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Controle democrático no capitalismo contemporâneo: limites e contradições

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Academic year: 2017

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS

PROGRAMA DE PÓS – GRADUAÇÃO EM SERVIÇO SOCIAL

NEILA KARLA FERNANDES DA COSTA

CONTROLE DEMOCRÁTICO NO CAPITALISMO CONTEMPORÂNEO: LIMITES E CONTRADIÇÕES

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NEILA KARLA FERNANDES DA COSTA

CONTROLE DEMOCRÁTICO NO CAPITALISMO CONTEMPORÂNEO: LIMITES E CONTRADIÇÕES

Dissertação apresentada à banca examinadora do Programa de Pós-graduação em Serviço Social do Centro de Ciências Sociais Aplicadas como requisito parcial para obtenção do grau de Mestre em Serviço Social da Universidade Federal do Rio Grande do Norte.

Área de concentração: Serviço Social, formação profissional, trabalho e proteção social

Linha de pesquisa: Serviço Social, trabalho, proteção social e cidadania.

Orientadora: Drª Silvana Mara de Morais dos Santos

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Catalogação da Publicação na Fonte. UFRN / Biblioteca Setorial do CCSA Costa, Neila Karla Fernandes da.

Controle democrático no capitalismo contemporâneo: limites e contradições / Neila Karla Fernandes da Costa. - Natal, RN, 2011.

147 f.

Orientadora: Drª. Silvana Mara de Morais dos Santos.

Dissertação (Mestrado em Serviço social) - Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Centro de Ciências Sociais Aplicadas. Programa de Pós-graduação em Serviço social.

1. Serviço social - Dissertação. 2. Crise do capital – Dissertação. 3. Crise econômica - Capitalismo - Dissertação. 4. Controle democrático 5. Conselhos de direitos – Dissertação. I. Santos, Silvana Mara de Morais dos. II. Universidade Federal do Rio Grande do Norte. III. Título.

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Agradecimentos

È comum à toda finalização de uma trajetória tecer reconhecimentos àquelas pessoas que direta ou indiretamente colaboraram para que este trabalho atingisse aos objetivos propostos.

Primeiramente quero agradecer ao ser onipotente e onipresente, Deus, “por tudo o que tens feito e por tudo o que vais fazer, eu o agradeço com todo meu ser...”, mesmo não sendo merecedora, em nenhum momento desta caminhada me esqueceu. Obrigada Senhor pelo teu cuidar!

Nossa!!!! agora agradeço aos meus amados pais, as pessoas que mais amo nesta vida, por toda dedicação, preocupação e orientação a mim prestados. Desculpa pela ausência quase constante durante esse processo. Obrigada pelos conselhos, conversas, esforço, apoio, enfim, por tudo o que fizeram sempre pensando na concretização de mais essa conquista.

À minha família que sempre torceram e torcem pelo meu crescimento e me encorajam a trilhar novos caminhos.

À minha orientadora Silvana Mara, minha referência, minha orientadora desde a graduação, meu muito obrigada, pelas brilhantes e preciosas orientações, pela amizade, pelo carinho ao me ouvir com as minhas incertezas e dúvidas, além de assuntos extras esse processo, enfim, por tudo de maravilhoso que representa pra mim.

À minha amiga mais que especial Lígia Mychelle, pela presença constante em minha vida e principalmente neste processo, pelos estímulos, apoio e pela excelente revisão do texto, divido, também, com você mais essa conquista.

À Lívia e Kely, também, grandes amigas e companheiras, pessoas importantes em minha vida, muito obrigada pela amizade de vocês.

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Às minhas amigas da turma do mestrado, Brenda, Cristina Otoch, Cristina Pereira, Laudilene, Leidilane, Meirice, Marwyla, Marilac, Sônia, Valmara, e em especial a Manuela Medeiros, pelas conversas presenciais e via MSN, pelas palavras de apoio nos momentos de angústias.

Às amigas Leidiane e Fátima, grandes companheiras acadêmicas, não poderia esquecê-las, obrigada!

À professora Andrea, excelente pessoa e profissional, pelo apoio e pelas leituras do texto, por suas reflexões substanciais, você foi essencial neste processo.

À Marcelo Sitcovsky, pelas dicas preciosas na banca de qualificação.

À Ilena Barros pela amizade e empréstimo do material para a pesquisa, sem os quais não seria possível a concretização deste trabalho.

À Lucinha da Pós, pelo esclarecimento das dúvidas neste processo do mestrado, pela resolução dos problemas, pela pessoa maravilhosa e que estava sempre atenta a tirar minha dúvidas.

Às amigas do MEIOS por acreditarem em mim e pelo constante incentivo, através das palavras e pela compreensão da minha ausência algumas vezes no trabalho pra me dedicar à esse trabalho, obrigada a todas!!!

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RESUMO

O presente estudo analisa as determinações da crise estrutural do capital no controle democrático efetivado nos conselhos de direitos e políticas. Assim, a pesquisa teve como objetivo geral apreender e analisar as determinações estruturais e conjunturais que incidem em mudanças no controle democrático instituído pela Constituição Federal de 1988. Os objetivos específicos voltaram-se para: (1) identificar e analisar os fundamentos teórico-políticos do controle democrático nas produções do serviço social no ENPESS 2010, nas produções do CFESS e na revista serviço social e sociedade; (2) apreender e analisar as possibilidades, os limites, as contradições e a direção social do controle democrático na contemporaneidade e (3) Identificar e analisar as principais forças políticas que se constituem apoio e oposição ao exercício do controle democrático. Para aproximação aos objetivos pretendidos o caminho teórico-metodológico percorrido fundamentou-se numa perspectiva de totalidade que possibilita a apreensão do objeto de estudo em suas dimensões contraditórias de universalidade, particularidade e singularidade. Os resultados possibilitaram desenvolver análise crítica das produções teóricas do serviço social brasileiro sobre a temática, tendo como recorte os estudos das revistas serviço social e sociedade; trabalhos do ENPESS 2010 e o posicionamento do CFESS. Constatou-se, assim, na análise empreendida, que os espaços de controle democrático sofrem inflexões do capital,que moldam suas práticas e direção social. Nas produções teóricas escolhidas, identificou-se a prevalência do controle democrático estudado sob uma perspectiva endógena aos canais participativos, com conexões incipientes às determinações estruturais/conjunturais de um período histórico de crise e busca de restauração da hegemonia pelo capital. O posicionamento do CFESS tende ao reconhecimento do controle democrático em sua dinâmica contraditória reconhecendo os limites impostos pela sociabilidade do capital no tempo presente.

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ABSTRACT

This study examines the determinations of the structural crisis of capital in the democratic control effected on the councils of rights and policies. Therefore the research aimed to apprehend and analyze the conjunctural and structural determinations and cyclical changes that incide on democratic control established by the Federal Constitution of 1988. The specific objectives turned to: (1) identify and analyze the theoretical and political fundamentals of democratic control in the production of social service in ENPESS 2010, in the productions of CFESS and the journal social services and society, (2) apprehend and analyze the possibilities, limits, contradictions and social direction of democratic control in contemporaneity and (3) identify and analyze the major political forces that constitute support and opposition to the exercise of democratic control. To approximate to the intended objectives the way theoretical and methodological covered was based in a perspective of totality that allows the apprehension of the object of study in their contradictory dimensions of universality, particularity and singularity. The results enabled to develop critical analysis of theoretical production of the Brazilian social service on the subject, having as snip studies of the journals social service and society; works of ENPESS 2010 and CFESS positioning. It was found, so in analysis undertaken, the spaces of democratic control suffer inflections of capital that shape their practices and social direction. In theoretical productions chosen, identified the prevalence of democratic control studied under an endogenous perspective to participatory canals, with incipient connections to the structural/conjunctural determinations of a historical period of crisis and seeks to restore the hegemony of capital. The positioning of the CFESS tends to recognition of democratic control in its contradictory dynamics recognizing the limits imposed by the sociability of the capital at the present time.

