• Nenhum resultado encontrado

2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.3 OS PARQUES URBANOS

Parques urbanos são elementos da paisagem urbana que permeiam o espaço construído, constituído por um território específico. Eles são considerados espaços livres de lazer e equipamentos públicos, além de símbolos da arquitetura da cidade moderna, com ideais que se propagam para a contemporaneidade. Um de seus objetivos é atender ao maior número de pessoas, e por isso, notavelmente, agregam o maior programa de atividades possível, fator que mais o que o diferencia das praças além do caráter de extensão/área.

Assim, pode-se definir o parque como “um espaço livre público estruturado por vegetação e dedicado ao lazer da massa urbana” (MACEDO; SAKATA, 2010, p. 13), independente do seu tipo (ecológico, temático, urbano, etc.), e que incorpore intenções de conservação. E, quanto a sua área superficial, pode abranger vários portes, sendo que o parque urbano é envolvido pelo tecido urbano e pode permitir o acesso para os visitantes em diferentes setores (MASCARÓ, 2008).

É importante distinguir o parque urbano do termo parque adotado pelo Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza (SNUC), que o categoriza com representatividade nacional como uma área de Proteção Integral (que fixa a manutenção dos ecossistemas livres de alterações causadas por interferência humana), destinada à proteção/preservação dos ecossistemas naturais de grande relevância ecológica e beleza cênica, em que podem ser realizadas atividades de recreação, turismo ecológico, educação e interpretação ambiental, e desenvolvidas pesquisas científicas (BRASIL, 2000). Esta definição é adequada para os Parques Nacionais, tal como o conhecido Parque Nacional do Iguaçu.

De acordo com Macedo et al. (2009) , os parques se tornaram um dos principais espaços de lazer de fim de semana de grandes contingentes da população, com expansão significativa em todo o país. No entanto, Macedo e Sakata (2010) salientam que o parque urbano surgiu no século XIX, como produto das cidades que provém da era industrial, na necessidade de as cidades adotarem espaços adequados para atender a demanda social quanto ao lazer, ao tempo ocioso e para contrapor-se ao ambiente urbano edificado.

Para Gomes (2009), os parques estão inseridos neste contexto de reprodução do capital e produção do espaço urbano, ao incorporarem a representação da natureza no cotidiano do

37

homem urbano. Situação esta, que recorre o século XVIII, marcado pela revolução industrial e avanço do capitalismo, que alterou intensamente o modo de vida urbano entre homem e natureza.

Mesmo assim, tanto praças como os parques, remontam à Antiguidade, ao evocarem aspectos de lazer, natureza, coletividade e poder. Embora não com as dimensões, proposições, formas e significado atuais, que se alteraram conforme as novas dinâmicas das cidades. De acordo com Miranda (2014), no século XVIII e XIX, o modelo paisagístico dos jardins ingleses, que privilegiava a simulação de uma natureza campestre, foi a principal fonte de influência para implantação de projetos de parques destinados a uso público em diversas cidades da Europa (principalmente na França e Inglaterra) e da América até os dias atuais.

Contudo, com o conceito atual, o parque é um produto da era industrial, da cidade moderna, que reage às precárias condições de vida, que busca o distanciamento do caos urbano e à procura por um refúgio. Refúgio este com base na manipulação da natureza e seu simbolismo (GOMES, 2009).

Mas, ao se pensar em parque urbano, o primeiro que vem à mente é o Central Park, considerado um “pulmão verde” planejado a partir da metade do século XIX, e hoje envolto pelos arranha-céus de Nova York. Conforme os relatórios de projeto de Frederick Law Olmsted, dois objetivos deveriam ser alcançados com essa proposta. Uma de assegurar o ar puro e saudável, e outra como antítese de objetos visuais às ruas e construções, que levassem a população a ter outras impressões e imaginações do urbano (MACEDO; SAKATA, 2010).

Porém, conforme Aliata e Silvestri (1994), esses dois lados do Central Park estão mascarados. Há aquele que exalta uma harmonia e equilíbrio com uma área verde em consonância com experiências de sanidade, regeneração, moralidade e beleza cênica. E o outro, pouco mencionado, da relação das paisagens formadas com as transformações e especulações do capital. Processo esse da grande aspiração humana pela natureza que levou a manipulação e artificializarão do espaço por produtos naturais. Ou seja, um espaço em que a natureza está a serviço para a ação do sistema capitalista mobiliário – a natureza como espetáculo –, com intervenção, planificação e controle urbano, e como instrumento para frear problemas urbanos (crescimento das cidades, poluição ambiental, condições de vida) (ALIATA; SILVESTRI, 1994).

Mesmo com essa consciência, o parque urbano acompanhou a evolução urbanística das cidades, tornando-se um espaço público de manifestação de qualidade de vida e ambiental, e também um testemunho dos valores culturais e sociais. No entanto, no Brasil os

38

parques não surgem da urgência em atender às necessidades das massas urbanas, como ocorreu na Europa e outras partes do mundo.

