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- Identificar como os diferentes profissionais das equipes da Estratégia Saúde da Família da cidade de Montes Claros/MG concebem a violência sexual praticada contra crianças e adolescentes;

- Investigar como se dá a identificação de violência sexual contra crianças e adolescentes pelos profissionais das equipes;

- Compreender como se dá a condução destes casos por tais profissionais.

3.3 Método

Etimologicamente falando, método é um caminho (ou um modo) através do qual se procura chegar (ou fazer) algo. No campo da ciência, o método científico é a forma de se construir os conhecimentos, podendo ser classificados em “tantos tipos quantas são as significativas correntes de pensadores/pesquisadores que partem em busca de conhecer/entender uma verdade ou um objeto de interesse” (TURATO, 2003, p. 150), como os dedutivos e indutivos, ou quantitativos e qualitativos, sintéticos ou analíticos, etc.

Os métodos qualitativos são chamados também de compreensivo-interpretativos por Turato (2003) ao marcar a diferença entre explicar e compreender. Entende que “explicar” é conhecer o “porquê” dos fenômenos, dentro de uma concepção racionalista. Já “compreender” é conhecer “como” se dão os fenômenos, dentro de uma concepção fenomenológica, “é dar conta de entender interpretando os sentidos e significações dos fenômenos”. Esclarece ainda que o investigador qualitativista estuda não “as coisas em si”, mas “as pessoas ou as comunidades em fala e em seu comportamento (as “coisas” que acontecem...), [em seu] setting natural” (TURATO, 2003, p. 183).

Contemplando o campo da saúde coletiva, Minayo (2006, p. 22) entende por Metodologias de Pesquisa Qualitativa “aquelas capazes de incorporar a questão do significado e da intencionalidade como inerentes aos atos, às relações, e as estruturas sociais [...] como construções humanas significativas”. Esse tipo de pesquisa privilegia o trabalho com um universo amplo “de significados, de aspirações, de crenças, de valores e de atitudes, o que corresponde ao espaço mais profundo das relações, dos processos e dos fenômenos que não podem ser reduzidos à operacionalização de variáveis” (MINAYO, 1994, p. 22).

Para Turato (2003), trabalhar qualitativamente implica,

necessariamente, por definição, em entender/interpretar os sentidos e as significações que uma pessoa dá aos fenômenos em foco, através de técnicas de observação ampla e entrevistas em profundidade (instrumentos necessários e suficientes), em que são valorizados o contato pessoal e os elementos do setting natural do sujeito [...] (TURATO, 2003, p. 168).

Em virtude disso, optamos pelo método qualitativo neste estudo, uma vez que buscamos compreender as regularidades e rupturas das práticas discursivas dos profissionais inseridos nas equipes da Estratégia Saúde da Família da cidade de Montes Claros/MG, sobre a identificação e condução dos casos de violência sexual contra crianças e adolescentes.

3.4 Contribuições da abordagem discursiva para análise das práticas profissionais

referentes ao fenômeno da violência sexual infanto-juvenil

Esta pesquisa se propôs compreender como se dá a abordagem da violência sexual infanto-juvenil na saúde, através do discurso de profissionais alocados nas equipes do programa ESF. Por ser o termo “discurso” usado nas ciências sociais de maneira ambígua, decorrente da multiplicidade teórico-metodológica existente nas diversas disciplinas ou dentro de uma mesma disciplina, precisaremos tal termo na perspectiva das análises discursivas. Tais abordagens investigativas buscam averiguar as maneiras pelas quais as pessoas constroem sentidos e significados na vida cotidiana usando ativamente a linguagem (AZEVEDO, 1998).

A relevância dada à linguagem nas ciências humanas e sociais aparece no decorrer do século XX. Denominada por “giro linguístico”, expressão usada por alguns estudiosos, essa mudança

favoreceu “uma nova concepção de ‘realidade’, com a emergência de novos conceitos acerca da natureza do conhecimento e da própria concepção de linguagem”, redesenhando as formas de investigação existentes (MÉLLO; SILVA; LIMA; DI PAOLO, 2007). Nesse sentido, a Análise do Discurso deve ser compreendida como um “guarda-chuva” para denominação de diferentes abordagens de investigação (AZEVEDO, 1998, p. 107) que tem entre seus principais representantes o filósofo Michel Foucault (2010), filiado à escola francesa pós-estruturalista.

Nosso percurso teórico-metodológico tem então, como referência, Michel Foucault, principalmente sua obra A Arqueologia do Saber, publicada em 1969, e alguns autores ligados ao pensamento crítico do autor.

Optamos então por trabalhar com uma abordagem discursiva, que difere da Análise do Discurso propriamente dita, por esse tipo de investigação envolver a análise de elementos como a polissemia, a párafrase, a metáfora e o interdiscurso, de acordo com Orlandi (2003), coisa que não faremos. Focaremos nossa análise nas práticas discursivas produzidas pelo discurso, que passaremos a conceituar.

Discurso, enunciado, formação discursiva e práticas discursivas em Foucault

O entendimento do conceito de práticas discursivas em Michel Foucault “não pode ser recortado, isolado, no interior das suas teorizações sobre o discurso, sem se considerar sua circularidade com relação ao discurso, enunciado, enunciação, formação discursiva” (SOUZA; FONSECA, s. d., p. 3).

A noção de discurso em Foucault é o “fio condutor de suas investigações” (GREGOLIN, 2004a, p. 59), teorizada em A Arquelologia do Saber (FOUCAULT, 2010). Foucault diz que os discursos não podem ser entendidos como um conjunto de “performances verbais, [...] uma série de frases ou de proposições. [Mas sim como um] conjunto de enunciados que se apoia em um mesmo sistema de formações discursivas” (FOUCAULT, 2010, p. 122), designando as coisas e produzindo- as.

Foucault (2010) não se propõe a discutir a materialidade linguística dos signos, mesmo tendo estes a função de designação; é ao enunciado que ele vai se reportar. É o enunciado que tem papel central para ele como unidade elementar do discurso. O enunciado para Foucault

não pode ser isolado como uma frase, uma proposição ou ato de formulação. [...] descrever um enunciado [seria] definir as condições nas quais se realizou a função que deu a uma série de signos [...] como um jogo de posições possíveis para um sujeito [..] com uma materialidade repetível (FOUCAULT, 2010, p. 123).

Por essa descrição, o enunciado só pode então ser compreendido dentro de uma função enunciativa do sujeito; “é o fato dele ser produzido por um sujeito, em um lugar institucional,

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