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LISTA DE QUADROS

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LISTA DE SIGLAS

ANL- Aliança Nacional Libertadora

BID- Banco Interamericano de Desenvolvimento

BIRD- Banco Internacional para Reconstrução e Desenvolvimento

BM- Banco Mundial

BNH- Banco Nacional de Habitação

CFESS- Conselho Federal de Serviço Social

CGT- Comando Geral dos Trabalhadores

CLT- Consolidação das Leis Trabalhistas

COFINS - Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social

CONTAG - Confederação Nacional dos Trabalhadores Agrícolas

CPMF - Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira

CRESS- Conselho Regional de Serviço Social

CSLL - Contribuição Social Sobre o Lucro Líquido

CSN - Companhia Siderúrgica Nacional

CUT – Central Única dos Trabalhadores

DRU - Desvinculação das Receitas da União

ENPESS- Encontro Nacional de Pesquisadores em Serviço Social

EUA- Estados Unidos da América

FEBRABAN - Federação Brasileira de Bancos

FGTS- Fundo de Garantia por Tempo de Serviço

FHC- Fernando Henrique Cardoso

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FIESP - Federação das Indústrias do Estado de São Paulo

FMI- Fundo Monetário Internacional

FUS- Frente Única Sindical

INPS- Instituto Nacional de Previdência Social

IOF - Imposto sobre Operações Financeiras

LDO - Lei de Diretrizes Orçamentárias

LOA- Lei Orçamentaria Anual

LOAS- Lei Orgânica da Assistência Social

MARE - Ministério da Administração e pela Reforma do Estado

MP- Ministério Público

MST – Movimento dos Sem-Terra

MTST- Movimento dos trabalhadores sem-teto

OIT - Organização Internacional do Trabalho

OMC – Organização Mundial do Comércio

ONG- Organização Não-Governamental

PAC - Programa de Aceleração de Crescimento

PDRE- Plano Diretor da Reforma do Estado

PIB- Produto Interno Bruto

PPA - Plano Plurianual

PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira

PT – Partido dos Trabalhadores

SINPAS - Sistema Nacional de Previdência e Assistência Social

SUS - Sistema Único de Saúde

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO---15 2 CRISE DO CAPITALISMO CONTEMPORÂNEO E SEUS REBATIMENTOS NO CONTROLE DEMOCRÁTICO BRASILEIRO---21 2.1 1980: A DÉCADA QUE NÃO FOI PERDIDA: UM BALANÇO DE 22 ANOS DA CONSTITUIÇÃO “CIDADÔ---22 2.2 DESDOBRAMENTOS ACERCA DA CRISE DO CAPITAL PÓS-70---29 2.3 A RELAÇÃO ENTRE ESTADO E SOCIEDADE CIVIL E O ENFRENTAMENTO À QUESTÃO SOCIAL NO BRASIL---42 2.4 ORÇAMENTO PÚBLICO E CONTROLE DEMOCRÁTICO NA REALIDADE BRASILEIRA---54

3 CONTROLE DA POLÍTICA PÚBLICA NO BRASIL: DIFÍCIL EFETIVAÇÃO SOB A HEGEMONIA DO CAPITAL ---62 3.1 CONTROLE DEMOCRÁTICO E A PARTICIPAÇÃO POPULAR---63 3.2- O ESTADO BRASILEIRO E O REORDENAMENTO DAS POLÍTICAS SOCIAIS SOB O NEOLIBERALISMO---76 3.3- OS MOVIMENTOS SOCIAIS E A EMANCIPAÇÃO HUMANA---88

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1 INTRODUÇÃO

A Utopia está lá no horizonte. Me aproximo dois passos, ela se afasta dois passos. Caminho dez passos e o horizonte corre dez passos. Por mais que eu caminhe, jamais alcançarei. Para que serve a utopia? Serve para isso: para que eu não deixe de caminhar.

(Eduardo Galeano)

O controle democrático foi uma importante conquista da classe trabalhadora na década de 1980, inscrito na Carta Constitucional do país como uma inovação na gestão das políticas sociais. Foi proposto em um contexto de luta contra a ditadura e retomada do Estado democrático de direito e implementado na década de 1990.

Contudo, essa conquista já foi alicerçada com limites em face do cenário adverso e regressivo da época, caracterizado pela crise mundial do capital e as orientações neoliberais, as quais se contrapõem aos avanços democráticos e a agenda de direitos expressos na Constituição Federal de 1988.

Na contemporaneidade esse projeto neoliberal vem destruindo direitos conquistados historicamente pela luta coletiva dos trabalhadores, em nome da busca incessante de lucros, traduzindo-se em desmonte dos sistemas de proteção social e, especificamente, dos canais de controle democrático.

Os limites e as contradições envoltos dessa temática sinalizam essa realidade que vem imperando em todos os âmbitos da vida social. Sabe-se que a proposta do controle democrático via espaços institucionalizados como os conselhos de direitos e políticas, foi fruto de um conjunto de mobilizações políticas na luta por partilha de poder entre Estado e sociedade, mas que diante das determinações macrosocietárias sofrem profundos impasses para efetivar-se.

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Os conselhos de direitos inflexionados pela ofensiva do capital não se efetivaram como foi proposto pelos movimentos sociais e legalizados constitucionalmente, apresentam limites cruciais que desafiam cotidianamente os sujeitos no entorno desses espaços a exercer o controle democrático.

Nesse contexto, alguns autores como Bravo (2006), Campos (2006), Raichelis (1998), Correia (2002), apresentam os limites intrínsecos aos conselhos de direitos, contudo, tais análises carecem de aprofundamento em relação as determinações societárias e de modo particular sobre a crise do capital, a qual é entendida como indissociável nas análises dos processos sociais, pois é a partir do movimento de reação a sua própria crise em que o capital se empenha para restaurar sua hegemonia que é possível apreender com densidade histórica os limites e as possibilidades concernentes ao controle democrático.

É diante disso que faz-se necessário analisar a experiência conselhista de controle democrático no contexto de crise estrutural do capital, a qual é caracterizada como permanente e destrutiva (Mészáros, 2009) e incide diretamente nos espaços democratizantes, cooptando-os e formatando-os sob os seus moldes de interesse.

A escolha dessa temática teve como objetivo dar continuidade aos estudos iniciados no curso de graduação em serviço social, visto que o objeto de estudo do nosso trabalho de conclusão de curso foi a análise quanto as possibilidades do controle social na implementação da agenda 21 no município de Maxaranguape do Rio Grande do Norte1

A vivência no fórum da agenda 21, nos permitiu não só verificar, como também, nos aproximar dos limites que os espaços de representação política possuem no exercício da democratização e, diante disso, nos instigou a estudar de forma aprofundada e crítica os determinantes que ocasionam essa realidade, já que em face do próprio caráter do trabalho de conclusão de curso (TCC) e do tempo, não foi possível fazê-lo.

1Monografia apresentada ao Departamento de Serviço Social da UFRN como requisito para obtenção do

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Para estudar os fundamentos e as determinações estruturais e conjunturais do controle social democrático, pensávamos, inicialmente, em estudá-lo com um “recorte” no conselho estadual de assistência social do Rio Grande do Norte, contudo refletimos e vimos que sob este formato de pesquisa, alguns trabalhos importantes como o de Raichelis (1998) já haviam sido realizados, e que, portanto, não iríamos contribuir e acrescentar significativamente com o debate do controle democrático.

Diante disso, decidimos por uma análise crítica do debate teórico brasileiro acerca do controle democrático nos conselhos de direitos e políticas, identificando como vem sendo tratada teoricamente essa temática na produção acadêmica do serviço social. Para a investigação, escolhemos os anais do Encontro Nacional de Pesquisadores em Serviço Social (ENPESS) 2010, as revistas serviço social e sociedade que apresentam artigos sobre a temática e o posicionamento do CFESS, por serem estes canais importantes difusores da produção intelectual dos assistentes sociais.

