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Pós-Modernidade ou Modernidade em Movimento: Algumas reflexões

2 PLANTAS MEDICINAIS EM TEMPOS DE PÓS-MODERNIDADE

2.6 MODERNIDADE EM MOVIMENTO OU MOVIMENTO DA MODERNIDADE:

2.6.3 Pós-Modernidade ou Modernidade em Movimento: Algumas reflexões

Segundo Bauman (1999), a pós-modernidade se caracteriza, contudo, pela desregulamentação, onde as certezas presentes no indivíduo moderno, caracterizadas pela autoilusão, tornavam-se essenciais em um projeto de dominação. Embora, na maior parte de sua história, a modernidade tenha vivido na e da autoilusão, essa característica está desaparecendo (BAUMAN, 1999).

Tal situação reflete uma identidade moldável, buscando as suas identificações naquilo que lhe atrai ou naquilo que é mais conhecido e até mesmo mais difundido pelos meios de comunicação. Assim, surge ―a aceleração dos processos globais, de forma que se sente que o mundo é menor e as distâncias mais curtas, que os eventos em um determinado lugar tem o impacto imediato sobre as pessoas e lugares situados e uma grande distancia (HALL, 2003, p. 69).

Essas transformações são frequentes no momento atual, quando o sujeito é cercado de informações dos mais diversos países, das mais variadas culturas. Isso faz com que muitos esqueçam das tradições legadas pelos antepassados, adaptando-se aos aspectos culturais mais difundidos, produzindo, segundo Hall (2003, p. 86) ―novas identidades‖.

Para Jameson (2006)

Rupturas radicais entre períodos em geral não envolvem mudanças completas de conteúdo, mas, ao contrário, a reestruturação de certos elementos já dados: aspectos que em um período ou sistema anterior eram subordinados agora se tornam dominantes, e aspectos que tinham sido dominantes tornam-se agora secundários. (JAMESON, 2006, p. 41).

Bauman (2001) afirma que a passagem da modernidade de um estado sólido para um estado líquido foi um processo que ocorreu desde o começo. Só que no início, derreter os sólidos significava derreter o passado, a tradição, as religiões, os elementos culturais que embargavam os avanços científicos, políticos, sociais e econômicos, pois já se encontravam enferrujados e não serviam mais. A tarefa era substituir os sólidos existentes por outros sólidos novos aperfeiçoados e duradouros, tendo como base a razão. Assim, o derretimento dos sólidos significava, antes de tudo, a profanação do sagrado, repúdio e destronamento do passado e da tradição, bem como, o derretimento radical dos grilhões e das algemas que limitavam a liberdade individual, impedindo movimentos e iniciativas individuais (BAUMAN, 2001).

Uma das características do que chamo de ―modernidade sólida‖ era que as maiores ameaças para a existência humana eram muito mais óbvias. Os perigos eram reais, palpáveis, e não havia muito mistério sobre o que fazer para neutralizá-los ou, ao menos, aliviá-los. Era óbvio, por exemplo, que alimento, e só alimento, era o remédio para a fome. Os riscos de hoje são de outra ordem, não se pode sentir ou tocar muitos deles, apesar de estarmos todos expostos, em algum grau, as suas consequências. Não podemos, por exemplo, cheirar, ouvir, ver ou tocar as condições climáticas que gradativamente, mas sem trégua, estão se deteriorando. (BAUMAN, 2004, p. 322, aspas no original).

Em termos gerais, Bauman (2001) define modernidade sólida como uma época em que havia, em termos sociais, a tarefa da ordem, de um planejamento do futuro de uma trajetória de vida inteira. Porém, sua principal análise não é dessa modernidade, mas sim, do momento atual, da modernidade que vivemos hoje, denominada pelo autor de modernidade líquida, que se caracteriza não tanto por quebrar as rotinas e subverter as tradições, mas por evitar que padrões de conduta se congelem em rotinas e tradições. Como ressalta:

Diferentemente da sociedade moderna anterior, que chamo de ―modernidade sólida‖, que também tratava sempre de desmontar a realidade herdada, a de agora não o faz com uma perspectiva de longa duração, com a intenção de torná-la melhor e novamente sólida. Tudo está agora sendo permanentemente desmontado, mas sem perspectiva de alguma permanência. Tudo é temporário. É por isso que sugeri a metáfora da ―liquidez‖ para caracterizar o estado da sociedade moderna: como os líquidos, ela caracteriza-se pela incapacidade de manter a forma. (BAUMAN, 2004, p. 322, aspas no original).

No entanto, não há consenso teórico sobre as definições de pós-modernidade. Lyotard (1998) apresentou a ―condição pós-moderna‖ como uma necessidade de superação da modernidade caracterizada pelo fim das metanarrativas. Jameson (2000) e Harvey (2006) reconheceram a pós-modernidade como capitalismo tardio, o terceiro estágio do capitalismo seguindo o capitalismo financeiro, onde a cultura é a lógica dominante. Para Eagleton (1988) uma ilusão, ou conforme Maffesoli (2004), razão sensível. Ou seja, se diz a razão, mas na medida em que há o sentido, o sensível.

