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Ocorrência de Citostáticos no Ambiente Aquático

No documento Avaliação de risco ambiental de fármacos (páginas 53-57)

4.4 DESTINO DOS FÁRMACOS NO AMBIENTE

4.4.3 Ocorrência de Citostáticos no Ambiente Aquático

Os medicamentos antineoplásicos são utilizados no tratamento quimioterápico de pacientes oncológicos. A quimioterapia, juntamente com a cirurgia e a radioterapia,

configura-se como um dos três tratamentos estabelecidos para tratar o câncer (BRASIL, 2014b). A principal fonte de inserção dos antineoplásicos no esgoto ou no ambiente são as excretas (urina e fezes) de pacientes em tratamento. A utilização desses medicamentos tem crescido na medida em que aumentam os casos de câncer na sociedade, e seu uso ainda é predominantemente restrito aos serviços de saúde (KÜMMERER et al., 2016).

Quando comparados a outras classes de fármacos, como antiinflamatórios não esteroidais, antibióticos e reguladores lipídicos, esses fármacos são prescritos em doses menores e, muitas vezes, as concentrações no ambiente estão abaixo dos limites de detecção dos métodos analíticos (HEATH et al., 2016).

Diversos pesquisadores têm detectado a presença desses fármacos em efluentes hospitalares, águas residuárias, efluentes de ETE e águas superficiais. O primeiro relato, citando a ocorrência do metotrexato em águas superficiais data de 1985. Na década seguinte, pelo menos 10 artigos foram publicados em periódicos relevantes, e, a partir dos anos 2000, com o avanço das metodologias analíticas, a quantidade de publicações aumentou significativamente, como demonstrado no capítulo 3.

Os fármacos ciclofosfamida e ifosfamida, muito utilizados na quimioterapia do câncer, foram detectados em águas residuais tratadas e não tratadas em concentrações menores do que 0,3 ng.L-1 a 11 ng.L-1, correspondendo às concentrações previstas pelos de dados de consumo e taxas típicas de excreção renal (BUERGE et al., 2006).

Um estudo conduzido por Rowney et al. (2009) detectou a presença de antineoplásicos em águas potáveis, demonstrando que o aumento da incidência e a prevalência dos casos de câncer e do uso desses medicamentos, aliados à ineficácia dos atuais métodos utilizados de tratamento, fará com que sejam cada vez mais necessárias medidas mitigatórias desses impactos, ressaltando a importância da análise do impacto ambiental.

Um estudo realizado na China comprovou a ocorrência de metotrexato, azatioprina, ciclofosfamida e etoposídeo em efluentes hospitalares. Alguns desses fármacos, mesmo em concentrações da ordem de ng.L-1, podem ser persistentes e causar desequilíbrios ambientais no ambiente em que permanecem inseridos (YIN et al., 2010).

Uma análise de águas residuárias revelou a presença de ciclofosfamida e epirrubicina em efluentes hospitalares e urbanos na Espanha. De acordo com o Instituto Catalão de Oncologia, a ciclofosfamida e a epirrubicina estão entre os produtos farmacêuticos citostáticos mais utilizados. Esses fármacos foram detectados em concentrações variando de

5,73 a 24,8 μg.L-1

. O método utilizado permitiu identificar a ciclofosfamida e a epirrubicina nas águas residuárias afluentes da ETE, mas nenhum vestígio foi detectado nos efluentes (GÓMEZ-CANELA et al., 2012).

Amostras de efluente hospitalar, águas residuárias, efluentes de ETE’s e águas superficiais foram coletadas para investigar a presença do 5-fluoruracil (5FU), um dos citostáticos mais utilizados no tratamento do câncer em todo o mundo. O trabalho também foi o primeiro a estudar a transformação ambiental de 5-FU e seu pró-fármaco capecitabina. O 5- FU foi quantificado em quatro das doze amostras de águas residuárias oncológicas e ETE’s municipais em concentrações de 4,7 ng.L-1 para 92 ng.L-1 (KOSJEK et al., 2013).

A presença de 10 medicamentos oncológicos foi estudada nos efluentes da ETE até as águas superficiais em Girona, Espanha. Azatioprina, etoposido, docetaxel, paclitaxel, metotrexato, ciclofosfamida e tamoxifeno foram detectados no efluente hospitalar e no afluente urbano da planta de tratamento dos esgotos, embora a maioria deles tenha sido totalmente eliminada após a ETE. Apenas ciclofosfamida (nd-20 ngL-1) e o tamoxifeno (25 e 38 ngL-1) foram encontrados tanto no efluente da ETE quanto no rio receptor (FERRANDO- CLIMENT; RODRIGUEZ-MOZAZ; BARCELÓ, 2014).

