3 O TWITTER NOS JORNAIS
3.1 O Twitter na cobertura da “Folha de S.Paulo”
3.1.1 Os perfis dos emissores de tweets reproduzidos pela Folha
3.1.1.1 Os presidenciáveis como fontes para jornalistas
Apesar de a candidata Marina Silva ter sido a que mais utilizou o microblog até o fim
do primeiro turno, isso não se refletiu na quantidade de posts de candidatos publicados pela
“Folha”. Dados retirados do trabalho de Aggio (2011) mostram que, entre 2 de agosto e 2 de
outubro, Marina postou 748 mensagens; contra 505 postagens de Serra e 71 de Dilma (o autor
não analisou as postagens do candidato Plínio Arruda). No mesmo período, o levantamento
feito por este trabalho constatou que a “Folha” publicou nove matérias ou notas sobre posts de
Serra, contra dez que faziam referência a posts de Dilma; e apenas quatro referentes a
postagens de Marina, que ficou atrás até mesmo de Plínio Arruda, com seis matérias ou notas
publicadas. Mais uma vez os critérios de noticiabilidade de Wolf podem explicar tal
assimetria. Plínio conseguiu que seus posts fossem mais reproduzidos pois eles atendiam ao
valor-notícia do interesse por conta do exotismo, embora Marina estivesse à frente da disputa.
Além disso, como apresentaremos no Gráfico 3, nenhum post de Marina referente a
Amenidades foi reproduzido pelo jornal. Como vimos no item 1.2.4 (O Twitter na campanha
2010), o estudo de Cremonese (2010, p.15) mostrou que Dilma e Marina Silva postaram mais
mensagens de divulgação (formal) do que de relacionamento (pessoal) e José Serra postou
mensagens mais de cunho de relacionamento (pessoal) do que de divulgação (formal). Através
da análise dos dados obtidos no levantamento feito por este trabalho, vimos que as mensagens
de cunho pessoal foram as mais aproveitadas pela mídia, até pelo seu caráter curioso, o que
poderia explicar o baixo número de citações de posts de Marina, embora Dilma, como vimos
acima, também tenha se valido mais de citações formais. Mas, não podemos deixar de
destacar, no entanto, que os posts de Dilma mais aproveitados pela “Folha” diziam respeito a
Amenidades, como mostraremos a seguir. Apesar de a petista fazer poucas postagens com
esse tom, quando elas eram feitas, acabavam despertando a atenção da mídia muito em função
da posição privilegiada da candidata à frente da disputa presidencial.
Serra foi o candidato que mais teve posts reproduzidos pela “Folha” durante o
período considerado por este trabalho (entre 6 de julho e 31 de outubro). Ao todo, foram 17
matérias ou notas nas quais o jornal fez uso dos tweets do tucano, sendo 13 no primeiro turno,
e seis no segundo. Outras duas matérias publicadas pela “Folha” colheram dados do Twitter
de Serra, mas sem reproduzir um post do candidato, o que eleva para 19 o número de matérias
que se utilizaram do conteúdo do perfil do candidato no microblog:
Gráfico 1 - Classificação dos tweets de Serra usados pela “Folha” em matérias ou notas
Amenidades 10 52,6%
Campanha 4 21,1%
Ataques a adversários 2 10,5%
Interação com outros usuários 3 15,8%
19 100,0%
Fonte: Análise feita por esta pesquisa
Uma das matérias da “Folha” que se utilizou de dados do Twitter do tucano, do dia
05 de setembro, fazia críticas ao site oficial da campanha do candidato e dizia que aquele era
o endereço que ele indicava em seu perfil no Twitter. A outra, do dia 13 de setembro, tinha o
título “Almanaque presidencial: conheça livros, filmes e músicos que têm lugar privilegiado
nas coleções dos candidatos”. No caso de Serra, um asterisco indicava que as informações
foram retiradas do perfil dele no Twitter, o que mais uma vez demonstra a importância do
microblog para auxiliar na apuração.
Ao todo, 16 matérias ou notas publicadas pela “Folha” no período analisado se
utilizaram de postagens de Dilma, sendo 11 publicadas no primeiro turno, e 5 no segundo.