A escolha por essa tipologia de pesquisa se deu por entender que é preciso ampliar o debate do controle democrático, sair da visão endógena aos conselhos, circunscritos à relação Estado-sociedade, na busca de estratégias de, apenas, fortalece-lo, sem desvelar a estrutura da sociedade em que estão assentados e quais suas possibilidades reais de efetivação.

Ainda sobre isso, ao nos aproximarmos com os estudos acerca do controle democrático, constatamos grande parte das produções teóricas distantes de uma perspectiva crítica, geralmente estavam circunscritas a uma política setorial e voltadas a estudar os problemas inerentes a essa determinada política, sob uma visão fechada e isolada, como se os limites de uma, também, não perpassassem as demais, embora, saibamos que existam particularidades, mas estão todas imersas e determinadas pelo sistema do capital.

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Para aproximações aos objetivos da pesquisa tivemos como perspectiva teórico-metodológica uma abordagem de totalidade que possibilita a apreensão do objeto de estudo em suas dimensões contraditórias de universalidade, particularidade e singularidade.

Em síntese, isso significa que o objeto de estudo se explica na relação com a totalidade da vida social, através de um processo de investigação científica para buscar as contradições, a gênese, a função social e as particularidades da realidade do fenômeno estudado.

Essa perspectiva teórico-metodológica é aqui entendida como o modo de pensar as contradições da realidade social e de compreendê-las como essencialmente contraditórias e em permanente transformação. Assim, o objetivo de estudar um fenômeno através do tempo é revelar a particularidade histórica de sua aparência e verificar como se dá esse processo, procurando chegar, assim, na essência, saindo da superficialidade dos fenômenos, pois todo objeto deve ser apreendido como momento de um processo histórico.

Uma vez identificadas às múltiplas determinações acerca do controle democrático, caminha-se para o processo de exposição, que consiste na capacidade de apreender o real já sob suas múltiplas determinações, articulando-as e delimitando-as para se chegar à constituição ontológica do real, ao conjunto de relações contraditórias que determinam os limites do controle democrático nessa sociabilidade capitalista.

A escolha da perspectiva de totalidade justifica-se por entender ser esta a que mais se aproxima para a apreensão da dinâmica do objeto pesquisado, para entendê-lo em sua historicidade, contradições e em conexão com as determinações gerais.

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Pretendemos com esta pesquisa contribuir com a ampliação do debate do serviço social acerca do controle democrático brasileiro sob uma perspectiva crítica de desvelar os determinantes reais que travam sua efetivação na sociedade do capital, bem como contribuir para a “revolução comunista” - na luta por uma nova sociedade, livre da exploração, opressão e dominação capitalista.

Esperamos, também, contribuir com os assistentes sociais e demais sujeitos coletivos que compõem os conselhos institucionais, a se munirem de uma produção que os levem a pensar criticamente o controle democrático exercido nos espaços participativos, para assim se contrapor aos ditames da hegemonia do capital em sua versão neoliberal e/ou em outras formas de consolidar seu domínio.

Por fim, visando atender nossos objetivos e para efeito de exposição do objeto de estudo, o trabalho foi estruturado em três capítulos e uma parte conclusiva, além dessa introdução:

No segundo capítulo: Crise do capitalismo contemporâneo e seus rebatimentos no controle democrático brasileiro. Nessa seção fizemos uma análise iniciando pela crise do capitalismo contemporâneo após a década de 1970 e suas implicações na vida social, que redireciona a relação entre Estado e sociedade, bem como o enfrentamento à questão social. Abordamos ainda, a (re) organização política dos trabalhadores no contexto da década de 1980 e o orçamento público como um importante instrumento na efetivação do controle democrático.

No terceiro capítulo: Controle da política pública no Brasil: difícil efetivação sob a hegemonia do capital, fizemos reflexões acerca da participação da sociedade no controle das políticas sociais, apontando elementos que limitam sua efetivação plena. Abordamos ainda, as configurações sócio-históricas assumidas pelo Estado brasileiro, e mais, especificamente, a partir da década de 1990, com o neoliberalismo e as implicações deste nas políticas sociais. Por fim, empreendemos uma reflexão acerca dos movimentos sociais organizarem-se para lutas, as quais ultrapassem o horizonte da emancipação política e tenham, também, como orientação a busca, mesmo que a longo prazo, pela emancipação humana.

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democrático nas produções teóricas do serviço social, desenvolvidas nas revistas serviço social e sociedade, no ENPESS 2010 e no CFESS.

Assim, apreendemos os entraves, as contradições e a direção social da prática conselhista de controle democrático nesta conjuntura de crise estrutural do capital, como também, identificamos como essa temática vem sendo trabalhada pelos estudiosos desde a sua proposição na década de 1980 até os dias atuais, e o que estão priorizando em suas reflexões.

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2. CRISE DO CAPITALISMO CONTEMPORÂNEO E SEUS REBATIMENTOS NO CONTROLE DEMOCRÁTICO BRASILEIRO

No presente capítulo far-se-á uma abordagem acerca das principais mudanças societárias ocorridas no Brasil no período pós-ditadura militar, considerando as graves consequências em face da dinâmica desse governo em sua forma de atuação autoritária e antidemocrática como essencial para a compreensão da situação dos movimentos sociais nesse período.

Uma análise de 1980 é realizada sob a perspectiva de que não foi uma “década perdida”, como muitos economistas brasileiros assinalaram considerando a estagnação econômica e a inflação descontrolada vigentes nesta década. Trata-se de um período histórico contraditório, pois, apesar das perdas na economia, é também, desse período o ressurgimento dos movimentos sociais, a construção da Constituição Federal com um conjunto de direitos sociais, políticos, civis e culturais.

Outra questão aqui trabalhada refere-se à reconfiguração do papel do Estado mediante a ascensão do neoliberalismo e a minimização de sua intervenção no âmbito social com a consequente transferência de responsabilidade para o chamado “Terceiro Setor”. Isso remete a nova relação entre o Estado e a Sociedade, pautada no discurso da solidariedade, responsabilidade social e voluntariado. Diante disso, entende-se que essa nova relação faz parte da estratégia do capital de superação de sua crise, no intuito de restaurar sua hegemonia e do ponto de vista ideológico de manter uma relação harmoniosa entre Estado e sociedade, sobressaindo-se a concepção de sociedade civil esvaziada dos interessesde classes e dos diversos projetos societários.

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2.1. 1980: A DÉCADA QUE NÃO FOI PERDIDA: UM BALANÇO DE 22 ANOS DA CONSTITUIÇÃO “CIDADÔ

O Estado que se estrutura após o golpe militar, em 1964, reflete o monopólio político- econômico e cultural da classe burguesa, reitera o padrão tradicional da sociedade brasileira no que diz respeito à heteronomia e à desigualdade social2, e reconfigura seu papel em não somente garantir a ordem do sistema capitalista, mas também promove condições para sua acumulação e reprodução em tempos de crise estrutural do capital.

É importante acentuar que o regime político do governo ditatorial determinava um caráter antidemocrático, acrescido da supressão de um conjunto de direitos e da privação aos diferentes sujeitos coletivos do direito político de organização e mobilização em busca de implementação de políticas democráticas e populares em todas as dimensões da vida social.

Este cenário perpetuou-se até o início da década de 1970, associado a um avanço econômico, que teve seu declínio a partir, sobretudo, do ano de 1974, por várias questões, como a dependência ao capital estrangeiro e a reconfiguração do capitalismo mundial, o que acarretou num processo de crise da ditadura, dando lugar ao processo de reabertura política.

Foi, portanto, nessa conjuntura de crise do regime autoritário e de redefinições no âmbito político, que os setores populares organizaram-se num forte movimento social, em que a participação política proporcionou visibilidade social às propostas de ampliação de direitos.

