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2. A RELAÇÃO ENTRE OBJETIVOS DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

2.1. Objetivo 1 – Erradicação da Pobreza

O primeiro objetivo da Agenda 2030 trata sobre a erradicação da pobreza, e visa “acabar com a pobreza em todas as suas formas, em todos os lugares” (NAÇÕES UNIDAS, 2017, p. 1), sendo suas metas:

1.1. Até 2030, erradicar a pobreza extrema para todas as pessoas em todos os lugares, atualmente medida como pessoas vivendo com menos de US$ 1,90 por dia

1.2. Até 2030, reduzir pelo menos à metade a proporção de homens, mulheres e crianças, de todas as idades, que vivem na pobreza, em todas as suas dimensões, de acordo com as definições nacionais

1.3. Implementar, em nível nacional, medidas e sistemas de proteção social adequados, para todos, incluindo pisos, e até 2030 atingir a cobertura substancial dos pobres e vulneráveis

1.4. Até 2030, garantir que todos os homens e mulheres, particularmente os pobres e vulneráveis, tenham direitos iguais aos recursos econômicos, bem como o acesso a serviços básicos, propriedade e controle sobre a terra e

outras formas de propriedade, herança, recursos naturais, novas tecnologias apropriadas e serviços financeiros, incluindo microfinanças

1.5. Até 2030, construir a resiliência dos pobres e daqueles em situação de vulnerabilidade, e reduzir a exposição e vulnerabilidade destes a eventos extremos relacionados com o clima e outros choques e desastres econômicos, sociais e ambientais

1.a Garantir uma mobilização significativa de recursos a partir de uma variedade de fontes, inclusive por meio do reforço da cooperação para o desenvolvimento, para proporcionar meios adequados e previsíveis para que os países em desenvolvimento, em particular os países menos desenvolvidos, implementem programas e políticas para acabar com a pobreza em todas as suas dimensões

1.b Criar marcos políticos sólidos em níveis nacional, regional e internacional, com base em estratégias de desenvolvimento a favor dos pobres e sensíveis a gênero, para apoiar investimentos acelerados nas ações de erradicação da pobreza. (NAÇÕES UNIDAS, 2017 p. 1)

Ao analisarmos o objetivo frente aos pontos de internacionalização, podemos afirmar que uma cidade sem pobreza significa que sua população representa potencial mercado consumidor para o fluxo de comércio e serviços, o que acaba por atrair potenciais investidores internacionais e novas empresas para a cidade. Ou seja, influenciam nas características 2, 3 e 10 de inserção internacional, quais sejam:

2. Recebe fatores de produção estrangeiros (investimento, mão-de-obra, etc.) e fluxo de comércio (mercadorias e serviços);

3. Abriga instituições estrangeiras e internacionais (empresas, bancos e diversas outras instituições socioeconômicas, culturais e científicas; organizações internacionais; etc.);

(...)

10. Abriga instituições nacionais, regionais e locais de reputação internacional ou ativas no âmbito das relações internacionais; (SOLDATOS,1996, p. 216).

Ao mesmo tempo, irá influenciar ajudar que uma cidade tenha “uma população com composição étnica diversificada” (SOLDATOS,1996, p. 216). Afinal, será uma consequência do simples fato de uma cidade sem pobreza atrair populações de outros locais em busca de trabalho e qualidade de vida.

O primeiro objetivo dos ODS visa acabar não só com a pobreza relacionada à renda, mas sim a pobreza mais ampla que condiz ao acesso aos serviços públicos, à opção de escolha, aos direitos humanos (EMBRAPA, 2018).

A pobreza fragiliza indivíduos, famílias e comunidades. Essa situação só pode ser superada pela ação do poder público, por meio de políticas públicas multissetoriais como a universalização do acesso aos serviços de saúde, o acesso à educação integral, o estímulo à criação de organizações de economia solidária, grupos comunitários de produção, fundos solidários e o desenvolvimento de tecnologias sociais. Entretanto, a efetividade dessas políticas pressupõe p acesso à vida social. Assim entendemos que, para a erradicação da pobreza extrema ou para a sua redução, é essencial a inclusão social de um expressivo contingente populacional, reconhecendo seu direito à autonomia econômica e cultural (EMBRAPA, 2018, p.20).

