• Nenhum resultado encontrado

Os novos arranjos institucionais e a Política Educacional de Altamira.

ZONA URBANA ZONA RURAL ANO Pré Escola Ens Fund E.J.A Pré escola Ens Fund E.J.A

1.6. Os novos arranjos institucionais e a Política Educacional de Altamira.

No contexto atual, a rede municipal de ensino possui 34 escolas na zona urbana (27 escolas para o Ensino Fundamental e EJA, 7 escolas de Educação Infantil), uma creche e ainda, uma escola que oferece vagas para a creche e pré-escola; 48 escolas na zona rural, 12 escolas nas áreas indígenas, configurando uma rede pública de tamanho considerável, haja vista que atende atualmente um total de 24.527alunos (de acordo com o número de matrícula de 2006) , distribuídos na zona urbana e rural, incluindo a educação indígena, totalizando 895 turmas em todas os níveis e modalidades de ensino que estão sob a responsabilidade do município, englobando as turmas de correção de fluxo.

Entendendo a política educacional como um conjunto de metas, objetivos e ações articuladas com finalidades de intervir na realidade educativa, verifica-se no município de Altamira a partir do ano de 2001, uma proposta desenvolvida pela Secretaria de Educação local assinada pelo então Prefeito Domingos Juvenil por meio da parceria firmada com o

Programa de Gestão Municipal e Escolar do Instituto Ayrton Senna e da Fundação Banco do Brasil – o qual se denominava Programa Escola Campeã.

Diante dessa adesão, o campo educacional local é reestruturado em seus aspectos organizacionais e pedagógicos, mudanças desencadeadas pela adoção de alguns princípios exigidos pelo IAS.

Trata-se de um Programa estruturado para ser implementado em 4 anos, elaborado para auxiliar Municípios e Estados com acentuados problemas educacionais, tendo como objetivo consolidar, dar sustentabilidade e aprimorar os procedimentos e ações que se mostrarem efetivas na melhoria contínua do desempenho dos alunos e da eficiência e eficácia da gestão do ensino fundamental público.

Até o ano de 2004, em nível de Brasil, esse Programa foi implementado em 42 municípios de 24 estados, atendendo cerca de 720 mil alunos do ensino fundamental das redes municipais atendidas pelo convênio. No Estado do Pará, são parceiros dessa Proposta educacional municípios de Altamira, conforme já mencionado e Santarém. A Escola Campeã, atual Rede Vencer, sustenta-se sob dois eixos, a saber:

Gestão Municipal fortalece o município para assegurar a universalização e a qualidade do ensino, melhorando a capacidade do município de coordenar e implementar uma política educacional que priorize o ensino fundamental e a operação eficiente de uma rede de escolas eficazes, integradas e autônomas. Gestão Escolar fortalece e instrumentaliza a escola para gerenciar sua autonomia administrativa, financeira e pedagógica; assegura a melhoria contínua do desempenho dos alunos e fortalece a participação da comunidade na vida da escola (PROGRAMA ESCOLA CAMPEÃ).

De acordo com as diretrizes da Escola Campeã, essa política educacional atua como elemento estratégico na melhoria da qualidade do ensino e na regularização do seu fluxo, visando à instrumentalização e ao fortalecimento tanto da gestão das Secretarias Municipais de Educação quanto das Instituições Pedagógicas da rede pública.

Outras ações desenvolvidas no município em parceria com o Instituto no sentido de proporcionar uma qualidade de ensino local, baseiam-se nos Programas de Alfabetização (Se Liga), adaptado do método Dom Bosco, dirigido aos alunos defasados não-alfabetizados, nas quatro primeiras séries do ensino fundamental; e o de Aceleração (Acelera Brasil), dirigido aos alunos de 1ª a 3ª séries do ensino fundamental, cujo objetivo é promover sua promoção, preferencialmente, para a 5ª série.