[…] podemos afirmar que, no Brasil, a década de 80 representou uma derrota para os trabalhadores no campo econômico mas, certamente, o mesmo não ocorreu no campo da ação política organizada das classes subalternas. Os trabalhadores ampliaram, significativamente, sua organização com a formação do novo sindicalismo político, com a criação da CUT, com a construção do PT e com um amplo leque de movimentos reivindicatórios [...] (MOTA, 2008, p.104)

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Dentre tantos acontecimentos podem-se destacar as manifestações e as greves dos operários, no ano de 1978 e 1979, em São Paulo, que ficaram conhecidas como o “Novo Sindicalismo”, como também a “Campanha das Diretas Já”, a qual suscitou uma discussão na Constituinte sobre a necessidade de estabelecer nova relação entre Estado e sociedade.

O “novo sindicalismo” se tornou segundo Alves (2000 p. 112) […] “a “ponta de lança” da resistência operária à superexploração da força de trabalho, um dos pilares do padrão de acumulação capitalista, instaurado pelo “bonapartismo” militar a partir de 1964”. Nesse sentido, na luta contra a exploração capitalista, desenvolveram-se duas tendências no movimento sindical: os sindicalistas autênticos e os sindicalistas reformistas.

Os sindicalistas autênticos possuíam como principal característica uma visão classista, ou seja, tinham consciência da oposição existente entre patrão e trabalhadores. Lutavam por mudanças no formato dos sindicatos, estes deveriam ser “independente, de classe, de base e democrático”, além de denunciar a exploração capitalista em que estavam submetidos. Estes sindicalistas, também, defendiam que as lutas sindicais deveriam ter como objetivo maior a construção do socialismo.

Já os sindicalistas reformistas pensavam em mudanças mínimas na estrutura dos sindicatos e ademais na sociedade, bem como empreendiam as reivindicações dos trabalhadores pautados nas legislações vigentes. Possuíam um caráter passivo e conciliador, ou seja, “defendiam a política de conciliação entre as classes predominantes no sindicalismo vigente para se chegar a um pacto social” (DURIGUETTO; MONTAÑO, 2010, p. 242).

Assim, a década de 1980 foi marcada pelo ressurgimento do movimento sindical, pautado nas greves e mobilizações de distintos segmentos dos trabalhadores (metalúrgicos, rurais, funcionários públicos, outros); aumento do número dos sindicatos, além do nível de sindicalização dos operários; greves nacionais lutando contra elementos macrossociais como a política econômica dos governos (idem, 2010).

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políticas e ideológicas que caracterizam os embates entre as classes antagônicas.” (MOTA, 2008, P. 151).

Ainda nessa década, tem-se o processo de elaboração da Constituição Federal de 1988, que foi atravessado pelos movimentos sociais e sindicais reivindicando para que a Carta Magna garantisse todos os direitos que haviam sido suprimidos durante o regime militar.

A despeito dos conflitos, das diferenças e oposições que permeavam esse processo, a pressão popular conseguiu com que a Constituição Federal priorizasse o social, assim “ela não é nem uma constituição de esquerda, nem uma constituição socialista, como afirmou o deputado do partido dos trabalhadores. Mas é uma constituição que avançou muito na garantia de direitos sociais aos cidadãos brasileiros, como revela o significado dos princípios aprovados” (BOSCHETTI, 2006, p.176).

A Constituição de 1988 trouxe, como maior inovação democrática, um novo arranjo federativo para o país, novos conceitos, espaços e estratégias, cujo vetor aponta para a descentralização político-administrativa caracterizada na redefinição de competência e estabelecimento da gestão democrática, na perspectiva de uma nova forma de operacionalizar políticas sociais nas diferentes áreas.

A Constituição de 1988 foi elaborada através de uma Assembleia Constituinte composta por oito comissões temáticas em que cada uma se subdividia em três subcomissões, existindo, ainda, uma nona comissão, a de sistematização. Assim, as subcomissões elaboraram e depois aprovaram os artigos constitucionais, estes foram repassados para as comissões que os reorganizaram por temáticas de acordo com os capítulos da Constituição. Em sequência, após aprovação pelos parlamentares, os projetos de cada comissão são enviados para a comissão de sistematização que organiza-os em títulos e elabora, assim, um projeto inicial da carta máxima. Esse projeto foi levado ao plenário da assembleia constituinte, em que foi discutido, debatido, alterado pelas emendas parlamentares e, finalmente, votado e aprovado em 05 de outubro de 1988 (BOSCHETTI, 2006)3.

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Durante todo esse processo, a sociedade esteve presente por meio de entidades representativas de esquerda e de direita, assim, estavam nos debates realizados pelas subcomissões, discutindo e defendendo seus objetivos de acordo com as temáticas de cada subcomissão em que faziam parte.

A criação da Constituição foi permeada por conflitos e forças opostas, posições divergentes; assim, além dos movimentos dos trabalhadores, se fez presente a organização das forças políticas mais conservadoras, contrárias ao avanço social, incorporadas ao embrionário texto constitucional.

A década de 1980 registrou diversos fatos relevantes à história, de resistência política no país, sobressaindo-se o término da ditadura militar que alimentou ideias quanto à necessidade histórica de um regime justo, em que todos iriam ser igualmente tratados, no entanto, a redemocratização não foi o que se esperava.

A organização dos segmentos democráticos e populares em torno da defesa de direitos possibilitou importantes avanços durante o final dos anos 1980, mas, na década de 1990, a política neoliberal causa dificuldades significativas, ou seja, impõe obstáculos reais no processo de democratização da sociedade brasileira.

Esse período de redemocratização coincide em nível mundial com a crise do capital (ANTUNES, 1999), sendo o cenário político-econômico mundial permeado pelo ideário neoliberal que chegava ao Brasil, trazendo uma contradição em relação ao avanço democrático, pois o modelo social de acumulação neoliberal acarreta desmonte dos direitos sociais e da concepção de cidadania4, como também favorece a

mercantilização dos serviços públicos e a retração do Estado no enfrentamento da Questão Social.

A Carta Magna do país já foi alicerçada com limites, uma vez que, apesar do avanço em adotar o conceito de seguridade social relacionado à saúde, assistência social e previdência, restringiu-se a essas três políticas sociais, deixando fora muitas outras de grande relevância, como Trabalho, Habitação, Infância e Juventude. “Contudo se do ponto de vista das regras estabelecidas, as mudanças imprimidas na constituição

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de 1988 equiparam o Brasil aos sistemas securitários das sociedades desenvolvidas, o mesmo não se pode dizer quanto as condições objetivas para implementá-las” (MOTA, 2008, p. 142)

Portanto, sabe-se que existe uma distância entre a formalização de direitos e sua efetiva realização, uma vez que esse processo é condicionado pelo contexto macrossocial e não está submisso aos preceitos legais, mas aos embates entre as classes, assim:

[…] a despeito do texto da Constituição de 1988 conter princípios que garantam a universalização da seguridade social, observamos que a emergência de novos processos políticos, ao lado do agravamento da crise econômica, gera um movimento, por parte do grande capital e da burocracia estatal, que procura negar aquelas conquistas obtidas, sob a alegação da necessidade de adequação do modelo de seguridade social às atuais reformas econômicas do país (MOTA, 2008, p. 146).

Desse modo, a Constituição de 1988 foi gerada num momento sócio-político adverso aos seus princípios, pois o Governo Federal, neste período, aprofundou o projeto neoliberal no país, que ocasionou “[…] o agravamento da situação econômica e social do país, marcada pela recessão econômica, desemprego, inflação, dívidas interna e externa, o que determinou o surgimento de novas formas de expressão da questão social no Brasil” (MOTA, 2008, p.150)

Na década de 1990 essas questões se ampliam e incide na ação política dos movimentos sociais e sindical, reduzindo seu poder de pressão e combate, que possuíam na década de 1980. Muda-se a pauta das reivindicações dos trabalhadores, a luta é para manter o emprego e não por melhores condições de trabalho, os movimentos sociais populares se desarticulam. Essa desarticulação ocorreu devido a um complexo de determinações, dentre as quais, a conquista de um conjunto de direitos escritos na Constituição Federal, que precisavam ser regulamentados e assim teve a atenção das lutas sociais voltadas para isto, como também, para democratizar os espaços públicosestatais (GOHN, 2008).

