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Capítulo 3 – A RESPONSABILIDADE SOCIAL DO ENSINO SUPERIOR

3.2 Conceito de Responsabilidade Social do Ensino Superior

3.2.3 Responsabilidade Social das Universidades

É óbvio que as Universidades não podem ficar alheias à reflexão sobre a Responsabilidade Social91, não só porque também são organizações, mas pelo seu papel na sociedade e na economia do conhecimento e sobre as condições que será necessário

90 No entanto, fora do sistema universitário.

91 A Universidade é uma das instituições mais éticas da história da cultura humana. A sua crise actual deve ser entendida sob o aspecto pedagógico, isto é, como uma oportunidade de fortalecer a sua dimensão moral e ética e, dessa forma, continuar a busca da verdade (Werthein, 2003).

sociedade do conhecimento depende da produção de novos conhecimentos, da sua transmissão através da educação e da formação, da sua divulgação e da sua utilização em novos serviços ou processos (por exemplo, industriais). As universidades têm assim, o facto singular de participarem em todos estes processos, devido ao papel fundamental que desempenham em três domínios particulares (Comissão das Comunidades Europeias, 2003a):

• A educação e a formação92, designadamente a formação dos investigadores; • A investigação e a exploração dos seus resultados93, graças à cooperação industrial e às novas organizações empresariais nascidas da investigação (spin-offs94);

• O desenvolvimento regional e local, para o qual podem assegurarem um contributo importante.

A concretização da responsabilidade social das Instituições de Ensino Superior no século XXI irá depender, por um lado, de como se defina a sua missão e, por outro,

92 Cabe formar os futuros profissionais que trabalham nas organizações empresariais, os futuros cidadãos que terão de velar pelos direitos humanos e os futuros funcionários que terão a seu cargo o bem comum num mundo globalizado. É, por isso, que se torna cada vez mais importante, promover e praticar a Responsabilidade Social Universitária. Actualmente há um amplo debate sobre o papel do ensino superior. Esse papel, cada vez mais, é definido em relação à globalização, à formação das sociedades de conhecimento e aos problemas, tensões e divisões que ocorrem entre as sociedades e no seu interior. Pois, os sistemas de ensino superior e as instituições que o ministram não se podem manter isolados dos dilemas e das contradições da globalização. Por outro lado a produção, transmissão e aplicação do conhecimento são fundamentais para a sua missão, as Universidades representam um elemento formativo da globalização, e são influenciadas também pelas forças da globalização (Matsuura, 2003).

93 O século XXI será, de acordo com previsões de especialistas, o século da ciência e da tecnologia, onde as actividades de investigação e desenvolvimento tecnológico apresentam um futuro mais promissor. Todavia, na Europa, continente do qual Portugal faz parte, é preocupante a situação em que se encontra a investigação (Comissão das Comunidades Europeias, 2000). E mais, sem uma acção concertada para corrigir esta situação, corre-se o risco de as tendências actuais conduzirem a uma perda de crescimento e competitividade no contexto da economia global. O desfasamento relativamente às outras potências tecnológicas, (por exemplo os Estados Unidos da América e o Japão) irá acentuar-se ainda mais. A Europa poderá não conseguir fazer a transição para a economia do conhecimento que se perspectivou na Estratégia de Lisboa em 2000, a qual foi objecto de reanálises posteriores, dado o consenso geral de que a Europa está longe de atingir o potencial de transformação proporcionado pela Estratégia de Lisboa. Embora nem o diagnóstico nem as soluções sejam contestados, a verdade é que os progressos efectuados não foram suficientes como é referido na Comunicação ao Conselho Europeu da Primavera (Comissão das Comunidades Europeias, 2005).

94 Os projectos de Investigação e Desenvolvimento (I&D) desenvolvidos pelos docentes e investigadores das Universidades, nos laboratórios, centros de investigação e institutos de interface podem conduzir à criação de novas empresas cujo objectivo é a exploração dos resultados desses projectos. Essas novas empresas (de base tecnológica) designam-se por «Spin-offs» quando resultam da actividade científica e quando os promotores são colaboradores em instituições de I&D ou Universidades (FEUP, 2007). São exemplos de Spin-offs: Berd, Projecto, Investigação e Engenharia de Pontes (FEUP, 2007), consultoria em engenharia de pontes; Biosckin – Molecular and Cell Therapies, Lda, (FEUP, 2006), biotecnologia e medicina regenerativa; 4VDO – Sistemas e Serviços multimédia (INESC, 2000),

inserem.

