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1 JORNALISMO E POLÍTICA: OS CAMPOS E A REDE

1.2 O Twitter, o Facebook e outras ferramentas nas disputas eleitorais

1.2.2 O YouTube na campanha 2010

Os vídeos mais vistos do YouTube com relação aos candidatos também continham

mais ataques do que esclarecimentos sobre plataformas de campanha e propostas de governo.

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Palestra ministrada no 4º Seminário Internacional de Mídia Online (MediaOn), realizada em São Paulo no dia 10 de

Novembro de 2010 e transmitida pelo portal de internet Terra. Disponível em: <http://tinyurl.com/4y6f4ey> (parte 1) e

<http://tinyurl.com/3msdxvc> (parte 2). Acesso em: 13 jun. 2011. 10

O Instituro Vox Populi planejou e executou dez grupos de discussão entre os dias 29, 30 de julho e 02 de agosto de 2010, nas cidades de Belo Horizonte, Porto Alegre, Recife, Rio de Janeiro e São Paulo. Em cada cidade, dois grupos: um de eleitores jovens (16-30 anos) e outro de eleitores maduros (30-45) anos. Mistos em relação a gênero, os grupos incluíam pessoas das classes B2 e C1. Foram selecionados indecisos e eleitores que declararam intenção de voto em Dilma, Serra ou Marina.

O relatório da pesquisa da FSB PR Digital sobre o segundo turno mostrou que, no YouTube,

havia vasta quantidade de vídeos amadores e religiosos, com grande porcentagem de material

classificado como negativo para ambos candidatos (Dilma com 43%, e Serra com 66%).

Na análise feita por Lopes (2011), entre os vídeos mais vistos

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(juntos, cerca de 1,1

milhão de exibições) que continham ataques à candidata Dilma as principais acusações diziam

respeito à opinião dela quanto ao aborto e a uma suposta declaração (“nem mesmo Cristo

querendo, me tiram essa vitória”). Entre os vídeos contrários a Serra, grande parte das críticas

nos mais assistidos era sobre as enchentes em São Paulo durante a gestão dele. Eles tratavam

ainda da trajetória do candidato como deputado federal durante a Constituinte de 1988 e do

posicionamento ideológico do PSDB. O episódio em que Serra é atingido na cabeça por um

objeto também estimulou a criação de vários vídeos, entre eles o “Bolinhagate – Edição do

Jornal Nacional”, que dizia revelar a suposta fraude na edição que a Rede Globo veiculou no

dia do incidente. Ainda de acordo com Lopes, “vídeos de Marina são de apoiadores com

mensagens positivas ou, em sua maioria, trechos de debates e conteúdos transmitidos na

televisão. Poucos vídeos negativos” (LOPES, 2011, p. 27).

O YouTube se tornou, ao longo da campanha, uma das plataformas mais usadas pelos

internautas/eleitores para se apropriar de um conteúdo oficial e criar paródias, fazer críticas,

elogios ou deboches aos candidatos. É preciso lembrar, no entanto, que a militância conduz a

maior parte desta produção aparentemente amadora. O vídeo do estudante goiano Paulo Reis,

o "DilmaBoy", virou um fenômeno na web após ser postado no YouTube no dia 28 de junho.

No filme, ele compara Dilma a Evita Perón em uma paródia da música “Telephone”, de Lady

Gaga. O vídeo chegou a ser propagado até mesmo pela própria candidata, que fez menção ao

estudante em seu perfil no Twitter no dia 15 de julho, e foi noticiado pela mídia, como

veremos no capítulo 3. O material, no entanto, acabou sendo reapropriado por simpatizantes

de outros presidenciáveis. Uma versão do clipe foi feita em favor de José Serra (PSDB). As

imagens de “DilmaBoy” foram mantidas, mas o áudio foi substituído pelo jingle do tucano. O

“Serraboy”, como a nova versão foi chamada, não gerou muita repercussão na web, mas

exemplifica essa possibilidade de releitura e reinterpretação que a internet permite. Uma

eleitora de Marina Silva também usou a música “Telephone” como base de um vídeo em que

a jovem aparece dizendo estar cansada de tantos escândalos e dá força para a candidata chegar

ao segundo turno.

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Vale destacarmos ainda o “Serra Come Todo Mundo”, no qual foi feito um recorte do

programa do candidato no HGPE em que ele cita várias pessoas como exemplo – como

fulana, como ciclana, como beltrana – e que acabou ganhando duplo sentido na forma em que

foi editado.

