• Nenhum resultado encontrado

“Se quisermos conhecer quais as sensações das pessoas; o que sofreram

UNESP Instituições

2.4.2 PROTOCOLO VERBAL

2.4.2.1 ORIGEM DA TÉCNICA

do questionário que os alunos interessados em participar dessa etapa deixassem telefone para contato e disponibilidade, não houve mais nenhuma intervenção por parte dos professores responsáveis pelas disciplinas ou das instituições. Fizemos contato com os alunos interessados e agendamos diferentes horários separadamente com cada um, de preferência usando os espaços que as instituições ofereciam, ou seja, usamos salas de aulas vazias para a aplicação do protocolo verbal, como descrito a seguir.

2.4.2 PROTOCOLO VERBAL10

A segunda parte da coleta de dados diz respeito à aplicação do protocolo verbal a 10 sujeitos selecionados a partir de suas respostas ao questionário. Tais sujeitos foram selecionados levando-se em conta sua proficiência em LE e a disposição em fazer parte desta segunda etapa.

Primeiramente, identificamos os sujeitos que concordaram em participar do protocolo, na medida em que, seguindo as instruções contidas no questionário, deixaram telefone para contato e disponibilidade de horários na última página do mesmo. Em seguida, destes sujeitos, selecionamos aqueles que estavam cursando o último ano do curso de Letras e que, de acordo com seu perfil sócio-educacional, já estavam estudando LE há mais tempo do que somente os anos de graduação, o que indicava a possibilidade de um nível de proficiência mais alto com relação aos outros sujeitos.

A obtenção dos dados referentes ao protocolo verbal diz respeito a um tipo de aprendizagem do sujeito – a leitura em LE. Sendo assim, as subseções seguintes esclarecem a razão pela qual decidimos usar tal instrumento na complementação da coleta de dados do presente estudo.

2.4.2.1 ORIGEM DA TÉCNICA

A pesquisa em leitura tem tradição de análise quantitativa do produto (leitura). Esse tipo de análise reflete a preocupação do pesquisador em relação ao quanto os leitores percebem do texto. Essa preocupação está refletida no uso de técnicas mensuráveis de coleta e análise de dados que quase sempre tomam a forma de testes de

10

O protocolo verbal está presente no anexo 4 (a subseção 4.1 apresenta o roteiro e a subseção 4.2 apresenta um exemplo da transcrição de um protocolo aplicado a um sujeito).

múltipla escolha de compreensão. Tais testes já receberam muitas críticas por mensurar a compreensão.

Simons (1971, p. 346) em sua resenha sobre leitura diz que não é fácil determinar o que esses testes de compreensão avaliam. O autor sugere que podem medir, ao invés da compreensão, a habilidade de memória, a habilidade de compreender as questões, de submeter-se a um teste, a familiaridade com o conteúdo do texto, a motivação e a atitude do sujeito de reconhecer palavras. Os testes medem o comportamento, as habilidades de estudo e conhecimento prévio, que são reflexo indireto do processo de leitura.

Na década de 1970, entretanto, a pesquisa em leitura começou a apresentar abordagens mais qualitativas que buscavam uma descrição do comportamento com o objetivo de inferir o processo de leitura. O resultado desta tendência aparece nos instrumentos para investigar o processo.

Cavalcanti (1988, p. 131-3) descreve os tipos de instrumento que surgiram a partir da década de 1970 em seu trabalho sobre a interação leitor-texto.

Como a autora trabalhou com informantes brasileiros adultos na análise da natureza de problemas de interpretação pragmática, em sua justificativa de escolha de um instrumento de obtenção de dados com tais sujeitos, estudantes em nível de graduação, Cavalcanti diz que seu objetivo é preservar a leitura como um processo que permite captar (parcialmente) os pensamentos do leitor, que ocorrem em face de um texto autêntico apresentado em sua extensão total.

