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3 SEGURANÇA PÚBLICA, REFORMA POLICIAL E POLÍCIA COMUNITÁRIA

4.5 Técnicas de coleta de dados

4.5.4 Observação participante e grupos virtuais da rede social WhatsApp

A observação participante é uma técnica para coleta de dados em que “os observadores participantes se inserem na situação de pesquisa e na vida das pessoas que estudam [...] para estudar fenômenos que ocorrem naturalmente” (SELLTIZ; WRIGHTSMAN; COOK, 1987, p. 79-80). Dessa forma, essa técnica será aplicada para analisar o trabalho cotidiano dos policiais militares do 17° BPM. O pesquisador estará presente no local onde ocorrem os fenômenos pesquisados para obter informações sobre a realidade da operacionalização das práticas estratégicas de segurança pública que envolva a inclusão da sociedade civil, sob a égide da Polícia Comunitária. Nesta pesquisa, a observação foi realizada com os policiais operacionais que compõem as equipes/programas apresentados no Quadro 5 e no Quadro 9, durante suas atividades operacionais cotidianas, sendo possível confirmar ou refutar os achados nas outras técnicas de coleta de dados.

Essa técnica é representativa dos estudos qualitativos, sobretudo numa abordagem etnometodológica, pois valoriza o contato direto e real do pesquisador com o que está acontecendo próximo dele. Richardson (2012) afirma que, com a aplicação dessa técnica, 24

24 O Funcionário Civil, apesar de não ser policial militar e possuir apenas um ano e quatro meses de carreira, foi contratado pela PMMG mediante concurso público regulamentar e trabalha da P5, ao lado de outros policiais da seção que exercem a mesma função, por isso foi entrevistado normalmente como se policial fosse.

realiza-se uma coleta de dados no momento em que os fenômenos analisados ocorrem, sendo possível capturar os detalhes importantes do fato observado.

Se as práticas estratégicas são moldadas pela natureza inconsciente que os atores se baseiam durante a suas ações, não se pode realisticamente esperar para descobrir estas práticas somente através de entrevistas. Não é possível descobrir as práticas sociais somente na consciência explícita de seus participantes, mas também, e principalmente, no cotidiano e em suas ações e interpretações inconscientes (RASCHE; CHIA, 2009). A pesquisa em SAP é sobre as ações estratégicas cotidianas e contextualizadas, portanto, a observação participante permite experimentar as realizações dessas práticas estratégicas diárias dentro de uma organização, e não apenas o falar sobre tais práticas. Assim é possível se aproximar dos aspectos não formalizados do fazer estratégia. Segundo Rasche e Chia (2009), ao estudar práticas estratégicas, deve-se dar uma maior ênfase nas abordagens etnográficas, com o objetivo de detectar o contextual e as características ocultas.

A observação foi considerada como participante porque o pesquisador, sendo policial militar, pode acompanhar as equipes policiais na condição de integrante delas, desde que estivesse com sua vestimenta e equipamentos de trabalho. Devido às características do serviço policial, e para cooperar com a segurança pessoal dos envolvidos, é conveniente que o pesquisador esteja imerso no campo equipado adequadamente para o serviço policial militar, participando ativamente de eventuais ocorrências policiais que porventura exijam essa maior participação. Por esse motivo, as notas do diário de campo serão tomadas por meio de um gravador de voz, sendo posteriormente transcritos e analisados.

Desse modo, reconhece-se que a imersão no campo se torna mais fácil pelo fato do pesquisador já ser um policial militar, porém esse fato se apresenta também como uma desvantagem. Apesar de não trabalhar em equipes dessa natureza, nem conhecer pessoalmente quem as compõem, há sempre o risco do envolvimento pessoal no campo, o qual foi constantemente evitado. Outra desvantagem dessa técnica, identificada por Richardson (2012), refere-se ao risco de supervalorizar o que é diferente ou singular, prejudicando os aspectos relevantes à pesquisa. Embora esse risco seja amenizado pelo fato do pesquisador já ter conhecimento prévio do campo, é importante que os fatos observados e as reflexões realizadas sejam registrados no momento em que acontecem.

Todas as equipes que atuam no programa Rede de Vizinhos Protegidos (RVP) no 17° BPM foram acompanhadas por meio da técnica de observação participante. Conforme se

observa no Quadro 9, na observação participante, realizada de setembro a dezembro de 2016, totalizou-se 106 horas da seguinte forma: 5 horas com o chefe da AGR (17° BPM) na Seção de Planejamentos e Operações (P3); 1 hora com um comandante de companhia; 2 horas com o Proerd; e, 98 horas de observação participante com as equipes policiais empregadas na RVP, dentre as quais 29 horas foram destinadas às reuniões comunitárias. A observação resultou em um diário de campo, cujos registros foram posteriormente analisados, em conformidade com o que se apresenta na próxima seção.

Na AGR (17° BPM), seção que realiza a assessoria do comandante da Unidade em assuntos estratégicos, responsável também por traduzir as metas do governo estadual, do comando da PMMG e/ou do comando do 17° BPM aos policiais militares operacionais, além de acompanhar o trabalho realizado pelos profissionais numa observação participante, objetivou-se, secundariamente, capturar os seguintes dados em quatro visitas: (a) na primeira visita, durante o contato inicial, para apresentar o pesquisador e os objetivos da pesquisa, foi possível ter um contato amplo com o trabalho que realizam e os documentos que normatizam seu funcionamento; (b) na segunda visita, foi possível conhecer os documentos produzidos pelo batalhão e que são arquivados e/ou encaminhados, mapeando suas origens e seus objetivos; (c) coleta dos dados, documentos e relatórios de interesse da pesquisa; (d) entrevista com o policial, na AGR.

Na realização da observação participante, utilizou-se o roteiro descrito no Apêndice E. Durante o acompanhamento do trabalho policial, verificou-se que os policiais utilizavam o celular para se relacionarem com outros policiais e com a própria sociedade civil, inclusive no horário de folga, devido às características inerentes ao programa Rede de Vizinhos Protegidos (RVP), já apresentado no Quadro 5. Por esse motivo, as mensagens trocadas no aplicativo de mensagens instantâneas denominado WhatsApp também compuseram o corpus de pesquisa, sendo também analisadas em conjunto com os outros dados da pesquisa.

À medida que o pesquisador se relacionava com os administradores dos grupos virtuais criados pelo aplicativo de celular, onde também acontecia interação entre policiais e a comunidade civil, pedia-se para que fosse adicionado o número do telefone do pesquisador, sendo possível, assim, observar as interações que aconteciam virtualmente. Totalizou-se 32 grupos de WhatsApp, todos direcionados à Rede de Vizinhos Protegidos e todos ativos, com mensagens sendo enviadas praticamente todos os dias. As mensagens trocadas pelo celular foram observadas, participaram da construção do caderno de campo, que foi posteriormente

incluído no corpus da pesquisa, sendo enfim analisado conforme se discorre na próxima seção.