Há os que defendem o fim da pós-modernidade (BAUDRILLARD, 2003; EAGLETON 2005), argumentando que após o atentado terrorista de 11 de setembro de 2001, há uma nova narrativa global do capitalismo. Ainda, há os autores que preferem utilizar outros termos para caracterizar essas transformações ocorridas na sociedade nos últimos anos, como Marc Augé (2012) que utiliza o termo ―supermodernidade‖, Agamben (2009) usa a expressão ―contemporaneidade‖, Hall (2003) denomina ―modernidade tardia‖ e Bauman (2001), utiliza o termo ―modernidade líquida‖.

Por conta dessa vasta produção bibliográfica e da complexidade e polêmica que tem gerado as amplas discussões sobre a pós-modernidade, elegemos Zygmund Bauman, como o autor que irá referenciar as nossas discussões. A opção pelo autor se dá pela evolução conceitual observada em sua obra que revela a sua capacidade de compreender cada momento histórico. Observa-se que, num primeiro momento o autor fez uso do termo pós-modernidade, pois o mesmo era suficiente para explicar as condições de vida que se mostravam diversas das condições modernas. Atualmente utiliza o termo ‖modernidade líquida‖ não como um conceito sinônimo de pós-modernidade, pois sua preocupação ―tem sempre sido compreender esse tipo curioso e em muitos sentidos misterioso de sociedade que vem surgindo ao nosso redor‖. [...] Esse ―mundo em permanente movimento‖. (BAUMAN, 2004, p. 321 - 324).

Assim sendo, mesmo que não haja unanimidade em qual termo poderia dar conta de explicar o atual processo de mudanças, é certo que nos deparamos com um tempo, que precisa ser nomeado. O que se pode constatar é que os termos atualmente utilizados para nomeá-lo como: pós-modernidade, contemporaneidade, supermodernidade, modernidade tardia ou modernidade líquida não altera o conceito ou a ideia de uma modernidade que está em constante movimento, não havendo, portanto, uma quebra de paradigma. Segundo Bauman (1999) não é que existe uma nova condição de pós-modernidade, no sentido de um novo momento histórico, mas sim uma nova sensibilidade pós-moderna de pensar a

modernidade. Portanto, baseando-se especialmente nas ideias de Bauman, a esse momento atual ousaremos denominar de ―Modernidade em Movimento‖.

Movimento, segundo Ferreira (2004, p. 567) é o ―ato de se mover, de provocar mudança, deslocamento, animação, agitação, evolução ou tendência, série de atividades com determinado fim‖. Esse é o contexto do momento atual e o termo Modernidade em

Movimento representa esse constante movimento, do qual parece não haver formas de fuga,

pois, ou ele envolve e conduz o sujeito, ou o atropela.

É o movimento que proporciona a ―fluidez‖, ―liquidez‖ e ―leveza‖ (BAUMAN, 2001), evitando que padrões de conduta se congelem em rotinas e tradições. Provocando transformações das relações que envolvem o passado e o presente, o antigo e o novo, o tradicional e o moderno. Onde, a velocidade, a imparcialidade, a insegurança são constantes. Tal situação reflete inclusive na identidade do homem atual, tornando-a moldável, buscando as suas identificações naquilo que lhe atrai ou naquilo que é mais conhecido e até mesmo mais difundido pelos meios de comunicação. Portanto, é o movimento que predomina na maioria de nossas ações, nos envolvendo, conduzindo ou atropelando.

Entretanto, conforme Hall (2003, p. 13) ―a identidade unificada é uma fantasia‖, pois segundo Bauman (2004), todas as decisões tomadas em um ambiente social, causam impacto nos outros, o que se faz em um lugar do planeta tem alcance global, ninguém está sozinho.

Neste contexto, a adoção do termo Modernidade em Movimento busca expressar como as rápidas mudanças ocorridas estão influenciando nas práticas tradicionais, como o uso e indicação de plantas com fins medicinais. Prática que historicamente foi reconhecida por possuir uma identidade unificada e estável18, preservando e difundindo este saber instituído e transmitido de geração a geração.

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Essa estabiliza tanto os sujeitos quanto os mundos culturais que eles habitam, tornando ambos reciprocamente mais unificáveis e predizíveis, tendo uma identidade unificada e estável‖ (HALL, 2003). No entanto, essa unificação e estabilidade podem ser questionadas, uma vez que toda identidade é resultado das relações e do meio em que estamos inseridos, meio em constantes transformações por mais insignificantes que possam parecer.

3 A IDENTIDADE, A MEMÓRIA E A CULTURA NAS PRÁTICAS COM O USO