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OUVIR / FALAR Exercício A

Exercício A – 1º texto

OUVIR / FALAR Exercício A

Texto -base do registo áudio

Como poema épico, existe em Os Lusíadas uma ação e um herói. Podemos, todavia, distinguir uma ação aparente e uma ação real que se entrelaçam, confundem e coincidem, a primeira com uma ação geográfica, a segunda com uma ação histórica.

Aparentemente, a ação do poema é a viagem de descobrimento da Índia e o seu herói o capitão da ar- mada – Vasco da Gama. De acordo, porém, com o conteúdo da proposição, verificamos que essa ação e esse herói não são senão o disfarce simbólico -poético da verdadeira ação e do verdadeiro herói: a História de Portugal e o Povo Português, representados pelo feito e pelo Homem reputados pelo poeta como os maiores. Tal como se toda a História de Portugal fosse uma longa viagem de descobrimento, ao cabo da qual estava a glória (simbolizada pela ilha dos Amores). Indo mais longe, até mesmo para além da intenção do poeta, podemos também discernir como ação de Os Lusíadas a vitória do Homem sobre a Natureza. Podemos dizer que, ao cantar o descobrimento do globo terrestre, o poeta glorifica a ânsia humana de descobrir o que está para além: o Cosmos. O seu herói será o próprio Homem. Esta interpretação confere ao poema o seu mais profundo sentido humanístico, que se desenvolve ao longo dos dez Cantos do poema que, na sua totalidade, cumprem ou executam a proposta contida nas três estrofes da Proposição.

Os últimos doze versos do Canto I marcam o início de um percurso ou de um processo de metamorfose. Metamorfose no sentido da elevação e da transcendência.

Com efeito, o ser inicial, sobre o qual vai operar -se a metamorfose é o bicho da terra, imagem degradada do fraco humano, o qual vai tender para o estatuto do herói.

Através da peregrinação «árdua e custosa», o homem vai acedendo ao conhecimento e, em última aná- lise, ao «alto assento». Assim, portanto, o bicho primordial, o ser amorfo e ignorante, tende para assumir, finalmente, o estatuto projetado desde o início do poema. Trata -se de um projeto -programa inacabado, cuja realização se vai clarificar nas estâncias finais do Canto IX.

Na estância 142 e 143 do Canto X podemos dizer, finalmente, que a metamorfose está realizada. Aí, no mítico espaço da Ilha dos Amores, mercê de altos manjares excelentes, das iguarias suaves e divinas, dos vinhos odoríferos que acima estão da ambrósia que Jove tanto estima (note -se o insólito da adjetivação), mercê sobretudo, das núpcias divinas, que vão dar origem a uma descendência heróica, o bicho terreno al- cança – finalmente – o estatuto divino e tem acesso ao nobre mantimento, alimento dos deuses soberanos e senhores, garantia da imortalidade. E esse estatuto marca, efetivamente, o termo de um longo percurso, «caminho da virtude alto e fragoroso mas por fim doce, alegre e deleitoso», no decorrer do qual fora neces- sário atravessar as provas a que tivera de submeter -se a sua fraca humanidade. Provas que não são, afinal, senão o percurso tenebroso mas gratificante de um rito de passagem, que permite o acesso definitivo a uma eternidade, cujo modelo se reencontra em outros lugares da obra camoniana e constitui a mensagem pro- fundamente humana e humanística do Poema.

Maria Leonor Carvalhão Buesco, in Apontamentos de Literatura Portuguesa (Porto Editora)

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PRÁTICAS DA LÍNGUA Exercício A.2

Explicitação de fatores de coesão

1. Predicado com verbo transitivo direto e indireto (‘dedicar’ algo a alguém).

2. Concordância do sujeito com o verbo do predicado, quanto ao número e ao género (singular feminino). 3. Nome constituinte do complemento oblíquo expandido por oração relativa restritiva (que especifica a

referência de ‘as obras literárias’).

4. Nome constituinte do sujeito expandido por oração não finita participial, a concordar quanto ao género e número (‘As reflexões + formuladas pelo poeta’).

5. Concordância do sujeito com o verbo auxiliar do predicado (número), mais o particípio passado dos verbos principais coordenados (número e género).

6. Seleção do verbo do predicado, numa realização transitiva direta.

7. Seleção do verbo do predicado, requerendo complemento oblíquo (introduzido pela preposição ‘a’). Exercício B.2

Explicitação de princípios de condordância

O sujeito subordinado identificado com o pronome relativo quem é seguido, de regra, por um predicado cuja forma verbal se encontra na terceira pessoa do singular (1.1., 1.4.).

O sujeito identificado com o pronome relativo que é seguido por um predicado cuja forma verbal se con- juga, em número e pessoa, com o antecedente retomado pelo pronome em construção clivada (1.2).

O sujeito identificado com o pronome relativo que é seguido por um predicado cuja forma verbal se conjuga, em número e pessoa, com o antecedente retomado pelo pronome (1.1.; 1.3., na última forma verbal).

O sujeito concorda, em número e pessoa, com o predicado (1.3., primeira forma verbal, com o sujeito subordinado da relativa restritiva; segunda forma verbal, com o sujeito da subordinante).