Deve-se notar que nenhum post de Dilma em tom de crítica aos demais candidatos foi
publicado pelo jornal:
Gráfico 2 - Classificação dos tweets de Dilma usados pela “Folha” em matérias ou notas
Amenidades 8 50,0%
Campanha 5 31,3%
Agenda 2 12,5%
Promessas ou propostas 1 6,3%
16 100,0%
Fonte: Análise feita por esta pesquisa
No caso de Marina Silva, nenhuma matéria foi feita com base nos tweets da
candidata. Ao todo, entre 6 de julho e 31 de outubro, foram cinco posts reproduzidos no box
“Tuitada” e uma nota da coluna “Painel”, sendo essa última já no segundo turno, quando
Marina estava fora da disputa. Desse total de cinco posts reproduzidos na condição de
candidata, dois foram de ataques indiretos aos demais candidatos.
Gráfico 3 - Classificação dos tweets de Marina usados pela “Folha” em matérias ou notas
Ataques a adversários 2 40,0%
Campanha 1 20,0%
Agenda 1 20,0%
Interação com outros usuários 1 20,0%
5 100,0%
Fonte: Análise feita por esta pesquisa
Já Plínio Arruda teve seus tweets reproduzidos em oito matérias ou notas no período
analisado, sendo dois deles já no segundo turno, quando o candidato, assim como Marina, já
não disputava mais o cargo.
Gráfico 4 - Classificação dos tweets de Plínio usados pela “Folha” em matérias ou notas
Campanha 4 66,7%
Ataques a adversários 1 16,7%
Amenidades 1 16,7%
6 100,0%
A análise dos gráficos nos deixa inferir que o baixo desempenho de Marina em
conseguir que seus posts fossem reproduzidos pode ser explicado pela característica dos posts
da candidata, que eram mais formais. Chama atenção também que nenhum post de Dilma de
ataque aos adversários foi publicado. A candidata, em posição privilegiada na disputa, optou
por poupar o recurso em sua rotina de postagens no microblog. Já Serra, Marina e Plínio, ao
dispararem ataques que foram reproduzidos pela imprensa, ganharam ainda mais visibilidade.
Devemos destacar ainda que apenas Dilma conseguiu que postagens de promessas
fossem reproduzidas pelo jornal. Em contrapartida, Serra e Marina tiveram suas interações
com usuários publicadas pela “Folha”, o que demonstra o domínio dos candidatos (ou de
quem postava em suas contas) sobre como agir na ferramenta e a atenção dispensada pelos
jornalistas a essas “conversações em rede”, nos termos de Recuero (2012). Um bom exemplo
disso é a reportagem “Comitê de Serra cria esquadrão antiboato”, do dia 29 de julho, que
aborda a resposta do candidato a um questionamento sobre um rumor, que, como vimos, tem
sido uma preocupação em campanhas de democracias liberais:
Na madrugada de quarta, plugado à web, Serra rebateu, em resposta a um internauta, um dos "boatos" que considera mais frequentes: "É claro que não é verdade", anotou Serra no Twitter. "Privatização do Banco do Brasil é puro terrorismo eleitoral." (FOLHA DE S.PAULO, 29 jul de 2010, p.A8).
Observar essa conversação entre o candidato e um seguidor dele é de relevância para o
jornalista pois esse bate-papo online pode mostrar o posicionamento do político diante de um
tema ou questionamento. “Fazer um retweet para mostrar à sua audiência que o ator segue
outro ator, por exemplo, pode ser considerado uma conversação com a audiência, onde se está
negociando capital social” (RECUERO, 2012, p.144).
Os posts que tratavam das famílias dos candidatos também foram abordados pela
mídia. No dia 10 de setembro, a “Folha” publicou na seção “Tuitada” o seguinte tweet de
Dilma: “Obrigada pelas congratulações pelo nascimento do Gabriel! É um dia de muita
alegria. Ser avó é uma dádiva e estou curtindo este momento”. Na mesma seção, no dia 15 de
setembro, o destaque ia para o estado de saúde da candidata: “Meu tornozelo torcido vai bem,
obrigada. Médicos receitaram muito gelo, botinha e descanso_bom, esta é a parte mais difícil
de cumprir”.
