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4.2 Análise das políticas existentes quanto aos objetivos

4.2.1 Documentos voltados à aprendizagem de línguas estrangeiras

4.2.1.4 Objetivos culturais

Almeida Filho (2012; 2016) considerou como objetivos culturais aqueles que levam o aluno a: a) abrir-se para o outro, interessar-se por outras culturas (firmando constrastiva e criticamente) o conhecimento de da própria cultura; b) compreender especificidades de aprender uma LE como a sua dependência de fenômenos políticos, de influências culturais,

fatores econômicos, preconceitos, estereótipos e vieses e c) servir-se de e contribuir com conhecimento técnico-científico-cultural que circula na L-alvo.

A análise dos documentos nos mostrou que grande parte deles propõe objetivos culturais para o ensino de LE.

Os PCNEF, por exemplo, enfatizam que a aprendizagem de LE “ao promover uma apreciação dos costumes e valores de outras culturas, contribui para desenvolver a percepção da própria cultura por meio da compreensão(s) de cultura(s) estrangeira(s) (BRASIL, 1998a, p. 37).” Além disso, compreendem que “ao entender o outro e a sua alteridade, pela aprendizagem de uma LE, ele [o aluno] aprende mais sobre si mesmo e sobre um mundo plural […] (p. 19).”

Ademais, o ensino de LE promove “uma abertura para o mundo, tanto o mundo próximo, fora de si mesmo, quanto o mundo distante, em outras culturas (1998a, p. 37)”. Essa “compreensão intercultural promove, ainda, a aceitação das diferenças nas maneiras de expressão e de comportamento (1998, p. 37).”

A aprendizagem de uma língua, segundo o documento, também: “dá acesso à ciência e à tecnologia modernas, à comunicação intercultural (…) (BRASIL, 1998a, p. 65).”

Outro objetivo cultural proposto pelo documento é o de que o ensino de LE possibilite ao aluno “identificar no documento que o cerca as línguas estrangeiras que cooperam nos sistemas de comunicação, percebendo-se como parte integrante de um mundo plurilíngue (…) (BRASIL, 1998a, p. 66).”

Além disso, o ensino da LE deve levar o aluno a refletir “sobre os costumes ou maneiras de agir e interagir e as visões de seu próprio mundo, possibilitando maior entendimento de um mundo plural e de seu próprio papel como cidadão de seu país e do mundo (1998a, p. 67).”

O acesso a informação é reconhecido pelo PCNEF como um objetivo do ensino de LE em dois trechos. O primeiro afirma que a LE deve levar o aluno a “reconhecer que o aprendizado de uma ou mais línguas lhe possibilita o acesso a bens culturais da humanidade construídos em outras partes do mundo (BRASIL, 1998a, p. 67)” e o segundo, que o aluno passa, com o aprendizado de LE a “ler e valorizar a leitura como fonte de informação e prazer, utilizando-a como meio de acesso ao mundo do trabalho e dos estudos avançados (p. 67).”

Os PCNEM estão em conformidade com os dispositivos legais que regulam o segmento ensino médio. Eles incluem as Línguas Estrangeiras na área denominada “Linguagens, Códigos e suas Tecnologias”, sendo “parte indissolúvel do conjunto de

conhecimentos essenciais que permitem ao estudante aproximar-se de várias culturas (BRASIl, 2000, p. 25).”

Na apresentação dessa “grande área”, o documento explicita que o eixo norteador deve ser o “respeito à diversidade” (BRASIL, 2000, p. 4).

Ao elencar as competências a serem desenvolvidas nessa área, os PCNEM explicitam que a LE deve servir como “instrumento de acesso a informações e a outras culturas e grupos sociais” (BRASIL, 2000, p. 11) e ressaltam que a LDB/96 recuperou a importância das LE, que lhes havia sido negada (p. 11). Além disso, afirma que se deve “outorgar importância às questões culturais” (p. 30). A ampliação desses horizontes faz com que o aluno conheça outras culturas e reflitam sobre sua própria (p. 30) e “ampliem a capacidade de analisar o seu entorno social com maior profundidade” (p. 30), eliminando estereótipos e preconceitos (p. 31). O documento ressalta ainda a importância de valorizar a “pluralidade do patrimônio sócio -cultural brasileiro, bem como os aspectos socioculturais dos outros povos” (p. 7).

A aprendizagem da LE, segundo o documento permite que o aprendiz tenha “acesso a

informações de vários tipos, ao mesmo tempo em que contribu[i] para a sua formação geral enquanto cidadão (BRASIL, 2000, p 26).”

