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Capítulo 2 – A QUALIDADE DO ENSINO SUPERIOR NO CONTEXTO

2.4 Panorama de Mudança no Ensino Superior

Nas últimas décadas muitos países experimentaram uma extraordinária diversificação nos seus sectores de ensino superior. O aparecimento de diversas instituições novas paralelas às instituições tradicionais – como por exemplo: instituições para estudos de curta duração, politécnicos, universidades abertas, centros de ensino a distância – criaram novas oportunidades para satisfazer a procura social crescente. De acordo com o (Gardner, 2002) na América Latina, Ásia e, mais recentemente, na Europa Ocidental e África subsariana41, esta tendência intensificou-se pelo rápido crescimento do número e dimensão das instituições privadas de ensino superior. Actualmente, verifica-se uma segunda onda de diversificação institucional, com o surgimento de novas modalidades de competência no ensino superior que transcendem as fronteiras conceptuais, institucionais e geográficas tradicionais (CVCP, 2000). A seguir abordam- se os principais actores e as novas instituições que têm surgindo no mercado do ensino superior sem fronteiras. São de acordo com Gardner (2002):

• Universidades Virtuais (Virtual Universities)

• Universidades em Regime de Franquia (Franchise Universities) • Universidades Corporativas (Corporate Universities)

• Outras Instituições42

• Intermediários Académicos

41 A África subsariana corresponde à região do continente africano a sul do Deserto do Saara, ou seja, aos países que não fazem parte do Norte de África. A palavra subsariana deriva da convenção eurocentrista, segundo a qual o Norte está «acima» e o Sul está «abaixo» (daí o prefixo «sub»). Efectivamente, o deserto do Saara, com os seus cerca de 9 milhões de quilómetros quadrados, forma uma espécie de barreira natural que divide o continente africano em duas partes muito distintas quanto ao quadro humano e económico. Ao norte encontramos uma organização socio- económica muito semelhante à do Médio Oriente, formando um mundo islamizado, ou seja, que se converteu à religião e aos costumes islâmicos (Infopédia, http://www.infopedia.pt, 2007-12-04). Ao sul temos a chamada África negra, assim denominada pela predominância nessa região de povos de pele escura (Wikipédia, http://pt.wikipedia.org/wiki/%C3%81frica_subsariana, 2007-12-04).

Na retaguarda destes novos actores surgem os produtores de software, as editoras e outros que procuram explorar o potencial do mercado internacional, emergente, do ensino superior (Bennell & Pearce, 1998).

a) Universidades Virtuais (Virtual Universities)

A eliminação das barreiras físicas da distância, como resultado do desenvolvimento das tecnologias da informação e da comunicação, significa que, instituições de ensino e fornecedores externos podem competir com instituições de ensino locais e entrar em contacto com os estudantes de qualquer país, utilizando a Internet ou recorrendo à transmissão por satélite. Segundo o World Bank (2002) no início do ano de 2000, só nos Estados Unidos já existiam mais de três mil instituições especializadas dedicadas ao ensino a distância em tempo real (on-line). Trinta e três estados têm uma universidade estatal virtual, e em 2002, 85% das universidades proporcionavam cursos de ensino a distância em tempo real (on-line).

O auge das Instituições de Ensino Superior virtuais não é um fenómeno exclusivamente dos Estados Unidos. A Universidade Virtual43 do Instituto Tecnológico de Monterrey44, México, oferece dezasseis45 programas de Pós-graduação46.

A universidade Tun Abdul Razak, a primeira Instituição de Ensino Superior a distância em tempo real (on-line) da Malásia, está a estender-se a outros países asiáticos vizinhos. A Universidade Virtual Africana é pioneira no ensino virtual na África sub- sariana (Saint, 1999). Em 2002, de acordo com o World Bank (2002), existiam quinze universidades virtuais na Coreia, que ofereciam sessenta e seis programas de licenciatura47 em humanidades com cerca de 14 550 estudantes.

Outro exemplo é o da Universidade das Nações Unidas (United Nations

University – UNU48) que iniciou a sua actividade em 1996.

43 Instituto Tecnológico y Estúdios Superiores de Monterrey, http://www.ruv.itesm.mx.

44 O Instituto Tecnológico de Monterrey foi fundado em 1943 por um grupo de empresários mexicanos. Actualmente conta com 30 campus no México e, através da sua Universidade Virtual existem sedes em dez países da América Latina e escritórios no Canadá, Estados Unidos e França. O Instituto Tecnológico e de Estudos Superiores de

Monterrey constitui uma comunidade educativa com influência internacional. Constitui-se como uma rede

multicampus que liga todo o território mexicano e chega a países da América e Europa. A Universidade Virtual foi fundada em 1989 como primeiro sistema interactivo de ensino a distância com o fim de ampliar a cobertura docente e levar o ensino sem as limitações geográficas.