O Brasil do século passado não possuía uma rede urbana expressiva, e nenhuma cidade, inclusive a capital, o Rio de Janeiro, tinha o porte de qualquer grande cidade europeia da época, sobretudo no que diz respeito a população e área. O parque é criado, então, como uma figura complementar ao cenário das elites emergentes, que controlavam a nova nação em formação e que procuravam construir uma figuração urbana compatível com a de seus interlocutores internacionais, especialmente ingleses e franceses (MACEDO; SAKATA, 2010, p. 16).

Nesse sentido, o Brasil passa por um momento de transformação urbana com a vinda da família real portuguesa, em 1808. E, a partir da proclamação da Independência, em 1822, o Rio de Janeiro manifesta investimentos públicos nos mais diversos setores. É assim que são criados os três primeiros parques públicos no Rio de Janeiro: “o Campo Santana e o Passeio Público, situados junto ao núcleo histórico e centro tradicional da cidade, e o Jardim Botânico, junto a então distante Lagoa Rodrigo de Freitas” (MACEDO; SAKATA, 2010, p. 16).

Os parques são elementos presentes no ideário de cidade-jardim e subúrbio jardim e no movimento City-Beautiful, como destaca Hall (2005). Este movimento ocorreu, sobretudo, na primeira metade do século XX e se relaciona aos boulevares e passeios públicos das grandes cidades europeias. Espalhou-se por outras cidades de todo o mundo, como Nova Delhi, Berlim, Moscou e Camberra, e especialmente nos EUA, no intuito, entre outros, de modelar as cidades, torná-las atrativas para novos negócios, facilitando a reprodução do capital (GOMES, 2009, p. 88).

Assim, o passeio ao ar livre, tradição comum dos países europeus, se torna presente no país, por meio do Passeio Público do Rio de Janeiro, considerado o mais antigo parque urbano brasileiro. Foi criado em 1783 por ordem do vice-rei Luís de Vasconcelos de Sousa, segundo tendências Ecléticas (configuração de parques europeus com paisagem bucólica, predominância de lazer contemplativo – passeio, encontros sociais, festejos locais e fruição da natureza), em um traçado geométrico, inspirado no jardim clássico francês, junto à área alagadiça do mar. Porém, após a reforma durante o Segundo Império e outras posteriores, sua estrutura paisagística se transformou completamente (MACEDO; SAKATA, 2010).

De acordo com Macedo e Sakata (2010), os parques urbanos públicos brasileiros obtiveram notáveis transformações ao longo de sua existência, ao apresentarem várias soluções, figurações, cenários, ou características para conservação. Essas alterações são identificáveis no programa de atividades e nas formas dos parques (suporte físico do programa, a estrutura, o padrão estético adotado) que, de forma prudente, deve se alterar em

39

função dos novos usos e anseios dos usuários, portanto, ser dinâmico a transformações e adequações.

Para Macedo e Sakata (2010), as cidades brasileiras entre os séculos XIX e XX se expandiram de um modo não contínuo, sempre dotadas de vazios urbanos. Esses espaços, bem como imensas áreas de terras e várzeas de rios que cortavam o traçado urbano foram os antecessores das áreas de lazer. Por isso, foi com a diminuição e escassez dessas áreas, a poluição e com o desejo de incorporar os modelos europeus que tais equipamentos urbanos (praças e parques) se tornaram uma necessidade para o desempenho do lazer entre a sociedade na área urbana em meados do século XX. Ou seja, “com as questões ambientais já presentes, os parques se tornaram uma resposta do poder público quando para as demandas de preservação e proteção de recursos naturais em centros urbanos” (MIRANDA, 2014, p. 49).

A primeira metade do século XX foi marcada pela implantação de grandes áreas de lazer urbano, principalmente parques públicos e clubes esportivos. Em São Paulo, o arquiteto francês Joseph Antoine Bouvard propôs a implantação dos Parques Anhangabpu e D. Pedro II (1911); no Recife, é construído o Parque 13 de Maio (1939); e o Parque Farroupilha, de Porto Alegre, é inaugurado em 1935 (MACEDO; ROBBA, 2010, p. 32-33).

Assim, durante essa primeira metade do século XX, os parques foram construídos em menor número, geralmente se concentraram nas cidades mais populosas e nas capitais, e ficaram mais associadas às áreas centrais e aos bairros de elite, bem como ao uso em maior parte pela elite. Com o crescimento urbano mais intenso a partir da segunda metade do século XX, os espaços livres outrora existentes para o lazer da população ou foram suprimidos pela construção urbana ou não eram suficientes para englobar a todos. Logo, o parque se tornou um equipamento ambicionado para tais atividades.

Após a Segunda Guerra Mundial, novos parques foram sendo criados, com um novo tipo de programa de uso, com estrutura morfológica simplificada, valorização do lazer ativo e cultural e reaproveitamento da vegetação nativa para compor a paisagem. Com o impulso do crescimento econômico do país (industrial e comercial), com o adensamento dos centros urbanos e com os investimentos na infraestrutura compatível a essa situação, um novo modelo urbano surge para as transformações da configuração urbana, que é condicionado pelo modernismo (KLIASS, 1993; MACEDO; SAKATA, 2010).