Na segunda metade dos anos de 1990, no governo de Fernando Henrique Cardoso – FHC (1995-1998 e 1999-2002), os movimentos sociais alteraram ainda mais

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sua dinâmica de atuação, fortalecendo novas questões que tinham sido incorporadas desde os anos de 1980, dentre outras, gênero, etnia, raça, orientação sexual. Além das transformações sociais e econômicas que, também, contribuíram para a população não ter ânimo em participar dos movimentos, o capital desenvolve estratégias que desestruturam a organização sindical.

O objetivo gestado nessa época é para que os trabalhadores se voltem, apenas, para lutas localizadas e particulares, o que implica na desqualificação da ação política-organizativa, assim, segundo Mota (2008, p. 191),

[…] a partir de 1989, há paulatinamente um deslocamento de natureza ideológica na ofensiva do capital e na posição dos trabalhadores que passam a privilegiar a conjuntura da crise econômica, em detrimento do embate em torno de projetos societais. Aí reside, objetivamente, o campo da formação da cultura política da crise que, sob a direção da burguesia, pode desqualificar as demandas dos trabalhadores como exigências de classe, imprimindo-lhes uma natureza genérica e indiferenciada.

Portanto, esse deslocamento traz consequências para os trabalhadores, uma vez que redirecionam suas lutas para as demandas pontuais, imediatas, bem como reduzem seus objetivos para conservar as conquistas adquiridas historicamente, ou as colocadas pela conjuntural atual.

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Disso resulta-se uma queda no número de greves e, também, da quantidade de

trabalhadores filiados aos sindicatos; moderação nas lutas, norteando a ação dos sindicatos numa postura defensiva, ao contrário da combativa que se tinha na década de 1980. Assim, na década de 1990, as lutas sindicais, como já foi dito, sofrem transformações em sua atuação e seu posicionamento diante das mudanças processadas pela crise estrutural capitalista5, sob uma subsunção frente ao governo e ao empresariado, sem contrapropostas que afirmem as demandas e reivindicações da classe trabalhadora.

Contudo, Ramos e Santos (2008, p.49) argumentam que “[...] se a defesa pela afirmação do projeto da classe trabalhadora ceder lugar à acomodação diante do que aí está posto, ficará mais suscetível a incorporação do ideário burguês (do possibilismo). Aí então será impossível conquistar os sentidos para vida do trabalho”.

Essa realidade dos movimentos sociais e sindicais no governo de Luiz Inácio Lula da Silva (2003-2006 e 2007-2010) não só teve continuidade como se acentuou, pois:

A adoção pelo governo petista de uma política macroeconômica abertamente neoliberal- e a cooptação para esta política de importantes movimentos sociais, ou, pelo menos, a neutralização da maioria deles- desarmou as resistências ao modelo liberal-corporativo e abriu assim caminho para uma maior e mais estável consolidação da hegemonia neoliberal entre nós. Estamos assistindo a uma aberta manifestação de uma das características mais significativas dos processos de “revolução passiva”, àquilo que Gramsci chamou de “transformismo”, ou seja, a cooptação pelo bloco no poder das principais lideranças da oposição. (COUTINHO, 2008, p. 141-142)

Nessa conjuntura, o movimento dos trabalhadores vivencia muitos desafios para se opor ao neoliberalismo e representar os interesses do trabalho, da classe trabalhadora, tais como:

[...] romper a barreira social que separa os trabalhadores “estáveis” dos trabalhadores precarizados; reconhecer o direito de auto-organização das mulheres trabalhadoras; romper com todas as formas de neocorporativismo; romper com a tendência crescente de

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institucionalização e burocratização que tem marcado o movimento sindical; reverter a tendência de reduzir os sindicatos ao âmbito exclusivamente fabril, ao chamado sindicalismo de empresa; implementar a horizontalização, incorporando o vasto conjunto que compreende a classe trabalhadora hoje e resgatar o sentido de pertencimento de classe. (RAMOS; SANTOS, 2008, p. 51)

Sendo assim, os movimentos dos trabalhadores precisam encontrar estratégias que façam frente a essa realidade social, “reinventar novas formas de atuação autônomas capazes de articular e dar centralidade às ações de classe” (RAMOS; SANTOS, 2008, p. 51). Ainda nesse sentido, é preciso “[…] construir os meios e os caminhos pelos quais o aprofundamento da democracia nos conduza não apenas a um novo modelo de Estado, mas também a uma sociedade de novo tipo, à sociedade socialista […]” (COUTINHO, 2008, p. 146).

2.2. DESDOBRAMENTOS ACERCA DA CRISE DO CAPITAL PÓS-70

O capital sempre existiu ao longo do desenvolvimento humano, em todos os modos de produção (asiático, feudal, escravista), com elementos como o capital monetário e mercantil, produção de mercadorias. Mas foi nos moldes da produção capitalista que o capital conseguiu se afirmar como um sistema forte e dominante em todos os aspectos da vida societária. (MÉSZÁROS, 2007).

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O descompasso entre produção e realização da mais-valia propicia os ciclos longos de estagnação e expansão do capital. Dentro de um ciclo sucedem alguns momentos: após uma fase de expansão e crescimento, dá-se a superacumulação que resulta, então, em crise (BEHRING, 2007).

Até meados dos anos de 1970, tem-se uma expansão gloriosa da economia capitalista, sob a égide do capital industrial apoiado na organização da produção de bases tayloristas-fordistas que implicava produção em série e em massa para o consumo massivo, uma rígida divisão de tarefas entre executores e planejadores.

Nesse modelo de produção, produzia-se mercadorias baratas e em grande quantidade para que todos pudessem comprá-las e para que o consumo massivo fosse assegurado, instituiu-se medidas como a geração e expansão de empregos pelo Estado, sob o chamado “pleno emprego” de John Keynes.

Além dessa medida, verifica-se, também, a forte intervenção do Estado nas políticas sociais, ampliando a rede de serviços sociais (saúde, educação, habitação, previdência, dentre outros), na perspectiva de que a população não tivesse gastos sociais e liberasse parte de sua renda para o consumo em massa.

Esse padrão de desenvolvimento propiciou o avanço da proteção social, especialmente nos países de capitalismo central, no conhecido Estado de Bem-Estar Social sob a regulação Keynesiana da economia com políticas sociais abrangentes e política do pleno emprego.

A partir da década de 1970 esse padrão econômico de produção capitalista entra em crise:

[...] quando a economia mundial apresenta claros sinais de estagnação, com altos índices inflacionários e com uma mudança na distribuição do poder no cenário mundial. O Japão e a Alemanha tornam-se países fortes e competitivos, fazendo com que os Estados Unidos deixem de ser a única força econômica no ocidente. Ao mesmo tempo, na década de 1980, com o desmonte do leste europeu, há um redimensionamento das relações de poder no mundo (IAMAMOTO, 2005, p. 31)

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passou a ser questionado. A partir desse contexto as ideias neoliberais entram em cena.