Esses programas são responsáveis pela inserção de uma cultura de gestão eficaz na rede escolar, focalizada nos resultados, com vistas a combater os baixos níveis de aprendizagens e repetências e a distorção idade/série. Programas esses que de acordo com Oliveira e Colaboradores (2001, p. 09), defensores da pedagogia do sucesso, “trata-se, portanto, de uma política e uma nova forma de fazer política educacional, e não simplesmente de acelerar os alunos, ou adotar novos métodos pedagógicos”.

Essa política educacional conta também com um processo avaliativo próprio, de caráter externo e interno, desenvolvendo três tipos distintos: a Avaliação dos Indicadores de

Gestão, que confere nota anualmente a um conjunto de itens, como a autonomia escolar, otimização da rede municipal (urbana e rural), colegiado, calendário escolar, dentre outros;

Avaliação dos Indicadores de Eficiência: que atribui notas anualmente a um conjunto de itens por meio de fichas, como controle de freqüência dos alunos e professores, o cumprimento dos 200 dias letivos, as taxas de distorção idade-série, abandono, transferência, dentre outros;

Avaliação de desempenho dos alunos, aplicada a uma expressiva quantidade de alunos matriculados no ensino fundamental.

No ano de 2005, esse Programa sofreu algumas alterações em sua estrutura organizacional original, coincidindo com a época em foi renovado o convênio com o Instituto Ayrton Senna mediante a assinatura da Prefeita Odileida Sampaio. Com isso, passou a denominar-se de Rede Vencer, reunindo quatro tecnologias sociais na área da educação formal: o Programa Se Liga, Acelera Brasil, Circuito Campeão e Gestão Nota 10.

Embora essa política educacional ocupe lugar central na gestão e no processo educativo dessa localidade, é importante salientar a existência de outras atividades desenvolvidas pela SEMEC, denominados de Programas de Complementação Educacional, como a Capoeira na Escola, Escola de Música e Inclusão Digital (este último realizado em parceria com a Eletronorte) desenvolvidos com a finalidade de estimular os alunos com dificuldades de aprendizagem e de propiciar sua permanência na rede pública de ensino.

Outro aspecto de grande importância e que precisa ser mencionado, diz respeito aos órgãos colegiados de caráter consultivo que atualmente existem em Altamira no campo educacional, no caso, o Conselho de Alimentação Escolar - CAE (responsável pela fiscalização das despesas como a merenda escolar e a qualidade dos alimentos), intuído por meio do Decreto nº. 205, de 02 de fevereiro de 2005, sendo composto pelos seguintes representantes: dois representantes do Poder Executivo; dois representantes do Poder Legislativo; quatro representantes dos professores; quatro representantes dos pais de alunos e dois representantes da sociedade civil.

Outro órgão colegiado é o Conselho de Acompanhamento e Controle Social do FUNDEF - CACS, instituído através do Decreto nº. 390, de 23 de setembro de 2005. Com relação a sua composição, no referido documento não fica explícito o total e quais membros irão dele fazer parte, o mesmo se refere à nomeação de duas conselheiras, sendo uma como membro titular e outra como suplente, as quais são as mesmas representantes do Poder Executivo no CAE; fato que pode causar muita estranheza com relação à validade das ações desenvolvidas por tal conselho.

O município de Altamira ainda conta com outros conselhos, como o Conselho Escolar, cuja informação fornecida pela SEMEC é que cada escola possui tal órgão colegiado; a Associação de Pais e Mestres, o qual é existe em apenas uma escola conveniada com a Secretaria de Educação – a Escola Renascer, e os Conselhos de Classe.

Em relação à situação desses órgãos no interior e dessa política, pode-se dizer que os mesmos enfrentaram grandes dificuldades no que diz respeito à realização de suas funções normativas e fiscalizadoras, uma vez que durante boa parte da gestão educacional praticada no período de 2001 a 2004 esses mecanismos de participação tiveram pouca representatividade nos desdobramentos da política educacional, principalmente o CACS e o CAE, os quais paulatinamente foram tendo suas atribuições diluídas devido à forte centralização das decisões no âmbito da Secretaria de Educação e da Prefeitura Municipal verificada nesse período e confirmada nos depoimentos colhidos no decorrer da pesquisa de campo.

