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PUBLICAÇÃO QUEM PUBLICA/ ANO PARTICULARIDADES Memórias de um imigrante italiano Julio Lorenzoni (1925) Elaboração/concretização da “Estante do Centenário da Imigração Italiana”, dirigida por Itálico Marcon e Antônio Mottin (Ir.

Elvo Clemente), em colaboração com a PUC-RS

PUCRS Sulina

1975

Alguns excertos foram encontrados (pelos

organizadores da publicação) nos anos 1925 e 1928 em álbuns sobre a imigração, em Bento Gonçalves (Conforme prefácio de Itálico Marcon) Obra traduzida Uma Odisséia na América Memórias de Andrea Pozzobon - Zola Pozzobon123 (até 1911)

Sob o título de “Homenagem”, Zola Pozzobon (quem assina a publicação) refere que o faz a “todos que se relacionam com o sobrenome Pozzobon, para que se

mantenham acesa a chama da coragem e da sabedoria que André

consigo trouxe da Itália”.

EDUCS 1997 Junto às memórias, há inserções do autor Obra traduzida 123

POZZOBON, Zolá Franco. Uma odisseia na América. Caxias do Sul: EDUCS, 1997. Essa é a referência, em função da organização, mas as memórias são de Andrea Pozzobon.

As Memórias de um Imigrante Italiano - 1913 à 1995 e Heróis de Val de Buia Severino Bellinaso (2000)

Na apresentação feita pelo autor, este explicita que tomou a decisão de escrever suas memórias no dia

que completava 80 anos. (Ou seja, retoma o tempo da

imigração, mas de um outro momento de sua vida.)

Não há indicação de editora Obra patrocinada pelo autor [1995] Redigidas em português, mas revistas História do São João do Polêsine Antônio Ceretta (até 1936)

Em comemoração aos 60 anos da Festa Regional do Arroz, com

vistas a “proporcionar a socialização, a compreensão e a

valorização dos saberes da comunidade [...]”. Prefeitura Municipal de São João do Polêsine/ UFSM-CTISM (Pelo programa EDUQCII) 2015 A partir de manuscritos. Redigida em português; mantida a escrita original

Fonte: Autora.

Podemos afirmar, portanto, que essas primeiras obras selecionadas trazem como autores imigrantes italianos na Quarta Colônia. São autores e são, entendemos, testemunhas de um real da história, e, por esse lugar, sem nos ocuparmos da opacidade a que os discursos estão submetidos, pensamo-los, dentro de cotidianas práticas sociais, como autoridades inequívocas de um dizer; aliás, colocam-se como donos desse dizer; no entanto, que lugar de linguagem toma esse sujeito que assim se coloca?

está impregnada por uma impossibilidade do tudo dizer. O tempo presente da narrativa sobre o passado faz o sujeito defrontar-se com uma impotência das palavras para significar [...] o sujeito não tem como falar de tudo, não há palavras para esse desamparo (MARIANI, 2017, no prelo).

Para a autora, ainda,

o valor do testemunho para aquele que se dispõe a testemunhar não está nem do lado do narrar o que aconteceu, nem atrelado à impotência das palavras. É justamente no fracasso de um suposto voluntarismo consciente de querer dizer, ou do querer fazer algo, que se forja o bem dizer do testemunho, manifestação do sujeito do inconsciente, não de uma vontade, mas sim de uma verdade outra (MARIANI, 2017, no prelo).

Nesse confronto entre o real, o simbólico e o imaginário, o sujeito “se escapa”, mas não se furta a deixar em suspenso que o próprio ato de escrever-dizer atrela-o a uma necessidade de pertença. Talha-o o ser italiano e o não estar mais na Itália; o falar italiano e a injunção de entender e falar o português; o estar no Brasil, mas a reverência a heróis do velho mundo; a busca das Américas na fuga de antigos Haitis; o desconcerto da expropriação e a alegoria de um lugar. Entre tantos outros bens simbólicos que lhe constituem, dizer-se – por escrito – é um ato de inscrição (na história) e de permanência (na memória).

