1.8.9 A Crítica Literária e a Literatura Principal
I.5 OS IMPACTOS E AS CONSEQUÊNCIAS DA TECNOLOGIA
I.5 OS IMPACTOS E AS CONSEQUÊNCIAS DA TECNOLOGIA
(Hall, 1966), considera ser um erro não considerar o ser humano e as extensões por ele criadas, como um único e mesmo sistema, expresso pelas cidades e pela tecnologia, pela ciência, constatação que (Landes, 2009), assinala como uma exceção, o relógio, que identifica como a reprodução de algo mais vasto, o sistema planetário. Para este último, o relógio representa um quadro alegórico uma representação da divina criação do céu e da terra, a uma escala reduzida.
Mas, como a exploração do potencial tecnológico que o mecanismo do relógio encerrava, impulsionou a evolução das artes mecânicas de máquinas e ferramentas que, por sua vez, possibilitaram o fabrico de outros quantos bens de conveniência, quanto a nós, a competência de medir o tempo através dessa invenção teve implicações diretas na criação das consequentes funções extensivas das capacidades humanas. Logo, pela sua mecânica, o relógio também faz parte do sistema humano, afinal.
A competência de medir com precisão o tempo que decorreu a partir de uma dada ocasião ou, o tempo que falta para um dado momento, promove a uniformidade de práticas, a sincronia de atividades que, expressa por horários, beneficia a economia temporal dos modos de produção com base na vantagem da divisão do trabalho.
Tal como (Landes, 2009), relacionamos a invenção do relógio mecânico com a economia pelas inerentes possibilidades de miniaturização e automatização, cujas implicações foram por um lado, o acesso a qualidade barata e por outro, a promoção da civilização que, por ter passado a estar atenta à passagem do tempo, ficou condicionada à produtividade, aos resultados, assim como, refém quer da produção, quer do consumo de bens.
Se todos os que ganhavam a vida de uma forma independente valorizavam a gestão particular do tempo porque condiciona os seus rendimentos, para a economia, com base na produção de utilidades, o seu controlo é o preço da produtividade, logo, da riqueza potencial, ou o preço da modernização, (Landes, 2009).
Intuímos a possibilidade de haver uma relação entre a invenção e a produção do engenho relógio com os méritos e as virtudes humanas associadas ao processo de seu fabrico, tais como o rigor, o virtuosismo e a destreza manual, entre outras particularidades, e que se mantém naquela zona da Europa, que nos parece contrastar com os predicados nacionais, nomeadamente a característica falta de pontualidade, (Oliveira, 2003), e (Gil, 2009).
É pela singular mistura com outras explicações, tais como as questões geográfica e climática, institucional, física e espacial, valores espirituais, e consequentemente desenvolvimento e supremacia tecnológica, que ocorreu naqueles territórios da região da Europa. Para além de económico, e de um fenómeno cultural e social, tratou-‐se de um feito colectivo, à semelhança do dos nossos descobrimentos, catalisador da aplicação do conhecimento para alcançar, para além de riqueza, poder, (Rodrigues, 2007).
“ (…) A invenção do relógio mecânico foi um dos vários avanços que transformaram a Europa, um posto periférico e fraco da civilização mediterrânica, em agressor hegemónico.
(David S. Landes, 2009)
Presentemente a humanidade está sujeita a novas representações do espaço e do tempo, numa nova relação com o planeta e com os outros. Embora a exigência do progresso indefinido do nível de vida, o direito à qualidade, à segurança, nos tenha conduzido a comportamentos de alarde de riqueza, essa busca hedonista pela felicidade, (Lipovestsky, 2007), não se pode dissociar dos avanços do mundo técnico. Foi essa busca por riqueza, entendida como a prosperidade da sociedade, expressa pelo conforto no acesso a bens através de avanços e recuos tecnológicos, que tem vindo a mesclar o conceito de felicidade com o de vida boa.
O desenvolvimento que a humanidade produziu de extensões de si própria deve-‐se à necessidade de acelerar o processo de evolução pela aquisição das competências necessárias a enfrentar os obstáculos que encontra no meio ambiente, assim, a tecnologia representa a concretização da tendência dos seres humanos em se desenvolverem extravasando os limites exteriores do seu corpo, (Caraça, 2009).
A vertente técnica do mundo progride a par da sensualização dos prazeres consumistas, (Lipovestsky, 2007), sobre a qual nos ocuparemos adiante.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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I.6 CONSUM & dor
“ Para sobrevivermos na sociedade do excesso, necessitamos inovar. Inovar significa criar o que não existe. A inovação passa por criar coisas que o mundo nunca viu (…)”.
(Nordstrom, 2009, p.202)
INTRODUÇÃO
Apesar da penúria persistente da maioria, detectável através da visibilidade da cisão social nos modos de possuir e de gastar, de morar e de vestir, assim como, nos comportamentos alimentares e de entretimento, o garante do bem estar social, nomeadamente nos países ocidentais, condiciona a transformação em curso da “geração do ter", em, "geração do ser”, como sendo a consagração contemporânea do sentido da posse, (Lipovestsky, 2007).Como nos referimos anteriormente, tem-‐se valorizado o individualismo e o momento presente, que não considera a comunidade e o futuro. Como consequência, do lado da procura, o consumismo e seu correspondente do lado da oferta através dos meios de produção, comprometem e alienam as necessidades das futuras gerações, representando uma estratégia instável e insustentável para a humanidade e para o planeta.
Importa contrariar a lógica das empresas dominantes, incitantes perpétuos da procura do “sempre mais, sempre novo” que, segundo (Sennett, 2006), é a de continuar a criar de produtos efémeros, cujo grau de qualidade é apenas suficiente para maximizar num curto espaço de tempo os resultados financeiros pela comercialização e da multiplicação indefinida das necessidades.
Mas, se por um lado, na sociedade atual do hiperconsumo se procura cada vez mais o conforto psíquico, a harmonia e o crescimento subjetivo, além de se poder usufruir de um rendimento que permita participar plenamente no universo das satisfações proporcionadas pelo mercado, (Lipovestsky, 2007). Por outro lado, a queda dos custos da alta tecnologia, associada a maior produtividade, tem sido forças impulsionadoras da