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No entrelaçamento das ações do ciclo reflexivo, os sentidos sobre o ensinar e o aprender foram se desvelando e tornaram-se mais evidentes na ação do informar. Percebemos nessa ação alguns elementos do que poderia representar os saberes internalizados pelas professoras em termos das suas teorias sobre o ensinar e o aprender, isto é, o que compreendem sobre a ação educativa, os saberes que ensinam e os saberes que os alunos aprendem, mediante análise da articulação dos objetivos e a dinâmica de organização do processo de ensino- aprendizagem.

Transcrevemos abaixo um trecho do relato reflexivo da professora Rita, no qual ela procura informar sobre sua prática:

Minha experiência é pautada na tentativa de trabalhar, compartilhando com o outro algo de que se gosta (cantar) e apropriar-se de algo significativo - música (arte), garantindo a possibilidade de acesso, pois “é preciso levar a arte, que está circunscrita a um mundo socialmente limitado a se expandir, tornando-se patrimônio cultural da maioria” (Barbosa, 1991).

Percebendo o gosto que algumas crianças trazem, ou mesmo que tenho, ensinamentos da família que os mantemos, que pode e deve ser democratizada para que as crianças na escola se apropriem deles, foi que fizemos (fazemos) a oração na escola, percebendo as subjetividades, da criança e dos outros. Momento esse “que possibilita desenvolvimento de valores, repudiando toda discriminação baseada em diferentes crenças religiosas” (PCN, vol. 10, p. 59).

O domínio da língua oral e escrita é fundamental para a participação social, pois é por meio dela que nos comunicamos, temos acesso à informação, expressão e defendemos pontos de vista, partilhamos ou construímos visões de mundo, produzimos conhecimentos. Por isso, ao pedir que as crianças escrevessem a lista, entende que a “a escola tem responsabilidade de garantir a todos os seus alunos o acesso aos saberes linguísticos, necessários para o exercício da cidadania” (PCN, vol. 1).

A metodologia usada no desenvolvimento das atividades foram pensadas “que é preciso que os alunos sejam desafiados a escrever convencionalmente, para que os alunos se tornem capazes de utilizar no seu dia a dia (PROFA).

Esta aula me fez ver que minha prática significa uma tentativa de aprender com as crianças a construir conhecimentos a partir do que sei e do que eles sabem. Embora, não tenha ocorrido bastante envolvimento, participação e atenção do aluno, as perguntas, diálogos e explicações como acréscimo feitos na hora da aula, não foram suficientes, para as crianças entenderem as questões, eu sinto que tudo

isso, esses pontos citados foram negativos. Atribuo essas dificuldades a mim mesma.

O dizer da professora Rita sobre o que significa sua prática pedagógica nos remete para uma compreensão do ensino que se fundamenta no compartilhar com o outro; no apropriar-se de algo significativo; no gosto; nos valores, em garantir o acesso ao conhecimento e que privilegia o ensino da língua oral e escrita.

Quando a professora diz: “Minha experiência é pautada na tentativa de trabalhar, compartilhando com o outro algo de que se gosta (cantar) e apropriar-se de algo significativo”, entendemos que sua prática pauta-se na compreensão do saber como algo que deve ser compartilhado; que é legítimo compartilhar “algo que se gosta” e, como não há um referente, supõem-se que os alunos e a professora têm um gosto em comum, que é cantar.

Na continuidade da sequência, usa um discurso teórico legitimado pela academia para justificar o trabalho com a música enquanto arte como algo significativo. Mesmo referindo-se à ação seguinte, a oração, novamente “o gosto” e os valores adquiridos na educação familiar sinalizam uma postura educativa em que a figura da pessoa não se separa da do profissional, bem ao modo do que nos ensina Nóvoa (s/d): “Que enseñamos aquello que somos y que, em aquello que somos, se encuentra mucho de aquello que enseñamos”. Esse posicionamento de Nóvoa é muito semelhante às discussões de Sacristán (1999) sobre a ação educativa, por meio da qual compreendemos a prática educativa como uma ação que é pessoal e definidora da condição humana, pois esta se relaciona “a um eu que se projeta e que se expressa por meio dela ao educar. [...] Agimos de acordo com o que somos e naquilo que fazemos é possível identificar o que somos”. (SACRISTÁN, 1999, p. 31).

Embora o aspecto pessoal esteja presente na ação educativa, devemos evitar compreendê-la como ação individual e isolada. Nesse sentido, não podemos esquecer que a prática pedagógica é ação social que se dá em interação com outros. É social porque as ações desenvolvidas correspondem a vários sujeitos que se influenciam mutuamente.

A professora Alice não apresenta de forma explícita o que sua prática significa em termos de ensinar e aprender. Entretanto visualizamos aspectos que

apontam para uma reflexão antes da ação, sobre o saber do conteúdo a ser ensinado e as dificuldades do processo de ensinar e aprender. Vejamos o que disse a professora Alice sobre os sentidos da sua prática e os objetivos pedagógicos:

Durante o planejamento da aula, o que me motivou a elaborá-la foi o intuito que os alunos percebessem que podemos utilizar as formas geométricas, não só como conteúdo específico da matemática, e sim podemos brincar com as mesmas, criar desenhos diversos, entre outras utilidades. A aula foi respaldada nos conhecimentos adquiridos no curso de formação continuada. Geralmente encontramos dificuldades diante as aulas executadas, e nesta por algumas

crianças ainda não saberem escrever convencionalmente e os

encaminhamentos não terem sido suficientes, dificultou a aprendizagem de alguns alunos, atribuo em partes a mim mesmo, porque sei que poderia ter encaminhado a atividade de forma diferenciada, já que cada um apresenta conhecimentos diferenciados. Em alguns momentos também percebo que atender a cada criança sozinha na sala de aula, nem sempre damos conta, deixando várias lacunas a serem preenchidas, se não fizermos a intervenção adequada para a compreensão do que vai fazer.

Ao informar sobre a sua aula, Alice traz uma proposta de trabalho com os conteúdos em que pretende trabalhar as formas geométricas não apenas como um conhecimento específico da matemática, mas com uma proposta que inclui o lúdico como abordagem possível no trabalho com esse conhecimento.

Nesse sentido, insere à sua abordagem o aspecto do lúdico, do brincar. Na continuidade do seu discurso, percebemos que, as poucos, vai ocorrendo um apagamento desse discurso, na medida em que o discurso da instrumentalização vai se impondo e reposicionando tanto os conteúdos como os sujeitos nessa relação pedagógica.

Pelo que compreendemos, a professora Alice demonstra intenções de escapar de uma prática que aprisiona os sujeitos e o conteúdo dentro de uma abordagem convencional, entretanto subverte esses princípios inicialmente anunciados. Esse discurso da instrumentalização vai se impondo, porque “não saber escrever convencionalmente” e “os encaminhamentos não terem sido suficientes”, expressa como a professora observa os aluno e se observa diante de seus saberes e dos saberes a serem ensinados e aprendidos pelos alunos.

A professora Alice demonstra ter consciência das ações que desenvolve em sala de aula, percebendo as não aprendizagens dos alunos, entretanto têm

dificuldades na organização e mediação do processo pedagógico para que essas aprendizagens se efetivem.

De forma geral, a professora diz que se respaldou nos conhecimentos adquiridos nas formações continuadas. Em relação à capacidade argumentativa exigida na informação, ela não esclarece os princípios teóricos que dão sustentação à sua prática. Não define nem explica que conhecimentos são esses que foram adquiridos nas formações continuadas, as quais constituem, nesse contexto, as fontes de aquisição desses saberes, e não o saber em si.