A quinta obra a que nos referimos trata-se de “História de nossa gente” de Pio José Busanello, um padre. Embora cada obra tenha sua singularidade, esta surge como que isolada no seu tempo, 1951, tem como autoria alguém a quem são dadas as letras (num tempo em que poucos estudam), em que, dentro de uma divisão social do trabalho de leitura e dentro de uma divisão social do trabalho de escritura (conforme nos referimos em 1.2.1), reteria autoridade de dizer, dizer esse que circula – o que também significa, pois está a gerir um “legado para o futuro”, dando-se a escolhas, a recortes, a silenciamentos, a ressignificações, dentro daquilo que não só pode, mas que, por seu lugar social, sua FD, dever ser dito.

Quadro 7 – Lista de obras consultadas e informações II (continuação) OBRA/AUTOR JUSTIFICATIVA DA PUBLICAÇÃO QUEM PUBLICA/ ANO PARTICULARIDADES A história de nossa gente

Pe. Pio José Busanello

(1951)

Entregar um trabalho aos irmãos, tios, sobrinhos e primos para ajudar a

dar uma ideia “exata da força de vontade e da bravura de nossos avós”, com histórias de família e

árvores genealógicas. 1951: edição mimeo, autorizada pelo Mons Frederico Didonet, Censor Diocesano; 1999: uma reedição, pela Associação Cultural Italiana do RGS – ACIRS, pela Editora Palotti. À edição da ACIRS, acrescentou-se uma apresentação do autor pelo

Pe. Luiz Sponchiado (reponsável pelo Centro de

Pesquisas Genealógicas- Nova Palma, RS)

Traz como subtítulo: “A primeira história escrita de

famílias de imigrantes italianos da Quarta Colônia

Imperial – RS”

Fonte: Autora.

As obras restantes de que trataremos, passam a ser colocadas na sequência, caracterizando um terceiro grupo. Embora a obra anteriormente referida também traga a questão de ser escrita por alguém que nasceu e saiu da Quarta Colônia, passando a residir em outra, as que serão apresentadas têm como autores sujeitos que foram exercer suas atividades profissionais em outros locais, mas mantêm ligações de ordem afetiva com a colônia em que nasceram, a ela retornando frequentemente ou tendo a ela retornado.

Quadro 8 – Lista de obras consultadas e informações II (continuação) OBRA/AUTOR JUSTIFICATIVA DA PUBLICAÇÃO QUEM PUBLICA/ ANO PARTICULARIDADES

Ivorá: meu torrão

Humberto Didonet (não há) Obra patrocinada pelo autor (1994)

Edição patrocinada pelo autor; 45% da edição foi doada à Obra das Vocações

e 45% ao Hospital de Ivorá

Na terra dos sonhos

Cirilo Costa Beber

“senti a necessidade de satisfazer a curiosidade [antepassados pouco souberam responder] pesquisando tudo o que fosse possível a respeito

de meus antepassados daqui e da Itália, para, posteriormente, se possível, escrever algo sobre as

informações colhidas” (p. 11) O próprio autor 1996 (não há) Ribeirão: sua fundação, sua história, seu povo, sua memória Granadilia Foletto

“Toda pessoa tem sua história e sua memória, caso contrário, é uma

pessoa perdida no tempo e no espaço. Parece que assim está destinado a Ribeirão! Precisamos

fazer algo! Tomei a iniciativa [registrar histórias] com a esperança

que outros Ribeiroenses me sigam” (s.p.)