Jeffrey Sachs (2005), em seu livro The end of poverty, relaciona a pobreza em si como causa da estagnação econômica, de modo que o país em situação de extrema pobreza não consegue sair sozinho de tal situação, tanto pela falta de capital humano ou natural quanto por não poder poupar capital para o futuro. Ou seja, um país ou local que não possua capital humano ou natural dificilmente conseguirá sair da situação de pobreza extrema sem ajuda externa. Ao mesmo tempo tal pressuposto ressalta a importância da população e do meio ambiente para o sucesso econômico de uma localidade.

Logo, uma cidade deve ser capaz de preservar e desenvolver seu capital humano e natural a fim de atrair novos negócios e perpetuar a situação econômica fora da pobreza. Interessante citar que o Global Power City Index (GPCI), que seria um sistema que classifica as cidades globais de acordo com seu magnetismo para capital, negócios e pessoas, se utiliza de dados nos âmbitos econômicos, pesquisa e desenvolvimento, interação cultural, acessibilidade, qualidade de vida e meio ambiente para classificar as cidades (ICHIKAWA et al., 2017).

Nesse sentido, um dos meios para o fomento de tais fatores para tornar uma cidade atrativa se dá por investimento e políticas públicas. Para alguns teóricos econômicos tais investimentos além de possuir efeito nos investimentos privados aumentam o consumo da população (FOURNIER, 2016). Além disso, investimento em infraestrutura, como estradas que possibilitem a conexão física entre lugares e pessoas, ajuda na redução da pobreza, uma vez que permite o acesso não só ao mercado, mas também aos serviços básicos de saúde e educação (WORLD BANK, 2014 apud OCDE e OMC, 2017).

A OCDE e OMC (2017) destacam como o desenvolvimento em infraestrutura pode beneficiar os pobres de forma direta a partir de distribuição de renda e, indiretamente, através do crescimento econômico rural. De forma a exemplificar a relevância das estradas na incidência da pobreza, Ali e Pernia (2003 apud OCDE e OMC 2017) verificaram que 3,2

pessoas foram retiradas da pobreza na China a cada 10.000 yuans investidos em estradas rurais.

Com isso, é possível afirmar que o investimento público, além de melhorar infraestrutura para os negócios, melhora as condições socioeconômicas da população, o que seria mais um atrativo para novas empresas que encontrariam nessa população mercado para seus produtos e serviços, além de mão de obra. Ademais,

(...) os ODS, ao estimularem o direcionamento do fluxo de investimento público e privado global aos desafios da sustentabilidade, potencializam o mercado para empresas que possuem ideias inovadoras, negócios com soluções de impacto socioambiental e inclusivo em cadeias de valor diretamente relacionadas às temáticas de gênero, juventude, terceira idade, entre outros (SEBRAE MINAS, 2018, p. 18).

Importante ainda salientar que enquanto a conexão física é relevante para o acesso ao mercado e até mesmo para diminuir os custos de transações, a conexão digital é também elemento extremamente pertinente à incidência da pobreza. A respeito disso, a OCDE e OMC (2017) afirmam que para reduzir a pobreza, os custos da conectividade física e digital necessitam ser abordados para permitir que o pobre participe da economia, uma vez que com a conexão digital a população tem acesso à informação, educação, mercado de trabalho e negócios.

Ou seja, uma vez que o governo invista em políticas públicas que visem a eliminação da pobreza, gerará oportunidades para o setor privado e para a população em geral. Além disso, é interessante afirmar que as pessoas e empresas se realocam não só por benefícios financeiros, mas também por questões ambientais e de segurança (ICHIKAWA et al., 2017). Fica cada vez mais claro que as cidades têm que fazer o seu marketing promovendo as suas vantagens para atrair novos residentes e empresas.

Por fim, vale frisar que a pobreza envolve os âmbitos social, econômico e ambiental, o que nos revela a grande integração dos ODS e a centralidade do fim da pobreza no alcance da Agenda. Assim como, nesse primeiro objetivo, já podemos identificar a pertinência do marketing de cidades, defendido por Mónica Salomón (2011), para atração de investimentos e como parte importante da internacionalização da cidade.