incorporando o aspecto político e entendendo o poder como uma relação social e o território como a sua expressão espacial, Souza (2009) compara o território a um campo de forças ao se apropriar de um espaço, concreta ou abstratamente, o ator territorializa o espaço, constituindo-se em relações marcadas

pelo poder que definem o ordenamento do território (RAFFESTIN,1993,p.143).

Pode-se dizer que o território é sim, um tecido social dinâmico, caracterizado fundamentalmente pelas relações de poder da sociedade que ali vive, pelos seus sentimentos de pertencimento e identidade que produzem a territorialidade dos indivíduos (SARTI; QUEIROZ, 2012).

Convém considerar também que o fenômeno da globalização, com seus processos de flexibilização dos sistemas produtivos e de intensificação dos fluxos de informações, de capitais, de produtos e de pessoas, acabaram por conferir uma nova dimensão e importância ao território, que passou a ser considerado como fator de competitividade econômica.

Neste contexto, o turismo se torna uma alternativa econômica para muitas pessoas que vivem nos destinos turísticos, e por isso, necessita ser uma atividade produtiva contínua, geradora de renda, que se submete às leis econômicas e interfere nos diversos segmentos da economia, repercutindo acentuadamente e indiretamente em outras atividades produtivas através do seu efeito multiplicador. (BENI, 2002, p.65).

E dessa forma, os territórios se configuram como um produto que reflete a sociedade, uma vez que os valores, significados e importância da paisagem natural e urbana estão em constante mudança, durante os processos históricos e culturais

(HALL,2004).

O turismo enquanto fenômeno permite uma sistematização da realidade expressa no espaço geográfico. O que não quer dizer, que se torne selecionado de uma dada configuração territorial para a descrição das espacialidades dos elementos considerados turísticos. O recorte de um território é fundamental para que seja considerada a sua historicidade, que interfere na realidade (TELLES, 2012; TELLES; VALDUGA, 2014).

É necessário, todavia, considerar que não é possível analisar o turismo desde uma perspectiva unicamente espacial. Apesar desta constituir-se, talvez, em uma das principais perspectivas sobre o fenômeno, existem abordagens que fogem do âmbito geográfico para compreensão do turismo. Neste interim, a especificação do objeto geográfico em uma derivação para aproximação interdisciplinar àquelas disciplinas que também oferecem possibilidades analíticas importantes ao turismo se torna necessária (TELLES; VALDUGA, 2014).