Dentre os instrumentos presentes na literatura sobre análise de leitura, Cavalcanti (1988) cita: (1) Instrumento de análise de lapsos orais (GOODMAN & BURKE, 1970) – uma técnica baseada na análise de erros na leitura oral; (2) Protocolos de evocação (KINTSCH et al, 1975) – tarefas como resumo escrito sobre um texto (não eram adequados para investigar o processo de leitura, mas podiam, contudo, ser usados como medidas informais de controle de compreensão); (3) Monitores e/ou gravadores de leitura (JUST & CARPENTER, 1977) – fotografia do movimento dos olhos para descobrir o número de fixação de abrangência de alcance do leitor (o monitoramento colocava um foco de luz na córnea do sujeito e captava a reflexão no trabalho com textos de um parágrafo). Thomas & Augstein (1979) usaram a mesma técnica para investigar padrões de comportamento como hesitações e sessões de pensamento. Tal

técnica não retrata a realidade de leitura; (4) Técnicas introspectivas (HOSENFELD, 1977; OLSHAVSKY, 1976-7; KAVALE & SCHREINER, 1979; Cohen, 1981 e 1984) – técnica de ‘pensar alto’ enquanto uma tarefa de leitura é realizada (HOSENFELD, 1977).

Esta última técnica é conhecida como Protocolo Verbal na Teoria de Solução de Problemas e foi primeiramente introduzida e desenvolvida como um instrumento de pesquisa, solicitando-se aos informantes que verbalizassem seus pensamentos enquanto resolviam um problema. O “pensar alto” parece ser a mais difícil das quatro técnicas, pois o sujeito teria que fazer uma exposição de pensamento relacionada à tarefa em andamento. Originalmente desenvolvidos na Teoria de Solução de Problemas por Newel e Simon (1972), os protocolos verbais pedem que o sujeito pense alto enquanto cumpre uma tarefa. Esta técnica tornou-se essencial para conseguir dados suficientes sobre cada sujeito para identificar que informação ele tem e como a está processando. Esse recurso, entretanto, raramente é mencionado como técnica para coleta de dados em livros sobre metodologia de pesquisa11.

A técnica de pensar alto surgiu na pesquisa em leitura através do trabalho de Hosenfeld (1977) sobre leitura em LE e Olshavsky (1976-77) sobre leitura em LM. Hosenfeld focaliza a identificação de estratégias de leitura de aprendizes com desempenho bom e com desempenho fraco em situação do tipo entrevista como solução de problemas de significado de palavras e retenção de significado durante a leitura. Em Hosenfeld (1984), a autora trabalha com aprendizes não-nativos de desempenho fraco, ajudando-os a adquirir um novo comportamento de leitura.

Nos relatos de observação, a autora demonstra que os leitores traduziam palavra por palavra e iam ao dicionário para o significado de novas palavras. Com a prática, tais leitores passaram a adquirir estratégias de leitura como a tradução livre, a inferência contextual do significado de palavras novas, o uso de fontes de informação variada como a ilustração, o cognato, a gramática. Tal investigação foi pioneira no que se refere ao uso dos protocolos verbais.

11

Na revisão bibliográfica a esse respeito encontramos referência a estratégias e técnicas de pesquisa com alguma semelhança utilizadas no estudo dos processos de pensamento de professores em exercício, mencionadas por Januário (1996, p. 51-65), envolvendo: apreensão de estratégia (policy capturing), obtenção de julgamentos (leans model), análise de protocolos (process tracing), estimulação de memória (stimulated recall), situações simuladas (regression modeling), verbalização ou pensar em voz alta (thinking / talking aloud) em entrevista retrospectiva, relato escrito (journal keeping), técnica de repertório de opções (repertory grille technique).

Cavalcanti (1983 e 1988) adaptou a técnica do protocolo verbal para seu foco de pesquisa (natureza dos problemas de interação leitor-texto) transformando-os em protocolos de pausa. Em seu trabalho, a autora descreve quatro estudos pilotos para a calibragem do instrumento de coleta de dados. Em cada um deles, experimentou interrupções e aquecimentos, bem como explicações sobre procedimentos, escolha dos textos e dos momentos mais oportunos para a pausa, concluindo que:

[...] as decisões que tiveram que ser feitas durante os estudos pilotos foram importantes não somente para a elaboração do plano de elicitação de dados como também para a reavaliação do foco da pesquisa. (1988, p. 52)