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PARTE I – CONCEITO E ENQUADRAMENTO TEÓRICO: PATRIMÓNIO

Capítulo 2- Enquadramento geológico e hidrogeológico da ilha da Madeira

2.3 Orografia

É percetível, por tudo o que já foi mencionado, que a ilha da Madeira tem uma orografia bastante acidentada, existindo variados picos, sendo o Pico Ruivo, o Pico das Torres, e o Pico do Areeiro os que mais se destacam. Na atualidade, verificam-se vários vales profundos que se originaram através dos elementos erosivos naturais, o que é uma das características que condicionam a demografia da ilha, dando azo a que a população se localize, maioritariamente, na costa sul.

A água é um dos principais elementos erosivos que desenharam o relevo da ilha, dando origem a uma orografia muito irregular que cativa o próprio habitante e o turista. Devido à sua elevada altitude, capta uma grande pluviosidade, razão pela qual a água é um dos elementos que a têm redesenhado, modelado. Ao correr pelas diversas rochas que compõem a ilha, a água vai desbastando, escavando e aprofundando os materiais geológicos que estão mais sensíveis à deterioração (erosão), criando, desta forma, as ribeiras que, embora não sejam na sua largura muito extensas, criam, graças aos seus caudais que são relativamente caudalosos nos períodos mais frios, profundos vales com várias centenas de metros de altura.

112 Silveira, António, Madeira, José, Ramalho, Ricardo, Fonseca, Paulo & Prada, Susana (2010), Notícia

Explicativa da Carta Geológica da ilha da Madeira na escala 1:50.000, Folhas A e B, Madeira, Secretaria Regional do Ambiente e Recursos Naturais, Região Autónoma da Madeira e Universidade da Madeira, p. 36.

A baía hidrográfica (ribeira) mais ampla é a da Ribeira da Janela, atingindo os 21 quilómetros de distância113. A ilha apresenta, deste modo, uma morfologia única com

grandes declives114. Embora a sua fisionomia não apresente o formato de um único cone,

possui, geometricamente, um talho cónico que possibilitou as ribeiras divergirem do centro da ilha (pontos mais altos que atingem mais de 1000 metros de altura) até à periferia onde desaguam115. Por esta razão, alguns dos cursos de água na região detêm

uma obliquidade quase vertical, apresentando-se, quase totalmente, perpendiculares à costa (figura 3).

Figura 3. Ribeiras do Porto Novo e Boaventura (Santa Cruz) e Cascata do Véu da Noiva (Porto Moniz)

Na ilha da Madeira existiram grandes precipitações que, combinadas com a água armazenada, originaram grandes inundações que têm vindo a afetar o seu relevo, sendo que a ocorrência mais recente ocorreu a 20 de fevereiro de 2010.

M. Avezac, geógrafo francês, traça a orografia da ilha da Madeira, referindo que de toda a parte se elevam rochedos marítimos gigantescos e escarpas formidáveis de lava, nos quais o fogo, o tempo e as águas fizeram enormes rasgões que formam os portos e as baías abertas à navegação. Ora as rochas basálticas revestem a forma e aparência de velhos castelos em ruínas, ora as camadas de lava descem livremente até ao mar em pilares gigantescos que marcam com toda a precisão a direcção das torrentes de fogo que inundaram a ilha, e que parece haverem sido detidas em curso para atestar aos homens de hoje a violência dos fenómenos de que aquela foi sede em épocas remotas116.

113 Fernandes, Ana (2007), Contribuição para o Conhecimento dos Recursos Hídricos Subterrâneos da Ilha

da Madeira, Funchal, Universidade da Madeira.

114 Mata, João (1996), Petrologia e Geoquímica das Lavas da Ilha da Madeira: implicações para os

modelos de evolução do manto terrestre, Lisboa, Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa.

115 Prada, Susana (2000), Geologia e Recursos Hídricos Subterrâneos da Ilha da Madeira, Funchal,

Universidade da Madeira.

116 M. Avezac citado in Pereira, Eduardo (1989), Ilhas de Zargo, vol. I, 4.ª ed., Funchal, Câmara Municipal

São, também, decisivas no relevo da ilha as muitas inclinações e espessura das escoadas basálticas, assim como a rede filoniana que suporta os materiais piroclásticos, atenuando a erosão causada pelos elementos naturais como a chuva o vento e o mar117.

O território da Madeira exibe uma variedade de meios e endemismos, assim como variedades de rochas, minerais e formas de relevo que cooperam para uma captação e armazenamento de água eficaz. Esta bio e geodiversidade são conseguintes de uma progressão biológica e geológica que sucede através da posição geográfica, tendo o Oceano Atlântico uma influência decisiva, pois é o responsável pelas altas arribas que se estendem pelo litoral, sendo a mais alta a do Cabo Girão com cerca de 580 metros de altura.

A costa norte é caracterizada pelas suas altas escarpas, enquanto a zona ocidental destaca-se pelo planalto do Paul da Serra, situado entre 1200 e os 1500 metros de altitude com 17 quilómetros de comprimento e 6 quilómetros de largura118. Os muitos picos

existentes na ilha, que vão desde a zona leste ao oeste, variam na sua altitude e altura, semelhantemente à imagem de um eletrocardiograma, apresentando, entre si, os já referidos cursos de água naturais. A ilha é considerada como muito montanhosa, dando origem a vários vales cujo perfil transversal assume a forma de V (devido à supremacia de escoadas basálticas em relação aos graus piroclásticos) e, nalguns casos, de U, onde os habitantes aproveitam para construir as suas habitações. No ano de 1940, Amaro da Costa mencionou que

das características geológicas nomeadamente da permeabilidade, podemos apontar alguns factos que a demonstram completamente – existem na Madeira, várias depressões fechadas, talvez restos de antigas crateras conhecidas por lagoas… no Paul da Serra e noutras zonas mais ou menos planas da ilha, encontram-se ainda outras depressões, embora menos caracterizadas, mas o traço comum a todas elas, é o de acumularem água por ocasião das grandes chuvadas até alturas apreciáveis119.

Deste modo, é deduzível que a ilha da Madeira possui um conjunto de caraterísticas benéficas para a retenção de água que, a posteriori, são direcionadas até às levadas muito graças à intervenção dos madeirenses.

117 Fernandes, Ana (2007), Contribuição para o Conhecimento dos Recursos Hídricos Subterrâneos da Ilha

da Madeira, Funchal, Universidade da Madeira.

118 Silva, Padre Fernando Augusto da & Meneses, Carlos Azevedo de (1998), Elucidário Madeirense, 2.ª

ed., vol. 2, Funchal, Secretaria Regional do Turismo e Cultura-Direção Regional dos Assuntos Culturais.

119 Amaro da Costa citado in Nascimento, Susana (1990), Estudos Hidrogeológicos do Paúl da Serra,