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Os alimentos no Estatuto do Idoso

4.1 A prestação de alimentos ao idoso

4.1.1 Os alimentos no Estatuto do Idoso

O Estatuto do Idoso reservou o seu Capítulo III para tratar dos alimentos prestados à pessoa idosa, em observância ao princípio da proteção integral e do atendimento prioritário ao idoso, patenteando a preocupação do legislador com a facilitação do acesso ao pedido. Inaugurando-o, o art. 11 determina que "os alimentos serão prestados ao idoso na forma da lei civil", remetendo o fundamento e as normas gerais ao Código Civil, artigos 1.694 a 1.710, e à Lei de Alimentos (Lei n.º 5.478/68)163. Dessa forma, prescreveu a aplicação subsidiária

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PEREIRA, Caio Mário da Silva. Instituições de direito civil. Rio de Janeiro: Forense, 1995, p. 274. v. 5.

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A propósito, veja-se: "O Código Civil de 2002 unifica o tratamento da matéria a partir do artigo 1.694, tratando dos alimentos devidos entre parentes, cônjuges e companheiros, ficando, com isso, ab-rogada toda a legislação anterior que contém regras de direito material sobre alimentos (não, é certo, a Lei 5.478/68, que sabidamente é um cânone processual). Logo, revogados estão, no ponto, não apenas o Código de 1916, como também a Lei 6.515/77 (quanto aos alimentos entre cônjuges na separação e divórcio) e a Lei 9.278/96 (quanto aos alimentos entre companheiros, sabido que, no particular, a Lei 8.971/94 já fora revogada por esta última). Decorrência disso é que todas as regras contidas, agora, no Subtítulo III (Dos Alimentos) do Código em vigor inequivocamente incidem na obrigação alimentar qualquer que seja sua origem (parentesco, matrimônio ou união estável).

daqueles diplomas à prestação de alimentos ao idoso. Os artigos seguintes do Estatuto, como se verá, aportam um novo mecanismo que passa a incidir para reforçar a sistemática prevista nos já referidos diplomas.

A Lei de Alimentos já autorizava o credor a comparecer pessoalmente no foro do seu próprio domicílio, sob o beneplácito do art. 100, II, do Código de Processo Civil, a fim de ser encaminhado ao serviço da Assistência Judiciária, para formular seu pedido, requerendo alimentos provisórios, inclusive, se for o caso. Agora, à vista do art. 13 do Estatuto do Idoso, os acordos sobre alimentos prestados a pessoas idosas podem ser celebrados perante o Promotor de Justiça, que os referenda.

Aos títulos extrajudiciais que consignam tais transações a lei outorgou exeqüibilidade, nos termos da legislação processual civil. Cuida-se de atribuição cometida ao Ministério Público Estadual, no exercício de suas funções institucionais, compreendendo o mister de atender pessoas com idade igual ou superior a 60 anos e promover o acordo alimentar, que se materializará como título executivo. O mecanismo pressupõe uma atuação ágil, traduzindo-se em proteção integral, e promete contribuir para a desobstrução do Judiciário.164

O Estatuto do Idoso inovou também ao instituir a obrigação solidária entre os prestadores de alimentos, podendo o idoso optar entre os coobrigados (art. 12). Fazendo-o, a lei criou um aparente problema de colisão legal com o Código Civil, que reclama harmonização. É que o Código Civil (artigos 1.694 a 1.698) SANTOS, Luiz Felipe Brasil. Novos aspectos da obrigação alimentar. In: DELGADO, Mário; ALVES, Jones Figueiredo (coord.). Novo Código Civil: questões controvertidas. São Paulo: Editora Método, 2004, p. 210.

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KÜMPEL, Vitor Frederico. Aspectos civis da Lei nº 10.741/2003 - Estatuto do Idoso. Jus Navigandi, Teresina, a. 8, n. 179, 1 jan. 2004. Disponível em: <http://jus2.uol.com.br/doutrina/ texto.asp?id=4645>. Acesso em 17 mar. 2004.

disciplina quem são os obrigados a prestar alimentos ao idoso, recaindo a obrigação nos mais próximos em grau, uns em falta de outros: os parentes (ascendentes, descendentes e irmãos, assim germanos como unilaterais) e os cônjuges ou companheiros.

De acordo com os artigos 1.696 e 1.697 do Código Civil, a obrigação tem caráter recíproco e sucessivo, de modo que, só na falta de ascendentes, poderão ser chamados os descendentes, e, apenas na falta destes, poderá acionar, por último, os irmãos. Assim, aplicada a regra do Código Civil, uma pessoa com idade acima 60 anos ou mais que necessitasse de alimentos deveria acionar primeiramente os seus ascendentes. Se não os tivesse vivos ou, em vida, eles não lhe pudessem fornecer os alimentos, é que a obrigação recairia sobre os filhos; na impossibilidade dos filhos, sobre os netos, e assim sucessivamente. Não houvesse descendentes ou não estivessem eles em condições de arcar com os alimentos, poderiam ser chamados, por último, os irmãos do necessitado.

A solução pode ser endereçada à teoria geral do direito. Em se tratando de leis do mesmo jaez, ambas ordinárias, a disposição prevista no Estatuto do Idoso deve prevalecer, porquanto se trate tanto de lex posterior quanto de lex

especialis, em relação ao Código Civil. Senão, veja-se: a Lei n.º 10.406, que institui

o Código Civil, foi promulgada em 10 de janeiro de 2002, ao passo que a Lei n.º 10.741, que institui o Estatuto do Idoso, foi promulgada em 1.º de outubro de 2003. Outrossim, este diploma prescreve normas que levam em conta a especificidade do titular do direito - in casu, a pessoa com 60 anos ou mais -, enquanto aquele contém normas genéricas, indiscriminadas.

segundo a qual o necessitado maior de 60 anos pode demandar, dentre os seus prestadores, aquele(s) que melhor se lhe parecer(em). Aliás, a disposição demonstra simetria com o eixo da proteção integral sobre o qual se erige a lei específica. Considerando que o aumento da expectativa de vida é uma realidade sem precedente e sem previsão de limite, e que os longevos são cada vez mais numerosos, é bastante possível que um idoso, na casa dos 60 anos, ainda tenha pais ou mesmo avós vivos. Mas não seria plausível que, necessitando de alimentos, devesse acionar antes os ascendentes que os descendentes, porque restaria desvirtuado o espírito da lei, "descobrindo um santo para cobrir outro", como refere o dito popular.

4.1.2 Pressupostos da obrigação alimentar sob o pálio do microssistema