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OS MOVIMENTOS SOCIAIS E A EMANCIPAÇÃO HUMANA

3. CONTROLE DA POLÍTICA PÚBLICA NO BRASIL: DIFÍCIL EFETIVAÇÃO SOB A HEGEMONIA DO CAPITAL

3.3. OS MOVIMENTOS SOCIAIS E A EMANCIPAÇÃO HUMANA

Ao versar acerca dos movimentos sociais e sua relação com a emancipação humana, é essencial fazer esta correlação conectada com o contexto que os originam: a sociedade capitalista, mas também, se faz preciso refletir sobre as classes sociais e as lutas de classes, inseparáveis dessa discussão, antes de entrar na análise central pretendida.

Sendo assim, Gohn (1999) apresenta algumas teorias clássicas acerca do conceito de classe social, sendo então:

a) Teoria Marxista: Marx diz que as classes se apresentam de diversas formas sob os distintos contextos sociais, mas funda-se em um modo de produção específico. No curso da história as classes se constituem, principalmente, entre os que detêm os meios de produção e os que possuem apenas a força de trabalho. Sendo assim, no modo de produção asiático as classes se constituíam por escravos e patrícios; no modo feudal, entre senhores feudais e servos; e no modo de produção capitalista entre burgueses e proletários.

b) Teoria da ação social de Max Weber: Para weber, a análise concernente às classes está ligada a três elementos: a riqueza, o poder e o prestígio. A constituição de classes está pautada nos que possuem alguns bens e nos que não possuem, ou seja,

referencia-se na riqueza. Para weber, portanto, as classes se distinguem e se formam pelo poder aquisitivo, pelo os que têm mais acesso ao mercado e ao consumo, tendo assim os pobres, os ricos, os de classe baixa, média, alta, etc.

c) Teorias funcionalistas norteamericanas: as classes são concebidas por essa corrente de acordo com a forma de vida das pessoas, enfatizando, principalmente, dois aspectos: o poder de consumo dos sujeitos e o seu comportamento político.

Expostas, sumariamente, as teorias de análise acerca das classes sociais, demarcadas por distintas perspectivas, nos deteremos mais um pouco na teoria marxista, por ser esta a que nos situamos teórico-politicamente. Sendo assim, para Marx, as classes sociais, no modo de produção capitalista, se constituem no âmbito da produção e não do mercado sob a esfera do consumo, não é pela renda que recebem, mas pelo papel que desempenham na esfera produtiva. Essa afirmação centra-se em três aspectos28: o tipo de propriedade; as relações de produção e as formas de enfrentamento.

Ainda na análise sobre as classes, Marx diferencia duas dimensões da constituição de classe: a “classe em si” e a “classe para si”29. A menção a essas dimensões da classe são necessárias para a reflexão da consciência e lutas de classes, elementos constitutivos de um único processo.

A classe em si refere-se ao momento em que os trabalhadores se vêem como classe subalterna, com objetivos comuns e contrários a classe burguesa. Já a classe para si, acontece quando os trabalhadores se conscientizam de sua situação de exploração e se organizam para lutar pela saída dessa realidade. Vale ressaltar que esses dois momentos não são duais, e sim inseparáveis, o que acontece é uma passagem da “classe em si” para a “classe para si”.

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Para conhecer esses três aspectos de forma detalhada ver o capítulo 2 do livro: Estado, Classe e Movimento social, da coleção biblioteca básica do serviço social.

29Para um maior entendimento dessas duas dimensões tem-se:A “classe em si” é constituída pela população cuja

condição social corresponde com determinado lugar e papel no processo produtivo, e que, independentemente de sua consciência e/ou organização para a luta na defesa de seus interesses, caracterize uma unidade de interesses comuns em oposição aos de outras. A classe para si caracteriza outra dimensão possível da constituição e da análise da classe. Conforma uma “classe para si” aquela que, consciente de seus interesses e inimigos, se organiza para a luta na defesa destes. (Duriguetto; Montaño, 2010, p.97)

Sendo assim, a consciência dos sujeitos é determinada pela realidade social, bem como é condicionada historicamente, podendo, assim, desenvolver-se de distintas formas, de acordo com o grau de envolvimento dos sujeitos na realidade em que estão situados. Então, as lutas sociais empreendidas na sociedade dependem do nível de consciência das classes, como diz Duriguetto e Montaño (2010, p.116):

[...] portanto, essas lutas de classe dependem: do nível de “consciência de classe”, da organização dos trabalhadores (particularmente em sindicatos e partidos), da definição das táticas e estratégias de lutas, da correlação de forças sociais, do papel do intelectual (orgânico) e do partido político.

