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Orientações e medidas orientadas para os imigrantes

CAPÍTULO 1 DO FENÓMENO MIGRATÓRIO ÀS POLÍTICAS

1.3. POLÍTICAS LINGUÍSTICAS DO CONSELHO DA EUROPA

1.3.1. Orientações e medidas orientadas para os imigrantes

destino dos emigrantes portugueses, o que não surpreende ninguém. É interessante é o Reino Unido tornar-se, nos últimos anos um destino de eleição, tendo ultrapassado a Venezuela em número de emigrantes. Em 2008, a Suécia tinha 2774 cidadãos nascidos em Portugal, de um total de 1.281.581 imigrantes, ou seja, 14% da população.

Podemos observar essas referências no seguinte gráfico:

Gráfico 1 – Países com mais portugueses emigrados, dados de 2000-2008. Observatório da Emigração

A emigração para França continua até ao presente, embora seja menos expressiva. Apesar de todos os entraves, continuou até aos nossos dias, numa dimensão mais modesta, assumindo, agora, um carácter diferente, mais temporário e cada vez mais ligada a investimentos económicos, realização de estudos, actividades profissionais, entre outros.

1.3. Políticas linguísticas do Conselho da Europa a caminho do plurilinguismo

1.3.1. Orientações e medidas orientadas para os imigrantes

O fenómeno migratório ocorreu na maioria dos países europeus, o que levou a que se pensasse na criação de um órgão que emanasse orientações e medidas europeias, nomeadamente em termos de política social e linguística. Foi então que se fundou, em 1949, o Conselho da Europa (CE), que se ocupa há mais de 50 anos, da actuação em

termos de política linguística, com programas coordenados por duas instituições: a Language Policy Division em Strasbourg (França), e o European Centre for Modern Languages, em Graz (Áustria). Os seus objectivos são, de uma forma sintetizada, orientar e ajudar os Estados membros a tomar medidas no campo de política linguística, difusoras do plurilinguismo e da formação plurilingue dos seus cidadãos, desenvolvendo ainda, a sua “independence of judgment, thought and action combined with social responsibility”, promovendo “the intercultural understanding and international co-operation” (Trim, 2001, p. 2) e protegendo e desenvolvendo a herança europeia de diversidade linguística e cultural. Se analisarmos as acções em termos de política linguística deste organismo, vemos que o primeiro passo significativo foi, logo em 1954, com a Convenção Cultural Europeia7 para a Educação (assinada a 19 de Dezembro de 1954), onde cada um dos países signatários teria de:

1. […] encourage the study by its own nationals of the language, history and civilisation of the other Contracting Parties and grant facilities to those Parties to promote such studies in its territory, e

2. […] endeavour to promote the study of its language or languages, history and civilisation in the territory of the other Contracting Parties and grant facilities to the nationals of those Parties to pursue such studies in its territory.

Denota-se logo, neste primeiro momento de vivência europeia, marcado sobretudo por razões de ordem económica, que se sente que as línguas devem estar em contacto e que elas têm um papel importante a desempenhar na manutenção da coesão europeia.

Entre 1971 e 1977, constitui-se um grupo de trabalho para analisar a possibilidade de instituir o sistema de uni-crédito na educação em línguas de adultos (Unit-credit scheme), delineando um conjunto de princípios orientadores para trabalhos futuros, de onde se destacam: a aprendizagem de línguas para todos, a aprendizagem de línguas ao longo da vida, a necessidade de envolvimento de diferentes actores no ensino- aprendizagem de línguas.

Em meados dos anos 70, numa fase de crise económica e de dificuldades económicas e políticas diversas provocada pela crise petrolífera, começou a surgir a noção de “cidadania europeia” e a preocupação com as pessoas, com a sua aproximação num mesmo espaço geográfico e começou-se a colocar a questão das línguas como factor de construção da Comunidade Europeia, já que até aí elas se encontravam relegadas

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para um plano secundário da área da Educação. O ensino das línguas figurava essencialmente nos programas comunitários como uma forma de combater problemas sociais relacionados com a integração de trabalhadores migrantes e suas famílias. Não podemos esquecer que o final do século XX se caracterizou por uma era de grandes migrações que transformou o panorama social, cultural e linguístico dos países de acolhimento, em França, em particular. O fenómeno dos fluxos migratórios transcontinentais tornou-se numa das componentes da crescente mundialização e colocou a tónica na gestão do plurilinguismo, em conformidade com o acolhimento linguístico das comunidades migrantes (sobretudo sobre a preservação do seu património linguístico), a sensibilização dos povos europeus para o valor cultural das línguas e para o papel da educação na promoção do respeito pelas diferenças8. Trata- se, aliás, de um fenómeno conhecido e estudado em várias dimensões: sociológica, demográfica, económica, histórica, ideológica e política (Dabène, 1989b, pp. 13-16). Neste contexto, compreendemos que o trabalho do Conselho da Europa tem sido no sentido de fazer compreender que o mais importante não será centrar a questão sobre quantas e quais línguas se deverão estudar em cada país, mas antes fazer com que o ensino-aprendizagem das línguas (incluindo a LM do sujeito/aluno) vise o desenvolvimento de uma competência plurilingue.

Para tal, deve ainda compreender-se que a aprendizagem de diferentes línguas não tem de ser feita nos mesmos níveis, com os mesmos objectivos e com base nos mesmos percursos metodológicos, e que não é apenas feita na escola, mas antes em diferentes contextos e durante toda a vida, de acordo com as necessidades e interesses dos sujeitos, naquilo que Dabène designa por “Didáctica da Pluralidade” (2000). O desenvolvimento da competência plurilingue pode assim tornar-se “a common linguistic matrix that will give the European political and cultural area a form of plurallinguistic identity rooted in the diversity of its communities and compatible with its values of openness to the world” (Beacco & Byram, 2003, p. 39).

Os textos, documentos, resoluções, recomendações e eventos convidam os Estados- membros a implementar medidas de política linguística que, respeitando as suas particularidades linguísticas e culturais, tenham em mente o desenvolvimento de uma competência plurilingue e intercultural, valorizando ainda a diversidade, servindo de guias e de instrumentos de referência, assim como de motivação para o desenvolvimento de políticas nacionais que não só capacitem os seus cidadãos em termos pessoais e sociais, mas também que promovam o espírito de integração europeia, que, em matéria de comunicação, exclui o isolamento e a homogeneização

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Valores mais restritos mas que continuam ainda nas políticas actuais em defesa do plurilinguismo.

linguística. Salienta-se, por isso, o papel das línguas e do desenvolvimento da competência plurilingue como forma de, em primeiro lugar, preservar a diversidade linguística e cultural, e ainda como uma das medidas para ajudar à construção da identidade linguística e comunicativa do sujeito (que só através do conhecimento do Outro e da(s) sua(s) língua(s) se pode, afinal, rever e reconstruir) e de reforçar a identidade europeia, vendo essa aprendizagem como forma de aceder ao Outro e a si- mesmo, de promover o contacto intercultural, de ultrapassar barreiras e de combater a exclusão social.

1.3.2. Novas políticas linguísticas e os novos caminhos para o