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CAPÍTULO 2. A RELAÇÃO OCDE E BRASIL: IMPACTOS NAS POLÍTICAS EDUCACIONAIS

2.2 OCDE E BRASIL: A SUBALTERNIDADE CONSENTIDA

A partir da década de 1990, a OCDE começou um processo de abertura seletiva para países não membros, principalmente em virtude da derrocada dos Estados operários burocratizados (fim da Guerra Fria) e da eminente hegemonia do capital financeiro.

Esse processo correspondia ao diálogo com as economias emergentes, com grandes potenciais econômicos e com as economias mais fortes do Leste Europeu (Polônia, Hungria, República Tcheca, Eslováquia e, com menos atenção, a Rússia), que passava pelo período de transição, portanto, era necessário acelerá-la, para moldá-los ao novo modelo econômico.

Para além dos países do Leste Europeu, a OCDE abriu diálogo também com países da Ásia (Hong Kong, Coreia, Malásia, Cingapura, Taiwan, Tailândia) com

economias ditas dinâmicas, além de países da América Latina (México, Chile, Brasil e Argentina), que tinham um maior peso econômico e passaram por um processo virtuoso de contrarreformas através da estabilização, da liberalização e da reestruturação econômica, fruto do Consenso de Washington.

Essa abertura teve como finalidade compreender melhor as relações econômicas em sua área de influência e as economias emergentes e dinâmicas. Nesse aspecto, sinalizamos que a OCDE buscou ampliar sua área de influência, intervindo na formulação de políticas dos países participantes. Para isso, utilizou vários mecanismos, estabeleceu relação de cooperação técnica, seminários intergovernamentais, fóruns de economias emergentes, programas de trabalho bilaterais com os países. A aproximação com países não membros se efetivou, inicialmente, na condição de observadores junto aos comitês internos da Organização.

A primeira tentativa de aproximação da OCDE com o Brasil foi em 1978, em decorrência do papel estratégico que o Brasil cumpria no setor siderúrgico mundial. Quando da criação do Comitê do Aço da OCDE, a organização fez o convite ao Brasil, que o recusou de imediato, em virtude de o setor da siderurgia nacional ser exclusivamente estatal.

Em 1986, a OCDE, com o processo de abertura da Organização, e para conhecer melhor um dos futuros candidatos a membros, enviou uma “missão” técnica ao país. Mas a OCDE tinha um especial interesse no Brasil, pelo seu papel na economia mundial e pela liderança regional que o país exercia na América do Sul.

Assim, estabeleceu uma série de contatos com diversas instituições, como os Ministérios: o Ministério da Reforma do Estado (MRE), o Ministério de Minas e Energia (MME), o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), o Ministério da Fazenda (MF), o Banco Central do Brasil (Bacen) e a Secretaria de Estado e Planejamento (Seplan). E, também, as Universidades (Pontifícia Universidade Católica e Universidade Federal do Rio de Janeiro). Até então, a relação entre Brasil e OCDE era pouco expressiva, quando, em 1991, o Brasil enviou um grupo de trabalho cunhado de “missão brasileira à OCDE” (PINTO, 2000).

Essa expedição teve como objetivos, conforme Pinto (2000, p. 97) “levantar informações, avaliar as reais dimensões do processo de admissão de novos membros e examinar o funcionamento dos principais órgãos que compõem a OCDE”.

O período da expedição coincidiu, não por coincidência, com o processo de abertura política e econômica brasileira, iniciado com o Governo Fernando Collor, e

teve continuidade com o Governo Fernando Henrique Cardoso. Processo este de neoliberalização da economia brasileira. Então, nessa visita, o Brasil expôs suas intenções de estabelecer vínculos mais sólidos de colaboração com a OCDE, que denominamos relação de subalternidade consentida.

Pinto (2000, p. 98) destaca dois aspectos fundamentais para a aproximação bilateral entre Brasil e OCDE, por meio de um “‘processo complexo de aproximação, conhecimento mútuo e superação de resistências’ e ao apontar que as áreas escolhidas para participação ‘deveriam contar com pessoal na administração brasileira com capacidade de atuação na OCDE’”.

O Brasil enviou, em 1992, um documento expondo suas áreas de interesse (Departamento Econômico, Comitê de Revisão Econômica e de Desenvolvimento, Comitê de Administração Pública, Comitê de Indústria, Comitê do Aço e Comitê do Meio Ambiente). O governo brasileiro priorizou os Comitês que tinham como finalidade a troca de informações e conhecimento, sem quaisquer exigências de alterações na legislação local.