Sendo assim, dependendo da consciência, as lutas de classes, podem desenvolver sob duas direções: a revolucionária e a sindical. A luta revolucionária objetiva a derrubada da sociedade capitalista, de mudanças na estrutura. Já a luta sindical possui um caráter reivindicatório e reformista, buscando melhores condições de trabalho, mas sem mudanças na estrutura dessa sociedade. Vale destacar que uma não exclui a outra, pois a luta sindical pode ser um momento da luta revolucionária.

Essas exposições foram necessárias para se entender a perspectiva classista dos movimentos sociais, pois as lutas sociais por direitos específicos como: luta pela igualdade racial; igualdade de gênero; luta pela terra; luta pela liberdade de orientação sexual, entre outras, derivam da luta de classes e essas lutas pontuais são expressões da questão social, que é gestada pelo conflito capital e trabalho no modo de produção capitalista.

Além disso, de acordo com Gohn (1999) é preciso estabelecer a diferença entre movimento e grupos de interesse, visto como se fossem sinônimos, no entanto, os objetivos de um grupo particular não são suficientes para caracterizá-lo como movimento social, pois necessita-se de vários parâmetros para tanto, além disso, é preciso ter uma trajetória histórica de lutas e reivindicações, como o movimento de mulheres, que lutam, historicamente, pela igualdade de gênero e tantos outros movimentos que poderiam ser aqui citados.

Dessa forma, procederemos apresentando alguns movimentos sociais clássicos que eclodiram no início da Revolução Industrial na Inglaterra e, também, alguns importantes que aconteceram no Brasil.

Um dos primeiros movimentos de organização e luta da classe trabalhadora contra a exploração do capital, foi o conhecido Ludismo, caracterizado pela destruição das máquinas pelos operários, pois as máquinas estavam substituindo a mão-de-obra humana e gerando, assim, o desemprego. Outro movimento dos operários que podemos destacar é o Cartista, considerado como o propriamente da esfera política dos trabalhadores, pois não só reivindicavam direitos trabalhistas, mas também o direito ao voto e a uma carta constitucional que garantisse direitos trabalhistas.

As revoluções de 184830 também representaram a organização dos trabalhadores na luta contra os fundamentos da desigualdade social, ou seja, reivindicavam um projeto societário contrário ao projeto burguês. No entanto, essas lutas revolucionárias foram esmagadas e houve, consequentemente, um retrocesso nos movimento operário.

Somente em 1860 os trabalhadores voltam a organizar-se através da constituição da Associação Internacional dos Trabalhadores. Como diz Tonet (1997) entre os anos de 1789 e 1989, a classe trabalhadora tentou de diversas formas concretizar os ideais de liberdade, igualdade e fraternidade que a burguesia não conseguiu efetivar, dadas suas limitações estruturais. “Desde a Comuna de Paris31, passando pelas revoluções russa, chinesa, cubana, etc, até os nossos dias, todas elas foram sistematicamente derrotadas e isso ajudou a fortalecer a ideia de que aquelas

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O ano de 1848 marca o início do período de decadência da sociabilidade burguesa. Isto porque foi neste ano que a burguesia derrotou um conjunto de tentativas feitas pela classe trabalhadora de vários países europeus, para eliminar, pela raiz, a exploração do homem pelo homem. Sem dúvida esta não foi uma vitória definitiva-mesmo porque isto é algo impossível- do capital sobre o trabalho. Contudo, esta vitória, de grande importância exatamente porque se deu sobre a classe trabalhadora dos países mais desenvolvidos, permitiu a burguesia consolidar plenamente o seu poder econômico e político (TONET, 2007, p.14).

31 Por ter sido um movimento de grande importância histórica, faz-se necessário ressaltá-la, “a Comuna

de paris foi um governo popular organizado pelas massas parisienses em 18 de março de 1871, sendo fortemente marcado por diversas tendências ideológicas, populares e operárias. Tornou-se

posteriormente, uma referência na história dos movimentos populares e revolucionários”. (Disponível em:

aspirações não passavam de um sonho que se esfumou no confronto com a dura realidade” (TONET, 1997, p. 16).

