• Nenhum resultado encontrado

2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.7 PERCEPÇÃO E PREFERÊNCIA DA PAISAGEM

A percepção da paisagem coloca sob um mesmo rótulo as diferentes perspectivas do estudo ambiente-comportamento, principalmente nas áreas de geografia e arquitetura. Neste aspecto, os estudos da relação entre o homem e o ambiente, por meio de processos mentais, são denominados de cognição ambiental. E, para a psicologia ambiental, a percepção se refere a uma etapa do processo de cognição ambiental (PEREIRA, 2012).

Portanto, quando um observador entra em contato – sensorial – com algum elemento do meio, as informações interiorizam e são assimiladas em nosso cérebro, em que por ele serão filtradas, organizadas e após, passam a adquirir significados (LYNCH, 1997). Tais impressões ficarão armazenadas (formando uma imagem ativa - como se fosse um baú de informações) na memória, e formarão as nossas experiências individuais.

Para Reis, Lay (2006) e Weber (1995) apud Reckziegel (2009), após a experiência sensorial ocorre a cognição, momento de aquisição de valor, de envolvimento de fatores registrados na memória e da personalidade que geram expectativas sobre o ambiente, e que se traduzem em comportamentos e atitudes das pessoas (Figura 1). Neste sentido, a percepção da paisagem será resultante da associação do ambiente físico com o ambiente percebido (de acordo com as experiências individuais).

Figura 1. Processo de formação de imagens mentais

Fonte: Golledge e Stimsom (1977), apud Reckziegel (2009), adaptado pela autora.

Deste modo, a percepção advém desse contato sensorial, com uma ação direta e uma resposta imediata (KAPLAN, 1985), que pode ser externalizada/transmitida de forma positiva ou negativa. Então, por exemplo, com base no que se vê em uma praça, de todas as nossas memórias, e por todos os filtros (que não tem como serem medidos) individuais (ex:morais, culturais) que essa informação passar, uma pessoa pode sentir atração ou repulsa por ela. Neste aspecto, as propriedades de configuração do ambiente são muito importantes: na decisão rápida e amplamente inconsciente em relação à preferência, há uma avaliação do espaço vislumbrado e suas qualidades (KAPLAN, 1985).

51

É por isso que a percepção é muito subjetiva. Ela depende do histórico cultural a das experiências vividas por cada ser humano. Portanto, “está condicionada a fatores inerentes ao próprio indivíduo (capacidade imaginativa, mecanismos de associação), a fatores educativos e culturais, e a fatores emotivos, afetivos e sensitivos, derivados das relações do observador com o ambiente” (CANTERAS, 1992 apud BIONDI, KOZERA, VIEIRA, 2007, p. 422).

Ou seja, diferentes pessoas podem ter considerações diferentes sobre a preferência ou qualidade de uma paisagem, o que depende do uso que fazem do espaço, suas formações profissionais, educação, emoções, comportamento, personalidade, cultura, educação, experiências e todos os filtros que são possíveis nas dimensões cognitivas.

Para Bernáldez (1985), nestes estudos, percebeu-se que as pessoas reagem de formas diferentes aos mesmos estímulos ambientais, e ainda, as mesmas características físicas do ambiente podem se mostrar por efeitos diferentes, dependendo do tempo, das condições atmosféricas, da iluminação, da posição do observador, do estado psicológico do entrevistado, que podem influenciar nos estudos.

Nesta concepção subjetivista, Capitanichi (2001) apud Rodriguez e Silva (2013), destacam a importância para o planejamento ambiental de se considerar percepção como um elemento importante de representação social da população sobre seu entorno. E também, apreciar as condições ambientais e de vida da população, que afetam seu conforto e qualidade de vida.

Assim, poderá se compreender como a sociedade concebe, percebe e transforma a natureza, por meio das suas atividades, usos, significados e identidade. Porque, conforme Veras (1995) apud Rodriguez e Silva (2013), essa imagem mental se reflete no uso e gestão do seu espaço, paisagem e território. Por isso, saber mais sobre a percepção e adaptação do meio, bem como o comportamento dos indivíduos permitirá avaliar as relações espaciais de qualidade de vida e dos sistemas antropoecológicos (RODRIGUEZ; SILVA, 2013).

Neste sentido, Biondi, Kozera e Vieira (2007) ressaltam que nas últimas décadas tentaram-se elaborar muitos métodos, abordagens e formas de interpretação para restabelecer uma visão integrada da paisagem. Mas ao se ter um instrumento ou procedimentos calibrados para aplicá-la, e, com uma resposta imediata, a percepção pode extrair diferenças extremas de respostas e também resultados intermediários de um determinado grupo de indivíduos, e revelar, por exemplo, as suas preferências, gostos e vínculos entre os seres humanos e a paisagem, o que pode refletir nas atitudes humanas para com ela.

Neste sentido, de acordo com Bernáldez (1985), o estudo da percepção tem uma grande importância, pois permite compreender fenômenos culturais, interpretar o simbolismo

52

no entorno urbano, mas também, a reconhecer os recursos naturais e o patrimônio que eles podem representar. E, além disso, tais pesquisas são necessárias para atualizar os usos que são atribuídos a uma paisagem, os seus recursos, e principalmente, propiciar um desenvolvimento equilibrado deles.

“O processo de avaliar o ambiente está relacionado à maneira como as pessoas experienciam não somente os aspectos físicos, mas também os aspectos sociais, culturais e históricos” (MIRANDA, 2014, p. 62). Neste contexto, a percepção, com a vivência e avaliação do indivíduo, é fundamental no processo de apropriação (representada pelos tipos de atividades que ali acontecem) e identificação dos espaços, bem como se vê que as pessoas e os ambientes se influenciam mutuamente, ao orientarem comportamentos e alterarem a dinâmica das paisagens (MIRANDA, 2014).