Os vídeos políticos lembrados pelos entrevistados da pesquisa do Vox Populi são, de

forma geral, os que têm humor. Aldé (2011) explica que alguns eleitores percebem que parte

dos vídeos não identificados é iniciativa de campanha. Neste caso, passam pelo crivo da

desconfiança de propaganda enquanto os emissores já estabelecidos passam mais

confiabilidade:

No caso de Serra, sua aparição no Pânico na TV, dançando com Sabrina Sato (no episodio que vários participantes chamaram de “a dancinha do Serra”), foi muito visto e teve um efeito ambíguo. Embora tenham considerado constrangedor e pouco apropriado para uma figura pública (“Não pode dar uma de palhaço, escrachar demais”), também foi visto e valorizado como uma tentativa de ser simpático. No saldo, foi avaliada como positiva por dar “pena” no candidato se submeter àquela situação na tentativa de agradar. (ALDÉ, 2011, p. 13).

Encaramos o interesse da audiência pelo conteúdo com humor como uma forma de ver

com prazer o processo político, muitas vezes tido como chato e sério demais. Segundo

Jenkins (2009, p. 364), “o estilo muitas vezes ‘politicamente incorreto’ das paródias na

Internet opõe-se frontalmente à linguagem e às suposições através das quais as gerações

anteriores debatiam a política pública”. Essas paródias conseguem assim captar o interesse e

informar uma geração tão aparentemente desinteressada pela política e pelas notícias. Prior

(2007), em seu estudo sobre o ambiente midiático nos Estados Unidos, classifica os

telespectadores em três grupos: os que só veem notícias, os chamados por ele de Switchers

(que vamos traduzir como zapeadores e consistem naqueles que assistem tanto a notícias

quanto a programas de entretenimento) e os que só veem programas de entretenimento. O

primeiro grupo é considerado pelo autor o mais partidário em suas opiniões e escolhas

políticas (64.9% têm identificações partidárias contra 9.3% sem preferência), e o terceiro

grupo, o menos (46.2% têm identificações partidárias contra 26.1% sem preferência). Já os

zapeadores representam o meio-termo: 57.6% têm laços partidários e 13.8% não. Para o autor,

a diminuição do contato com a informação, de um modo geral, significa um desvio da atenção

dos cidadãos das matérias de domínio público e político. Ao longo da evolução do ambiente

midiático, pôde-se constatar que a televisão inicialmente aumentou o grau de cultura política

dos cidadãos, mas nas eras da fragmentação e da hiperfragmentação, com a TV a cabo e a

internet, essa tendência se abrandou. É claro que a internet aumenta a oferta de conteúdo

político, mas isso não significa que há uma elevação no interesse da audiência como um todo

em absorver esse material.

Os políticos e os comunicadores, então, tiveram que se adequar a essa nova forma de

tocar o público e chamar a atenção dele. Por isso, candidatos como Serra e Dilma acabaram se

deixando colocar em situações por vezes constrangedoras, e os jornais passaram a publicar

curiosidades engraçadinhas da campanha em seções especiais como veremos no capítulo 3. A

charge foi uma precursora dessa forma de informar o leitor através do humor.

Em 2010, as coordenações de campanha efetivamente estimulavam que os

internautas/eleitores produzissem vídeos e divulgassem através das redes sociais. Exemplo

disso foi o “Festival de vídeos Marina”. A proposta era que eleitores enviassem um vídeo de

até 43 segundos (número que coincide com o da candidatura) em apoio à Marina, numa

competição pelo projeto mais criativo. Não encontramos nenhum relato na rede sobre o

retorno do festival. Uma busca, no entanto, no YouTube - realizada no dia 03 de setembro de

2012, dois anos após o evento ter sido criado na internet-, pelo termo “Festival de Vídeos

Marina” encontrou apenas oito resultados.

Já em termos de conteúdo oficial, os três principais presidenciáveis criaram canais de

vídeos que continham reproduções de entrevistas ou debates exibidos na televisão, programas

eleitorais e material produzido exclusivamente para a web.

Os jornalistas, como mostram os relatos do próximo capítulo, faziam um uso mais

esporádico do YouTube, muito em função da materialidade do meio, que não permite uma

ordenação de conteúdos de interesse. Os repórteres, na maioria das vezes, chegavam até a

plataforma de vídeos através de e-mails com indicações de vídeos ou de postagens feitas por

amigos e fontes nas outras redes sociais. Apenas dois entrevistados relataram fazer buscas

aleatórias no YouTube na esperança de encontrar algum conteúdo que pudesse gerar um furo

de reportagem.