A OCDE sempre teve interesse na participação do Brasil no Comitê do Aço, que foi prontamente aceita, inclusive com a indicação de membro na condição plena, haja vista a importância e o papel que o Brasil tinha nesse setor. O conselho da OCDE também autorizou os comitês de Meio Ambiente, de Indústria e da Administração Pública. Pinto (2000) relata que a abertura da participação do Brasil em outros Comitês estava condicionada à aceitação de participar do Comitê do Aço, no qual ingressou em 1996.

Em 2007, ao final do primeiro governo Lula da Silva, o Brasil estabeleceu um novo acordo que objetivou aprofundar o relacionamento com esse aparelho de hegemonia. Naquela conjuntura, a Organização atribuía ao Brasil um papel de Parceiro- chave juntamente com outros países, como China, Índia, Indonésia e África do Sul. Ao longo desses últimos 20 anos, o Brasil tem avançado no processo de aproximação da OCDE, participando de diversos Comitês e de outros órgãos. Em maio de 2017, o Brasil solicitou a entrada formal na OCDE55.

55

Segundo publicado no site da Reuters Brasil, no dia 30 de maio de 2017, o Brasil apresentou solicitação formal para se juntar à Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). O pedido ocorre num momento em que o governo do presidente Michel Temer enfrenta grave crise política com denúncias de envolvimento direto em corrupção e obstrução da justiça. Temer espera que a adesão à OCDE ajude a atrair investimento estrangeiro ao país, que luta para sair da pior recessão da história, disseram duas fontes do governo (REUTERS, 2017). Curioso é que em plena semana do escândalo envolvendo o Presidente Michel e o dono da maior multinacional de frigorífico de carnes, o

O Brasil atua nos comitês da OCDE em duas condições: status de associado e

status de participante. Com o status de associado, atua como vice-presidente do

Conselho de Administração do Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (PISA); como vice-presidente do Comitê do Aço; do Grupo de Trabalho sobre Corrupção em Transações Comerciais Internacionais; do Conselho de Administração do Centro de Desenvolvimento; da Reunião do Comitê de Investimento em sessão alargada para o trabalho relacionado à Declaração sobre Investimento Internacional e Empresas Multinacionais e Instrumentos relacionados / participante apenas do Comitê de Investimentos; dos Organismos relacionados com a Reunião Conjunta do Comitê de Produtos Químicos e do Grupo de Trabalho sobre Produtos Químicos, Pesticidas e Biotecnologia; do Projeto sobre a Erosão da Base Tributária e Transferência de Lucros; do Projeto “Liberdade de Investimento” do Comitê de Investimentos; e do Fórum Global sobre Transparência e Troca de Informações para Fins Fiscais (OCDE, 2015b; OCDE 2015a).

Atua com o status de participante nos seguintes órgãos: Conselho de Administração do Centro de Pesquisa em Educação e Inovação (CERI); Comitê de Economia Digital; Comitê de Indústria, Inovação e Empreendedorismo; Comitê de Políticas Científicas e Tecnológicas; Comitê de Defesa da Concorrência; Comitê de Governança Pública; Comitê de Política Regulatória; Comitê de Comércio, exceto o Grupo de Trabalho sobre os Créditos à Exportação e Garantias de Crédito (convidado); Comitê de Agricultura e seus órgãos subsidiários, exceto o Grupo de Trabalho Conjunto de Agricultura e Meio Ambiente (convidado); Grupo de Trabalho sobre Segurança de Produtos para o Consumidor do Comitê de Políticas para o Consumidor; Comitê de Estatística; Comitê de Investimentos; e Grupo de Trabalho sobre Pensões Privadas (OCDE, 2015b).

Ferreira (2011) destaca que, com status de não membro, na condição de observador, o Brasil dispõe de poucos direitos. Isso interfere no papel decisório do país, que fica reduzido nas tomadas de decisões dentro do Organismo. É favorecido por ter acesso a informações e dados privilegiados dos comitês, no entanto, é obrigado a fornecer dados nacionais quando solicitado.

presidente envia o pedido de adesão formal à OCDE. No entanto, isso parece mais uma atitude desesperada para se salvar das graves denúncias que o atingem e conseguir apoio de uma fração da burguesia internacional.

