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2.4 Interacção da PDV com o Espaço Público

2.4.7 Obstáculos para a Mobilidade

Seria de prever que desde que todas as condições descritas anteriormente estivessem reunidas, a deslocação podia ser realizada sem problemas, mas infelizmente, as PDV enfrentam ainda um outro entrave para se movimentarem nos espaços, são eles os obstáculos urbanísticos.

Os obstáculos são por definição aquilo que impede o caminho ou a passagem (Falorca et al, 2008), mais vulgarmente chamados de barreiras.

Estes são característicos por complicarem, limitarem ou até mesmo impedirem a autonomia de movimentos, a livre circulação quer em espaços públicos quer em privados, interiores ou exteriores.

Dentro da tipologia dos obstáculos podem diferenciar-se em dois tipos, os obstáculos físicos e os psicológicos.

Os obstáculos físicos são aqueles que limitam ou restringem a passagem, como os passeios estreitos. Estes são originados maioritariamente pela falta do cumprimento das leis em vigor, e pela falta de civismo, subdividindo-se em duas categorias, os obstáculos fixos, ou seja não mudam a sua localização no tempo, como os bancos de jardim, ou os dinâmicos ou móveis, como as vendas e propagandas de lojas.

Os obstáculos psicológicos são aqueles que normalmente não são originados por objectos, como o tipo de pessoas frequentadoras de um determinado local, o ruído causado pelo tráfego automóvel.

Deste modo, um factor preponderante na deslocação é a obtenção de espaços acessíveis. Para tal, foram instituídas leis que definem as normas de criação e manutenção desses mesmos espaços. Este estudo baseia-se na verificação das acessibilidades dos espaços segundo as imposições dessas mesmas leis.

2.5 Avaliação das Condições de Acessibilidade para PDV

2.5.1 Enquadramento Legal

A promoção e garantia da plena acessibilidade é um aspecto essencial à qualidade de vida dos cidadãos e ao exercício dos seus direitos, como membros participantes de uma comunidade regida pelos princípios de uma sociedade democrática no sentido de garantir a sua real integração e participação cívica. (Monteiro, 2009)

Para que haja igualdade de participação numa sociedade activa é necessário existir uma condição imprescindível de eliminação do maior número possível de barreiras que por alguma razão limitam o acesso à sociedade.

Tendo isso como ponto fulcral, a legislação portuguesa tem vindo a desenvolver normas para combater a discriminação. Os primeiros passos dados nesse sentido, foram na década de oitenta, com a tentativa de alteração do Regulamento Geral da Edificações Urbanas, onde eram previstas alterações para se assegurarem condições mínimas de acessibilidade, mas este nunca chegou a ser aplicado. Após algumas aprovações e revogações surge em Maio de 1997 o Decreto-Lei 123/97 de 22 de Maio, onde era definido que as autarquias teriam 7 anos para a alteração dos espaços de modo a estes se tornarem acessíveis, porem também este nunca foi muito aceite, uma vez que não previa a aplicação de qualquer coima à falta do cumprimento do disposto.

Surge então, no decorrer do ano de 2006, o Decreto-Lei 163/2006 de 8 de Agosto que definia assim, o regime aplicado para a via pública, edifícios e estabelecimentos em geral, edifícios estabelecimento e instalações com usos específicos e por fim os percursos acessíveis. De salientar que este diploma passou a prever a aplicação de coimas para sanções pela não aplicação do legislado.

Para este estudo vão ser abordadas as temáticas referentes à via publica e os percursos acessíveis. Será feita a disposição das normas apresentadas no Decreto-Lei 163/2006 de 8 de Agosto, para que posteriormente seja verificado se se encontram em vigor no interior da cidade de Viana do Castelo.

Uma vez que a ACAPO, desempenha um papel preponderante na luta pela igualdade de direitos das PDV, vão também ser verificadas as recomendações, que esta fornece, relativamente ao pavimento táctil na via pública.

Deste modo, fazendo um breve resumo do que está disposto no Decreto-Lei 163/2006 de 8 de Agosto, fez-se uma separação tendo em conta os pontos importantes na deslocação,

como sendo os passeios, as escadarias, as rampas e por fim as passagens de peões, tanto de superfície como desniveladas. Assim sendo, dizemos que:

 Os passeios devem possuir o Percurso acessível

o Largura não inferior a 1,5m

o Elementos e textura de pavimento que forneçam indicações dos principais percursos de atravessamento

o Altura livre de obstáculos não inferior a 2m em local fechado ou de 2,4m em local aberto