Voltando para a unificação dos trabalhadores através das associações internacionais, tem-se a primeira internacional (1864-1876), formada para reunir os partidos socialistas existentes na época de apoio à classe operária. Foi marcada por divergências internas, por polêmicas quanto à passagem para o socialismo e a socialização ou não da propriedade privada dos meios de produção. Foi extinta em 1876, por alguns motivos como a derrota da Comuna.

A segunda internacional (1889-1914), organizada por Engels, congregava partidos e sindicatos dos trabalhadores de todos os continentes, conservou princípios da primeira. Nesse período, tem-se uma forte organização dos movimentos, crescimento dos partidos dos proletários, ocupação de cargos parlamentares, os quais fizeram com que muitos pensassem que estaria ocorrendo uma mudança gradual na sociedade, ocasionando, assim, uma desvinculação da ideia de revolução para reforma. Essa questão foi alvo de polêmicas entre os representantes dessa associação, como Lênin e Rosa Luxemburgo da esquerda revolucionaria; Bernstein com a perspectiva reformista e Kautsky com o marxismo ortodoxo. Em 1914 a segunda internacional se dissolveu e foi dividida em dois grupos, um que não apostava na ideia da revolução como caminho ao socialismo, e sim nos ideais reformistas, ficando conhecidos como os sociais-democratas, o outro grupo que apoiavam a Revolução Russa e deram origem, em Moscou, a terceira internacional.

Sendo assim a terceira internacional32 (1919-1943), que foi denominada de comunista, nasceu sob a Revolução Russa pelo partido bolchevique, tinha como objetivo a revolução socialista, ou seja, tomar o poder do Estado. Em 1943 a internacional comunista foi dissolvida por Stalin.

Como já dito, anteriormente, no Brasil, desde o período colonial, a sociedade brasileira trava lutas de resistência à exploração e dominação capitalista. Historicamente, têm-se exemplos da organização dos trabalhadores com

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Após a terceira internacional, Trotski dedicou-se a organizar a Quarta internacional, que foi fundada em 1938. após sua morte durante o exílio no México (que é atribuída à politica stalinista); esta internacional sofreu divisões internas, mas permanece até hoje articulada (DURIGUETTO; MONTAÑO, 2010, p.233)

reivindicações específicas, mas todos contra as contradições econômicas e sociais de determinado momento histórico.

Assim, no período colonial, as lutas mais conhecidas foram: Zumbi dos Palmares (1630-95); Revolução Pernambucana (1817); Balaiada (Maranhão, 1830-1841); Inconfidência Mineira (1789); Revolução Praieira (Pernambuco, 1847-49); Canudos (Bahia, 1847-97); Revolta do Vintém (Rio de Janeiro, 1880); Revolta dos Males (Bahia, 1835); Cabanagem (Pará, 1835); Revolta de Ibicaba (Estado de São Paulo, 1851), entre outras.

No início do Brasil republicano, os movimentos sociais empreendidos se davam em protesto às “[...] péssimas condições de vida e trabalho da população, com jornadas de trabalho sem limite, sem descanso semanal remunerado, aposentadoria, férias, salário mínimo, miserabilidade nos locais e condições de moradia dos bairros operários etc” (DURIGUETTO; MONTAÑO, 2010, p. 234).

Assim, surgem as primeiras organizações dos trabalhadores expressas por Associações de Socorro e Auxílio Mútuo (com fins assistenciais) e as ligas ou uniões operárias (organização dos trabalhadores por ramo de atividades). A partir dessas organizações, nascem os sindicatos.

Os sindicatos foram formas dos operários lutarem por melhorias trabalhistas como: melhores salários, férias, regulamentação do trabalho feminino e infantil e redução da jornada de trabalho para 8 horas diárias. Nesse período, os sindicatos se organizavam livremente, diferentemente no período Varguista que cooptou e controlou as entidades sindicais através da oficialização dos sindicatos ao âmbito do Estado. Desta forma criou o Ministério do Trabalho, a Justiça Trabalhista, a CLT (Consolidação das Leis Trabalhistas), o Imposto Sindical Compulsório.

Porém, mesmo o Estado tendo cooptado e oficializado os sindicatos, esses resistiram e mantiveram-se livres. Assim, tem-se a criação em 1934 da Frente Única Sindical (FUS) e em 1935 a formação da Aliança Nacional Libertadora (ANL)33.

