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Os recursos socioeconómicos de Casamansa

CAPÍTULO 2. CONFLITO DE CASAMANSA

2.1. Enquadramento geopolítico de Casamansa

2.1.3. Os recursos socioeconómicos de Casamansa

A região de Casamansa é considerada como aquela que possui mais recursos naturais que outras regiões do Senegal, desde a época colonial. Os recursos desta região advêm essencialmente da agricultura (arroz, mancarra, caju, manga e outras frutas), pesca (peixes, camarões e outros moluscos) e turismo.

As mudanças climáticas particularmente a partir dos anos 1970 têm provocado uma crescente salinização do estuário e das águas subterrâneas que ameaçam destruir o ecossistema aquático sobretudo (camarões) e terrestre (mangal, palmeiras e culturas). A elevação do nível do mar poderá cobrir significativa dimensão territorial e submergir o mangal que se trata de um importante recurso económico (madeira e conchas) e dos mais ricos ecossistemas do Mundo (Marut, 2010: 50). Os principais componentes do mangal são suportes naturais das colónias das ostras e são utilizados tradicionalmente como materiais

de construção e como fonte de energia doméstica para cozinhar os alimentos.33 Estas mudanças climáticas tendem a afetar a pesca artesanal, uma das principais atividades casamansenses e afetam igualmente a floresta, donde se extraem troncos de árvores para madeira e para lenha e carvão.

A agricultura de Casamansa tem grande importância na produção nacional (arroz, mancarra, frutas e óleo de palma) e grandes possibilidades de desenvolvimento local, embora ameaçadas por mudanças climáticas. O arroz produzido é metade da produção atual do Senegal, contudo não satisfaça as necessidades atuais de Casamansa (Marut, 2010: 51). A insuficiência do arroz é explicada pelo aumento de procura provocada pela explosão demográfica e redução da oferta derivada da devastação das áreas cultivadas. Por consequência, as importações a custos baixos contribuíram para a quebra da produção local e o aumento do consumo do arroz importado.

A exploração de castanha de caju é uma atividade agrícola recentemente desenvolvida principalmente para exportação e junta-se a mancarra, proveniente do norte, produzida e comercializada em todo o Senegal. A produção do algodão na Alta Casamansa corresponde a dois terços da produção nacional, mas a falta de meios de transportes e unidades de transformação dos produtos agrícolas é um reverso do desenvolvimento económico.

No domínio industrial comparativamente à Dakar, a região de Ziguinchor possui poucas unidades de produção destacando a Sociedade Elétrica e Industrial de Casamansa (SEIC), fábrica de óleo de amendoim, empresa de comércio de peixes, crustáceos e moluscos (Amerger) e unidade de tratamento de camarões (Diouf, 1994:138). O desenvolvimento desigual das regiões não é caso singular senegalês, mas da maioria dos países em desenvolvimento, que tende a uma excessiva concentração das atividades económicas nos centros urbanos.

Relativamente aos recursos minerais o “ouro cinzento” é explorado em regime de monopólio pelos ganeses que se encontram no estuário de Casamansa, em Elinkine e Diogué. Em Falémé existe um jazigo de produção de ferro e um outro de ouro em Sabodala, na região de Kédougou, cuja exploração se iniciou em 2009.34 Ao largo da Costa de Casamansa existe reserva petrolífera off shore calculada em centenas de milhões de toneladas, mas não foi iniciada a exploração devido ao elevado custo do barril a pelo menos 70 dólares, o que reduz a sua rentabilidade (Marut, 2010). Mas a quantidade do petróleo

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Estima-se que em 30 anos, cerca de 75.000 mangais já desapareceram, o que corresponde a metade dos existentes em Casamansa no passado.

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Kédougou é antiga região de Tambacounda que o MFDC considera localidade pertencente à Casamansa.

existente caso seja explorado a custos moderados será uma grande fonte de receita para o Senegal.

O turismo é considerado estratégico para o desenvolvimento económico do Senegal e no litoral de Casamansa, estão concentradas infraestruturas turísticas, mas ameaçadas pelos riscos de elevação dos mares e ao mesmo tempo, fragilizadas pelo conflito. Casamansa difere de outras regiões do Senegal, porque é considerada importante para os produtos primários e arrecadação de divisas. Pois, uma parte dos produtos haliêuticos da costa de Casamansa é levada para o norte do Senegal, uma outra parte é exportada e outra parte fica para o consumo interno de Casamansa (Marut, 2010: 52). A região de Casamansa pode ser considerada quase um “celeiro do Senegal” por ser produtora das principais mercadorias de exportação do Senegal e soma ao turismo que rende divisas, contribuindo para minimizar o défice da balança comercial. As características paisagista e agrícola de Casamansa são diferentes do norte do Senegal, sendo reconhecidas de uma maneira geral pelos senegaleses.

