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PARTE I – CONCEITO E ENQUADRAMENTO TEÓRICO: PATRIMÓNIO

Capítulo 2- Enquadramento geológico e hidrogeológico da ilha da Madeira

2.1 A origem geológica da ilha da Madeira

A ilha da Madeira teve a sua origem há milhões de anos no Oceano Atlântico entre os meridianos 16º 39’19”W e 17º 15’54”W e os paralelos 32º37’52”N e 32º52’08”N. Devido à sua localização e orientação, possui uma variedade de microclimas. É de origem vulcânica, assim como o Porto Santo, Desertas e Selvagens, tendo origem numa elevação do magma a partir de um Hot Spot (ponto quente) onde ergueu-se “ acima de uma vasta

89 Menezes, Dília, Freitas, Isabel, Gouveia, Luísa, Mateus, Maris, Domingues, Miguel, Oliveira, Paulo &

Fontinha, Susana (2004), A Floresta Laurissilva da Madeira Património Mundial, Madeira, Secretaria Regional do Ambiente e dos Recursos Naturais, Serviço do Parque Natural da Madeira, p. 79.

planície submarina, no seio da placa africana, numa zona onde a crosta tem 130 Ma, formando um maciço vulcânico com mais de cinco km de altura, do qual, apenas, cerca de 1/3 se encontra emerso”90.

Por Hot Spot entende-se uma estrutura geológica que projeta uma “pluma”, de longa duração, constituída de material magmático em direção à superfície da crosta, onde transfixa a placa litológica. O ponto quente é uma estrutura que emite, episodicamente, material vulcânico, perfurando a placa, deslocando-se e resultando daí um grupo de ilhas, tal como é o exemplo do arquipélago da Madeira.

É, então, no seio da placa africana que se ergueu a ilha da Madeira, resultado de atividade vulcânica que se iniciou antes do período Miocénico superior. O seu edifício vulcânico possui 5300 metros de altitude, aproximadamente, e foi resultado de 25 mil anos de acumulação de materiais vulcânicos explosivos e efusivos91. A Madeira é uma

ilha vulcânica “formada de convulsões sísmicas, em períodos, sucessivos, sobrepondo-se as camadas geológicas desde o fundo do mar até ao cimo das montanhas”92. Embora o

Arquipélago da Madeira não esteja em risco evidente de uma erupção vulcânica, é sujeito, muito raramente, a movimentos sísmicos de baixa intensidade. As primeiras erupções vulcânicas foram submarinas, fase esta explosiva. Destaca-se devido a cerca de 90% da sua área emersa ficar acima dos 500 metros de altitude, onde 35% destes atinge altitudes acima dos 1000 metros93. Quanto ao seu perímetro é alongado e muito irregular.

A ilha, tal como a vemos hoje, não corresponde ao início da sua formação, uma vez que, inicialmente, teria uma forma mais cónica. É composta por dois grandes maciços, o Maciço Central Vulcânico eo Maciço Ocidental94 e vista a partir do mar assemelha-se

a um escudo achatado95. A referida característica deveu-se aos elementos erosivos a que

a ilha esteve exposta, como será possível compreender posteriormente. O Maciço Central, tal como o próprio nome indica, ocupa a região central da ilha. É onde se encontra o seu complexo vulcânico mais antigo, sendo este o responsável pela sua formação96.

90 Prada, Susana (2000), Geologia e Recursos Hídricos Subterrâneos da Ilha da Madeira, Funchal,

Universidade da Madeira, p. 11.

91 Ibidem.

92 Pereira, Eduardo (1989), Ilhas de Zargo, vol. I, 4.ª ed., Funchal, Câmara Municipal do Funchal, p. 244. 93 Mata, João (1996), Petrologia e Geoquímica das Lavas da Ilha da Madeira: implicações para os modelos

de evolução do manto terrestre, Lisboa, Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa.

94 Zbyszewski, Georges (1971), Reconhecimento Geológico da parte ocidental da Ilha da Madeira, Lisboa,

Memórias Academia de Ciências Lisboa.

95 Ribeiro, Orlando (1985), A Ilha da Madeira até Meados do Século XX, Lisboa, Instituto de Cultura e

Língua Portuguesa.

96 Zbyszewski, Georges & Ferreira, Veiga (1975), Carta Geológica de Portugal, Lisboa, Direcção-Geral

Aqui predomina material de origem vulcânica explosiva, piroclásticos grosseiros, tufos de lapilli, bombas, cinza, assim como escoadas basálticas e filões basálticos com múltiplas direções e inclinações o que permite a existência de cristas finas (dykes)97, ou

seja, picos muito acentuados que, devido à sua dureza, são mais resistentes aos elementos erosivos, dando um aspeto caótico (desordenado), esponjosos e vesiculares com uma textura variada (figura 1). A razão por que se encontram assim deve-se aos múltiplos centros de erupção (crateras destintas) que hoje são difíceis de localizar.

