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As atividades humanas pressionam o meio ambiente em todos os países, alterando os processos biológicos, físicos e químicos dos sistemas naturais e exigindo soluções que reduzam os efeitos da degradação ambiental. Entretanto, ao longo dos anos, o paradigma tradicional do desenvolvimento foi o crescimento econômico sem preocupação com os impactos ambientais (PRADHAN et al., 2017). A percepção da exaustão deste modelo de desenvolvimento econômico levou à necessidade de conciliação entre os sistemas de produção e a preservação ambiental. A alternativa ao modelo tradicional de progresso é o desenvolvimento sustentável que surgiu a partir da constatação de que os sistemas naturais do planeta são limitados para absorver os efeitos da produção e do consumo (TACHIZAWA; GARRETT, 2007).

Sua definição mais conhecida é o atendimento às necessidades do presente sem comprometer a possibilidade das futuras gerações atenderem às suas necessidades (LARA; OLIVEIRA, 2017). Entretanto essa definição tem sido criticada por sua visão antropocêntrica em que a preservação da natureza se justificaria para garantir o bem-estar das gerações presentes e futuras, não expressando uma preocupação com o ambiente (BREUER; JANETSCHEK; MALERBA, 2019). Uma das dimensões essenciais do ideal de desenvolvimento continua a ser o crescimento econômico. Como são pouquíssimos os países que poderiam optar por prosperidade sem crescimento, a maioria deles precisa crescer, e as economias emergentes devem enfrentar o desafio de melhorar seus modelos de crescimento (VEIGA, 2017).

De acordo com a agenda 2030 para o desenvolvimento sustentável da Organização das Nações Unidas (ONU), a humanidade encontra-se num momento de enormes desafios. Além das questões socioeconômicas, o esgotamento dos recursos naturais e os impactos negativos da degradação ambiental agravam a lista de desafios a serem enfrentados. Nesse contexto, os países membros reafirmaram os seus compromissos com um novo paradigma de desenvolvimento através dos objetivos do desenvolvimento sustentável (ONU, 2015).

Os objetivos incluem, por exemplo, a erradicação da pobreza, a segurança alimentar, o acesso à saúde, à água e ao saneamento, harmonizando o progresso econômico, social e tecnológico com a natureza e procurando reduzir a degradação ambiental (FUKUDA-PARR, 2016).

Embora o conceito de crescimento econômico esteja explícito no objetivo 8 deste compromisso, a maior ênfase dos ODS é voltada para o direito humano ao desenvolvimento, assegurando que as gerações futuras possam ter ainda mais direitos e oportunidades do que as atuais (VEIGA, 2017). O desenvolvimento sustentável, no contexto da Agenda 2030, compreende a conquista de patamares civilizatórios mais elevados nas perspectivas econômica, social e ambiental, destacando valores humanos como dignidade, equidade e coesão social, respeito à diversidade e sustentabilidade ambiental (RUEDIGER et al., 2018). Todavia a satisfação de necessidades básicas, como emprego, alimentação, saúde e habitação, entre outras, depende de atividades socioeconômicas que podem exercer ações antrópicas sobre o meio ambiente (MORI; YAMASHITA, 2015).

4.1.1. Os objetivos do desenvolvimento sustentável

Os ODS são representados por um grande número de metas e indicadores interligados que não são independentes uns dos outros, havendo sinergias e trade-offs entre as metas (MAINALI et al., 2018). Como todos os ODS estão intimamente relacionados, há sinergias quando as conquistas de um objetivo produzem externalidades positivas que contribuem para o progresso de outro. Entretanto, há situações em que um objetivo produz externalidades negativas que dificultam o alcance de outros objetivos (BREUER; JANETSCHEK; MALERBA, 2019).

O objetivo 1 visa erradicar a pobreza extrema, e o objetivo 8 busca promover o crescimento econômico inclusivo e sustentável. Entretanto, atividades como indústria, mineração, pecuária, comércio, transporte e serviços de saúde movimentam a economia, gerando emprego e renda. Por outro lado, aumentam a geração de resíduos, emissões de poluentes, desmatamento e escassez de água, que exercem pressão sobre os sistemas ambientais nas bacias hidrográficas (BIDONE; LACERDA, 2004).

A agroindústria e a mineração vêm ganhando espaço em relação à indústria de transformação na economia brasileira ao longo dos anos. Em geral, concentram-se em cidades do interior com populações pequenas que podem apresentar um melhor desempenho do PIB industrial. Entretanto geram pressões ambientais por serem atividades mais poluidoras e de uso intensivo dos recursos naturais (PORTO, 2017).

A indústria da cana-de-açúcar, por exemplo, tem um potencial poluidor devido aos resíduos gerados e utiliza grandes volumes de água. Além disso, utiliza grandes extensões de

terra. O Brasil é o segundo maior produtor mundial de etanol, mas a competição pela terra, necessária para produzir alimentos, pode ter um impacto social na segurança alimentar (EGENOLF; BRINGEZU, 2019).