A Declaração Mundial sobre a Educação Superior para o Século XXI (UNESCO, 1998), estabelece no artigo 1, que as missões e valores centrais da educação superior e em especial a missão de contribuir para o desenvolvimento sustentado e à melhoria do conjunto da sociedade devem ser preservados, reforçados e ampliados, com o fim de:

• Formar diplomados altamente qualificados que sejam, ao mesmo tempo, cidadãos responsáveis capazes de satisfazer as necessidades de todos os sectores da sociedade;

• Permitir a educação superior ao longo da vida, oferecendo múltiplas alternativas, assim como flexibilidade para entrar e sair do sistema, a fim de educar para a cidadania e para uma participação activa na sociedade, com uma visão universal e orientada à criação de capacidades endógenas, à consolidação dos direitos humanos, ao desenvolvimento sustentável e à paz, num contexto de justiça;

• Criar conhecimento mediante a investigação95 e difundi-lo; fornecer assessoria para alcançar o desenvolvimento económico, social e cultural; promover e desenvolver a investigação científica e tecnológica, assim como das ciências sociais, das humanidades e das artes criativas;

• Contribuir para compreender, interpretar, preservar, incrementar, promover e disseminar a cultura nacional, regional, internacional e histórica, num contexto de diversidade e pluralismo cultural;

• Contribuir para proteger e reforçar os valores sociais, formando os jovens de acordo com os valores que constituem a base da cidadania e oferecendo perspectivas críticas e desinteressadas, para a discussão de opções estratégicas e o reforço das visões humanistas;

• Ajudar o desenvolvimento e melhoramento de todos os níveis educativos, inclusive mediante a formação dos docentes.

95 Por exemplo, no âmbito da União Europeia considera-se que é necessário mais investigação interdisciplinar sobre a Responsabilidade Social empresarial, em particular no que diz respeito, a: conexões a nível macro e mesoeconómico entre a Responsabilidade Social, a competitividade e o desenvolvimento sustentável; a eficácia da Responsabilidade Social para alcançar objectivos sociais e ambientais; questões como a inovação, o governo das organizações, as relações laborais e a cadeia de abastecimento. Também, o impacte social do ciclo de vida dos processos, produtos e serviços necessita de mais investigação (Comissão das Comunidades Europeias, 2006b).

estabelece que as Instituições de Ensino Superior, os seus colaboradores e os seus estudantes deverão:

• Preservar e desenvolver as suas funções mediante o exercício nas suas actividades com o máximo rigor ético e intelectual. Por exemplo, a Associação Médica Mundial96 (The World Medical Association) aprovou a Declaração de Helsínquia (World Medical Association Declaration of

Helsinki – Ethical Principles for Medical Research Involving Human

Subjects) como uma proposta de princípios éticos que sirvam de orientação

para médicos e outras pessoas que realizam investigação médica em seres humanos97, devendo também prestar-se a adequada atenção aos factores que podem prejudicar o ambiente (WMA, 2004). Outro exemplo é uma outra Declaração aprovada pela UNESCO, a Declaração Universal sobre Bioética e Direitos Humanos, que trata de questões éticas relacionadas com a medicina, as ciências da vida e as tecnologias conexas aplicadas aos seres humanos, tendo em conta as dimensões sociais, jurídicas e ambientais (UNESCO, 2005a);

• Utilizar a sua capacidade intelectual e o seu prestígio moral para defender e difundir activamente valores universalmente aceites, tais como a paz, a justiça, a liberdade, a igualdade e a solidariedade.

O mesmo artigo 2 da Declaração outorga ao ensino superior outras duas responsabilidades, nas quais se combinam o compromisso ético com o de antecipar o futuro e criar e difundir o conhecimento. Essas são as seguintes:

• Converter-se em centros que antecipem, alertem e prevejam problemas futuros, mediante a análise permanente das tendências emergentes nos campos da economia, da cultura e da política;

96 A Ordem dos Médicos (http://www.ordemdosmedicos.pt) é membro desta Associação Mundial.

97 No caso particular da investigação médica em seres humanos, esta deve ser levada a cabo só por pessoas cientificamente qualificadas e sob supervisão de alguém clinicamente competente. As Instituições Superiores de Ensino de medicina estão sedeadas normalmente em instituições hospitalares (como é o caso dos Hospitais Escolares de Santa Maria, em Lisboa, e o de São João, no Porto) ou mantêm uma utilização das instalações destas através da celebração de protocolos, como é o caso da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Nova de Lisboa que tem protocolos com: Hospital Curry Cabral, Hospital Egas Moniz, SA, Hospital Pulido Valente, Hospital de S. Francisco

afectem o bem-estar das comunidades, das nações e da sociedade global.