Os neoliberais argumentavam que as causas da crise estariam no igualitarismo promovido pelo Estado de Bem-Estar Social, que prejudicava a liberdade econômica dos cidadãos. Do ponto de vista neoliberal, prevalecia a vitalidade da concorrência, pois, a desigualdade mostrava-se como valor positivo para as sociedades ocidentais, e no argumento correspondente ao poder excessivo dos sindicatos, mais precisamente do movimento operário, que pressionava e reivindicava melhorias salariais e para que o Estado aumentasse seus gastos sociais. Neste sentido, Anderson (1995, p11) afirma que:

O remédio [...] era claro: manter um Estado forte, sim, em sua capacidade de romper o poder dos sindicatos e no controle do dinheiro, mas parco em todos os gastos sociais e nas intervenções econômicas. A estabilidade monetária deveria ser a meta suprema de qualquer governo. Para isso, seria necessária uma disciplina orçamentária, com a contenção dos gastos com o bem-estar social e a restauração da taxa ‘ natural ’ de desemprego, ou seja, a criação de um exército de reserva de trabalho para quebrar os sindicatos [...]

A ideologia neoliberal teve suas primeiras experiências nos finais dos anos setenta do século XX, nos governos de Margareth Thatcher, na Inglaterra, e Reagan, nos Estados Unidos. Concomitantemente a essa ideologia, iniciam-se alterações na forma de organização da produção, que se distanciam consideravelmente do modelo taylorista-fordista, caracterizado pela sua rígida forma de acumulação, sendo, agora, evidenciada a flexibilidade no processo produtivo.

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Essa é a fase que sinaliza a reestruturação produtiva6, sob o modelo japonês de

produção, o toyotismo7. Tal modelo consiste na produção em grande escala, atentando

para as necessidades específicas do mercado e para as diversidades culturais e territoriais, evitando, assim, o estoque de mercadorias.

A base desse novo modelo de produção, o capital promove a “desterritorialização da produção”, ou seja, transfere indústrias de um local para outro (especialmente países e áreas periféricas) que tenham condições acessíveis para sua rentabilidade e desenvolvimento, como mão-de-obra barata e subsídios estatais. Direitos trabalhistas e lutas sindicais são desconsiderados, expressando, assim, uma relação desigual e de exploração entre países centrais e periféricos.

Essas transformações operadas pelo capital têm como objetivo superar a queda nas taxas de lucro e, para tanto, utiliza-se da exploração da força de trabalho, pautadas em formas precárias de emprego (sem direitos trabalhistas), terceirizações, dentre outros. Essa conjuntura político-econômica, sob a ótica do trabalho, implicou na reconfiguração da questão social que, segundo Netto; Braz (2007, p.220-221):

[...] aquilo que parecia estar sob controle nos ‘anos dourados’ adquire na terceira fase do estágio imperialista, magnitude extraordinária e explicita dimensões que antes eram mais discretas. A precarização e a ‘informalização’ das relações de trabalho trouxeram de volta formas de exploração que pareciam próprias do passado (aumento das jornadas,

6A reestruturação produtiva redefine socialmente o processo de mercadorias. Assim, a reestruturação produtiva não se caracteriza apenas pelas mudanças nos processos técnicos de trabalho nas empresas, comprovadamente tímidos no Brasil, porque aqui reestruturação é abrir capital, privatizar empresas estatais, terceirizar, demitir trabalhadores e aumentar a produtividade em até 100%. Como informa recente pesquisa, o crescimento médio da produtividade industrial (medida pela produção física por trabalhador ocupado ou horas pagas) em 1996 foi de 13%. Segundo Sabóia, os novos ganhos de produtividade surpreendem porque não derivam de investimentos pesados em maquinário e automação, a produtividade cresceu graças aos novos processos de trabalho, aos métodos de gestão e a custa de perda de empregos de milhões de trabalhadores ( AMARAL; MOTA apud SABOIA, 1998, p. 34-35).

7

“Com o toyotismo, tende a ocorrer uma racionalização do trabalho que, por se instaurar sob o capitalismo manipulatório, constitui-se, em seus nexos essenciais, por meio da inserção engajada do trabalho assalariado na produção do capital (o que Coriat denominou de “engajamento estimulado”). Ocorre uma nova orientação na constituição da racionalização do trabalho, com a produção capitalista, sob as injunções da mundialização do capital, exigindo, mais do que nunca, a captura integral da subjetividade operária (o que explica, portanto, os impulsos desesperados – e contraditórios – do capital

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trabalho infantil, salário diferenciado para homens e mulheres, trabalho semi-escravo ou escravo) e ao final do século XX, ao cabo de vinte anos de ofensiva do capital, a massa trabalhadora não padece apenas nas periferias- também nos países centrais a lei geral da acumulação mostra seu efeito implacável.

Portanto, o capital não operou mudanças apenas no mundo do trabalho, mas em todas as dimensões sociais sob a ideologia neoliberal e seus efeitos propagaram-se pelos países europeus, América do Norte e América Latina. Diversos países latino-americanos tiveram suas primeiras experiências com o ajuste neoliberal a partir do início dos anos de 1980, tendo, como principais mudanças, reformas de ordem financeira e econômica, respectivamente, renegociação de dívidas e o discurso da importação.

Para Boron (1999), o neoliberalismo nos países latino-americanos obteve maior êxito nos campos ideológico e cultural do que no econômico. Esse triunfo deu-se pela desarticulação das forças populares e pelos efeitos do processo de reestruturação produtiva, que apresenta tendências a enaltecer o mercado em detrimento do Estado, colocando em questão a qualidade dos serviços, em que os de procedência estatal são ineficientes, enquanto que os da iniciativa privada são mais eficazes; enraizar uma mentalidade e sensibilidade na sociedade em relação às benesses do mercado, na intenção de gerar um senso comum favorável à lógica do mercado e da mercantilização.

Por fim, o neoliberalismo, nesse campo ideológico, alcançou a supremacia na medida em que conseguiu internalizar, nas sociedades capitalistas, notadamente entre amplos segmentos da classe trabalhadora, a ideia de que não existe alternativa societária, propondo reformas que, anteriormente, sinalizavam para mudanças econômicas e sociais no intuito de promoção de uma sociedade mais igual, justa e democrática, sendo, então, apropriadas e reformuladas pela lógica neoliberal numa direção antidemocrática e regressiva.

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devido a fatores ‘meta-sociais’ e não as iniquidades intrínsecas ao capitalismo” (BORON, 1999, p.11).

O novo método de gestão da produção, impulsionado, em sua gênese sócio-histórica, pelo sistema Toyota, conseguiu assumir um valor universal para o capital em processo, tendo em vista as próprias exigências do capitalismo mundial, das novas condições de concorrência e de valorização do capital.

Sendo assim, a reestruturação produtiva e a mundialização do capital vêm sendo conduzidas em combinação com as orientações neoliberais que em várias análises realizadas apresentam as consequências desse projeto: desemprego, aumento da pobreza e a pauperização das classes médias, colapso das economias regionais, concentração da riqueza e do poder, desproteção social, impacto ambiental e ecológico desastroso, incremento da violência, desigualdade social e reconfiguração do Estado.

O capital, em sua fase atual, configura-se sob a determinância do capital financeiro, através das taxas de juros definidas e controladas pelos bancos e instituições financeiras (bancos, companhias de seguros, fundos de pensão), numa coalizão entre capital financeiro e industrial, a economia passa a ser liderada pelo capital fictício, bursátil.

O capitalismo financeiro tem suas bases no lucro rápido especulativo como constata Harvey (2004, p.123),

Foi em tudo espetacular por seu estilo especulativo e predatório. Valorizações fraudulentas de ações, falsos esquemas de enriquecimento imediato, a destruição estruturada de ativos por meio de inflação, a dilapidação de ativos mediante fusões e aquisições e a promoção de níveis de encargos de dívidas que reduzem populações inteiras, mesmo nos países capitalistas avançados, a prisioneiros da dívida, para não dizer nada da fraude corporativa e do desvio de fundos [...] decorrente de manipulações do crédito e das ações – tudo isso são características centrais da fase do capitalismo contemporâneo.