 As escadas e rampas devem possuir:

o Patamar superior e inferior com faixa de aproximação com material de revestimento de textura e cor diferente e contrastante

o Corrimão

o Altura livre de obstáculos não inferior a 2m em local fechado ou de 2,4m em local aberto

 Passagens de peões de superfície devem possuir:

o Altura do lancil em toda a passagem não superior a 0,02m o Pavimento adjacente rampeado

o Zona de intersecção não inferior a 1,2m e inclinação não superior a 2% o Caso haja semáforos

 Accionamento manual a altura entre 0,8m e 1,2m

 Sinal verde tempo suficiente para permitir a travessia inteira ou até à zona de intersecção

 Vias com muito volume de trafego ou de intensidade de uso por PDV equipados com mecanismos com sinal sonoro

 Passagens de peões desniveladas devem possuir: o Corrimão

o Faixa de aproximação nos patamares superior e inferior com textura e cor diferente e contrastante

 Especificações gerais

o Objectos salientes entre os 0,7m e 2m de altura a menos de 00,1m da parede o Objectos salientes assentes em pilares ou colunas não devem projectar-se mais

o Pisos devem ser estáveis, duráveis, firmes e contínuos

o Revestimentos de pisos devem ter cores nem muito claras nem escuras e não serem polidos

o Tapetes, passadeiras ou alcatifas dever ser fixos

o Grelhas, buracos ou frestas existentes não podem ultrapassar os 0,02m de diâmetro

o Mudanças de nível abruptas devem ser evitadas, contudo caso existam devem ser combatidas com bordo baleado ou chanfrado ou por rampa

o Os corrimãos não devem possuir superfícies abrasivas, extremidades projectadas perigosas ou arestas vivas

o Os corrimãos não devem rodar, nem serem interrompidos, devendo permitir sempre o deslizamento da mão

o Caldeiras das árvores ao nível do piso devem ser revestidas por grelhas de protecção ou assinaladas com separador

o Os elementos vegetais pendentes e as suas protecções não devem interferir com os percursos

Da observação do referido Decreto-Lei, verificamos que poucos são os pontos em que a legislação tem especial atenção à PDV. Apercebendo-se dessa falha de atenção quanto às necessidades da PDV, a ACAPO criou assim recomendações para ajudar a quem deseja projectar as cidades de modo a que estas estejam prontas para receber este nosso público, aprofundando assim, as directrizes da legislação.

Tal como vimos anteriormente, o Decreto-Lei estudado prevê o uso de material de revestimento de textura e cor contrastante com o restante piso da via publica em três situações, escadas, rampas e passagens de peões de superfície. Apesar dessas especificações, a legislação não define os critérios desses revestimentos, surge então a recomendação da ACAPO (2011), que tem como objectivo harmonizar a colocação de piso em todo o país ou pelo menos em todo o município. As especificações são:

 Existência de três tipos de piso:

o Piso de alerta: piso pitonado com saliências redondas, figura 4

o Piso direccional: piso com barras achatadas longitudinais (no sentido da marcha), figura 5

Figura 4: Piso de alerta Figura 5: Piso direccional Figura 6: Piso cautelo Fonte: ACAPO, Recomendações Uso de Pavimento Táctil na Via Publica

 Cores e materiais contrastantes

 Sinalização de passagem de peões de superfície o Perfis a aplicar com

 Faixa de aproximação junto ao limite do passeio (piso de alerta) e faixa de presença mais estreita que atravessa o passeio (piso direccional) o Aplicação

 Largura, toda a largura da passagem de peões

 Com os sinais luminosos a faixa de aproximação e a faixa de presença forma a letra L

o Separadores centrais

 Piso de alerta em toda a zona do separador ou com duas tiras de alerta  Passagem de peões desfasados devem existir guardas metálicas que

sirvam como guia

 Linhas de orientação (apenas aplicados em locais amplos, sem linha natural de orientação)

o Linha de orientação central ligando duas passadeiras

 Zonas pedonais com piso direccional a 2m da linha dos edifícios

 Cruzamentos com piso direccional em ângulos rectos

 Escadas e rampas

o Piso de cautela no topo e no fundo em toda a largura da escada o Não utilização em patamares intermédios

 Sinalização de paragens de autocarros com tira que encaminha o peão ao local mais apropriado para esperar pelo transporte.

Tendo em atenção as linhas orientadoras verificadas até aqui, tanto fornecidas pelo Decreto-Lei 163/2006 de 8 de Agosto, como pelas recomendações dadas pela ACAPO, um aspecto fundamental para a melhoria da qualidade da deslocação da PDV é a aplicação de soluções uniformes e com rigor, transmitindo o sentimento de segurança para todos os cidadãos com DV.