No artigo 3 sobre equidade no acesso, o princípio geral é que a admissão ao ensino superior deve estar baseada no mérito, na capacidade, no esforço, na perseverança e na motivação mostrados por quem a pretende, assim como, que ela possa ter lugar em qualquer momento da vida. Como consequência, «não se pode aceitar

nenhuma descriminação no acesso ao ensino superior com base da raça, sexo, idioma, religião, diferenças económicas, culturais ou sociais, deficiências físicas ou etária».

Este princípio geral é reforçado para grupos mais específicos: «deve-se facilitar activamente o acesso ao ensino superior de grupos especiais, tais como os povos indígenas, as minorias culturais e linguísticas, os grupos mais desfavorecidos e os que sofrem de deficiência». Ajudas materiais específicas e soluções educativas podem ajudar a ultrapassar os obstáculos, que enfrentam estes grupos, tanto para aceder à educação como para continuar.

No artigo 4 reforça-se a participação e promoção da mulher.

Nos artigos 5 e 6 destaca-se a importância de acrescentar o conhecimento mediante a investigação nas ciências, nas artes nas humanidades, e a disseminação dos seus resultados e da sua orientação de longo prazo baseada na relevância98.

O artigo 6 estabelece a responsabilidade que têm as Instituições de Ensino Superior de ter orientações de longo prazo que permitam resolver as necessidades e aspirações sociais, incutindo esta responsabilidade nos estudantes. Mais peremptoriamente, na alínea b) desse artigo estabelece-se que: «a educação superior

deve reforçar o seu serviço à sociedade e em especial as actividades para eliminar a

pobreza, a intolerância, a violência, oanalfabetismo, a fome, a degradação ambiental e

98 Por exemplo, na União Europeia surgiu o Sétimo Programa-Quadro para a investigação e desenvolvimento tecnológico (7PQ), principal ferramenta de financiamento que a União Europeia dispõe para financiar a investigação, que estará em vigor de 2007 a 2013 (sucessor do Sexto Programa-Quadro) e que resultou de anos de indagação junto de várias partes envolvidas, compreendendo vários programas (ou subprogramas) específicos, nomeadamente: cooperação (fomentar a colaboração entre a indústria e a universidade para conseguir uma posição de liderança em áreas tecnológicas fundamentais); ideias (apoiar a investigação nas fronteiras do conhecimento – implementado pelo Conselho Europeu de Investigação); pessoas (apoiar a mobilidade e o desenvolvimento das carreiras dos investigadores, tanto dentro como fora da Europa); capacidades (ajudar a desenvolver as capacidades de que a Europa necessita para ser uma economia próspera com base no conhecimento); investigação da Energia Nuclear, Programa

interdisciplinares nas análises dos temas e dos problemas».

De acordo com o mesmo artigo 6 enfatiza-se a responsabilidade das Instituições de Ensino Superior pela formação de docentes do ensino pré-escolar, básico e secundário, que já tinha sido estabelecida no artigo 1 e que se voltará a repetir no artigo 10.

O artigo 7 define a responsabilidade que tem o ensino superior de orientar as suas actividades em estreita relação com o mundo do trabalho: «como uma fonte para toda a vida de formação profissional, a actualização a reciclagem, as Instituições de Ensino Superior deverão sistematicamente ter em conta as tendências no mundo do trabalho e dos sectores científicos, tecnológicos e económicos». Por exemplo, numa conferência realizada em Bragança, integrada nas comemorações, do dia nacional do engenheiro, Marques (2005), presidente da Associação Empresarial de Portugal (AEP), referiu que: «será preciso uma reforma do ensino, mas sobretudo mais sinergias e uma

melhor compreensão entre os empresários, empregadores, as escolas, as universidades

e os ministérios». Trata-se de uma responsabilidade tanto em relação aos seus

estudantes como em relação a toda a sociedade e ao seu desenvolvimento. A responsabilidade por ajustar a oferta educativa à procura e às necessidades sociais é parte dela.