As fotos divulgadas pelos candidatos no Twitter também foram parar nas páginas do
jornal. A primeira delas foi a postada por Serra ao lado dos jogadores Ronaldo e William
(ambos do Corinthians) e do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. A notícia diz que o
candidato, “fanático palmeirense”, se “enfiou em roda de corintianos”. A reportagem faz
referência ao Twitter de Serra, por onde ele avisou que tinha voltado de um "jantar agradável
na casa do Ronaldo e da Bia". O texto também cita o perfil de Ronaldo, através do qual ele
esclareceu que a recepção não significava apoio político e que o casal pretendia repetir a dose
com outros candidatos. Essa reportagem pode ser considerada emblemática por exemplificar
uma apuração que foi feita totalmente com base em tweets.
No dia 25 de agosto, a “Folha” reproduziu outra foto retirada do Twitter, mas desta vez
divulgada por Dilma. A candidata aparece sendo medida pelo famoso estilista Alexandre
Herchcovitch. A matéria principal, “Dilma descarta ‘técnico frio’ em equipe”, não tinha
qualquer relação com a imagem. A “Folha” optou por fazer uma pequena coordenada, de
apenas uma coluna, para poder publicar a fotografia e ouviu o estilista, que disse que o intuito
de seu trabalho era dar dicas de peças para a candidata.
As análises e categorias acima apresentadas dizem respeito aos posts reproduzidos.
Buscamos entender também que tipo de matérias esses posts originaram em termos de
enquadramento e qual impacto de valência elas agregraram aos candidatos. Assim, tomando
por base a classificação do Doxa, constatamos que (APÊNDICES B, C, D e E): das 19
matérias ou notas que fazem referências a postagens de José Serra, foram 14 positivas, duas
neutras, duas equilibradas e uma negativa. Já das 16 que fazem referências a postagens de
Dilma, 11 foram positivas, 3 equilibradas, uma neutra e uma negativa. Das seis matérias que
faziam menção a posts de Plínio no primeiro turno, quando a candidato ainda estava na
disputa, três eram positivas, duas eram neutras e uma negativa. E das cinco matérias que se
utilizavam de posts de Marina no primeiro turno, quatro eram positivas e uma negativa.
Vemos que o número de matérias ou notas positivas é bem superior ao número de
matérias ou notas negativas. Podemos inferir, mais uma vez, que o conteúdo retirado do
microblog pelos jornalistas, de forma geral, era leve, curioso, mais como uma forma de
complementar a edição, por isso o número de matérias/notas positivas ser tão superior. O uso
do Twitter como meio para fazer denúncias e/ou ataques, como veremos no item 3.1.1.3, se
deu mais por parte dos assessores e vices (no caso de Indio), o que também explica este
número elevado de matérias positivas que reproduziam os posts dos presidenciáveis.
Com relação ao enquadramento, as matérias personalistas (8) foram responsáveis por
grande parte do número total de matérias que se utilizavam de posts de José Serra (19), o
candidato que mais teve artigos que reproduziam seus textos do Twitter. E até mesmo Dilma,
que, como dissemos, postou mais mensagens de cunho de divulgação do que de
relacionamento, conseguiu publicar matérias personalistas (7, de 16), embora os posts da
candidata tenham sido um pouco mais utilizados em matérias que faziam tratamento temático
dos assuntos (8). Já Marina, a candidata que menos teve posts reproduzidos pelo veículo, não
teve uma matéria classificada como personalista que se utilizasse de material retirado de seu
microblog. Até pelo fato de ela fazer muito mais postagens formais. Sabemos que os
jornalistas – e vimos isso através dos relatos dos entrevistados – buscavam no Twitter muitas
vezes uma declaração, ou aspa, no jargão, diferenciada, engraçada ou polêmica. Os candidatos
que souberam explorar isso, que tinham conhecimento dos critérios de noticiabilidade e,
portanto, do tipo de postagem que interessava mais à cobertura da imprensa, tiveram um
desempenho melhor de aparição na mídia.
No documento
Universidade do Estado do Rio de Janeiro Centro de Educação e Humanidades Faculdade de Comunicação Social
(páginas 127-133)