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Capítulo 2 – A QUALIDADE DO ENSINO SUPERIOR NO CONTEXTO

2.7 Problemas da Qualidade e Pertinência do Ensino Superior e da

Ao longo do tempo, com algumas excepções, a qualidade e pertinência do ensino, da investigação e da aprendizagem têm vindo a decair nalgumas Instituições de Ensino Superior, em particular, nos países em desenvolvimento. São muitas as Instituições de Ensino Superior que, funcionam com excesso de serviços e em condições de deterioração física, com recursos bibliográficos escassos e desactualizados, equipamentos e materiais de ensino insuficientes, currículos ultrapassados, docentes não qualificados e estudantes do ensino secundário com preparação deficiente, para além da falta de rigor académico e de uma avaliação sistemática do desempenho. Pode-se encontrar condições semelhantes em universidades públicas e em universidades privadas e outras Instituições de Ensino Superior que surgiram em muitos países, especialmente naqueles que carecem de um sistema formal de autorização e acreditação para a criação de novas instituições. Por exemplo, nos antigos países socialistas da Europa Oriental e Ásia Central, de acordo com o World Bank (2002), as drásticas reduções dos recursos públicos estão a ameaçar a qualidade e

a sustentabilidade dos programas vigentes e inclusivamente a sobrevivência de instituições. Em muitos países, a qualidade deficiente dos programas de formação de docentes tem efeitos nocivos na qualidade da aprendizagem do ensino primário (em Portugal, básico) e do ensino secundário. Por sua vez, níveis baixos de educação secundária e qualidades científicas reduzidas, não dotam os estudantes que terminaram o ensino secundário com as qualidades necessárias para prosseguir os estudos de nível superior com bons resultados.

A grande maioria das Instituições de Ensino Superior, das nações em desenvolvimento, funciona na periferia da comunidade científica internacional e carecem de capacidade para participar na produção e adaptação de conhecimentos necessários para enfrentar os problemas económicos e sociais do seu país. Ainda que, alguns países disponham de informação suficiente que lhes permita documentar a profundidade dos problemas de forma sistemática, noutros países a situação é alarmante. Por exemplo, de acordo com o World Bank (2002), em 1995, um grupo de trabalho encarregue de estudar o sistema de ensino superior Filipino, depois de analisar a informação referente a recursos críticos do ensino e os resultados dos exames de 1316 Instituições de Ensino Superior existentes, concluiu que unicamente nove universidades e outras duas Instituições de Ensino Superior do país eram comparáveis em termos de qualidade às das instituições internacionais. Ainda de acordo com o World Bank (2002), na índia, encontram-se programas com grande reconhecimento, tais como, os dos Institutos Hindus de Tecnologia, que convivem com programas científicos e técnicos de qualidade ou pertinência deficiente. Inclusivamente a Rússia, uma vez líder mundial nos campos da ciência e da tecnologia como a física teórica, tecnologia nuclear e tecnologias espaciais, viu o desmoronamento do seu sector de investigação e desenvolvimento. Tal como referem Cervantes e Malkin (2001), na Rússia: «as crises financeiras, os equipamentos deteriorados, o desempenho e os melhores salários noutros sectores, afastaram um grande número de investigadores da ciência e da tecnologia».

Nas instituições tanto públicas como privadas onde os docentes são qualificados e a tempo inteiro, constitui um factor que contribui em grande medida para a qualidade do ensino. No caso contrário, a falta de docentes qualificados e a tempo parcial é um factor que contribui em grande medida para a baixa qualidade do ensino.

docentes com o grau de doutoramento é inferior a 6% e a proporção com o grau de mestre, é menos de 26%. Guadilla (2003) refere que mais de 60% dos docentes do sector público, estão a tempo parcial; pelo contrário nas instituições privadas a proporção chega a ser cerca de 87%. Nas Filipinas, segundo World Bank (2002), unicamente 7% dos docentes das Instituições de Ensino Superior possuem grau de doutor e 26% de mestre. A ampliação e diversificação dos sistemas de ensino superior com frequência ocasionaram a fuga de cérebros ou talentos, devido a que os docentes mal remunerados das instituições públicas poderão ter uma ou mais ocupações adicionais fora das suas instituições, por exemplo, ensinando em outras instituições incluindo privadas de ensino superior.