45 Dados de 2005.

46 Nas áreas da Administração e negócios, Administração pública e política pública, Engenharia, Tecnologia, Educação, Humanidades e ciências sociais.

b) Universidades em regime de franquia

Em muitas partes do mundo, mas sobretudo no sul e sudoeste da Ásia e nos antigos países socialistas da Europa Oriental, deu-se uma proliferação de «cursos reconhecidos» no exterior, oferecidos por Instituições de Ensino Superior que operam em nome de universidades britânicas, americanas e australianas, recorrendo ao

franchising (as Franchise Universities). Cerca de 20% dos estudantes estrangeiros

matriculados em universidades australianas estudam em campus de outros países, em particular na Malásia e Singapura. Os custos de frequência são cerca de um quarto a um terço do custo da frequência na Instituição de Ensino Superior proprietária do nome. O

franchising pode ser uma forma barata e de fácil duplicação, enquanto opção estratégica

de crescimento, uma vez que consiste na utilização de fórmulas de sucesso garantido (Cardoso, 1997). Pelo direito de utilização da marca ou nome da instituição, o franchisado deverá pagar ao seu proprietário os devidos royalties49 e outras compensações eventuais que estejam contratualmente previstas.

Em Portugal, as Instituições de Ensino Superior podem associar-se com outras, nacionais ou não nacionais, para conferirem os graus académicos e atribuírem os diplomas previstos na Lei n.º 49/2005, mas, de acordo com o n.º 7, do Artigo 13.º, desta Lei, «não é permitido o funcionamento de Instituições de Ensino Superior em regime de

franquia».

c) Universidades Corporativas (Corporate Universities)

As universidades corporativas são outra forma de competência que terão de ter cada vez mais em conta as universidades tradicionais exclusivamente dedicadas aos programas de ensino pós-secundário e investigação, sobretudo na área da aprendizagem ao longo da vida. Segundo o World Bank (2002) existem mundialmente cerca de 1600 universidades corporativas, em comparação com as quatrocentas que existiam há uma década atrás. A Universidade de Motorola50 (Motorola University) foi reconhecida, mediante avaliações de competitividade, como uma das de maior êxito.

49 Royalties é valores pagos a outrem pelo uso de determinados direitos de propriedade. É o caso do pagamento a um proprietário de terra pelo direito de extracção de minérios; aos direitos de autor de um livro pelos direitos de publicação; ou aos detentores de uma patente. Corresponde, também, ao pagamento do direito de utilização de uma marca, por exemplo, pelos membros de uma rede de franchise. No caso presente, refere-se à utilização do nome de uma Instituição de Ensino Superior.

As universidades corporativas podem funcionar através da sua própria rede de

campus físicos (como é o caso da Disney, Motorola e Toyota), como universidades virtuais (por exemplo, as de Dow Chemical e IBM), ou mediante alianças com Instituições de Ensino Superior existentes (como é o caso da Bell Atlantic, United

HealthCare e United Technologies). Algumas universidades corporativas possuem

acreditação oficial e estão autorizadas a outorgar graus académicos51. De acordo com o World Bank (2002), os especialistas prevêem que no futuro haverá mais universidades corporativas que universidades tradicionais.

d) Outras Instituições

Um variado grupo de instituições (organizações de meios de comunicação e editores, bibliotecas e museus e escolas secundárias) também se introduziram no mundo do ensino superior, aproveitando plenamente as novas tecnologias da informação e da comunicação. Ainda que este novo tipo de competência seja mais difícil de rastrear, está a adquirir relevância, pelo menos nos Estados Unidos e no Reino Unido. Entre vários exemplos, estão os editores que fornecem serviços relacionados com a concepção de currículos e preparação de materiais educativos para fornecimento em linha, assim como museus e bibliotecas que oferecem cursos de educação contínua. No Brasil, uma rede de colégios do ensino secundário criou a sua própria universidade (Universidade Pitágoras).

e) Intermediários Académicos

Os intermediários académicos são empresários virtuais, muitas vezes com base na rede de redes mundial (world wide web) que se especializam em reunir fornecedores e consumidores de serviços educativos de diversas áreas. Organizações como Connect

Education, Inc.52 e Electronic University Network53 constroem, alugam e administram

campus, produzem software educativo de multimédia e oferecem orientação com vista a

satisfazer as necessidades de formação de clientes corporativos de distintos lugares do mundo. Dezenas de organizações com base na rede actuam como centros de

51 Por exemplo, em Portugal, o Instituto Superior de Tecnologias Avançadas (ISTEC) foi fundado em 1986 pelo Instituto de Tecnologias Avançadas para a Formação (ITA), empresa fundada pela Control Data Corporation e pelos CTT (actualmente CTT – Correios de Portugal) e TLP (actualmente PT - Portugal Telecom), para implementar em Portugal tecnologias avançadas no domínio do ensino e da formação profissional. Actualmente, os cursos do ISTEC estão adequados ao Processo de Bolonha, conforme Despacho n.º 12342/2006 (Diário da República n.º 113, Série II, de 12 de Junho de 2006).

intercâmbio de informação entre instituições de ensino e estudantes potenciais, oferecendo informação sobre recursos académicos e financeiros.

2.5 Novas Modalidades de Organização e