O artigo 8 refere-se a dois tipos de diversificação dos modelos de ensino superior e os métodos e critérios de selecção dos candidatos. O objectivo a alcançar com isso é, por um lado, poder satisfazer uma crescente procura e, por outro, dar oportunidades flexíveis de ingresso durante toda a vida a um público cada vez mais diversificado. A segunda forma de diversificação é por tipo de instituições e por tipo de cursos oferecidos: graus académicos tradicionais, cursos curtos, estudo a tempo parcial, horários flexíveis, cursos modulares, ensino a distância (segundo a UNESCO (2002b), a aprendizagem aberta e a distância, contribui para o desenvolvimento económico e social, converteu-se numa parte indispensável da educação, e tem vindo a ganhar aceitação no âmbito dos sistemas educativos tradicionais, nos países desenvolvidos e particularmente nos países em desenvolvimento).

No artigo 9 enfatiza-se a necessidade de introduzir alterações profundas nos conteúdos e métodos de ensino o que é visto como uma consequência da nova procura

colocada na necessidade de ir mais além do domínio cognitivo das disciplinas:

«As novas abordagens pedagógicas e didácticas deverão facilitar a aquisição

de capacidade e competências para a comunicação, a análise crítica e criativa, o pensamento independente e o trabalho em equipa em contextos multiculturais, incluindo no criativo a combinação do conhecimento e o saber-fazer tradicional ou

local, com a ciência e a tecnologia de vanguarda».

Em relação com essas novas abordagens, mais adiante reconhece-se que as novas tecnologias oferecem oportunidades para inovar o conteúdo dos cursos e os métodos de ensino, para além de ampliar o acesso ao ensino superior. Contudo, faz-se a advertência de que «as novas tecnologias da informação não reduz a necessidade de professores, mas, altera o seu papel em relação ao processo de aprendizagem, sendo fundamental o diálogo que transforma a informação em conhecimento e compreensão».

A Declaração Mundial refere-se no artigo 10 ao papel dos colaboradores e dos estudantes.

Em relação aos colaboradores, estabelece-se a necessidade de:

• Uma vigorosa política de desenvolvimento dos mesmos por todas as Instituições de Ensino Superior;

• Estabelecer políticas claras para os docentes, tendo em conta que estes, mais que ser fontes de conhecimento, devem ensinar os estudantes como aprender e como tomar iniciativas. Estas políticas devem incluir a oportunidade de actualizar a sua capacidade pedagógica através de programas de desenvolvimento dos colaboradores, assim como, o estímulo à constante inovação nos currículos e nos métodos de ensino e aprendizagem;

• Propiciar um adequado nível profissional e financeiro.

Quanto aos estudantes, afirma-se que eles são – e assim devem ser considerados pelas autoridades educativas e políticas – os mais importantes intervenientes e interessados na renovação do ensino superior. Por isso, sugere-se que eles tenham participação na discussão de temas que os afectam: a qualidade do ensino, a avaliação, a renovação dos métodos de ensino, os currículos e, dentro do modelo institucional existente, a formulação de políticas e a gestão institucional.

de criar e manter serviços que guiem e aconselhem os candidatos a estudantes do ensino superior, qualquer que seja a sua idade e tendo em conta as, cada vez mais distintas, categorias daqueles. É indispensável uma coerência do sistema educativo, a qualidade do ensino superior depende dos resultados do trabalho efectuado nos níveis de ensino precedentes e, ao mesmo tempo, é responsável pela formação do ensino básico e secundário. Matsuura (2003), na Second Meeting of Higher Education Partners, World

Conference on Higher Education + 5, refere-se à necessidade da reflexão no que

concerne ao relacionamento entre o ensino superior e outros tipos e níveis de ensino; o ensino superior precisa de dar maior atenção a outros níveis de ensino e a outras formas de aprendizagem, para que se empenhe efectivamente nos seus próprios problemas, e preencha as suas responsabilidades sociais com respeito a desafios importantes, tais como a pobreza, a desigualdade e a injustiça sociais, o desenvolvimento sustentável e a bom governo.

A vontade de assegurar um serviço público de qualidade deverá reforçar o compromisso social das Universidades. A Universidade viveu muitos séculos demasiado fechada em si mesma, alheada da sociedade100, e pouco mudou (Buarque, 2003) ou pelo menos dos agentes sociais decisivos, apesar da sua ligação com uma parte importante da mesma sociedade pelo simples facto de contar com uma comunidade muito numerosa, entre docentes, estudantes e colaboradores não docentes. Inclusivamente tem havido uma certa postura de defesa contra possíveis agressões do meio envolvente e tudo isto provocou que os verdadeiros desafios não foram mais além dos compromissos internos.