Fátima Faro, especialista em comércio exterior, em entrevista concedida à repórter Mariana Branco da Empresa Brasileira de Comunicação (EBC), analisou a condição do Brasil enquanto observador na OCDE e afirmou:

[...] a OCDE trabalha muito com políticas públicas, tem bastante troca de experiências. Acredito que a intenção do Brasil é buscar nos países-membros informações que sejam úteis para seu desenvolvimento sustentável, fomentar a qualificação de mão de obra, o gasto público eficiente. (FARO apud BRANCO, 2015, não paginado)

Até então, o Brasil se sentia confortável com a troca de experiência e a pouca interferência na implementação das ações recomendadas pela OCDE, considerando pouco vantajosa a adesão formal à Organização. Conforme interpretação de Faro:

É uma questão muito política, o Brasil não vê muita vantagem. Para entrar nesse tipo de organismo, o Brasil teria que abrir algumas vantagens para os membros. Não é interessante. Permanecer como parceiro é mais vantajoso – você tem a cooperação sem o ônus. (FARO apud BRANCO, 2015, não paginado)

O Governo brasileiro não via vantagens interessantes. A vantagem identificada na relação atual com a OCDE era o acesso às informações e aos relatórios produzidos pela OCDE. É importante ressaltar que a OCDE tem interesse direto no Brasil, em virtude do acesso aos dados do Estado brasileiro e da economia, para que possa produzir seus relatórios com dados mais confiáveis para os países imperialistas, as empresas multinacionais e os investidores financeiros.

Tal interesse se justifica em virtude do papel de submetrópole que o Brasil desempenha na América Latina e, ao mesmo tempo, de semicolônia e subalternidade na divisão internacional do trabalho (nas riquezas naturais: meio ambiente, aço, agronegócio e petróleo) frente aos países imperialistas que hegemonizam a OCDE.

Essa dupla finalidade com relação ao Brasil fazia com que, em 2015, a adesão do país fosse uma das prioridades para a OCDE. Conforme explicitou Gurría no último acordo assinado entre a OCDE e o Brasil, em que destaca a importância do Brasil com relação às perspectivas da economia mundial:

Desde o ano 2000, a OCDE já fez estudos sobre educação, investimento, regulação, corrupção, agricultura e meio ambiente para o Brasil, entre outros temas. Muitos desses levantamentos foram realizados a pedido de integrantes do governo. O acordo que acabamos de assinar nos permitirá fazer pesquisas de forma mais estável e previsível. A relação do Brasil com a OCDE sempre foi caso a caso. Agora ela será mais planejada e constante. (OCDE, 2015b)

O Coordenador Geral da OCDE comemora o acordo firmado e a possibilidade de manter relações mais duradouras com o Brasil e afirma que, desde 2007, o Brasil foi convidado a ingressar como membro permanente da OCDE, e argumenta sobre os benefícios da sua entrada: “Fazer parte da OCDE mostra ao mercado que o país persegue as melhores práticas na administração pública” (OCDE, 2015b).

Essa relação demonstra a prioridade que a OCDE deu ao Brasil em relação aos demais países não membros. O Brasil entra numa fase de mais constância de cooperação técnica e aprofundamento de estudos desenvolvidos, impactando, sobretudo, as elaborações das políticas educacionais no país, como veremos no capítulo 3.

Na América do Sul, a OCDE já conta o Chile como membro permanente, no entanto, o que se percebe é o interesse da Organização em ampliar sua influência na América Latina a partir da entrada do Brasil, o que representaria uma maior subordinação da região aos países imperialistas com a adesão da economia mais pujante e dinâmica da região. Nesse sentido, Gurría afirma que “as portas da OCDE estão abertas ao Brasil” (OCDE, 2015b).

Gurría mantém um discurso afável sobre o Brasil e aparenta respeitar a “soberania” nacional da não entrada de imediato na Organização. E, assim, retoma o discurso sobre o papel da OCDE enquanto organização que preza pela boa governança e pela governança suave, quando reafirma seu modus operandi: “A OCDE não impõe condições. Não somos o Banco Mundial nem o Fundo Monetário Internacional, instituições que fazem exigências para conceder empréstimo. Nosso trabalho é discutir políticas públicas” (GURRÍA apud BARROS D., 2015, não paginado).