As infraestruturas sociais são precárias em Casamansa, os subúrbios têm estradas esburacadas e há dificuldades de ligação com Dakar. Como medidas pacificadoras o Governo senegalês prometeu desenvolver as infraestruturas: construção de um aeroporto internacional, pontes e restauração de ruas e prédios.35

No domínio da educação a situação é diferente na medida em que, Ziguinchor possui uma taxa de escolarização mais elevada do Senegal, (100%), muito superior a de Dakar que é de 57% e noutras regiões variam entre 33% a 17%. O serviço de saúde de Ziguinchor também está qualificado entre os três primeiros do Senegal: Dakar, Thiès e Ziguinchor (Diouf, 1994).

Espaço limítrofe do Senegal

O Senegal situado na sub-região do Oeste Africano insere-se no espaço da CEDEAO (Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental), em francês (Communauté Économique des États de l’Afrique d’Oueste) e em inglês (The Economic Community of West African States) representado pela sigla (ECOWAS). Fazem parte desta comunidade 15

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Foram promessas feitas pelas autoridades senegalesas em 2011, aquando da abertura de nova linha aérea Dakar-Ziguinchor para minimizar as dificuldades de ligações entre as duas cidades.

Estados: Benim, Burkina Faso, Cabo-Verde, Costa de Marfim, Gâmbia, Gana, Guiné, Guiné- Bissau, Libéria, Mali, Níger, Nigéria, Senegal, Serra Leoa e Togo (ver figura 2.4).36

Figura 2.4: Países da CEDEAO

A CEDEAO foi criada pelo Tratado de Lagos na Nigéria, em 1975, para a cooperação e integração económica regional. Esta comunidade tinha uma população total estimada em 340.000.000 (trezentos e quarenta milhões) de habitantes em 2013. A Nigéria país anglófono situado no Golfo da Guiné, é um Estado Federal e o país africano mais populoso com 170. 123.740 (cento e setenta milhões cento e vinte três mil e setecentos e quarenta) habitantes de acordo com o Recenseamento Geral da População (2012) e 173. 6 (cento e setenta e três milhões e seis mil) habitantes segundo a estimativa 2013, é maior potência económica no contexto da CEDEAO, constituindo um “contraponto” na região do Golfo da Guiné (Nóbrega, 2003: 41). O PIB global dos Estados da CEDEAO era de 564,86 bilhões de USD (2012), considerado 25º poder económico mundial, de acordo com o Fundo Monetário Internacional.

O espaço da CEDEAO é dominado pelos países francófonos com exceções da Gâmbia, Gana, Libéria, Serra Leoa, e Nigéria que são anglófonos e da Guiné-Bissau e Cabo-Verde que são lusófonos.

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A UEMOA (União Económica e Monetária do Oeste Africano) é uma organização da CEDEAO, criada em Dakar, a 10 de Janeiro de 1994, para promover a integração económica e monetária e reforçar a competitividade económica nos mercados livres dos Estados-membros desta organização num total de oito países: Benim, Burquina Faso, Costa do Marfim, Guiné-Bissau, Mali, Níger, Senegal e Togo.37 A Guiné-Bissau integrou como membro da UEMOA, a 2 de Maio de 1997, com a sua adesão ao Franco da Comunidade Financeira da África o (Franco CFA) passou a ser a moeda corrente do país, em substituição do peso.38 Estes Estados-membros são igualmente membros do BCEAO (Banco Central dos Estados da África Ocidental), com sede em Dakar, dirigido por um Governador central.

No contexto da CEDEAO o Senegal é um país pobre, mas relativamente aos seus vizinhos possui maior Produto Interno Bruto e maior renda per capita (ver quadro 2.1).

Quadro 2.1: Indicadores geopolíticos do Senegal e dos Países limítrofes

Países Senegal Gâmbia

Guiné-

Bissau Mauritânia Mali Habitantes (milhões) 14. 13 1.849 1.704 3.890 15.30 Território Km2 196.722 11.300 36.120 1.030.700 1.240.000 PIB (Milhões de USD) 15.15 914.3 858.7 4.163 10.94 PIB (per capita USD) 1.070 510 520 1.060 670 Fonte: www.worldbank.org/en/country 37

A sede da UEMOA é em Ouagadougou, capital de Burquina Faso.

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O peso foi moeda corrente na Guiné-Bissau (1975-1997) em substituição do escudo português do período colonial.