Figura 1. Maciço Central Vulcânico

Por estas razões e dada a pouca conexão do material piroclástico na ilha (material existente em abundância), estão presentes, devido aos agentes erosivos externos (vento, chuva) e à idade do edifício vulcânico, profundos vales encaixados que a caracterizam. A ilha comporta, na atualidade, aproximadamente 736 quilómetros quadrados de área, sendo portadora de 58 quilómetros de comprimento e 23 de largura98. Tudo isto está

relacionado com a idade e estrutura do edifício vulcânico, os efeitos de erosão e com os tipos de materiais que compõem a ilha.

A Madeira é, maioritariamente, formada por rochas vulcânicas extrusivas (onde o magma arrefeceu no exterior), como rochas lávicas, efusivas e compactas ou escoadas basálticas de variáveis espessuras. Como foi referido, as suas inclinações são variáveis, sendo mais acentuadas nos arredores da ilha. Na parte superior do Maciço Central as escoadas basálticas apresentam-se sob as formas escoriáceas, apresentando uma

97 Ribeiro, Orlando (1985), A Ilha da Madeira até Meados do Século XX, Lisboa, Instituto de Cultura e

Língua Portuguesa.

98 Silveira, António, Madeira, José, Ramalho, Ricardo, Fonseca, Paulo & Prada, Susana (2010), Notícia

Explicativa da Carta Geológica da ilha da Madeira na escala 1:50.000, Folhas A e B, Madeira, Secretaria Regional do Ambiente e Recursos Naturais, Região Autónoma da Madeira e Universidade da Madeira.

separação prismática. É de difícil acesso por ser muito fragmentada, rugosa e com acentuadas inclinações. Estas elevações são devidas à presença de níveis piroclásticos grosseiros acumulados em torno de centros emissores e cortados por diversos filões basálticos que asseguram a sua consolidação, tendo efeito de esqueleto interno. As rochas piroclásticas presentes no solo da ilha possuem um vasto leque de variedades, alterando a sua dureza e cor. Estas são muito utilizadas pelos madeirenses em prol da construção dos seus vários edifícios e estruturas (como é o exemplo das levadas) e têm uma importante influência na permeabilidade do solo. O Maciço Vulcânico Central é, predominantemente, composto por material de origem explosiva, efusiva, constituindo lavas basálticas compactas. É, consequentemente, confinado com um conjunto de filões densos, que se intersetam reciprocamente, proporcionando uma enorme resistência ao complexo vulcânico. A maioria são básicos embora exista, diminutamente, alguns traquíticos e têm a particularidade de estarem orientados nas mais variadas direções, existindo uma certa confluência para a zona do Pico Ruivo99. Este pico é um dos mais

significativos de Portugal por ter, aproximadamente, uma altitude de 1861 metros. Isto deve-se à resistência dos diques à erosão, destacando-se dos restantes picos da ilha da Madeira. Devido aos piroclásticos serem pouco coesos, isto porque, inicialmente, atingiram o solo em forma de salpicos de lava ainda bastante fluidos, com a sujeição aos elementos erosivos, originou-se grandes vales profundos no seu meio envolvente que deram origem a ribeiras100, como a dos Socorridos, a da Ribeira Brava, a de Machico, a

do Porco, a do Faial e a de S. Vicente.

As ribeiras (aquedutos naturais) existem em grande número na região. Os seus caudais são, geralmente, mais volumosos nas épocas mais frias, sendo que no verão algumas chegam mesmo a secar101. Os seus inícios localizam-se na cordilheira central da

ilha e algumas delas vão sendo abastecidas com águas provenientes de pequenos canais naturais que convergem, aumentando, deste modo, a velocidade da água corrente assim como a sua quantidade102. É de salientar que as ribeiras, desde a povoação da ilha, tiveram

uma grande importância, pois foi através das mesmas que se deu a sua divisão por dois capitães donatários, Gonçalves Zarco e Tristão Vaz. Contribuíram, também, na forma

99 Zbyszewski, Georges & Ferreira, Veiga (1975), Carta Geológica de Portugal. Direcção-Geral de Minas

e Serviços Geológicos, Lisboa.

100 Mata, João (1996), Petrologia e Geoquímica das Lavas da Ilha da Madeira: implicações para os

modelos de evolução do manto terrestre, Lisboa, Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa.

101 Pereira, Eduardo (1989), Ilhas de Zargo, vol. I, 4.ª ed., Funchal, Câmara Municipal do Funchal. 102 Silva, Padre Fernando Augusto da & Meneses, Carlos Azevedo de (1998), Elucidário Madeirense, 2.ª

como os povoadores se localizaram no seu espaço, ocupando as suas margens, pois estes procuraram construir as suas habitações, moinhos, engenhos, serras de água, etc., junto às ribeiras de modo a utilizarem a força motriz exercida pela água corrente.