A financeirização8 resulta da superacumulação e, ainda, da queda das taxas de lucro dos investimentos industriais. É nesse contexto que se torna explicíta a questão

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da dívida externa de muitos países periféricos que devem às instituições financeiras como o FMI. Essa dívida pública alimenta a acumulação do capital, uma vez que as taxas de juros são superiores ao crescimento da economia mundial, ao PIB (produto interno bruto).

O capital financeiro possui um maior poder de coordenação da produção de lucros e se mantém em destaque, uma vez que amplia o poder da nação-estado de controlar o fluxo do capital e, portanto, a sua própria política fiscal e monetária (Harvey, 1999).

Essa financeirização do capital representa uma reestruturação da economia mundial, em que sob a ideologia da homogeneização das economias mundiais, obscurece o desenvolvimento combinado e desigual das nações. Os países periféricos transferem a riqueza socialmente produzida aos países centrais, atualizando as marcas históricas de dependência e exploração, características de sua formação.

Essa nova fase do capitalismo não resultou apenas no aumento mais relevante do desemprego, do subemprego e da regressão dos direitos sociais, na sociedade de consumo, mas na manipulação dos consumidores através das empresas com a descartabilidade dos seus produtos, mercadorias preestabelecidas, dentro de uma lógica destrutiva.

A ofensiva do capital tem sérias consequências: amplo distanciamento entre ricos e pobres; entre os ricos e os seus pobres; ascensão do racismo e da xenofobia; e a crise ecológica do globo (NETTO; BRAZ, 2007). Ademais se tem o impacto no mundo do trabalho, uma corrosão do trabalho estável e regulamentado, substituído pelo subemprego, empreendedorismo, e outras formas atípicas, marcados pelas super exploração e auto exploração dos trabalhadores.

O capitalismo contemporâneo que se inicia nos anos de 1970 impactou fortemente as formas de proteção social, os trabalhadores e o mundo do trabalho, com o refluxo da atuação combativa das entidades sindicais e a redução dos operários nas indústrias; mudança de perfil da classe trabalhadora menos combativa, individualista, sobrantes no mundo trabalho, precarizados; um sistema de proteção social destituído da noção de direitos, “refilantropizado”, fragilizado, fragmentado, dentre outros.

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As crises capitalistas, além de causar fortes impactos à classe trabalhadora, atingem também os pequenos e médios capitalistas, que são os primeiros a falir. As crises são inerentes ao modo de produção capitalista, por isso são inelimináveis e caracterizam as contradições da sociabilidade capitalista que necessita dessa realidade para se ampliar e reproduzir.

Segundo Mészáros (2009) em A crise estrutural do capital, o capital vem

assumindo “a forma de uma crise endêmica, cumulativa, crônica e permanente”, pois, ao contrário, dos ciclos longos de estagnação e expansão do capital, este desde fins dos anos de 1960 e início dos anos de 1970, mostra-se dentro de uma crise estrutural.

No final do século XIX e início do século XX, a disputa por mercados de consumo foi imponente, no entanto, atualmente, essas fontes de consumo encontram-se esgotadas. Os países do ex-bloco socialista eram os últimos e a china, hoje, é a última fronteira, não há mais lugar no mundo a ser dominado pelo capital. Como saída só resta ao capital percorrer caminhos já trilhados, é o que ele está fazendo no Oriente Médio, na África e na América Latina.

Diante desses limites, o capital recorre-se da utilização de estratégias para driblar e sair das situações que ameaçam a dominância da sociedade mercantil. Recorre, assim, a utilização da taxa decrescente do valor de uso (esfera das necessidades) submisso ao valor de troca (esfera de valorização do valor), numa produção de mercadorias que podem ter seu valor de uso realizado, como também não ter sido nunca utilizado, mas mantendo seu valor essencial para o capital. Com essa estratégia tem-se o encurtamento da vida útil das mercadorias, que se torna num dos principais mecanismos de acumulação do capital (MÈSZÁROS, 2007).

Essa assertiva refere-se ao fato de ao longo da história as necessidades naturais foram paulatinamente dando lugar as necessidades socialmente criadas, e estas, hoje, tornaram-se necessidades potencialmente desnecessárias, dada a alta capacidade de produção e de riqueza da sociedade.

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e encontra apoio no Estado para viabilizar essa estratégia, com seu papel intervencionista-contrariando os preceitos neoliberais- no plano econômico e político.

No plano econômico, com a repartição do fundo público com as grandes empresas capitalistas para salvá-las das crises. No âmbito político, a ação estatal a favor do capital é igual, ou senão maior, através de uma legislação trabalhista que comungue com os interesses desse grupo dominante para manter seu domínio sobre a sociedade. E esse papel intervencionista estatal nunca foi tão grande como nos dias atuais é: “sustentado em nosso tempo pela tendência à equalização por baixo da taxa diferencial de exploração” (MÉSZÁROS, 2007, p.154).

A exploração da força de trabalho, ou seja, a super exploração, é outro mecanismo utilizado contra a queda da taxa de lucro, até o trabalho escravo – o qual foi tão criticado pela classe burguesa –, agora, sob novas formas, é tido como meio de manter seus lucros extremos a esse sistema destrutivo. A china e a América central possuem muitos trabalhadores escravizados, como também os Estados Unidos.

De acordo com Mészáros (2009), “estamos diante de uma crise sem precedentes do controle social em escala mundial e não diante de sua solução”, no entanto, o capital, como meio de fazer frente a tal situação e garantir sua dominação, reduz o ser humano a simples força de trabalho necessária a sua acumulação, uma mercadoria igual a qualquer outra que pode ser comprada no mercado.

Em 2008, o capital vivenciou mais uma crise comparável à crise de 1929 (BOSCHETTI, 2010), que se expressou pela crise imobiliária dos Estados Unidos; com o crescimento da indústria da construção e com as facilidades de empréstimos e financiamentos, muitas famílias, embora com parcos rendimentos, conseguiram créditos - os “subprimes”- para a compra da casa própria. Contudo, muitos não puderam honrar com o pagamento dos empréstimos devido ao aumento dos juros pelo Banco Central dos Estados Unidos, ao desemprego e ao rebaixamento dos salários, acarretando, assim, problemas, como baixa dos imóveis, a inadimplência e o afastamento de novos compradores.

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configurando os efeitos dessa crise. Porém, esses efeitos não foram somente para a economia, mas também, e principalmente, para a classe trabalhadora: demissões no setor bancário; milhares de operários na indústria da construção imobiliária nos Estados Unidos perderam seus empregos e a retirada das famílias dos imóveis comprados e não pagos. Essa crise não se restringiu somente a economia dos Estados Unidos, mas também aos demais continentes, com a dita globalização financeira.

Além disso, com essa crise, as empresas mais uma vez pedem socorro ao Estado através da utilização do fundo público, para salvá-los. Como exemplos tem-se os Estado Unidos que injetou US$ 700 bilhões para conter a crise imobiliária; o Japão injetou U$10 bilhões; a Alemanha com 50 bilhões (SALVADOR, 2010). Portanto, alguns dos maiores bancos do mundo estão em falência e só conseguem se sobressair devido à injeção de milhões de dólares e euros pelos Bancos centrais, quer dizer, pelos Estados.

A crise estrutural do capital é “um encontro do sistema com seus próprios limites” (MÉSZÁROS, 2007), sendo assim, segue com sua lógica destrutiva, e ao mesmo tempo abrindo as fronteiras para soluções que se tornam imperativas, dados os seus limites que já colidem com os limites da própria existência humana, ou seja, os problemas se acumulam e as contradições tornam-se cada vez mais fortes.

O capital assume a direção da vida social, as ações humanas voltadas em torno das necessidades do processo de acumulação capitalista, o consumo exacerbado, o sucesso da vida individual como sinônimo de riqueza, ou seja, a submissão do homem e da mulher ao capital. Uma contradição intrínseca ao capital é que ele ao mesmo tempo em que “avança”, destrói, e o progresso caminha ao lado do desperdício, o que importa mesmo é o lucro, não se leva em conta o atendimento das necessidades humanas, mas a expansão do capital e seu poder de dominação.

