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o nAcionAlismo e A bAse dA Produção modernA no brAsil

1.3. PAge: estrutura e funcionamento

1.3.1. PAge: objetivos

Na mensagem apresentada pelo governador Carlos Alberto de Carvalho Pinto à Assembléia Legislativa do Estado de São Paulo, em 14 de março de 1961, podem-se observar os lastros em que se apoiaram os objetivos traçados para o plano de desenvolvimento do interior do Estado de São Paulo.

[...] Ao elaborar o Plano de Ação, quis fazer dele também o instrumento da elevação das condições de vida das populações interioranas – relegadas até há poucos anos ao abandono – precisamente pelo fato de reconhecer, como já declarei, as disparidades de que se assinala no progresso de São Paulo pelo gigantismo das áreas metropolitanas em confronto com o atraso do campo.

A necessidade da integração dos municípios paulistas constitui também de- siderato que não poderia ser e não foi esquecido na temática do Plano de Ação.

A verdade é que, desprovido, em outros tempos, de quase todos os recur- sos, o interior do Estado se transformou rapidamente graças às obras do Plano de Ação [...]

[...] energia, ferrovia, rodovias, aeroportos, navegação; obras públicas são os empreendimentos relacionados com a instalação dos estabelecimentos de en- sino, de hospitais, de instituições penais, de casas de detenção, de unidades sa- nitárias, de casas de lavoura, de armazéns de abastecimento de água e com os serviços de esgoto. Mas, além disso, prevê o Plano de Ação investimentos desti- nados ao equipamento das unidades construtivas à concessão de subvenções a instituições de assistência social e outros. [...]

O Plano de Ação é assim, incontrastavelmente, um programa de governo que visa ao bem-estar social encarado sob suas múltiplas formas – portanto, um instrumento de humanização social do nosso Estado.

(PAGE, 2º relatório, 1961, p.10, 11, 12)

Guardada a dimensão da linguagem exacerbada do discurso político, as entrevistas realizadas com os participantes do Grupo de Planejamento e Equipe Técnica corroboram a idéia de que o PAGE, como instrumento de ações de- senvolvimentistas, abrangeu uma reorganização do próprio Estado, na medida em que “a técnica que presidiu à sua feitura e o sistema do seu funcionamento como programa de investimentos [... articulavam...] o estudo de disponibilidades inanceiras, mediante o processo de planejamento-orçamento, [...] selecionado os objetivos e escalonada sua execução”.46

Ao discutir as insuiciências de infra-estrutura urbanas motivadoras do “re- tardamento” das cidades do interior do Estado, o governador Carvalho Pinto, ao término de seu segundo ano de mandato, em 1961, apelou ao recém-eleito presidente Jânio Quadros, aliado político ao qual se dedicou em campanha eleitoral, seu apoio, lembrando-o dos compromissos assumidos com o povo “na atmosfera criada por este espírito eminentemente nacionalista, que encontrou receptividade e guarida [...]”, visando a atender as regiões “esquecidas pelo go- verno e pela inépcia e condenadas à condição de pauperismo que não encontra explicação no homem, que é bravo e batalhador, nem na terra, que é feraz e prestadia”.47

Concluiu ainda no mesmo relatório apresentado à Assembléia Legislativa de São Paulo que o Estado, participando da integração nacional na construção de uma Nação “livre, forte e rica”, substituirá “uma geograia rude por uma histó- ria dinâmica, um povo debilitado, por uma nação sadia e vitalizada, um desalento improdutivo estéril e perigoso, por uma esperança invencível e construtiva”.48

Afora o tom ufanista do discurso oicial, é interessante notar o exemplo de planejamento e de política que São Paulo oferecia naquele momento conturba- do. De certa forma, além de seguir o Plano de Metas, também o aperfeiçoava.

Segundo o levantamento econômico apresentado no mesmo documento, São Paulo em 1960 seguia o ritmo acelerado de inlação e insatisfação social que caracterizava o período. Os conlitos sociais foram assim estatisticamente demonstrados no mesmo relatório:

46 PAGE, 1961 (2º relatório), p. 22. 47 PAGE, 2º relatório, 1961, p. 8. 48 Idem, ibidem, p. 8

[...] em 1960, 954 greves contra 314, no ano anterior, entre 105 categorias proissionais diferentes mobilizando 3.252.000 homens-hora, enquanto em 1959 somente 59 categorias totalizaram a perda de 2.800.000 homens-hora.

(PAGE, 2º relatório, 1961, p. 13)

Segundo o PAGE, um dos aspectos que favoreceu o agravamento da si- tuação econômica das cidades do interior paulista e o conseqüente desagrado social, constatado no mesmo relatório, advinha da forma que o expressivo de- senvolvimento industrial implantou-se, sem sintonia com a produção agrícola, particularmente do café, o qual sofria uma grave crise com o excesso de oferta para o mercado de exportação.