A ocorrência de 13 citostáticos e 4 de seus metabolitos foi verificada em amostras de efluentes de ETE’s e de um grande hospital da Espanha. Os resultados mostraram a presença de metotrexate, ifosfamida, ciclofosfamida, irinotecano, doxorrubicina, capecitabina, tamoxifeno e metabólitos (endoxifeno, hidroxitoxifeno e hidroxipaclitaxel) em níveis variando de 2 ng.L-1 (para o metotrexato) a 180 ng.L-1 (para o tamoxifeno). Alguns desses fármacos foram removidos eficientemente após o tratamento de águas residuárias, (metotrexato, doxorrubicina e irinotecano), enquanto que outros compostos (tamoxifeno, ciclofosfamida e ifosfamida) permaneceram, em grande parte, inalterados (NEGREIRA; DE ALDA; BARCELÓ, 2014).

Outro estudo, realizado na Espanha, demonstrou a ocorrência de 14 drogas citostáticas em águas residuais afluentes e efluentes de quatro ETE localizadas em Sevilha durante um período de 1 ano. Cinco fármacos (citarabina, etopósido, gemcitabina, ifosfamida e metotrexato) foram detectados em águas residuárias afluentes em níveis de concentração até 464 ng.L-1 (citarabina). Seis deles (citarabina, doxorrubicina, gemcitabina, ifosfamida, paclitaxel e vinorelbina) foram detectados em águas residuárias efluentes a níveis de

concentração até 190 ng.L-1 (citarabina), demonstrando que não foram significativamente removidos durante o tratamento de águas residuárias (MARTÍN et al., 2014).

Em estudo realizado na Eslovênia, foram coletadas 18 amostras de águas residuárias de cinco hospitais. A ciclofosfamida foi detectada em 10 amostras e a ifosfamida em 3 amostras analisadas. A ciclofosfamida foi detectada em efluentes hospitalares (14-22 ng.L-1), nos afluentes (19-27 ng.L-1) e efluentes (17 ng.L-1) das ETE que tratam os despejos dos hospitais. A ifosfamida foi detectada (48-6800 ng.L-1) apenas nos efluentes hospitalares (ČESEN et al., 2015).

As concentrações ambientais previstas (PECs) de fármacos antineoplásicos foram calculadas de acordo com os dados de consumo de 2014 na Catalunha (Espanha). Os 19 fármacos com maiores concentrações previstas foram monitorados ao longo do rio Besòs. Um total de sete drogas foi detectado em níveis entre 0,5 e 656 ng.L-1. A PEC e as concentrações ambientais medidas (MECs) foram comparadas para validar as PECs, apresentando uma boa concordância entre as concentrações previstas e medidas, confirmando as estimativas da PEC. O ácido micofenólico, priorizado como o composto com a maior PEC, foi detectado nas concentrações mais altas (8,5–656 ng.L−1) (FRANQUET-GRIELL et al., 2017).

A presença de 31 produtos farmacêuticos, de nove classes terapêuticas, incluindo seis fármacos antineoplásicos, foi investigada nas águas e sedimentos de um rio urbano no Japão. Três antineoplásicos (bicalutamida, doxifluridina e tamoxifeno) foram detectados nos sedimentos do rio em concentrações máximas de 391, 392 e 250 ng.kg-1, respectivamente. Os coeficientes de sorção (logK d) para os sedimentos do rio foram determinados a partir das amostras de campo e num experimento em escala de laboratório obtendo-se resultados compatíveis (AZUMA et al., 2017).

Também no Japão, alguns fármacos antineoplásicos foram detectados em águas residuais e fluviais da bacia do rio Yodo, localizada no distrito de Kansai. A presença de bicalutamida foi identificada em concentrações consideravelmente altas (máximo de 254 ng.L-1 na corrente principal e 1032 ng.L-1 nos efluentes da estação de tratamento de esgoto. Os valores do coeficiente de sorção (log Kd) foram diferentes de acordo com o ponto de amostragem, e as ETE foram consideradas as principais fontes de emissão desses fármacos no rio (AZUMA, 2018).

Três compostos de platina (cisplatina, carboplatina e oxaliplatina) frequentemente utilizados na terapia antineoplásica foram detectados em amostras de afluentes e efluentes da ETE municipal, de estações de distribuição água potável e de poços de abastecimento de águas subterrâneas na província de Qom, na parte central do Irã. Foram verificadas concentrações de 0,52 µg.L-1 para cisplatina, 0,94 µg.L-1 para carboplatina e 0,27 µg.L-1 para oxaliplatina em amostras de afluentes da ETE. Nas amostras dos efluentes, as concentrações detectadas foram 0,24 µg.L-1 para cisplatina, 0,28 µg.L-1 para carboplatina e 0,11 µg.L-1 para oxaliplatina. Os resultados também indicaram que, em todas as amostras de água subterrânea, as concentrações desses fármacos foram inferiores aos limites de quantificação (LOQ). Nas amostras da estação de água potável, as concentrações verificadas estavam abaixo dos limites de detecção (LOD), concluindo-se que o sistema de tratamento por osmose reversa tem um efeito significativo na remoção dos compostos de platina na água destinada a consumo (GHAFURI et al., 2017).

No documento Avaliação de risco ambiental de fármacos (páginas 53-57)