O objetivo dois dispõe sobre o direito humano à alimentação, buscando acabar com a fome e promover uma agricultura sustentável. Essa atividade é essencial para a segurança alimentar e também contribui para geração de emprego e renda nas zonas rurais (RICHARDS et. al., 2015). Na região nordeste do Brasil, a agricultura é essencial para a redução da pobreza e um exemplo da sinergia entre o ODS 2 com os ODS 1 e 8 (PEDROSO, 2014).

Embora seja imprescindível para alcançar a segurança alimentar, essa atividade consome cerca de 70% da água disponível e, devido ao seu uso intensivo na irrigação, compromete as reservas de água (ASSOULINE et al., 2015). Além da água, a agricultura ainda utiliza de forma intensiva os defensivos e fertilizantes, pressionando os recursos hídricos em termos de qualidade e disponibilidade. Como não existem programas oficiais voltados para os contaminantes emergentes no país, muitos deles podem estar presentes nas águas de superfície (MONTAGNER et al., 2017). O país tem o maior potencial para atender à demanda mundial por alimentos, mas deve estimular a adoção de práticas agrícolas sustentáveis. (SACCARO JÚNIOR; VIEIRA FILHO, 2018).

O objetivo 3 aborda o acesso aos serviços de saúde e medicamentos, entretanto os resíduos de fármacos excretados pelos pacientes nos hospitais ou nos domicílios são inseridos no ambiente aquático (SILVA et al., 2018).Nessa perspectiva, o cumprimento dos ODS em relação à saúde, pressupõe avanços na dimensão social do desenvolvimento sustentável, porém, quanto maior for o acesso aos medicamentos e ao tratamento de diversas doenças pela população, maior será a inserção dos resíduos de fármacos no ambiente.

O crescimento demográfico e o atendimento das necessidades humanas geram uma maior demanda por água. Além disso, as mudanças climáticas e a poluição ambiental afetam sua disponibilidade. Esse cenário aumenta a importância do uso sustentável dos recursos hídricos (RATHNAYAKA et al., 2016). Devido aos múltiplos usos da água em todas as atividades humanas, todos os ODS têm alguma relação com este recurso e dentre as maiores preocupações ambientais globais, três tem relação direta com a disponibilidade dos recursos hídricos: o consumo de água doce, a poluição química e o desmatamento (VEIGA, 2017).

Nesse contexto, a Agenda 2030 incluiu um ODS relacionado especificamente aos recursos hídricos. O objetivo 6 pretende melhorar a qualidade da água, da gestão dos recursos

hídricos e do acesso ao saneamento através do fomento ao desenvolvimento de tecnologias de tratamento de efluentes e reuso da água e o fortalecimento da participação das comunidades na gestão dos recursos hídricos. Busca também reduzir os impactos negativos das atividades urbanas e dos produtos químicos que são prejudiciais para a saúde humana e para o ambiente através da sua utilização segura (ONU, 2015).

O saneamento é, portanto, uma dimensão particular do desenvolvimento em termos de seu impacto econômico e social. Além de indispensável para a saúde pública e para a preservação do meio ambiente, é um direito humano e, em função do volume de obras demandadas, pode criar múltiplas oportunidades de negócios e empregos constituindo um exemplo de sinergia entre vários ODS (ANDERSSON; DICKIN; ROSEMARIN, 2016).

Nas nações em desenvolvimento, a proporção da população urbana atendida por saneamento básico aumentou de 69 para 77% entre 1990 e 2015, enquanto nos países menos desenvolvidos, de 37 para 47% (SATTERTHWAITE, 2016). Entretanto, o desenvolvimento dos municípios e microrregiões brasileiras no âmbito da Agenda 2030 é certamente um dos grandes desafios a serem enfrentados nos próximos anos. O alcance das metas dos ODS adquire um nível maior de complexidade em função das diferenças entre os municípios e do desempenho entre indicadores econômicos, sociais e ambientais num mesmo município. Além disso, o atendimento às demandas da sociedade como o acesso à saúde e ao saneamento é heterogêneo entre os mais de 5.000 municípios.

Enquanto alguns exibem bons indicadores de atendimento à saúde e ao saneamento básico, em outros, há escassez de unidades de saúde, coleta e tratamento de esgoto. Os cem maiores municípios brasileiros tratam, em média, 54,33% do esgoto produzido. Apenas seis municípios tratam 100% e 16 municípios têm taxas de tratamento acima de 80%. Três não tratam qualquer fração do esgoto produzido. Nesse cenário, o país apresenta indicadores próximos ao de países menos desenvolvidos e o tratamento de esgoto apresenta-se como o maior desafio para cumprir o objetivo 6 (TRATA BRASIL, 2018).

As atividades econômicas e sociais são indispensáveis para o alcance dos objetivos do desenvolvimento sustentável, no entanto todas exercem alguma pressão sobre o ambiente, e os baixos índices de saneamento comprometem a qualidade dos recursos hídricos e consequentemente o alcance do conjunto das metas dos ODS.

No documento Avaliação de risco ambiental de fármacos (páginas 31-35)