Os PCN+ também compreendem a aprendizagem de uma LE como uma “oportunidade de acesso à informação (BRASIL, 2002a, p. 93)” e também da apropriação de bens culturais (p.93).

Além disso, segundo os PCN+, o ensino da LE colabora para a eliminação de estereótipos e preconceitos (p. 101).

O documento também concebe a LE como meio de acesso a distintos contextos socioculturais, conhecimentos e informações (BRASIL, 2002a, p. 122) e de aproximar alunos de outras culturas (p. 122).

As OCEM, por sua vez, propõem um ensino de LE que desenvolva o “senso de heterogeneidade linguística e sociocultural (BRASIL, 2006a, p. 93).” Já as OCEM- Língua Espanhola apontam que a aprendizagem da LE leva o estudante ao “reconhecimento da diversidade” (BRASIL, 2006b, p. 133). O documento aponta que dominar uma LE “supõe conhecer, também e principalmente, os valores e crenças presentes em diferentes grupos sociais, que certamente entrarão em contato (...) (p. 147).” É o que o documento denomina “comunicação intercultural”(p. 148).

As OCEM- Língua Espanhola consideram que o novo idioma é um meio de “integrar- se e agir como cidadão (2006b, p. 147)”. Em outras palavras, o ensino da Língua Espanhola deve “tornar (mais) conscientes as noções de cidadania, de identidade, de plurilinguismo e de

multiculturalismo, conceitos esses relacionados tanto à língua materna quanto à língua estrangeira (2006b, p. 149).”

O Edital PNLD 2017 (2015a, p. 50) para o ensino fundamental também aborda os aspectos culturais. Segundo o edital, o material deve “auxiliar o aprendente a romper estereótipos, superar preconceitos, criar espaços de convivência com a diferença, que vão auxiliar na promoção de novos entendimentos das nossas próprias formas de organizar, dizer e valorizar o mundo.”

Além disso, deve levar o aprendente a desenvolver uma consciência crítica sobre os usos da língua (2015a, p. 50) e

refletir sobre costumes, maneiras de agir e interagir em diferentes situações e culturas, em confronto com as formas próprias do universo cultural do seu entorno, de modo a perceber que o mundo é plural e heterogêneo e entender o papel de cada um como cidadão (p. 51)

Já o PNLD 2018, voltado ao ensino médio, prevê que o material “não veicule estereótipos nem preconceitos em relação às culturas estrangeiras envolvidas, nem às nossas próprias em relação a elas (BRASIL, 2015b, p. 39).”

Além disso, deve privilegiar textos que “favoreçam o acesso à diversidade cultural, social, étnica, etária e de gênero manifestada na língua estrangeira, de modo a garantir a compreensão de que essa diversidade é inerente à constituição de uma língua (...)”.

No ENEM (BRASIL, 2009), ainda que seja avaliada somente a leitura, é prevista, pela Matriz de Referências, como competência a ser avaliada, a de “conhecer e usar língua(s) estrangeira(s) moderna(s) como instrumento de acesso a informações (...)” (BRASIL, 2009b, competência 2) e, dentro dessa competência, destaca a avaliação da habilidade de “utilizar os conhecimentos da LEM e de seus mecanismos como meio de ampliar as possibilidades de acesso a informações (...) , tecnologias e culturas (habilidade H6)”, bem como a competência de “reconhecer a importância da produção cultural em LEM como representação da diversidade cultural e linguística (habilidade H8).”

O quadro 9 resume o que foi apresentado nesta subseção.

QUADRO 9- Objetivos culturais

PCNEF Acesso à informação

Apreciação de outras culturas para compreender a sua Mundo plurilíngue

PCNEM Aproximar-se de várias culturas Acessso à informação e outras culturas

PCN+ Oportunidade de acesso à informaçãoo Apropriação de bens culturais

Eliminação de estereótipos e preconceitos Aproximar-se de outras culturas

OCEM Senso de heterogeneidade linguística e sociocultural OCEM- L. Esp. Reconhecer o plurilinguismo

Reconhecimento da diversidade Comunicação intercultural PNLD 2017 Romper estereótipos

Refletir costumes de outras culturas Perceber o mundo plural

PNLD 2018 Materiais que não contenham estereótipos e preconceitos Promovam a diversidade cultural

ENEM Acesso a informação e outras culturas

(elaborado pela autora)

Em resumo, no que se refere aos aspectos culturais, verificamos que todos os documentos preveem o ensino de LE como um meio de acesso a informação e conhecimento do outro, de modo a romper estereótipos e preconceitos.