Em vista disso, os estudos de planejamento urbano começaram a privilegiar a “existência de espaços verdes, a estruturação urbana segundo as zonas de uso, o controle do gabarito e de volumetria dos edifícios, o estabelecimento de planos diretores” (MACEDO; SAKATA, 2010, p. 36). Assim, os parques no modernismo obtiveram uma concepção um

40

pouco diferenciada, ao privilegiar uma linguagem formal com linhas mais despojadas e limpas, em seu programa de atividades, e na inserção ampliada de elementos.

Dessa forma, prossegue-se com um cenário bucólico-contemplativo, porém com novas perspectivas para seu uso diversificado para todas as faixas etárias e sociais, agregando a valorização das atividades recreativas ao ar livre (lazer ativo: quadras esportivas, playgrounds, pistas para caminhada), o lazer esportivo, cultural (como exemplo a implantação de museus e pavilhões de exposição no Ibirapuera (1953)), e educativo (MACEDO; SAKATA, 2010).

A multiplicação do parque público pela cidade brasileira se dará somente a partir do final dos anos 60, quando se inicia um processo de investimento público sistemático na criação de parques, não mais voltados exclusivamente para as elites. Muitas municipalidades estruturam parte de seu marketing na criação de áreas verdes públicas – parques ou praças (MACEDO; SAKATA, 2010, p. 37).

Além disso, o parque moderno, que se consolida na década de 1970, traz em seu programa misto, a contemplação, recreação e soluções espaciais elaboradas. E, na década de 1980 são firmados procedimentos ecológicos e de conservação para elevar a qualidade de vida, o que facilita a formação de órgãos públicos denominados ambientais ou “verdes”. Nesse período, nota-se que o projeto do parque público torna-se modesto devido às políticas de contenção de custos, associada à valorização do rústico e do simples (MACEDO; SAKATA, 2010).

Porém, novas formas e liberdades projetuais de parque surgem no final do século XX, a partir da década de 1980, com a crescente demanda de revisão e reelaboração dos programas tradicionais, o que configura o parque contemporâneo, que adota a criatividade, pluralidade e uma postura experimental com total diversidade e liberdade conceitual e formal. Nesse contexto, sítios urbanos que se adequavam a essas novas concepções se transformaram em parques públicos (MACEDO; SAKATA, 2010, p. 47). O Jardim botânico de Curitiba (1991) é uma referência formal dessas novas atitudes projetuais de espaços públicos. (MACEDO, 2012).

Nessa linha, o conceito ecológico se torna um instrumento importante para a preservação e conservação da vegetação nativa em meio ao tecido urbano e como promotora da educação e conscientização ambiental, no qual se valoriza mais os aspectos rústicos da paisagem. Mas também, tem-se o retorno de alguns valores do Ecletismo, como o uso de elementos decorativos (pérgulas, mirantes, pórticos, pontes), e a valorização dos espaços de

41

contemplação. As atividades esportivas e o lazer ativo continuam em alta, evidenciando-se cada vez com uma maior diversidade (MACEDO; SAKATA, 2010, p. 69-70).

Em outro sentido, Jacobs (2009) evidencia que o funcionamento de um parque não depende apenas de sua existência para manter vitalidade para si e o entorno, mas sim, apresentar centralidade (referência no espaço), delimitação espacial, insolação e complexidade. Complexidade esta que corresponde à diversidade de pessoas e de uso de um parque, de suas características físicas (MIRANDA, 2014). Também, nota-se que:

Em todas as cidades de porte do país, novos projetos são executados, a maioria deles desenvolvida de um modo bem simples, muitos constituindo apenas adaptações modestas de áreas antes abandonadas. Velhas chácaras, restos de capoeira, margens de riachos e antigos parques particulares são adaptados para uso coletivo, privilegiando-se, na maioria dos casos, os resultados formais e imediatos de baixo custo.

Nesses locais instalam-se quadras, alguns brinquedos infantis, e se constroem trilhas para caminhadas e corridas. Algumas áreas são gramadas, velhas construções são adaptadas para atividades coletivas, o logradouro é muitas vezes cercado e eventualmente existe um certo trabalho de plantio de vegetação.

Poucos são os novos parques que possuem um projeto requintado como os parques do passado e um programa que realmente considere as necessidades da população, até porque são fruto de um planejamento cuidadoso do sistema de espaços públicos (MACEDO; SAKATA, 2010, p. 48).

Por isso, ao considerar que tais espaços livres promovem a saúde física, mental e emocional dos seus usuários, e também essa importância da presença dos parques nas áreas urbanas - cada vez mais impermeáveis e densas-, há possibilidade de se aproximar a população do lazer, e sensibilizar para a conservação ambiental, ao se ter em vista a presença de vegetação (muitas vezes nativa), ou a possibilidade de haver cursos d’água, lagoas e praias.