Talvez seja a hora de se reafirmar que a única justificação da existência das Universidades é o seu compromisso social. Há um encargo social, ao qual deverão responder com o seu compromisso. Perante a ameaça de uma globalização anárquica, as Universidades devem ser parte da solução, e não ser uma parte do problema.

Santos (2003) refere-se à função social da Universidade, dizendo que, sendo uma instituição social, com função social, a Universidade constitui um microcosmo da sociedade, caracterizada, até certo ponto, por um modelo instituído pelo próprio contexto político, económico, social e ideológico no qual está inserida. É esta interacção

própria Universidade, cabendo a esta encontrar as soluções, e as medidas adequadas para as superar. Na verdade, a sociedade muitas vezes desconhece as funções da Universidade e, ao não conhecê-las não propicia o apoio necessário para as desenvolver. Muitas vezes a sociedade não tem consciência das potencialidades da Universidade.

Por um lado as Universidades têm que assegurar que estão a contribuir seriamente para o desenvolvimento socioeconómico e para o crescimentosustentável de um país, por meio de um esforço continuado para formar profissionais de alta qualidade e por transferir os melhores resultados da investigação; e por outro, têm que estar abertas e captar o conhecimento que gera a sociedade com o fim de proporcionar uma formação integral das pessoas, que lhes permita participar activamente nos grandes debates sociais.

Todavia, para serem consequentes na hora de implementar os grandes debates que configurarão o futuro, têm que começar por implantar os valores que se referiram anteriormente, na própria Universidade. O governo das Universidades deverá guiar-se por critérios de sustentabilidade, de cooperação e de solidariedade e por isso tem que ser um exemplo de participação e de transparência.

Daí a importância da atenção às pessoas partindo do facto seguinte: o funcionamento da Universidade baseia-se excessivamente no voluntarismo e numa grande procura de eficiência das pessoas. É imprescindível conseguir um alto nível de compromisso, mas para isso há que estimular o diálogo e chegar ao consenso na tomada de decisões estruturando canais de autêntica participação, porque a todos gosta e motiva que confiem nas Universidades, que as ouçam e que as tenham em conta101.

Mas ter-se-á de reflectir sobre o que se entende por Responsabilidade Social das Universidades e sobre tudo, que alterações produz no modo habitual de considerar a participação e projecção social a partir das Universidades. E aqui, a comparação com a Responsabilidade Social das organizações empresariais pode ser útil.

101 É importante estimular a participação estudantil, em centrar a Universidade em torno da pessoa que aprende, os estudantes (de acordo com o artigo 10, alínea c, da Declaração Mundial sobre Educação Superior (UNESCO, 1998): «os responsáveis pelas decisões nos planos nacional e institucional deverão situar os estudantes e as suas

necessidades no centro das suas preocupações, e considerá-los participantes essenciais e protagonistas responsáveis do processo de renovação do ensino superior»). Os movimentos estudantis de 1968, deram lugar a uma importante reflexão sobre a necessidade de uma maior participação estudantil no governo das Universidades, contudo, em muitas regiões, países e Universidades, falta percorrer um longo caminho para que a participação (responsável) dos estudantes nos processos de tomada de decisões seja o adequado.

empresarial, tem evoluído passo a passo a partir de uma abordagem tipicamente filantrópica102, que limitava a participação social da organização a um conjunto de obras de caridade para populações carenciadas, promovidas pela utilização de recursos residuais, mas sem relação directa com a actividade quotidiana da organização. Na verdade, a Responsabilidade Social, é mais do que isso, é um modo de gestão integral da organização, que se pode caracterizar como gestão de impactes, como refere Vallaeys (s/d) - humanos, sociais e ambientais - que a actividade da organização produz, num esforço continuado para abranger e satisfazer os interesses de todos os potenciais afectados.

Contudo, para especificar o que é a Responsabilidade Social Universitária e distingui-la da Responsabilidade Social Empresarial, é necessário determinar quais são as suas principais actividades e quais são os impactes específicos que produzem as Universidades na sua envolvente.

Os dois principais propósitos das Universidades são a formação humana e profissional, que é um propósito académico, e a produção de novos conhecimentos, que é um propósito de investigação, dado que estes dois fins se relacionam estreitamente – é