1 JORNALISMO E POLÍTICA: OS CAMPOS E A REDE
1.2 O Twitter, o Facebook e outras ferramentas nas disputas eleitorais
1.2.4 O Twitter na campanha 2010
O Twitter foi criado em 2006, mas só passou a se popularizar no Brasil em 2009, um
ano antes das eleições presidenciais. Entre os candidatos, o primeiro a criar um perfil no
microblog foi Serra. O @joseserra_ foi ao ar em 24 de abril de 2009. Depois foi a vez de
Plínio, que durante a campanha ganhou um grande número de seguidores e foi considerado
um sucesso na rede. O @pliniodearruda foi criado em 26 de agosto de 2009. Em seguida, veio
Marina, com o @silva_marina ativado em 15 de janeiro de 2010. Dilma foi a última a entrar
no microblog: o @dilmabr foi inaugurado em 10 de abril de 2010.
Como bem define Zago (2012), o Twitter poder ser visto como um híbrido entre uma
ferramenta de informação e uma ferramenta de interação social. Assim como o Facebook, o
Twitter tem uma plataforma que facilita o compartilhamento de informações. As mensagens
postadas são vistas pelos seguidores de determinado perfil, que poderão retuitá-las. Desta
maneira, o conteúdo postado por um autor pode chegar a pessoas desconhecidas do emissor
inicial da mensagem. Assim, quando uma pessoa de grande influência na rede, ou seja, que
tem muitos seguidores, publica um assunto sobre determinado candidato, esse conteúdo acaba
tendo uma capacidade enorme de replicação. Por isso, a fama em um mecanismo como o
Twitter pode se dar pela quantidade de seguidores. “Formas de capital social que seriam mais
difíceis de ser construídas e apropriadas no espaço offline parecem ser mais acessíveis no
espaço online, como, por exemplo, popularidade” (RECUERO, 2012, p. 136).
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Palestra ministrada no 4º Seminário Internacional de Mídia Online (MediaOn), realizada em São Paulo no dia 10 de
Novembro de 2010 e transmitida pelo portal de internet Terra. Disponível em: <http://tinyurl.com/3utpwe8>(parte 1) e
As ondas multiplicadoras surgem da combinação de número de seguidores com a
quantidade de retuites que esses seguidores, e os seguidores deles, reproduzem a mensagem
para suas audiências. Em um artigo publicado no blog do Noblat, no dia 05 de outubro de
2010, a jornalista Risoletta Miranda
13comentou sobre a importância dessas replicações no
resultado do primeiro turno, no qual Marina Silva conseguiu uma votação expressiva que
levou a disputa para o segundo turno:
[...] O “sprint” de Marina Silva no apagar das luzes do 1º turno teve muito do ambiente digital. [...] Entre os dias 30 de setembro (dia do último modorrento debate entre os presidenciáveis na Rede Globo) e o dia 04/10, 8 horas da manhã, o Twitter funcionou não como onda, mas praticamente como uma tsunami digital verde a favor de Marina Silva. [...] Os Tweets (posts do Twitter que citam @silva_marina) foram “exibidos” 79.369.950 vezes no microblog nesse período. Essa audiência foi criada por 6,7 milhões de pessoas através de uma frenética postagem de 150 mil mensagens escritas, originalmente, por 74 mil usuários com perfis ali registrados. [...] Para entender esses números além do seu valor absoluto, é preciso considerar que houve – como é praxe no ambiente das redes sociais – um enorme “empréstimo” de credibilidade dos “tuiteiros” para os candidatos de sua preferência. (MIRANDA, 2010)
A jornalista explica que, no caso de Marina, celebridades como Bruno Gagliasso
(@bgagliasso) e Danilo Gentili (@danilogentili) fizeram posts com uso das hashtags
#ondaverde e #marina43, que direcionaram mensagens para os jovens, chamando-os a aderir à
candidata. No caso de José Serra, os perfis que mais contribuíram para sua exposição foram
@rede45, @sabrinasatoreal e @huckluciano. No caso de Dilma, Miranda considera que a
influência de seus apoiadores foi pulverizada por vários perfis, com destaque para
@blogdilma2010, @mercadante e @chavezcandanga (do presidente da Venezuela).
Devemos considerar, no entanto, a capacidade de replicação também de posts
negativos postados por esses influenciadores e formadores de opinião na web. Miranda
ressalta que três dos perfis que mais contribuíram para a exposição de Dilma o fizeram com
posts neutros ou negativos: foi o caso de @huckluciano (neutro), @alanbez, @LeiSecaRJ e
@luiefs (negativos).