A discussão das políticas públicas, pela ótica da OCDE, representa o aperfeiçoamento do ambiente de investimentos, que significa apontar com segurança os melhores setores para os investimentos, visando melhorar o desempenho das corporações multinacionais na economia.

Portanto, a OCDE visa reduzir as incertezas regulatórias, aumentar a resiliência e equilibrar os riscos que deverão ser compartilhados entre o governo e o setor privado. Para o Brasil, essa discussão se traduz na eficiência dos gastos públicos e na melhor governança através do “crescimento sustentável, equilibrado e inclusivo” (OCDE, 2015b, p. 6), que reflete as políticas neoliberais de Terceira Via. Essas políticas combinam a ênfase nas contrarreformas fiscais com a eficiência das políticas focalizadas:

As políticas sociais deverão ser fortalecidas para o cumprimento da agenda social do governo, priorizando os programas sociais considerados mais eficientes e conducentes ao acúmulo de capital humano, ao mesmo tempo em que se mantém a disciplina fiscal e se consolida o apoio da sociedade às reformas [...] com uma maior focalização dos gastos em favor dos mais pobres. (OCDE, 2006a, p. 12)

O Ministro da Fazenda Joaquim Levy, no Governo Dilma Rousseff, defendeu a participação do Brasil na Organização. Conforme suas palavras:

A OCDE é um lugar onde as administrações públicas de diferentes países trocam experiências e informações. Isso também é algo que irá melhorar a qualidade do nosso setor público. Todo mundo quer ver mais eficiência no gasto público e melhor governança. Participar da OCDE também é uma maneira de fazer isso. (LEVY apud OCDE, 2015b, p. 7)

Nesse sentido, a participação do Brasil em inúmeros relatórios56 tem sido recorrente na OCDE, que desempenha uma centralidade na edificação de estruturas públicas “eficientes” e de “boa governança” nos países da América Latina. Esses relatórios têm por finalidade “facilitar o diálogo entre parlamentares sobre a aprovação e a implementação de reformas. Argentina, Brasil, Chile, Colômbia, Costa Rica, Equador e México têm participado de reuniões da Rede” (OCDE, 2015b, p. 47).

Esses relatórios comprovam como ocorre a submissão do governo brasileiro ao processo de subalternização consentida diante das recomendações de contrarreforma do Estado. Essa submissão tem graves implicações, principalmente no setor público. As recomendações exigem a conformação de um éthos competitivo, visando aprimorar a governança pública, tornando-a um apêndice da retórica da “eficiência” e do “gerencialismo”, próprios do setor privado.

Exigem, ainda, contrarreformas do Estado que visam à adaptação da sociedade a um consentimento particular de cultura e ideologia vinculada ao neoliberalismo de Terceira Via. A contrarreforma necessária ao Estado brasileiro, para a OCDE, tem por objetivos: ampliar a transparência e o controle social na prestação de serviços públicos; incorporar, nos processos de controle interno dos órgãos públicos, uma abordagem baseada no risco, promover elevados padrões de conduta para os agentes públicos federais (OCDE, 2011). O documento recomenda novas formas de controle e regulação

56 “O trabalho foi precedido de três avaliações realizadas no Brasil, quanto ao Orçamento Público (2003),

à Reforma Regulatória (2008) e à Gestão de Recursos Humanos no Governo (2010). Como participante ativo do Comitê de Governança Pública da OCDE (OECD Public Governance Committee), o Brasil desempenha um papel central na construção de estruturas públicas robustas de boa governança. Todos estes esforços contribuem para nossa meta comum de melhores políticas para melhores vidas” (OCDE, 2011, p. 4).

na gestão da aparelhagem estatal brasileira, a partir da preocupação da OCDE com a falta de confiança dos investidores no Brasil.

A partir desses relatórios, tornou-se evidente a preocupação da OCDE em minimizar os riscos dos investidores e estabelecer uma série de garantias que devem ser assumidas pelos países membros, como se a OCDE estabelecesse um “selo de bom devedor”.

É interessante destacar a subordinação do Brasil, mesmo não sendo um membro permanente, em viabilizar as reformas neoliberais e seguir religiosamente as recomendações da OCDE, principalmente as que impactam diretamente nas áreas sociais, sob o mote do “aperfeiçoamento de programas sociais e educacionais” (BRASIL, 2015a, não paginado).