À medida que as Instituições de Ensino Superior, universidades e outras Instituições de Ensino Superior e científicas dos países em transição lutam por adaptar- se a novas realidades de uma economia de mercado, vêm a sua tarefa dificultada por uma estrutura institucional fragmentada, que se caracteriza por um grande número de instituições pequenas especializadas e poucas Instituições de Ensino Superior, nomeadamente universidades, de grande dimensão que exercem um quase monopólio no ensino dos níveis académicos mais elevados. As pequenas instituições carecem de capacidade para diversificar os seus programas e competir com eficácia, enquanto que as grandes Instituições de Ensino Superior de maior prestígio, no geral gozam da protecção exagerada das regras administrativas e não encontram os suficientes incentivos para inovar. A Hungria, é o único caso diferente na Europa Oriental; ali, um plano de fusão iniciado reduziu o número de instituições públicas de mais de setenta a menos de vinte (World Bank, 2002).

Pese a tendência mundial para a expressão do mercado do ensino superior, as respostas que se deram, dos governos e das instituições, nem sempre foram favoráveis às novas tendências. Por exemplo, quando os países ampliam o ensino superior de forma desorganizada para cumprir com uma procura social crescente, correm o grande risco de produzir o desemprego dos diplomados (só para mencionar dois países de diferentes regiões, em Portugal, foi criado o Programa de Requalificação de titulares de cursos superiores em áreas de formação de difícil inserção no mercado de trabalho, através da Portaria n.º 71/2005 de 25 de Janeiro, outros dois exemplos, de acordo com o World Bank (2002), na Nigéria, o desemprego dos graduados do ensino superior é de

22% e no Sri Lanka, de 35%). Em muitos países, o desequilíbrio entre o perfil dos diplomados e a procura do mercado de trabalho aprecia-se mais claramente nos diplomados de ciências sociais e humanidades. Para citar um caso, a República do Iémen, tem um excesso de oferta de diplomados em humanidades, cujas qualificações não correspondem às necessidades da economia (World Bank, 2002). No que respeita aos docentes, isto pode conduzir a um excesso de oferta de docentes de temas não científicos. As Instituições de Ensino Superior em geral carecem de informação sobre o mercado de trabalho, que sirva de guia para os estudantes, assim como para as famílias e empregadores.

Em muitos países africanos o impacte do VIH/SIDA está a modificar as instituições de ensino de uma forma trágica. Na Universidade de Nairobi, entre 20 e 30% dos cerca de vinte mil estudantes são seropositivos64 (Bollag, 2001) e na África do Sul a taxa de infecção dos estudantes de graduação alcança 33% (ACU, 2001). Não só os estudantes se viram afectados por esta pandemia, seja porque eles padecem da doença ou porque cuidam ao domicílio de alguém que a tem, como também se viram afectados os professores e administradores das Instituições de Ensino Superior. Nalguns casos, o VIH/SIDA privou as Instituições de Ensino Superior dos seus docentes e funcionários (Katahoire, 2004), paralisando as instituições e restringindo as oportunidades de desenvolvimento dos países, incluindo a sua capacidade de produzir dirigentes locais, funcionários da administração pública e intelectuais qualificados. Face ao que se referiu anteriormente não será totalmente descabido, que se faça uma leitura da diversa bibliografia existente referente a esta temática, no âmbito das Instituições de Ensino Superior, numa altura em que existe uma mobilidade de pessoas a nível global.