Na gestão atual, esses órgãos colegiados também vêm se mantendo na obscuridade, posto ter sido ressaltado pelos entrevistados a modesta atuação dos mesmos, causando certa desconfiança da comunidade escolar e local quanto à possibilidade de estes virem a se tornar esferas de participação e compartilhamento do poder decisório.

É interessante ressaltar que a comunidade educativa do Município, atualmente, não conta com o Conselho Municipal de Educação - CME. Este foi criado sob a Lei nº. 657, de 18 de dezembro de 1995, pelo então prefeito Maurício Bastazzini, com as atribuições de participar dos procedimentos necessários na gestão, no assessoramento e na elaboração da política educacional do município, bem como na aplicação dos recursos públicos destinados à manutenção e desenvolvimento da educação pública municipal, dentre outras. Tratava-se de “um órgão deliberativo e fiscalizador das Políticas Públicas de Educação no Município de Altamira” (Art., 2º), sendo composto por 12 (doze) membros, de acordo com o que estabelece o Artigo 4º:

I – 06 (seis) representantes dos prestadores de serviços em educação, indicados pelo Executivo Municipal, entre eles o Secretário Municipal de Educação;

II – um representante dos Conselhos Escolares, Associações de pais e alunos;

III – um representante dos Prestadores de Serviços em Educação na esfera Federal;

IV – um representante dos Prestadores de Serviços em Educação na esfera Estadual;

V – um representante do Conselho Tutelar da Criança e do Adolescente; VI – um representante das Escolas Particulares do Município;

VII – um representante do Sindicato dos Trabalhadores em Educação.

Embora o CME tenha sido criado no ano de 1995 e desenvolvido suas atividades ao longo da administração do Prefeito Claudomiro Gomes (1997 a 2000), o mesmo foi destituído no decorrer do governo do então prefeito Domingos Juvenil e, até os dias atuais, este não voltou a funcionar, mesmo sendo reivindicação constante em encontros e seminários realizados em Altamira, por parte dos educadores e dos movimentos e lideranças sociais.

Sobre o desmembramento do CME em Altamira, é possível perceber a “preocupação” que essa gestão tinha em relação à participação da sociedade civil nos processos decisórios da educação. O entendimento que o Senhor Domingos Juvenil possuía em relação à existência desse órgão, era de sua não-obrigatoriedade, sob alegação do município ainda não constituir seu próprio sistema de ensino. E embora tenha havido algum descontentamento por parte dos educadores, estes pouco puderam fazer diante do autoritarismo do poder público municipal.

Após a contextualização da situação educacional do Município de Altamira, é perfeitamente claro que esse cenário se constitui um excelente locus de análises e questionamentos sobre a política educacional proposta pela SEMEC, bem como as implementações das ações educativas desenvolvidas pela rede de ensino público e as possibilidades de atuação dos setores e lideranças sociais que compõem o poder local em Altamira.

Assim sendo, mediante essa nova configuração da gestão da educação que se estabelece a partir dos imperativos reformistas, o poder local enquanto campo de discussões, para novas práticas político-democráticas adquire maior relevância no contexto político- social, operando como espaço de disputa entre os diferentes segmentos presentes na

sociedade, possibilitando o emponderamento da comunidade, isto é, a capacidade de gerar processo de desenvolvimento.

É nesse ponto que se circunscreve a necessidade de maior compreensão do poder local e da democratização do espaço público, principalmente no campo educacional, uma vez que tal tema constitui base das discussões que fundamentam o presente estudo, pois associado à questão da valorização e fortalecimento do local, torna-se elemento significativo para desvelar os limites e possibilidades da própria concepção de democracia, que trataremos em seguida.

Documentos relacionados