• Nenhum resultado encontrado

2 TEORIAS DO DESENVOLVIMENTO

2.2 Os estudos de fatores de risco

Como dissemos anteriormente, um dos focos das pesquisas em criminologia do desenvolvimento é o estudo dos fatores de risco à criminalidade, em diferentes idades, dentre os quais se incluem fatores biológicos, individuais, familiares, de colegas, de vizinhança e situacionais (Farrington, 2007, p. 604). Muitos desses fatores de risco foram bem estabelecidos pelas pesquisas, sendo altamente replicáveis, dentre os quais os indicados na conclusão de um estudo desenvolvido por Farrington e Loeber através da comparação sistemática entre duas pesquisas longitudinais ocorridas em Londres e Pittsburgh:

(...) numerosos prognósticos replicáveis de delinquência com o passar do tempo e lugar, incluindo a impulsividade, problemas de atenção, baixo rendimento escolar, supervisão parental deficitária, conflito parental e pais antissociais, mãe jovem, família numerosa,

renda familiar baixa e de famílias desfeitas (Farrington e Loeber, 1999 apud Farrington, 2007, p. 603).

Outros estudos chegaram a conclusões semelhantes:

(...) os padrões de associação entre as medidas de autocontrole (impulsividade, correr riscos, ficar irado) e medidas de comportamento antissocial (roubo, assalto, vandalismos, uso de droga) eram similares aos países: Hungria, Holanda, Suíça e EUA (Vazsonyi et al. apud Farrington, 2007, p. 603).

Diante do levantamento desses fatores de risco, as teorias do desenvolvimento do crime comumente centram sua ênfase nos aspectos da prevenção precoce, apesar de a previsão prospectiva da porcentagem de crianças de alto risco que se tornam infratores persistentes ser ainda bastante incipiente, enquanto na previsão retrospectiva costuma ser mais alta, como indicamos anteriormente.

As pesquisas com esse foco contemplam, ainda, os efeitos cumulativos, interativos e sequenciais quanto à probabilidade de se tornar um infrator persistente, independentemente da especificidade dos fatores de risco em questão (Farrington, 2002). Algumas tentativas de estudos do desenvolvimento individual em diferentes vizinhanças e contextos comunitários, segundo Wikström e Loeber (apud Farrington, 2007, p. 604), foram também levadas a cabo.

Por outro lado, em diversos estudos os dados longitudinais têm concorrido com os dados transversais e mesmo com os dados estatísticos, diante do que se sugere que, para o estabelecimento da ordem dos fatores de risco e das características das carreiras criminosas têm-se destacado o método longitudinal, principalmente devido à riqueza de detalhamento e à multiplicidade de possibilidades de análise proporcionada por dados obtidos cumulativamente e ao longo do tempo (Farrington, 2007).

Outra dificuldade encontrada nos estudos de fatores de risco assenta-se na dificuldade em se decidir se determinado fator de risco é um indicador ou uma possível causa de infração. Por exemplo, uma vez que a delinquência é uma atividade de grupo, os delinquentes usualmente terão amigos na mesma situação, o que não necessariamente implica que amigos delinquentes causem a delinquência (Reiss e Farrington, 1991).

Um grande ganho para esses estudos decorreu de uma pesquisa prospectiva longitudinal, realizada em Cambridge, sobre o desenvolvimento do delinquente. Envolvendo mais de 400 homens londrinos, com idade entre 8 e 48 anos, a pesquisa proporcionou grande ganho de conhecimentos no tocante aos fatores de risco de criminalidade (Farrington, 1995, Farrington et al., 2006). Nesse estudo, crianças entre os 8 e os 10 anos de idade, que haviam sido identificadas por seus professores como tendo falta de concentração ou sendo muito agitadas, ou cujos pais, colegas e professores denominaram como audaciosos ou aventureiros, ou ainda que mostraram-se mais impulsivas nos testes psicomotores, tenderam a tornar-se infratores em época posterior de suas vidas.

Outras pesquisas, como a realizada por McCord (1977) em Boston e por Robins (1979) em St. Louis, por exemplo, levaram a conclusões de que pais antissociais e criminosos tendem a ter filhos antissociais e delinquentes. Resultados similares foram obtidos no estudo de Pittsburgh Youth Study, e prisões dos pais, mães, irmãos, irmãs, tios, tias, avôs e avós constituíram forte fator de predição em relação à delinquência dos filhos (Farrington et al., 2001 apud Farrinton 2007). Dentre estas, as prisões dos pais predisseram a delinquência dos filhos de forma independente da prisão de todos os outros parentes.

Já o estudo realizado em Cambridge indicou que ter um pai condenado ou um irmão mais velho delinquente, na idade de 10 anos, constitui um robusto dado entre os melhores prognósticos para a infração do próprio rapaz, quando este se encontrar entre os 8 e os 10 anos de idade. O estudo ressaltou ainda que o motivo da infração tende a se concentrar em certas famílias e ser transmitido de uma geração para outra, fato que pode ser explicado por um dos seguintes motivos: a existência de uma continuidade intergeracional na exposição aos fatores múltiplos de risco, mecanismos ambientais ou mecanismos genéticos (Raine, 1993).

Outra pesquisa, levada a termo por Grove et al. (1990), proporcionou considerações de que a hereditariedade era da ordem de 41% para a conduta desordeira na criança e de 28% para a desordem de personalidade antissocial no adulto. Além disso, pais criminosos podem tender a ter filhos delinquentes por causa de preconceitos dos oficiais (polícia e justiça) contra as famílias de criminosos, que também tendem a ser conhecidas nas agências da justiça criminal devido a outros problemas sociais (Farrington, 2007).

Percebe-se, assim, que a maior parte do conhecimento referente aos fatores de risco baseia-se, principalmente, nas variações entre os indivíduos, ao passo que a prevenção aos mesmos requer a variação interna do indivíduo. Por exemplo, o desemprego é um fator de risco entre indivíduos, uma vez que as pessoas desempregadas têm maior probabilidade de cometerem infrações que os empregados (West e Farrington, 1977). Contudo, Farrington et al. (1986 apud Farrington, 2007, p. 605-606) argumentam que o desemprego também é um fator de risco interno, pois as pessoas apresentam maior vulnerabilidade ao cometimento de infrações no período em que se encontram desempregadas.