Os problemas da qualidade e pertinência não se circunscrevem unicamente às instituições de ensino tradicionais. Inclusivamente, os países que contam com uma estrutura diversificada de ensino superior a pertinência pode converter-se num problema grave se não houver laços estreitos entre as Instituições de Ensino Superior e mercado laboral. A Jordânia por exemplo, como refere o Worl Bank (2002) apoiou activamente o desenvolvimento dos community colleges, públicos e privados; todavia, o estado, a qualidade e a pertinência destas instituições tornaram-se problemáticas porque o país

viveu um decréscimo de estudantes nestas instituições de 41 000 no lapso de tempo 1990-1991 a 23 000 no período de 1995-1996.

A falta de acesso ao conhecimento mundial e ao ambiente académico internacional constituem um assunto cada vez mais preocupante. Em muitos países, o domínio de idiomas estrangeiros que devem ter os empregados e estudantes dificulta o acesso aos textos de estudo e à Internet, em especial ao nível de pós graduação. Em países como Malásia e Sri Lanka, que optaram por utilizar o idioma nacional no ensino superior, as autoridades estão a pensar em rever esta política com o fim de melhorar a qualidade do ensino superior, sobretudo nas ciências básicas e aplicadas (World Bank, 2002). Na União Europeia, os chefes de Estado e de Governo presentes na reunião do Conselho Europeu, em Barcelona, em Março de 2002, reconheceram a necessidade de acção da União Europeia e dos Estados-Membros65. Em resultado da cooperação e mobilidade crescentes na Europa, o conhecimento de várias línguas constitui uma vantagem importante. No âmbito da União Europeia considera-se que o ensino de línguas deverá começar o mais cedo possível, logo a nível pré-escolar, prosseguindo no ensino básico e secundário, no ensino superior e ao longo da vida adulta. Também, as escolas têm de responder ao desafio, proporcionando uma oferta de línguas66 tão ampla quanto possível.

Muitos países, que duplicaram ou triplicaram o número de estudantes no ensino superior, tiveram que enfrentar os efeitos negativos desta rápida expansão na qualidade do ensino. Os problemas de garantia da qualidade e melhoria da qualidade converteram- se num assunto prioritário (El-Kwawas, De Pietro-Jurand & Holm-Nielsen, 1998). Muitos governos, seja qual for a amplitude e etapa de desenvolvimento em que se encontrem os seus sectores de ensino superior, determinaram que os controlos académicos tradicionais, não são suficientes, para enfrentar os desafios actuais, e que são necessários sistemas de garantia da qualidade mais adequados.

Os países diferem nas abordagens que utilizam para melhorar a qualidade do ensino67.

65 Presidency Conclusions, Barcelona European Council, 15-16 March 2002, http://ue.eu.int/ueDocs/cms_Data/docs/pressData/en/ec/71025.pdf, 2007-12-06.

66 A formação de professores de línguas estrangeiras assume uma importância cada vez maior, porque desempenham um papel fundamental para melhorar a aprendizagem de línguas e despertar o interesse dos estudantes por elas. 67 Alguns tomaram medidas para fortalecer a qualidade introduzindo novos sistemas de monitorização ou outros mecanismos de controlo de gestão. Outros, como a Argentina, as autoridades, implementaram mecanismos de

No caso de Portugal, o Governo solicitou uma avaliação internacional do sistema de ensino superior à OCDE (para além da avaliação da OCDE houve, também, a avaliação conduzida pela ENQA sobre o sistema de garantia de qualidade, bem como as avaliações institucionais desenvolvidas pela EUA - European University Association, sendo exemplos para a mudança estruturada e organizada com base na experiência internacional), tendo esta organização proposto algumas recomendações (devendo a reforma do sistema, segundo a OCDE, ser integral e profunda, assim como bem fundamentada), decorrentes do processo de avaliação solicitado, que se agrupam em seis grandes tópicos, como se resume seguidamente: (i) coordenação e gestão do sistema; (ii) governação e estatuto legal; (iii) financiamento e eficiência do sistema; (iv) acesso e equidade (v) qualidade e excelência nos sistemas de ensino superior e de ciência e tecnologia; (vi) abertura das instituições à sociedade.