Não há informações

1996

A maneira como a autora se apresenta: “Não sou escritora

nem poetisa. Não tenho a pretensão de o ser. Sou uma

simples professora aposentada, tentando resgatar a história e a memória de um povo, que esteve no topo da glória e com o passar dos anos foi

definhando está praticamente, esquecido” [sic]

Addio Celeste, Addio trentino

Escrever sobre minhas raízes, é um sonho acalentado e, me acompanha de longa data. O amor que tenho por meus ancestrais, me levou a escrever esta obra e, acima de tudo, persiste o meu objetivo, de resgatar a odisseia

A própria

Terezinha Tessele Fenkler

de nossa gênese Tessele (Tezzele), garantindo dessa forma, o conhecimento às gerações futuras”

(p. 16)

2009

Recanto do Vale

Jovita Brugnara

“Devemos prestigiar a honradez e o trabalho desses valentes pioneiros italianos, que trouxeram a cultura e a força de seus braços. Seus costumes e tradições, identificados pelos seus

valores humanos, marcados profundamente pela fé cristã, inspiraram e impulsionaram o progresso da região” (p. 11) A própria autora 2010 (não há) Das brumas do vêneto aos sertões da QC Luiz A. L. Baggiotto

“Nosso objetivo é fornecer subsídios sobre a imigração italiana em solo

rio-grandense e, complementarmente, sobre a genealogia de nossa família e a imigração em nível de Brasil” (p. 7)

O próprio autor 2011 (não há) Um lugar no coração Rosita Coradini

“São retalhos de memória, sem objetivo nem pretensão de valor

documental” A própria autora 2015 (não há) Ivorá: sangue italiano na Quarta Colônia Sérgio Venturini

“Oxalá os leitores encontrem, ao longo destas páginas, motivos para

recordar, analisar, refletir, surpreender-se, trocar ideias ou, quem sabe, inspirar-se para também escrever, pois... [...]”, por outro autor.

O próprio autor

2015

Embora não nos deteremos nas capas, ela também significa: em primeiro plano, há a fotografia de uma família

tradicional numerosa; em figura de tamanho maior, num

segundo plano, um bispo e, no terceiro, a torre de uma

Sítio dos Mellos: 70 anos de

história

Vários autores

“Através destes escritos, o leitor poderá avaliar e fazer uma ideia do espírito de religiosidade, heroísmo e

sacrifício de nossos antepassados. Aqui o leitor pode, também, entrar em

contato com os costumes de nossos ancestrais, o seu modo de vida, a religiosidade e a sua cultura,” (p. 7)

Escrito por vários colaboradores; publicação patrocinada. 1995

Como se refere a uma comunidade, antes dos textos, há a reprodução da imagem do santo padroeiro

da capela: santo Isidoro, camponês.

Fonte: Autora.

Essas, portanto, são as obras que constituem parte de nosso arquivo, das quais advêm os recortes discursivos que tratam do imaginário do sujeito ítalo- brasileiro em relação à América, em relação a ele mesmo, em relação à língua. A forma como organizamos é de acordo com as temáticas, sendo pautadas pelas questões que nos colocamos inicialmente. Assim, para melhor sistematizarmos este estudo, colocaremos tais recortes em sequência, passando a denominá-los de recortes discursivos, de modo que visualizemos a relação de paráfrase que vai se estabelecendo entre os dizeres. Apresentaremos todos os recortes de palavra escrita antes de seguirmos por outras materialidades.

Necessário se faz dizer de nossa dificuldade em estabelecer um/o ponto de partida, seja pela quantidade de material encontrado, seja pelos distintos recursos

discursivos apresentados; bem diz Rosa (1984, p. 144): “esta vida está cheia de ocultos caminhos. Se o senhor souber, sabe; não sabendo,

não me entenderá”. Conforme fomos fazendo escolhas, entendíamos/entendemos que deixamos no vácuo do ler, do ver e do ouvir – já que tratamos de memória – muitas relíquias, preciosidades do tempo e dos espaços. Apesar disso, confortam- nos os dizeres sobre incompletude, sobretudo pela sua constitutividade, a qual intervém nos sujeitos e nos sentidos.