Figura 7: gráico da estrutura da produção do Estado no período, no qual se observa uma retração da agri- cultura e expansão da indústria. (PAGE, 1959, p. 31)

Esta situação explicava o “empobrecimento” do interior do Estado e seu conseqüente “atraso”. O governo, como solução para os problemas da produção agrícola, tratado como “relevante fonte econômica do Estado”, mesmo frente ao crescente processo de industrialização, sinalizou condições para a retomada de seu desenvolvimento, ao propor, por meio de incentivos iscais, inanciamentos e um plano de implementação da indústria de tratores no País, visando através de sua mecanização “melhorar e absorver as potencialidades que a agricultura oferece ao mercado interno”.49

49 Avaliando a produção de bens no período de 1947-1958, São Paulo teve um crescimento calcado na ex- pansão industrial. No intuito de conter a retração da agricultura e pelas baixas expectativas de um mercado exportador, o PAGE contemplou a expansão no setor por reconhecer que “o desenvolvimento industrial de São Paulo e crescente urbanização, que desse processo decorre, exigirão, nos anos futuros, crescentes quantidades de produtos agrícolas a serem usados como alimentos e matérias primas industriais” (PAGE, 1959, p. 40). Para o desenvolvimento agrícola e industrial do Estado, o PAGE previa construir e prover ca- sas da lavoura, sedes de delegacia agrícola, sedes de extensão agrícola para equipar a rede de fomento; munir fazendas experimentais para desenvolver o fomento vegetal e animal, o Instituto Agronômico, Cen- tros de Pesquisa e experimentação agronômicas e zootécnicas; construir e equipar escolas de iniciação

homens-hora, enquanto em 1959 somente 59 categorias totalizaram a perda de 2.800.000 homens-hora.

(PAGE, 2º relatório, 1961, p. 13)

Segundo o PAGE, um dos aspectos que favoreceu o agravamento da situação econômica das cidades do interior paulista e o conseqüente desagrado social, constatado no mesmo relatório, advinha da forma como o expressivo , sem sintonia com a produção agrícola, particularmente do café, o qual sofria uma grave crise com o excesso de oferta para o mercado de exportação.

Figura x: gráfico da estrutura da produção do Estado no período, no qual se observa uma retração da agricultura e expansão da indústria. (PAGE, 1959, p. 31)

Esta situação explicava o “empobrecimento” do interior do Estado e seu conseqüente “atraso”. O governo, como solução para os problemas da produção agrícola, tratado como “relevante fonte econômica do Estado”, mesmo frente ao crescente processo de industrialização,

seu desenvolvimento, ao propor, por meio de incentivos fiscais, financiamentos e um plano de implementação da indústria de tratores no país, visando através de sua mecanização “melhorar e absorve

Sobre as possibilidades e incentivos necessários ao setor agrícola no Es- tado, comentou Sampaio:

A constatação foi de que São Paulo tinha chegado à barranca. Não tinha mais a condição da produção extensiva da agricultura. Ela precisava intensiicar. E nós todos sabemos que com essa história da agricultura itinerante as práticas icavam improdutivas. O sujeito pegava um pedacinho melhor, o resto ele deixava. Então a idéia era ocupar aquilo com produtividade.

(SAMPAIO, 2006)

No setor industrial, o PAGE avaliou que, entre os fatores limitativos para sua expansão no Estado, estavam a escassez de crédito a longo prazo e a insuiciência da capacidade de exportação do País.50 Sampaio airmou que nesse momento o papel que o Estado assumia ao aplicar recursos estava as- sociado ao capital privado, seguindo a orientação keynesiana dos economistas envolvidos no Plano:

[...] tinha o Fundo da Pequena e Média indústria, o Fundo das Indústrias de Base, porque a nossa idéia era fazer trator, colhedeira para a indústria de São Paulo também. Então esse Fundo permitiria para a gente montar essas indústrias com o capital privado.

(SAMPAIO, 2006)

O PAGE possuía um viés de sustentação industrial e de desenvolvimento da agricultura com objetivos que, por vezes, se ajustavam de forma coligada ao ampliar os mecanismos de produção, incentivando “fornecer equipamentos para a indústria e agricultura” (PAGE, 1959, p. 50). Relação presente, por exemplo, na comparação que balizava os incentivos implantados no País a partir de 1960, na qual se destacava, entre outros, a implementação da indústria de tratores, ao considerar “empreendimentos industriais necessários à execução de uma verda- deira política de aumento de produtividade agrícola, política essa indispensável à continuidade do processo de desenvolvimento industrial e social de nossa ter- ra” (PAGE, 2º relatório, 1961, p. 7). Considerava ainda que a expansão industrial nacional do mesmo período era uma etapa decisiva “na senda do progresso do país”, condição com a qual o Estado deveria se ainar.

agrícola; ampliar áreas de reservas lorestais; instalar postos de mecanização, para o aperfeiçoamento das técnicas agrícolas.

50 Para atender a necessidade de expansão industrial no Estado, o PAGE criou os Fundos de Expansão da Indústria de Base, para indústrias de médio e pequeno porte; o Fundo de Financiamento das Indústrias de Bens de Produção, para um sistema que possibilite “a plena utilização da capacidade do parque industrial

paulista, dando-lhe possibilidade de fornecer equipamentos à indústria e à agricultura” (PAGE, 1959, p.

Mesmo com o conjunto de iniciativas na esfera estadual, o PAGE ainda solicitou a cooperação de órgãos do Governo da República, atentando que, ao atender o Governo do Estado, estaria “no encaminhamento dos problemas fun- damentais do desenvolvimento social do Brasil”.

1.3.2. o Plano de Ação e as demandas de obras Atendidas às secretarias do go-