1 SENTIDOS DE AUTORIA: novos questionamentos e novas perspectivas
1.1 Novas leituras, novos sentidos
1.1.1 Objetos e sujeitos de pesquisa
O primeiro critério de análise desses trabalhos foi verificar se o “autor de livro” fazia parte da
pesquisa como objeto e/ou sujeito. Explico a diferença: como objeto de pesquisa,
consideramos aquilo que estava sendo tratado como alvo da análise, aquilo sobre o qual o
pesquisador buscava compreender; já por sujeitos da pesquisa, entendemos por pessoas que
não estavam sendo propriamente analisadas, mas eram parte constituinte que se relacionavam
com o objeto de pesquisa. Estabelecemos esse diferencial porque poucos trabalhos
apresentavam a autoria como seu objeto de análise, mas muitos, de alguma forma, abordavam
sobre o papel dos autores para entender a constituição de seus objetos. Assim também
aconteceu com esta pesquisa que, no início do mestrado, tinha como foco o conhecimento
histórico escolar presente nos livros didáticos, mas depois os autores deixavam de ser o meio
pelo qual buscava compreender a constituição do conhecimento para se tornar o próprio
objeto a ser investigado devido à complexidade dessa noção. Conhecer outras abordagens
sobre a autoria permitiu compreender os caminhos que aqui estavam sendo traçados.
Do universo de textos e pesquisas encontrados relacionados ao tema de autoria de livros, foi
possível categorizar os objetos de análise trabalhados da seguinte forma:
QUADRO 5: Objetos de análise em trabalhos que abordam a autoria
OBJETO DE ANÁLISE TRABALHOS
21Autor 1, 3, 10, 11, 19, 20, 22, 23, 25, 27, 26, 28, 30 (total: 13)
Livro didático 14, 15, 17, 21, 24, (total: 5)
Editora 8, 12 (total: 2)
Autor + livro didático 6, 7, 9, 13, 18, 29 (total: 6)
Autor + editora 2, 4, 16 (total: 3)
Livro didático + políticas públicas 17 (total: 1)
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Diferente daquilo que esperava, o tema da autoria era objeto de análise da maioria dos
trabalhos identificados. Ora de forma isolada, ora relacionado com os livros didáticos ou as
editoras, 22 pesquisas trabalhavam com o conceito (autor; autor + livro; autor + editora). O
que eles apresentam em comum é o foco sobre as práticas e funções dos autores no processo
de produção de uma obra didática. Porém, o conceito e o lugar de produção em si não eram
problematizados.
Muitos desses trabalhos, que possuem como objeto somente a autoria, optaram por conduzir
as análises por referenciais teóricos do campo da linguagem – como explicitaremos mais
adiante – no âmbito de uma dimensão discursiva. Os trabalhos de número 20, 23 e 25
(WARDE, 2014; SILVA, 2015; GOMES, 2016) são uma exceção porque realizam um estudo
biográfico, analisando a trajetória e o papel de determinados autores como Friedrich Bieri,
Martha Dantas e Sarah Louise Arnold, na produção de suas obras. Nestes casos, o sujeito era
um indivíduo específico, diferente do viés abordado nesta tese.
No campo da produção de livros didáticos, autor e obra também são analisados em algumas
pesquisas de forma conjunta, considerando que foi preciso compreender o lugar da autoria
para que se possa compreender a obra. É o caso dos trabalhos de número 6, 7 e 18
(OLIVEIRA, 2007; SOARES, 2007; FRADE, 2014) que apresentam como semelhança a
preocupação sobre a interferência do autor na produção numa perspectiva de construção
mútua: autor e obra são reflexos de uma ordem social.
Outra perspectiva de análise que tem crescido na abordagem do tema de autoria de livros
didáticos desde a década de 1990 é a interferência das editoras no processo produtivo. Neste
levantamento, encontramos trabalhos que analisam essa relação entre autores e editores de
forma articulada: não existe produção de livros sem a relação entre autor e editor. Este é o
caso dos trabalhos de número 2 e 4 (MUNAKATA, 1997; BITTENCOURT, 2004) que vêm
alertando sobre o papel das editoras na produção de livros didáticos. Há de se ressaltar
também o trabalho de Chartier (2014) – nº 16 – que, apesar de não abordar o campo
educacional propriamente dito, tem sido de grande contribuição, inclusive para os dois outros
autores anteriormente citados, na abordagem sobre a produção da escrita e a interferência das
editoras.
Quanto às outras pesquisas em que o autor não aparece como objeto investigado, o papel
desse sujeito emerge numa relação com o objeto. A constituição dos autores como sujeitos no
processo de produção de livros didáticos também é uma abordagem presente nesta pesquisa,
resultado do referencial teórico foucaultiano, já que o consideramos não somente como um
objeto que sofre interferências de poderes anteriores à ele, mas também como um sujeito que
age, mobiliza e ressignifica sentidos, interferindo na constituição de políticas curriculares.
Esta pesquisa se trata não somente de abordar o autor como um ser assujeitado, mas
principalmente de buscar compreendê-lo como um agente de um processo educacional. Por
isso é importante investigar como o sujeito como autor se constitui.
Assim, foi realizado também um levantamento a partir dessas pesquisas a fim de identificar os
sujeitos destacados como parte do processo da produção livresca. A tabela abaixo mostra
todos os sujeitos destacados pelos trabalhos e em quais trabalhos eles aparecem:
QUADRO 6: Sujeitos presentes no processo de produção de livros didáticos em trabalhos que
abordam a autoria
SUJEITO TRABALHOS
Autor 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8, 9, 10, 11, 12, 13, 14, 15, 16, 17, 18, 19, 20, 22,
23, 24, 25, 26, 27, 28, 29, 30, (total: 29)
Aluno/leitor 2, 3, 5, 6, 7, 9, 13,21, 22, 24, 29 (total: 11)
Editora 1, 2, 3, 4, 7, 8, 9, 12, 13, 14, 15, 16, 18, 26, 28 (total: 15)
Equipe editorial (copidesque, ilustrador,
redator)
2, 8, 22 (total: 3)
Instituições de politicas públicas 9, 12, 13, 14, 15, 19, 20, 21, 28, (total: 9)
Críticos e mídia 2 (total: 1)
Professor 2, 9, 13, 21 (total: 4)
Mulheres 20 (total: 1)
Todo aquele que produz um significado 3, 7, 24, 30 (total: 4)
Outros textos/vozes 6, 9, 23, 27(total: 4)
Diversos 4 (total: 1)
Como pode ser observado, em quase todos os trabalhos o autor é interpretado como sujeito
presente na produção de livros didáticos22, atribuindo-lhe um determinado poder sobre esse
processo, mesmo que de forma parcial. Isso quer dizer, de acordo com meu olhar, que há um
reconhecimento da existência desse sujeito na produção escrita. O que diferencia essas
pesquisas é a forma de como o seu papel é abordado, de forma individual ou em uma relação
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