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A ANL era uma frente popular anti-imperialista e antifascista que congregava comunistas, socialistas, operários, setores progressistas das classes médias e estudantes. Os sindicatos participaram das manifestações da ANL cujos conteúdos, de modo geral, reivindicavam a luta contra o fascismo, o fim do pagamento da dívida externa, a reforma agrária e a nacionalização das empresas estrangeiras. (DURIGUETTO E MONTAÑO APUD GIANNOTTI, 2010, p. 237)

Contudo, muitos ataques para desmobilização dos sindicatos foram proferidos pelo Estado, mas os trabalhadores não se intimidaram e continuaram com as lutas.

Entre os anos de 1961-64 ocorreram muitas greves no país, a exemplo tem-se a de São Paulo em 1963 desencadeada por 700 mil operários. Nesse período, tem-se a criação das Ligas Camponesas; a legalização dos sindicatos rurais que dão origem a Confederação Nacional dos Trabalhadores Agrícolas (Contag). Com o golpe de 1964 a mobilização e organização dos trabalhadores se cessam, ocorrendo poucos movimentos.

Nos fins da década de 1970 e início da década de 1980, os movimentos sociais se reorganizam, com a criação da CUT (Central Única do Trabalhadores) e do Partido dos Trabalhadores (PT). Sendo assim, a CUT passou a ser referência na luta e organização dos trabalhadores, dissociada do Estado, autônoma, contudo, com a chegada dos ideários neoliberais ao Brasil, configurando transformações sociais, econômicas e políticas que atingem a organização sindical e política dos trabalhadores, ocasiona um deslocamento dos objetivos emancipatórios dos sindicatos para objetivos corporativos, reivindicações pontuais.

Esse contexto social é marcado pelos impactos contra o trabalho, com o desemprego estrutural, subcontratações, desemprego, terceirização, como também, na consciência dos trabalhadores, com o individualismo e a busca por objetivos particulares, o que representa o enfraquecimento das lutas sociais.

Entre os fins de 1970 e início dos anos 1980 surgem os “novos movimentos sociais” como complementos ou como alternativa aos movimentos clássicos expostos anteriormente (DURIGUETTO E MONTAÑO, 2010). Esses novos movimentos têm como característica marcante o conteúdo de suas lutas, pois trazem para a cena política reivindicações como questões de gênero, raça, etnia, religião, saúde, educação, defesa dos direitos da criança e adolescente, que excedem a esfera do mundo do trabalho, confirmando a extensão da reprodução capitalista para as demais dimensões da vida social; “Como sabemos, desde as análises feitas por Marx, o capital é algo que tende a expandir-se constantemente, alargando cada vez mais os seus domínios e subsumindo a si mesmo todo o processo social” (TONET, 1997, p. 12).

Ainda nessa discussão, Duriguetto e Montaño (2010) apud Bihr, apresentam dois limites desses conteúdos das lutas sociais; o primeiro refere-se ao não questionamento das relações sociais capitalistas e das condições objetivas do movimento do capital, no mínimo, apresentaram as condições da realidade social sob o domínio do capital na sociedade.

Outro limite é a especificidade das reivindicações, voltados a interesses particulares de um determinado grupo, sem articulação com os demais movimentos, limitam seus projetos às necessidades pontuais, o que desfavorece sua conexão com o contexto social e político mais amplo, além da luta de classes, essa postura ocasiona uma certa correlação com esse sistema social. A superação dessas propostas particularistas/lutas imediatas estaria na articulação com a luta de classes dos operários, em um projeto de unificação e ação conjunta, para que os novos movimentos sociais, também, se articulem entre si.

Na contemporaneidade, os movimentos sociais encontram muitos desafios para conduzirem seus programas e propostas, para combater e resistir às fortes investidas do capital na degradação da vida humana. De acordo com Duriguetto e Montaño (2010) apud Boron, existem três elementos que obstaculizam a organização dos movimentos: Fragilidade organizativa; imaturidade da consciência política; predomínio do espontaneísmo como modo de intervenção política.

Ainda nessa perspectiva um dos maiores desafios das lutas sociais é a unificação das propostas dos diversos e distintos movimentos sociais, do rompimento do corporativismo para construção de um novo projeto societário, pois é preciso empreender lutas que tenham como perspectiva a contra-hegemonia, e os movimentos são os sujeitos sociais capazes de realizar esta transformação radical, como afirma Netto (2007, p. 84-85):

Mesmo no marco da ordem do capital, é função de amplos movimentos de massa que apontem para a superação desta ordem. Numa palavra: mesmo que não estejam maduras as condições para a transição socialista, é o conjunto de lutas que a tenham como escopo que pode bloquear e reverter a dinâmica que hoje compele o movimento do capital a rumar para a barbárie.