Foram perfis que geraram muita exposição para @dilmabr mas não eram apoiadores. Ou seja, na verdade não entram na conta da candidata e sim na dos seus concorrentes. Juntos, eles representam quase 3 milhões de impressões negativas. [...] Há uma “contaminação” importante que vale para Serra e Marina: o que publicaram os perfis dos meios de comunicação no Twitter. Destaque disparado para o @G1 (o perfil de notícias da Globo.com). Quando escreveu sobre Marina Silva o G1 produziu 3,447,261 exibições. No caso de Serra foram 2,28 milhões. Dilma não teve esse adicional. Entre os 50 maiores influenciadores da sua exposição no Twitter não aparece nenhum meio de comunicação. (MIRANDA, 2010).
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Diante desses dados, vê-se que os perfis com muitos seguidores são capazes de gerar
uma visibilidade para os candidatos com valências que podem ser tanto positivas quanto
negativas, neutras ou equilibradas, assim como as matérias jornalísticas. A afirmação de
Miranda deixa nítida ainda a importância dos perfis dos veículos de comunicação, que
utilizavam o Twitter também como um meio divulgador de informação e não só como uma
ferramenta utilizada pelos jornalistas para acompanhar o que se passava no microblog. A
edição do material postado no Twitter deveria seguir os mesmos parâmetros em termos de
cautela editorial do que é publicado no jornal pois, como nos indicou a autora, esse conteúdo
poderia favorecer determinado candidato.
Para que a interatividade ocorra entre os atores de uma rede social é necessária uma
reciprocidade. O retuite, embora não seja, em alguns casos, uma resposta direta ao remetente
da mensagem, já indica que aquela informação surtiu efeito e gerou uma ação, que pode ser
percebida pelo autor do post. “A relação é considerada a unidade básica de análise em uma
rede social” e ela “sempre envolve uma quantidade grande de interações” (RECUERO, 2009,
p.37). Além dos retuites, os usuários do Twitter podem manter conversas através do uso do
símbolo @ junto ao nome do usuário com o qual se pretende interagir. Dessa forma, é
possí-vel citar outros seguidores, que eles saberão que foram mencionados.
Uma peculiaridade do Twitter é o número de caracteres, que não pode ultrapassar 140
por post. O objetivo é transmitir informação de forma prática, ágil e sucinta. No entanto, a
oferta de links pode levar a navegação para páginas que permitem que o conteúdo – seja ele
uma foto, vídeo, áudio ou até mais textos – seja exposto sem limitação.
Não é raro encontrar opiniões manifestadas por leigos que julgam que o Twitter é um mar de trocas de informações diminutas, simplistas e irrelevantes por conta, em grande medida, do limite de caracteres. Ferramentas de encurtamento de links, por exemplo, transformaram este site num grande distribuidor de tráfego, permitindo aos seus usuários anunciarem, classificarem ou comentarem conteúdos e direcionar seus seguidores para outros sites contendo informações em escala e formato variáveis, como vídeos, textos em blogs ou portais de notícias. (AGGIO, 2011, p.8).
As características dos posts dos presidenciáveis no Twitter eram tão distintas que
puderam ser divididas em 15 categorias por Aggio (2011): divulgação de agenda, comentários
sobre eventos, replicação de mensagens, ataques, entre outros. Na sua categorização, o autor
incluiu itens com ou sem link. O intuito foi mesmo distinguir os posts que poderiam conduzir
o eleitor aos websites ou canais oficiais do YouTube, por exemplo, que abrigariam um
conteúdo diferenciado e com outras características e potencialidades de cognição. Isso denota
o esforço em atrair a atenção dos eleitores para outros canais de comunicação oficiais da
campanha.
Marina Silva foi considerada por Aggio como a candidata que melhor se utilizou das
ferramentas digitais por ter feito uma apropriação singular do Twitter ao utilizar o meio com o
intuito de informar seus seguidores sobre as atividades de campanha. Ela extrapolou,
constantemente, as barreiras dos 140 caracteres ao ofertar links que permitiam o acesso a
entrevistas ao vivo em rádio e televisão. Dilma e Serra também fizeram uso do recurso.
A integração e remissão entre as diferentes mídias disponíveis na web foi nítida nesta
campanha e pode ser exemplificada também através de dois posts da candidata Marina. No do
dia 1 de outubro ela dá um retuite em uma seguidora que diz ter feito uma ação no site de
relacionamentos Orkut: “#OndaVerde no Orkut RT @wanessa_costa2: mandei scrap pra geral
no meu orkut pedindo pra que sejam inteligente e votem na #marina43”. Veremos mais
adiante que até mesmo as respostas de candidatos a eleitores acabaram sendo reproduzidas em
matérias ou notas veiculadas pela mídia.
