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Capítulo 4: Tateando o livro didático com lentes focais e analisando suas imagens – O

4.4. Análise individual das imagens

4.4.17. Página de abertura 17

No que se refere ao que podemos ver nessa imagem, encontramos sinalizações icônicas aos seguintes países: o Canadá, posicionado na parte superior, do lado esquerdo, com a folha da árvore denominada ‘bordo’, também presente da bandeira deste país; os Estados Unidos da América, sendo representados pela Estátua da Liberdade, um dos monumentos símbolos deste país. Ocupam uma posição intermediária, conjuntamente com a África do Sul, porém os EUA estão do lado esquerdo; a Inglaterra, posicionada do lado direito, na parte superior, sendo lembrada por um soldado real; África do Sul, personificada pelo seu líder de maior destaque, Nelson Mandela, conhecido no mundo inteiro. Situa-se do lado direito, em posição intermediária; a Nova Zelândia, com danças tribais de nativos, na parte inferior, do lado esquerdo; e a Austrália, tendo como apelo a figura do animal símbolo deste país, o canguru. Posiciona-se na parte inferior do lado direito.

Há, além de imagens, uma referência a elas na modalidade escrita, que as intitula:

países falantes do inglês, em cor de tom verde.

Embora a análise a ser feita aqui deva priorizar o aspecto imagético, aspectos gráficos dentro do título escrito corroboram a visão segundo a qual quando se fala em países falantes do inglês, apenas se leva em consideração os países considerados, segundo a proposta de Kachru (1985), como aqueles do círculo interno, ou, no máximo, os do círculo externo, onde os paradigmas linguístico-culturais dizem respeito tão-somente aos nativos da língua inglesa, onde o inglês é falado como língua oficial. Ou seja, o título sinaliza os países que falam inglês no mundo. Porém, esses são apenas países onde o inglês é falado como língua oficial/materna, desprestigiando / desconsiderando assim os demais contextos em que o inglês é usado em situações reais de interação, como é o caso do inglês utilizado na Índia, Bangladesh, Singapura, por exemplo (como segunda língua) e em países em que o inglês é língua estrangeira: Brasil, Argentina, México, Portugal, Polônia, entre tantos outros.

No que diz respeito ao aspecto sociolinguístico, em sentido amplo, apreendemos que “os nossos conceitos básicos relativos à linguagem foram em grande parte herdados do século XIX, quando imperava o lema ‘Uma nação, uma língua, uma cultura’” (RAJAGOPALAN, 2003, p. 25). Por essa razão, em dissonância com o atual momento em que vivemos, marcado, sobretudo pela abertura e não pelo isolamento, enfrentamos outros paradigmas que nos incitam, necessariamente, a pensar em aspectos inter/multiculturais, nos vários sentidos possível, principalmente nos fazendo repensar essas questões culturais no cenário que deve ser ‘plural’, espelhar diversidade, que é o livro didático.

Considerando o exame minucioso dessa imagem em específico, da que nos reportamos no início do texto, por meio da metafunção composicional, vemos que a ênfase é dada aos países do círculo interno, dando especial relevo e automática visibilidade aos Estados Unidos e Inglaterra.

Conforme a metafunção composicional, segundo Kress e Van Leeuwen (2006), podemos analisar uma imagem considerando o valor de informação, a saliência e a

estruturação ou enquadramento.

Nesse dizer, salientamos que, na imagem dos Estados Unidos e da Inglaterra, em referência ao valor da informação, esses dois países ocupam posição privilegiada dentro da imagem. A Estátua da Liberdade encontra-se ocupando uma posição mais ao centro, sendo, ainda e excepcionalmente, disposta ao lado de um elemento bastante conhecido no mundo: a bandeira norte-americana, também em primeiro plano, próxima à base da Estátua.

Interessante destacar o papel da mídia (do cinema em especial) na construção da representação da Estátua da Liberdade como elemento central na identidade cultural americana, não escolhida ingenuamente, revelando suas ideologias ligadas ao individualismo, à fantasiosa ideia de liberdade vigiada, poder etc.

O fato de a bandeira estar presente na imagem corrobora a finalidade, consciente ou inconscientemente, talvez de colocar os Estados Unidos ainda mais em evidência. E por ocupar essa posição central, obedece ao imperativo de hierarquicamente mais relevante. Em outras palavras, é como se os Estados Unidos fossem o centro da anglofonia. Ainda, é percebido que mesmo ocupando posição central, a imagem referente à África do Sul, é bem menor que a referente aos Estados Unidos, restando a este país um atributo de principal, central, nuclear.

Sobre essa questão, Fernandes e Almeida (2008, p. 24) afirmam que esse posicionamento central da imagem representa “[...] o núcleo da informação, enquanto os elementos que o rodeiam apresentarão valor menor, ou de dependência, ou de subordinação em relação ao elemento central.”

Por outro lado, a Inglaterra está localizada no topo direito, o que nos impõe pensar sobre o ideal de língua/cultura deste último país, por se encontrar no ‘topo’, ou seja, a Inglaterra aqui é vista como “essência idealizada ou generalizada” (p. 187) da anglofonia; já em relação ao fato de a Inglaterra estar localizada à direita, observamos que, embora ela seja pioneira na anglofonia, conforme é atestado na cronologia oficial, há uma certo interesse em colocá-la em evidência em relação ao Canadá, por exemplo, que se encontra também no topo, mas está no lado esquerdo, devendo ocupar então um lugar de menor destaque, como algo já

sabido, conhecido. Daí, conforme Kress e Van Leeuwen (2006), o lado direito fica reservado àquele elemento ao qual o observador deve prestar mais atenção.

No que diz respeito à saliência, vemos que as figuras maiores, considerando o eixo vertical, são Estados Unidos e Inglaterra, o que lhes confere maior relevância em oposição aos demais países. No que diz respeito às cores, observamos a presença do tom vermelho em várias referências icônicas aos países, porém o vermelho do soldado real é um tom mais vivo, diferenciando-o dos demais. Já em relação aos Estados Unidos, vemos o elemento central, no primeiro plano da imagem, a própria Estátua, possui um tom de verde único, diferentemente das imagens referentes à Nova Zelândia e à Austrália, que possuem em seu plano de fundo outras tonalidades de verde. Outra questão sinalizadora de certo sentido de conexão e unidade é que a cor da Estátua da Liberdade possui tom de verde semelhante ao título da imagem:

países falantes do inglês.

No que diz respeito ao enquadramento ou estruturação, percebemos que há relativa desconexão entre os elementos icônicos, visto que cada nação é representada unitariamente dentro de espaços fechados que lembram retângulos, fazendo com que haja um senso de compartimentação. Em outros termos, é o mesmo que dizer: “A ausência de enquadramento enfatiza a identidade do grupo, sua presença significa individualidade e diferenciação.” (KRESS & VAN LEEUWEN, 2006, p. 203).

Algo, entretanto, que salta aos olhos é o fato que todos os elementos possuem um elo, mínimo que seja, como se, de fato, todos representassem de alguma forma a anglofonia, uns mais salientes que outros. Porém, percebemos a desconexão total em relação à Nova Zelândia, cuja estrutura retangular está completamente dissociada dos demais países, sem nenhuma ligação ou intersecção, como acontece entre as demais imagens.