Para considerarmos o discurso do sujeito ítalo-brasileiro, seguimos os seguintes critérios linguístico-discursivos:

1 para o tema território, a demarcação se deu a partir da observação de que a palavra “fartura” se repetia constantemente, sendo que rastreamos as incidências e daí foram feitos os recortes; mas não nos detivemos apenas

nessa ocorrência, pois, para filtrarmos um pouco mais (eram exaustivas as ocorrências), recortamos enunciados com orações coordenadas adversativas – ou outras expressões de contrariedade, oposição, tolerância, inclusão, concessão -, assim como enunciados que continham negativas, pois eram construções recorrentes, o que consideramos pertinente em função de imaginários de utopia e de sua ruptura;

2 para o tema sujeito, a delimitação se construiu a partir da marca primeira da subjetividade, o uso da primeira pessoa do singular, forma como o sujeito entra no discurso como sujeito enunciador, deixando, assim, assinalada a sua intersubjetividade, ou atestando a sua ausência; depois, em função dos sentidos que vão se desencadeando, observamos também a presença da terceira pessoa, e, em decorrência disso, o uso de distintas designações (colono, imigrante etc.) ou a ausência de, apenas marcas de terceira pessoa (como forma de indeterminação?);

3 para o tema língua, a demarcação se efetivou na própria incidência da palavra língua e de outras que dão conta de referi-la, como idioma, dialeto entre outras, além de organizar os recortes em função de questões sócio- históricas; nesse tema, não nos detivemos, na sequência de como proceder em relação aos recortes, em construções sintáticas marcadas de uma maneira ou de outra, senão nas imagens (metáforas) construídas sobre ela, a língua, em função do que nos ofereceram os discursos.

Junto a isso, consideramos distintas condições de produção – desde recortes escritos por quem se designava de imigrante, quanto por aqueles que se dizem descendentes, entre outros. Justificamos que, por meio desse movimento, também se constroem os sentidos, e é possível ver como se mobilizam as posições-sujeito e o funcionamento da ideologia.

Ainda dentro dos procedimentos a que nos lançamos, cumpre destacar que: - trataremos dos recortes discursivos dentro de cada uma das temáticas: “Recorte discursivos sobre o tema “território”, por exemplo;

- como trabalharemos dentro dos temas, os recortes sempre iniciarão com a referência de RD1;

- depois de apresentado um quadro com todos os recortes discursivos (dentro de cada tema, separadamente), reagruparemos os recortes em outros quadros, em função de análises, sempre referidos como “recortes discursivos e movimentos de sentido”, constituindo-se, então, retomadas de alguns recortes já apresentados no quadro inicial. A esses quadros, seguem-se análises parciais;

- nossos recortes têm como arquivo os livros anteriormente relacionados e estudados; no entanto, isso não significa que tenhamos contemplado, com a seleção dos recortes, todos os livros estudados. Além disso, nem todos os recortes que selecionamos, ao procedermos as análises, serão referidos. Justificamos: seguiremos alguns traçados, alguns fios aos quais de um recorte poderemos ir, em função de associações que poderão ser feitas, a outro. Tal procedimento, muitas vezes, se furtará a eleger algum, deixando-o, pois, em suspenso. Isso, entendemos, poderia sair... mas a margem, aquilo que também não participa em algum momento, pode estar/ficar aí, dando vistas a outros possíveis trajetos.

Cumpre referir, também, que nossos recortes são muitos. Mas isso tem a ver com essa memória que se repete, que satura. Trazer isso, dessa forma, ajuda a compor o que consideramos como um efeito ideológico, o qual “não se relaciona à falta, mas ao excesso: é o preenchimento, a saturação, a completude que produz o efeito de evidência, que se assenta no mesmo, o já-lá” (ORLANDI, 2016, p. 14), o que, ainda, conforme a autora, estanca o movimento, direcionando o que se configuraria como uma interpretação como sendo a possibilidade única de interpretação. Nosso movimento de análise visa a pensar esse recobrimento, objetiva a tirar do dito, do como foi/é dito, coisas a interpretar.

4.2.1.1 Sobre território

Questão 1: Que imaginários o sujeito ítalo-brasileiro tem em relação ao território que