Os candidatos não se utilizaram apenas das redes sociais para divulgar suas demais
plataformas que dispunham de conteúdo oficial. Marina Silva, com apenas 1 minuto e 24
segundos de exposição no HGPE, aproveitou esse tempo na televisão para convidar os
eleitores a acessar seu site – e assim obter mais informações sobre suas propostas, fazer
doações para a campanha, etc. A falta de tempo na TV foi contornada ainda com iniciativas
digitais como o “Sala de Marina”, que era um programa no formato de TV para web exibido
pelo site da candidata para debater questões do projeto político de sua candidatura. Mais uma
vez, diante de uma limitação – neste caso temporal e não espacial como no caso do Twitter -,
as coordenações de campanha desenvolveram uma estratégia de remissão de uma plataforma
para outra na qual não há restrição ao conteúdo que se pretende comunicar.
Uma característica específica do Twitter que pôde ser explorada pelos candidatos foi o
seu caráter informal, que, se bem utilizado, permite gerar entre os interlocutores uma sensação
de maior proximidade. Cremonese (2011) classificou as mensagens dos candidatos no Twitter
em “comunicações de divulgação” - mais formais, geralmente utiliza a terceira pessoa e é
mais impessoal - ou de “relacionamento” - mais informais, quando o candidato fala de sua
vida pessoal e emprega a primeira pessoa. “Dilma e Marina Silva postaram mensagens mais
de divulgação (formal) do que de relacionamento (pessoal) e José Serra postou mensagens
mais de cunho de relacionamento (pessoal) do que de divulgação (formal)” (CREMONESE,
2011, p. 15).
Mas até mesmo as mensagens classificadas como formais pelo conteúdo apresentavam
uma linguagem informal e despojada, característica do Twitter. Dilma optou muitas vezes por
usar o termo “pessoal” para se referir a seus seguidores, como no dia 25 de outubro: “Pessoal,
nessa reta final, recomendo que sigam @dilmanarede e @dilmanaweb para terem
informações atualizadas sobre a nossa campanha!”.
Os candidatos também optaram por mesclar essas “mensagens de divulgação” com as
de “relacionamento”. Marina publicou versos e reflexões e indicações musicais, como no dia
29 de setembro: “Um instante para quem não conhece ter o prazer de ver e ouvir Dorival
cantando Marina Morena http://bit.ly/dBjSwm”. Serra, segundo Cremonese, foi o candidato
que mais se utilizou de mensagens de cunho de relacionamento (pessoal), como no dia 5 de
setembro: “Assisti Vertigo, no Morumbi, em 2006. RT @smallperes @joseserra_ ouça u2
bom som”. E também no dia 21 de agosto: “Pois é @Val_Ce, em Manaus ainda deu tempo de
pegar carona em uma aula de body jump, rs, rs: http://migre.me/16pFn”.
Já Dilma, de maneira geral, optou por fazer poucas mensagens de “relacionamento” e
evitou falar de sua vida pessoal.
Marina Silva e José Serra compreenderam, basicamente, o funcionamento do Twitter enquanto ferramenta de comunicação política singular que os aproxima de seus eleitores de variadas maneiras. A candidata Dilma Rousseff isola-se num padrão e comunicação ultra-discreto, ínfimo [...]. (AGGIO, p. 14).
Podemos dizer que a partir das eleições 2010, o “corpo a corpo” online também passa
a ter relevância. Além da regularidade nas postagens, alguns candidatos optaram por fazer uso
da interatividade
14com seus interlocutores. Nesse caso, foi preciso ler o que os internautas
estavam perguntando ou comentando e respondê-los, o que demanda maior disponibilidade e
tempo do candidato. Essa troca mostrou-se importante porque os usuários que obtêm
respostas ou menções podem se engajar ainda mais a favor daquela candidatura, ou, pelo
contrário, se não forem correspondidos, podem acabar falando mal. Recuero (2012 p. 187)
explica que a menção de indivíduos com determinada reputação ou popularidade confere
valor àquele que recebeu a menção. José Serra, por exemplo, retuitou em 14,02% de suas
mensagens postadas entre o dia 6 de julho (início da propaganda eleitoral) e 2 de novembro de
2010, segundo um estudo de Cremonese (2012, p. 143).
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Interatividade entendida como comunicação mediada potencial habilidade da mídia de deixar o usuário exercer influência sobre o conteúdo e/ou forma de comunicação mediada (JENSEN, 1999, p. 183)
O consumo de informação política na Internet requer a ação do ator social, questão central para a comunicação política contemporânea. Sobretudo em ambientes relacionais ou dotados de ferramentas interativas, o desafio das lideranças vai além da busca pela visibilidade: é preciso engajar o eleitor, fazer com que ele interaja com o conteúdo. Afinal, por meio do compartilhamento em rede, conteúdos políticos podem alcançar indivíduos que não os acessariam espontaneamente. (LEAL, ROSSINI, 2012, p. 101).