Por isso, as pesquisas desenvolvidas sobre a percepção investigam os anseios, decisões e ações, seja de forma individual ou coletiva, da relação do homem com o ambiente em que vivem (em que se destacam o lugar e a paisagem, em estudos da geografia). E neste aspecto há potencialidade na discussão sobre o relacionamento entre o homem e a paisagem, que manifestam a espontaneidade e criatividade, as preferências, percepções, atitudes, e valores imaginados pela mente humana (STURZA, 2005).

Desta forma, sob uma perspectiva empírica e sensorial de valorização da experiência dos indivíduos em relação a uma paisagem, que busca compreender a percepção dos mesmos, destaca-se aqui o estudo da preferência da paisagem. Ele geralmente é um exercício comparativo, com características subjetivas individuais, que leva em consideração a sensibilidade e percepção humana, de ordem estética e psicológica, para compreender as preferências e relações entre uma ou várias paisagens e o homem (BOLÓS, 1992).

Ou seja, conforme Karjalainen (2006) apud André, Scharz e Sevegnani (2008), o termo preferência é utilizado no estudo de paisagens, que evidencia o gosto, simpatia e apreciação das pessoas pela paisagem. E, que para Tuan (1975), além das paisagens refletirem as preferências de seus observadores, evoca os seus sentimentos, tais como acolhimento, tranquilidade, insegurança ou medo.

Essa tarefa de avaliação visual e gerenciamento de recursos visuais, portanto, deve se concentrar na organização e padrão de espaços e nas interpretações dessas características espaciais em termos de funcionamento humano, ou seja, do uso, e/ou facilidade de acesso que se torna importante para as pessoas. Pois, enquanto as pessoas são rápidas em fazer julgamentos avaliativos, estes são um reflexo de muito mais do que a preferência agradável ou não. Por isso, o meio ambiente é uma fonte importante de informação que se incorpora nas

53

reações de preferência de compatibilidade do meio ambiente com as necessidades humanas (KAPLAN, 1985).

Kaplan (1985) cita que nesses tipos de pesquisa, existem implicações dos resultados na arquitetura paisagística, tal como o arranjo dos elementos construídos ou naturais no espaço, que é um fator central da preferência humana, e que poderá resultar em alterações da paisagem. Porém, deve haver cuidado para que esse conjunto de conhecimento obtido possa ajudar na tomada de decisões, na gestão e planejamento. Para isso, é necessário considerar respostas da participação pública com as características e opiniões particularmente mais ressaltadas e importantes da paisagem, perguntando quais os seus usos e aspectos positivos e negativos (KAPLAN, 1985).

Desta maneira, Delúcio e Múgica (1994) apud Marenzi (1996) reconhecem que a estética e a qualidade visual da paisagem são um dos principais objetivos na demanda recreacional e indicam que o gerenciamento sobre os recursos paisagísticos deve considerar que a questão da preferência visual de ambientes esteticamente agradáveis pode influenciar o bem-estar humano.

Em síntese, a formação de preferências é rápida [...], correspondendo à ligação pessoal e significativa com a comunidade ou com o meio biofísico. Podem sofrer influências segundo a idade e o gênero e são de razões genéticas, culturais, afetivas, cognitivas, sociais e pessoais. Também influenciadas pelas experiências anteriores, pelo conhecimento, pelas esperanças, pelos objetivos e pelos valores e necessidades no momento da avaliação. As preferências sofrem influência dos estados emocionais do indivíduo como o humor e o cansaço. Apesar de toda essa subjetividade e individualidade os métodos de pesquisa em grupo são medidas confiáveis para evidenciar preferências (KARJALAINEN, 2006 apud ANDRÉ; SCHARZ; SEVEGNANI, 2008, p. 118).

Logo, a análise de preferências de uma paisagem pode fornecer parâmetros para a gestão sobre um território, definir prioridades de ação ou conservação, e também subsidiar estratégias de interpretação e sensibilização sobre ele. Por isso, conforme Pereira (2012), a preferência da paisagem se constitui de processos avaliativos afetivos interpretativos e valorativos, que são de suma importância para a avaliação ambiental. Além de que

Nos estudos de percepção ambiental os julgamentos estéticos, por simulação de imagem de paisagens, podem fornecer uma medida adequada da qualidade da paisagem [...]. Nesse sentido são passíveis técnicas de estatística para determinar matematicamente relações existentes entre componentes da paisagem e as preferências cênicas dos observadores [...] (PEREIRA, 2012, p. 60).

54

Conforme Santiago (2009) há uma estreita relação entre o desenho do espaço urbano construído e do não construído, a percepção da paisagem e a qualidade ambiental, a formação de uma imagem da cidade, da composição paisagística, identificação simbólica, e de apropriação dos espaços públicos, com a sua definição. Por isso, os espaços livres, como elementos de integração da vida urbana necessitam de valorização e qualificação.

Como visto, a preferência da paisagem depende de muitas variáveis, e cada indivíduo pode atribuir uma valoração diferente para ela. Por isso, torna-se importante conhecer quais elementos determinaram ou influenciaram nas preferências e os valores atribuídos à paisagem.

Assim, a etapa da presente pesquisa sobre a percepção se embasará em uma avaliação através do público em geral associado a fotografias, questões de uso, qualidades e opiniões referentes aos espaços livres. Este buscará informações da relação entre a paisagem e o homem, as condições atuais do espaço livre e as expectativas futuras.

55