Segundo Moura (2008) na conjuntura atual brasileira são diversos os movimentos que se organizam como os sem tetos (MTST), os desempregados e que,

[...] ao romperem com o corporativismo e o economicismo presentes no movimento sindical e com a lógica dominante nos partidos tradicionais da classe trabalhadora, essas organizações inovam e resgatam as potencialidades e a atualidade do partido de novo tipo, como ferramenta imprescindível para a luta pela construção de uma nova sociedade ( p. 62).

Nessa discussão acerca de uma nova sociabilidade gestada pelos movimentos sociais, faz-se necessária a referência a emancipação humana, ao que seja, de fato, a construção dessa sociedade radicalmente contrária a que vivenciamos atualmente, livre da exploração e da dominação capitalista, como o pensamento de Tonet (1997, p.11) defende:

Esta ideia que poderíamos caracterizar, genericamente, como sendo a aspiração dos homens de escapar do domínio das forças da natureza, pondo-as ao seu serviço e, ao mesmo tempo, eliminar os males sociais tais como a fome, a pobreza, a miséria, as guerras, a escravidão, a exploração e a dominação […]

Na atualidade, tenta-se, a partir da ideologia dominante, formar e internalizar na consciência das pessoas a naturalização dessa ordem societária, a ideia de que uma outra sociedade é um sonho, um desejo impossível e os que defendem esses posicionamentos, os burgueses, argumentam que no curso da história muitas tentativas foram gestadas na busca desta nova sociedade, mas que fracassaram e transformaram-se em perversas ditaduras (LESSA E TONET, 2008).

Pensar em um projeto de superação dessa ordem social, hoje, não é visto por muitos estudiosos como algo possível, bem como é tido como pura perda de tempo e colocam como alternativa a esse projeto a democratização do Estado e do Capital. Nesse sentido, dizem que a razão não tem capacidade para apreender com profundidade a realidade, mas apenas partes da realidade; outro argumento seria que os homens não têm poder sobre o desenvolvimento da história. Diante desses dois

argumentos, o que resta, então, além da acomodação, é melhorar o existente, já que a mudança radical é algo impossível. (TONET, 1997).

Essa última assertiva é o pensamento pulverizado e defendido na atualidade, consubstanciado nos discursos pela democratização, cidadania e participação da sociedade.

No entanto entende-se que a história é construção de homens e mulheres e, sendo assim, como construíram as relações capitalistas, também, poderão dar origem a novas relações sociais, e isso acontecerá de acordo com a dinâmica da sociedade que não é estática, ou seja, se processará com o desenvolvimento da história.

Na sociedade contemporânea, os desafios para a superação deste sistema são grandes em face da dominância capitalista sobre a sociedade. Sendo assim, as pessoas cotidianamente internalizam os princípios dessa sociabilidade que, através da ideologia burguesa, determinam suas consciências e, portanto, como os princípios desse sistema são fortes, as pessoas não conseguem visualizar outra sociedade que não seja a que vivem.

Segundo Mèszáros (2007), em face da atual crise estrutural do capital se faz urgente uma nova ordem societária, porque o capital impõe à sociedade seu direcionamento iníquo, sem a mínima preocupação com a humanidade. Ivo Tonet (2009, p. 01) - que no texto Crise Atual e Alternativa Socialista também reflete acerca dessa questão - afirma:

A crise que a humanidade está vivendo hoje e que se agrava cada vez mais, torna cada dia mais premente a necessidade de discutir alternativas. Não se trata, no entanto, de inventar alternativas, mas de compreender a lógica interna do processo social e de extrair dele possibilidades que sejam reais.

(2010, p. 635), também, coaduna com essa ideia da urgência em construir outra alternativa hegemônica,

Criar um modo de produção e de vida radicalmente distinto do atual é, portanto, um desafio vital. A construção de uma nova vida, dotada de sentido, recoloca, portanto, neste início do século XXI, a necessidade imperiosa de construção de um novo sistema de metabolismo social, de

um novo modo de produção fundado na atividade autodeterminada. Atividade baseada no tempo disponível para produzir valores de uso socialmente necessários, na realização do trabalho socialmente necessário e contra a produção baseada no tempo excedente para a produção exclusiva de valores de troca para a reprodução do capital.