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No Brasil, as primeiras ideias do regime neoliberal puderam ser evidenciadas, somente, a partir do final da década de 1980, período de redemocratização, consolidando-se, sobretudo, no início da década de 1990 sob o governo de Fernando Henrique Cardoso.

Os efeitos do ajuste neoliberal no Brasil foram dramáticos tanto do ponto de vista econômico como social. Exemplo disso foram as propostas de reforma administrativa ou reforma do Estado que consistem em cortes quantitativos do funcionalismo público e nas formas de atuação dos gestores públicos, provocando, assim, mudanças significativas no caráter universalizante dos serviços sociais. Sobre isso, Montaño diz que:

[...] estamos, portanto, frente a um programa de reforma administrativa que se depreende da política econômica e nela se insere. Longe de se tratar de uma reforma técnica, ela é política e subordinada as questões econômicas. Trata-se de readequar a Constituição brasileira às necessidades do grande capital, de subordinar os princípios da constituição aos ditames do FMI, BM, OMC e aos postulados do Consenso de Washington (2005, p. 45).

A principal ofensiva desse ajuste encontra-se no âmbito da Seguridade Social, notadamente, na Reforma da Previdência Social, proposta pelo governo federal e ainda em discussão no Congresso Nacional. Essa proposta tende a implantar o rebaixamento dos tetos salariais, acarretando na exclusão da Previdência Pública, pois, com a redução da sua cobertura, tem-se a ampliação da Previdência Privada (SOARES, 2002).

Essas mudanças são resultados da reestruturação do capital sob a ideologia do projeto neoliberal que, dentre as suas estratégias de obtenção de lucro, fomenta uma racionalidade política e cultural inerente à burguesia. Apresenta programas de desregulamentação da economia que objetiva a não intervenção do Estado sobre a economia e sobre as relações capital-trabalho, privatização do setor público e diminuição da intervenção estatal.

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Contudo essa visão, na atual crise do capital, se desmancha, pois o que se tem, agora, é a defesa da ação estatal para regular a economia, e a justificativa de que as medidas neoliberais tomadas pelo consenso de Washington em 1970 não deram certo, como foi reconhecido durante o Fórum Econômico Mundial (FEM) realizado na Suíça em 2008.

Porém, vale ressaltar que esse contexto, diferentemente do keynesiano, sob a ampliação da proteção social com a intervenção estatal, trata-se, aqui, do papel intervencionista do Estado para adotar medidas de interesse econômico como o Programa de Aceleração de Crescimento- PAC (BOSCHETTI, 2010).

As estratégias que o capital utiliza, decorrentes de sua crise estrutural para manter sua acumulação, trazem sérias consequências à vida contemporânea, tais como: destrói a força de trabalho; destrói os direitos sociais; impõe limites a democracia; reproduz fluidez e incerteza nas relações sociais, como também o domínio das coisas sobre as pessoas; combate os movimentos sociais e os espaços de controle democrático; propagação do individualismo e do subjetivismo exacerbado, entre outros, como corrobora Mészáros (2009, p. 29), “pois o que está fundamentalmente em causa hoje não é apenas uma crise financeira maciça, mas o potencial de autodestruição da humanidade no atual momento do desenvolvimento histórico, tanto militarmente como por meio da destruição em curso da natureza.”.

Em contexto de crise, o capital coloca para o Estado a função de administrar as crises com políticas que as supere e que mantenha sua expansão e reprodução, garantindo a super acumulação. Como exemplo, o governo dos Estados Unidos, sob a crise contemporânea do capital, injetou no mercado financeiro US$ 1 trilhão para “salvar” os bancos americanos que perderam milhões de dinheiro.

Assim, o Estado é forte para o mercado, intervém para a superação das crises capitalistas, oferecendo subsídios fiscais, investimentos lucrativos, legislações ambientais e empréstimos, dentre outros. Neste cenário, têm-se as políticas governamentais favorecedoras do capital financeiro, o que atesta a limitação do controle social democrático ser exercido.

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da terceirização, aumento da informalidade; redução de postos de trabalho na agricultura e na indústria. Além disso, tem-se a mercantilização das políticas de Saúde, Educação e Previdência, as quais são lucrativas para o mercado e as medidas de combate à pobreza focalizada na assistência social com os programas de transferência de renda.

Essas mudanças atingem, também, o exercício democrático no país, ou seja, como esclarece Behring; Boschetti (2008, p. 182), o exercício do controle democrático através dos conselhos de direitos nesta sociabilidade é “‘remar contra a maré’, enfrentar obstáculos econômicos, políticos e culturais seculares e atuais no Estado...”. O reconhecimento deste cenário não apaga a importância dos conselhos, uma vez que são espaços de significativa importância na democratização das informações, articulação entre os diferentes sujeitos, elaboração e fiscalização das políticas sociais. Podemos observar, diante do exposto, que embora os conselhos de políticas e de direitos tenham essa relevância, não conseguem frear o domínio e o controle do capital. Existem experiências positivas, mas não são suficientes para efetivar o controle democrático nos moldes como foi pensado na Constituição Federal de 1988, uma vez que a sociabilidade do capital não oferece condições objetivas para a democratização da sociedade, e o real controle é o do capital, o qual domina todas as esferas da vida humana:

[...] o sistema do capital, por não ter limites para a sua expansão, acaba por converter-se numa processualidade incontrolável e profundamente destrutiva. Conformados pelo que se denomina, na linhagem de Marx, como mediações de segunda ordem- quando tudo passa a ser controlado pela lógica da valorização do capital, sem que se leve em conta os imperativos humano-societais vitais-, a produção e o consumo supérfluos acabam gerando a corrosão do trabalho, com sua conseqüente precarização e o desemprego estrutural, além de impulsionar uma destruição da natureza em escala global jamais vista anteriormente. (MÉSZÁROS, 2009, p.11).

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alimenta a supervalorização do sistema capitalista, marcado pela heterogeneidade desigual entre suas regiões, com situações de pobreza, precarização estrutural do trabalho e a destruição da natureza, características complexas que, no mínimo, limitam a ação dos conselhos em se contrapor a esta realidade.

A prática dos conselhos de direitos encontra sérias dificuldades em caminhar numa perspectiva de luta anticapitalista, pois, seu funcionamento está intrinsecamente ligado ao Estado burguês que se constitui, portanto, como afirma Montaño (1999), em um tipo privilegiado de organização dentro e a serviço da sociedade capitalista que o criou e o mantém, estando, portanto, inteiramente interligados.

Neste sentido, os conselhos que no âmbito desta sociedade capitalista defendem a universalização das políticas sociais, tem que se fortalecer, dentro dos limites, como espaços de resistência ao projeto neoliberal de destituição de direitos, bem como criar estratégias de articulação com os movimentos sociais, sujeitos coletivos capazes de avançar a caminho de um novo projeto societário.

Portanto, para pensar essas questões, é preciso adentrar a uma discussão essencial: a relação entre o Estado e a sociedade civil e o enfrentamento à questão social. Essa temática é importante no estudo sobre controle social e democrático, para se entender as transformações que ocorreram nessa relação e os deslocamentos nos discursos da chamada sociedade civil.

2.3. A RELAÇÃO ENTRE ESTADO E SOCIEDADE CIVIL E O ENFRENTAMENTO À QUESTÃO SOCIAL NO BRASIL

Para se apreender a relação existente entre o Estado e a sociedade civil no âmbito da ideologia neoliberal, faz-se necessário mencionar algumas concepções acerca das temáticas - Estado e sociedade civil. Para tanto, serão recuperados, sumariamente, os pensamentos de autores consagrados como Hobbes, Locke, Marx e Gramsci9, para, a partir desse debate clássico, analisar a apropriação semântica e política que, na contemporaneidade, o capital faz do termo sociedade civil.

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