A subalternidade do Brasil é elogiada pela OCDE, em virtude da ambiciosa agenda de reformas57 que o país implementa e da agilidade com que tais recomendações se transformam em prioridades políticas. Por exemplo, a celeridade das políticas de formação de professores implementadas a partir de 2007, fruto do relatório publicado em 2006 pela OCDE: Professores são importantes: atraindo, desenvolvendo e retendo

professores Eficazes. (OCDE, 2006b). Esse documento se tornou a diretriz para os

desdobramentos das políticas de Formação de Professores pelo governo brasileiro, conforme constatado em estudos recentes (SOUZA T., 2009; FERREIRA, 2011).

Nesse sentido, a OCDE exerce sua hegemonia através da política de emulação que, centralmente, visa subordinar os países subalternizados (semicolônias e/ou em crise), para imitar as ações tidas exitosas dos países imperialistas, nos diversos setores da administração pública e econômica, por exemplo, no âmbito das políticas educacionais, com a regulação da educação através do PISA (OCDE), que funciona como inputs ou engrenagens eficientes e eficazes na implementação das recomendações dos organismos internacionais, no sentido de imitar os sistemas de ensino exitosos (por exemplo, Finlândia e Xangai).

Freitas R. (2015) denomina emulação virtuosa o processo de imitar os sistemas de ensino que possuem os melhores resultados no PISA. Trata-se de um discurso sedutor do papel da educação na integração no Projeto de Desenvolvimento Econômico e Social com uma nova roupagem para a Teoria do Capital Humano, com base nos

57 O Brasil contribui fortemente para os bancos de dados estatísticos da OCDE e incentiva a ampla

disponibilidade das informações e bancos de dados da OCDE para servidores públicos, pesquisadores e estudantes, por meio de um acordo específico que dá acesso ao iLibrary da OCDE para 200 instituições brasileiras (OCDE, 2015a, p. 03).

conceitos de empregabilidade, empreendedorismo, empresa de si mesmo, gestor de si mesmo, sujeito neoliberal e pedagogia do “aprender a aprender”.

É nesse sentido que a Educação Básica recebe uma atenção especial dos organismos internacionais financiadores da educação. Na última década, a formação de professores da educação básica também recebeu essa atenção especial com certa “prioridade” no que se refere às políticas públicas no Brasil. Inúmeros são os documentos e as recomendações dos organismos internacionais tratando os professores como “protagonistas”.

Concluímos esta subseção, ressaltando que a relação entre o Brasil e a OCDE caracteriza-se pela inserção subalternizada do Brasil à racionalidade neoliberal. Portanto, essa subalternização não deve ser entendida como uma simples exigência externa ou uma mera subordinação passiva, mas como o consentimento das frações da burguesia nacional, “disfarçado por um discurso de aceitação geral de pensamento único” (MELO, 2003, p. 3).

Assim, corroboramos o pensamento de Fernandes (1981) em sua análise sobre o desenvolvimento capitalista no Brasil ao afirmar que existe uma padronização do desenvolvimento dependente em termos econômicos, políticos e culturais em relação ao imperialismo.

Essa dependência se manifesta com a integração do país à economia capitalista mundial e ao sistema internacional de estados que se pautou por relações heteronômicas estabelecidas entre o Brasil e os países capitalistas da OCDE, que reflete, nos dias atuais, as alianças entre frações burguesas locais dominantes e a classe hegemônica internacional.

Fontes (2010), em debate mais recente, reafirma o papel do país nessa relação: ele não é de simples subalternidade ao capital internacional, mas subordina-se de maneira orgânica, articulada, concertada, estabelecida entre os interesses internos e externos do capital-imperialismo.

Arcary (2016) corrobora esse entendimento de Fontes, em virtude da posição híbrida do Brasil nas relações capitalistas internacionais, tanto de subordinação aos países imperialistas quanto de semi-imperialista diante de outros países da América Latina, sendo conveniente seu status na preservação da governança do capitalismo em nível global.

Para a OCDE, é de suma importância contar com a subalternidade consentida do Brasil, seja como membro permanente, seja como parceiro-chave, em virtude da sua

localização na ordem econômica e na divisão internacional do trabalho, tanto em nível mundial quanto no âmbito da América Latina. Porém, a relação mais constante e profunda entre OCDE e Brasil tem se manifestado no campo da Educação.

2.3 OCDE E EDUCAÇÃO: O DESENVOLVIMENTO DA COOPERAÇÃO