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Operações mentais que regem os processos de aprendizagem

Intencionalidade Estratégias universais

1. Memorização de fórmulas ou frase feitas 2. Mecanismos que conduzem a uma

linguagem criativa Simplificação Generalização Inferência Interferência Analogia Procedimentos potencialmente

intencionais / identificáveis e descritíveis

Repetir Reutilizar Classificar Antecipar Deduzir

69 Segundo Fernández López (2008b), as estratégias universais têm dois estados, a saber: (i) memorização de fórmulas ou frase feitas; (ii) mecanismos que conduzem a uma linguagem criativa. No que respeita a primeira fase, esta teria lugar sobretudo nos primeiros estádios de aquisição, através da assimilação de conjuntos sem a análise dos seus componentes. Frases como “Olá! Tudo bem?; Quanto custa?” ou esquemas semiabertos do tipo “Vamos tomar um copo, uma cerveja, um café…; Estou a trabalhar, descansar, ver televisão…” apresentam-se como particularmente úteis quando o aprendente ainda não consegue formular as suas próprias frases e se vê obrigado a interagir na língua-alvo. A memorização deste tipo de expressões torna-se possível graças à alta frequência de uso e ao facto de estarem associadas a uma função comunicativa concreta. Quanto aos mecanismos que conduzem à construção criativa da linguagem, estes apoiar-se-iam nas regras e processos do organizador cognitivo que regulam a aprendizagem de LE. Dependendo dos autores que se debruçaram sobre o estudo destes mecanismos, passaria nomeadamente pela facilitação ou simplificação, complexificação, falsa generalização e inferência.

Consideramos que o mais importante é, quando necessário, o aluno conseguir reconstituir o processo e a motivação da utilização de estratégias para nelas poder identificar criticamente as fraquezas e forças da suas ações e, partindo daí, avaliar o seu desempenho e as suas conquistas, para partir desta reflexão para um novo ciclo de ações transferíveis para outras situações. Desta feita, consideramos que as EA são potencialmente conscientes e intencionais, “particularidad ésta que las torna enseñables” (Fernández López, 2008c, p. 582).

1.2 Algumas considerações sobre instrução estratégica

Vários autores se debruçaram sobre a questão da instrução estratégica na aula de LE. Convergindo em alguns aspetos, não se mostram incompatíveis, mesmo quando não caminharam na mesma direção.

Paul Cyr (1998) destaca três etapas implicadas habitualmente no treino para utilização de EA em LE: observação das estratégias dos aprendentes, integração da

70 questão das estratégias no ensino quotidiano e avaliação com os aprendentes da rentabilidade das estratégias por eles utilizadas.

Oxford (1990)refere-se a sete passos: realização da tarefa sem orientação a nível estratégico; reflexão conjunta sobre a realização da tarefa, sendo dado reforço positivo por parte do professor às estratégias eficazes face ao contexto usadas pelos alunos; apresentação por parte do ensinante de outras estratégias não usadas pelos alunos na realização da tarefa e reflexão sobre as suas vantagens; experimentação das EA; demonstração da natureza transversal das EA e da sua transferibilidade para outros momentos e outras tarefas (linguísticas); realização livre das tarefas por parte dos aprendentes, selecionando as EA que considerem mais adequadas para tarefa; e avaliação por parte dos alunos das EA escolhidas para a realização da tarefa proposta e tomada de consciência do protagonismo da sua ação nos resultados obtidos.

Já O’Malley e Chamot (1990), com o CALLA (Cognitive Academic Language Approach), preconizam cinco grandes etapas, a saber: preparação, através de diagnóstico das EA usadas pelos alunos, com recurso a discussões e preenchimento de questionários; apresentação, em que o ensinante mostra a sua forma de abordar a realização de uma tarefa recorrendo a EA, identificando-as explicitamente e enunciando o seu contexto de uso e as suas finalidades; prática, por meio da experimentação dos aprendentes, individualmente ou em grupo, de EA para realizar uma dada tarefa linguística; avaliação, em que os alunos ponderam o seu desempenho tendo utilizado determinadas EA, devendo ajuizar da rentabilidade das EA usadas (pode-se recorrer aos instrumentos e técnicas já enunciados na primeira etapa); e, por fim, expansão, consistindo na transferência de EA para outros contextos.

No que se refere a Fernández López (2008a), este aflora o tema, mencionando três ideia-chave: preparação; treino e prática; e avaliação.

Fruto das conceções apresentadas e da nossa experiência no terreno, avançamos um modelo de instrução estratégica (Figura 8). Este modelo divide-se em quatro grandes domínios: preparação; prática e treino; avaliação; e expansão. Havendo entre estes domínios uma relação linear, transitiva, esta não é exclusiva, operando-se entre os diferentes blocos fluxos dinâmicos. Se entre a preparação e a prática e treino há uma relação sequencial, entre esta última e a avaliação estabelece-se uma relação circular, já

71 que após a avaliação se voltará, em muitos casos, à prática e treino. Por vezes, a avaliação desenvolverá igualmente com a preparação um movimento circular, quando após a monitorização surge a necessidade de fazer novo levantamento de EA ou entrar em contacto com “novas” EA.

Os conteúdos estratégicos e as práticas de instrução estratégica são por nós entendidos como operacionalizáveis em modalidade presencial de aprendizagem, b- learning ou e-learning, devendo ser sempre integrados com os demais conteúdos, sendo objeto de ensino implícito e, sempre que necessário, explícito. Pode ser necessário com alguns grupos de aprendentes, ou em alguns momentos, abordar de maneira mais explícita o que é aprender (uma LE) hoje, os papéis de professores e alunos nesse contexto, as EA, assim como levar os alunos a identificarem o(s) seu(s) estilo(s) de aprendizagem, o seu modus operandi na produção de narrativas em sala de aula. Do nosso ponto de vista, ainda que esta reflexão possa ser levada a cabo de forma mais explícita em alguns momentos, deve ser feita o mais possível de forma integrada com os conteúdos a abordar no curso de LE que o aluno se encontra a realizar, e deve igualmente ter a função de promover o desenvolvimento de competências linguísticas na LE-alvo (Fernández López, 2008c).

72 Figura 8

Modelo de instrução estratégica

A P PREPARAÇÃO  Identificação de EA

através do diagnóstico

com recurso a

instrumentos e técnicas como discussões, focus

group, reflexões em voz

alta ou por escrito e questionários.  Apresentação de EA por parte de um utilizador mais experiente, identificando o contexto de utilização, as finalidades, vantagens e desvantagens dessa EA.

A P PRÁTICA E TREINO  Demonstração de seleção

de EA em função de uma tarefa, explicando como se procede para a utilização da mesma.  Observação e “imitação” da utilização de EA de forma crescentemente autónoma.

 Realização de tarefas sem instrução estratégica (antes ou depois da abordagem das EA).  Experimentação das EA

(oficina de ensaio).

A P AVALIAÇÃO

 Reflexão e autoavaliação do uso de EA com recurso a discussões, focus group, reflexões em voz alta ou por escrito, diário das EA e questionários.

 Avaliação das EA usadas pelos aprendentes.  Criação de um glossário de EA, incluindo o contexto de utilização, finalidades, vantagens e desvantagens.  Reflexão sobre as EA usadas pelo professor.  Reflexão sobre o processo

em que estiveram envolvidos e o valor do seu papel no processo de ensino-aprendizagem.  Reflexão sobre a

transferibilidades das EA para outras tarefas (linguísticas).

A P EXPANSÃO

 Transferência das EA para outros contextos e momentos.