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Exercício C.2

Processos de coesão referencial num segmento textual

Portugal, que1 foi visto por Camões na sua1 obra épica como a cabeça da Europa, torna -se, na Mensa-

gem de Pessoa, no rosto de uma Europa moribunda que1 “fita”, [3] que1 contempla. O destino civilizador do

ocidente está para além da ação, [3] da vida, [3] da morte. Mas é na epopeia, no canto do escritor quinhentista

que o Reino Lusitano mais se1 afirma pelo afeto. Este2 é o verso que o1 evidencia: “Esta é a ditosa Pátria

minha4 amada”. Di -lo1 Vasco da Gama, a personagem escolhida pelo poeta épico português1, ao contar a

História de Portugal ao rei de Melinde. Anáforas1

Catáforas2

Construções elípticas[3]

Deíticos pessoais4

Exercício C.3

Processos de coesão lexical num segmento textual Repetição (Europa)

Substituição (Portugal > a cabeça da Europa > o rosto de uma Europa moribunda > Reino Lusitano > Pátria; Camões > o escritor quinhentista > o poeta épico português; Vasco da Gama > a personagem escolhida pelo poeta épico português)

Sinonímia (epopeia/canto)

Antonímia (vida/morte)

Hiperonímia (escritor)/hiponímia (poeta)

Holonímia (epopeia)/meronímia (verso).

Pág. 156 OUVIR/FALAR Exercício A.1

Suporte escrito dos segmentos propostos em áudio

PRIMEIRO

“Aqueles portugueses do futuro, para quem porventura estas páginas encerrem qualquer lição, ou con- tenham qualquer esclarecimento, não devem esquecer que elas foram escritas numa época da Pátria em que havia minguado a estatura nacional dos homens e falecido a panaceia abstracta dos sistemas. A angústia e a inquietação de quem as escreveu, porque as escreveu quando não podia haver senão inquietação e angústia, devem ser pesadas na mão esquerda, quando se tome, na mão direita, o peso ao seu valor científico.

Serão, talvez e oxalá, habitantes de um período mais feliz aqueles que lerem, aproveitando estas pági- nas arrancadas, na mágoa de um presente infeliz, à saudade imensa de um futuro melhor.”

SEGUNDO

“Só duas nações – a Grécia passada e Portugal futuro – receberam dos deuses a concessão de serem não só elas mas também todas as outras. (…)

Tristes de nós se faltarmos à missão que Aquele que nos pôs ao Ocidente da Europa, e tais nos fez quais somos, nos impôs quando nos deu este nosso aceso e transcendido espírito aventureiro. Depois da con- quista dos mares deve vir a conquista das almas.”

Fernando Pessoa, in Ultimatum e Páginas de Sociologia Política (pp. 134; 240)

TERCEIRO

“Se a alma portuguesa, representada pelos seus poetas, encarna neste momento a alma recém -nada da futura civilização europeia, é que essa futura civilização europeia será uma civilização lusitana. (…) Deve estar para muito breve, portanto, o aparecimento do poeta supremo da nossa raça, e, ousando tirar a ver- dadeira conclusão que se nos impõe (…), o poeta supremo da Europa, de todos os tempos. É um arrojo dizer isto? Mas o raciocínio assim o quer. (…)

E a nossa grande Raça partirá em busca de uma Índia nova, que não existe no espaço, em naus que são construídas “daquilo que os sonhos são feitos”. E o seu verdadeiro e supremo destino, de que a obra dos navegadores foi o obscuro e carnal antearremedo, realizar -se -á divinamente.”

Fernando Pessoa, “A Nova Poesia Portuguesa no seu aspecto psicológico” in A Águia, IIª série, nº 9 -12, de 1912 (pp. 134; 240)

Exercício A.1 Proposta de planificação (preenchida) para confronto I – Motivações para a génese de Mensagem

a) Míngua na estatura nacional dos homens b) Falecimento da panaceia abstrata dos sistemas c) Angústia e inquietação

d) Saudade imensa de um futuro melhor

e) Concessão / predestinação divina para a Grécia e para Portugal f) Espírito aventureiro português

g) Vontade de um raciocínio

II – Os tempos associados a Mensagem

a) Tempo passado (da Grécia passada e da conquista dos mares) b) Tempo presente (“mágoa de um presente infeliz”)

c) Tempo futuro

– aspiração a um futuro melhor

– afirmação de Portugal na futura civilização luso -europeia – aparecimento do poeta supremo da nossa raça

– busca de uma Índia nova, em naus construídas “daquilo que os sonhos são feitos” – realização divina do verdadeiro e supremo destino nacional

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Pág. 156 ESCREVER Exercício A.1

Proposta de preenchimento da tabela (planificação para o texto a produzir)

Os Lusíadas Mensagem

Autor Luís de Camões Fernando Pessoa

Século da obra XVI (1572) XX (1934)

Movimento estético -literário Classicismo (Primeiro) Modernismo

Aproximações relativamente aos aspetos contemplados na estrutura das obras

Presença de heróis relacionados com a História de Portugal

Recurso a figuras mitológicas

Os Descobrimentos como tema basilar

Importância da figura de D. Sebastião (entre o rei da Dedicatória ao rei que se

metamorfoseia no mito do Encoberto) Expressão lírica do poeta

Simbologia da Ilha (entre a Ilha dos Amores e as Ilhas Afortunadas)

Perspetivação do futuro

Aproximações de Camões a Supra -Camões

Pág. 158 LER

Cenários de resposta – tópicos de análise